quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Parte 23 - Cabelo preto e histórias do navio

De manhãzinha, Tatiih pintava o cabelo de Raveneh, numa sala com janelas que davam vista para o esplêndido mar azul.
- Raveneh de cabelo preto! - riu Johnny (que estranhamente não estava comendo morangos O.o).
- Rsrs - ri Raveneh - vou aproveitar e cortar o cabelo. Tatiih é excelente nisso =}
- Siiiiiim - murmura Tatiih massageando o couro cabeludo da amiga - cortarei, e o cabelo ficará um pouquinho só abaixo do ombro...
- Eu quero ser espiã também! - exclama Rafitcha - pinta, corta cabelo, muda visual de graça!
Raveneh sorriu.
E a conversa prossegue tranqüila, com Tatiih pintando, e depois cortando os cabelos de Raveneh.

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Era noite, com todos enfiados no navio. Fer afiando seus punhais, Kibii manuseando as flechas, Doceh fabricando mil doces muitos
malignos, Nath cuidava de um ferimento de Lych que fora caçar javalis com Fer, mas aí uma javali avançou contra o pobre rapaz
e ele caiu de costas, bateu com a cabeça, ralou todo. Agora Nath cuidava dele sob os olhares ciumentos e assassinos da Doceh.
As velas tremulavam, e as crianças faziam animais na parede (aquele joguinho de sombra que todo mundo faz quando falta luz em
casa hoje em dia). Rafitcha conversava com Umrae e Tatiih, e Renegada escrevia em algo. Maria conversava com a Capitã Biih sobre
algo muito importante na guerra. Raveneh olhava todo o cenário admirada. Não estava na sala, mas sim no corredor. Já podia ver a sala,
mas quem estava na sala não podia ver-la já que estava oculta graças as sombras. De modo que Raveneh ainda não fizera a aparição
oficial com o seu novo cabelo.
- BOO!!! - grita uma voz masculina.
Raveneh grita de susto. Vira-se, depara-se com Johnny com a sua cesta de morangos e cabelos negros e rebeldes.
- Merda, Johnny! - reclama Raveneh - precisava fazer um susto desses?
Johnny sorri maliciosamente.
- Morangos? - oferece um morango.
- Agora você quer me bajular? - disse Raveneh sarcástica.
- Certeza? Você pode ser apaixonada por batatas, mas não resiste a um morango, sabe... - e Johnny pôs o morango na boca com um
olhar divertido.
- Tá, eu aceito - Raveneh fala com a voz risonha - vamos pra sala... esse corredor é muito sinistro.
- Esse navio é sinistro, Raveneh - diz Johnny com uma cara muito séria, como se fosse um sábio falando de destinos, sabedoria, escolhas,
essas coisas que sábio adora falar - tem um bocado de histórias estranhas por causa deste navio.
- Tipo?
Os dois se sentam encostados a um canto da parede comendo morangos.
- Tipo que o rum que a Capitã Biih bebe não é rum, mas sim Coca-Cola - afirma Johnny.
- Que diabos é Coca-Cola? - estranha Raveneh.
- Uma bebida que todo mundo só vai conhecer daqui a muiiiiiiiito tempo - responde Johnny - Coca-Cola, dizem, é a bebida mais idolatrada
pelo mundo inteiro. Ou será, se as videntes adivinharam certo.
- Bah - desdenha Raveneh com um sorriso - vidente nunca acerta. Do que Coca-Cola é feito? Duvido que esta bebida exista, pra começar.
- Você que sabe - riu Johnny - quer mais histórias?
- Claro! - Raveneh endireita-se.
- Dizem que se você for por este corredor até o final, vai perceber uma porta à direita sempre trancada. Dizem que esta porta guarda um
bocado de esqueletos! - Johnny conta em uma voz baixa e grave.
- Credo! Esqueletos de quem?
- Soldados que lutaram na Primeira Guerra. Gente que era condenada e morria aqui, e jogavam o corpo lá... E não pára aí: dizem ainda que
estes esqueletos criam vida de vez em quando e rugem, berram, lamentam por não poderem sair da sala.
Raveneh faz uma cara enojada.
Johnny ri e come mais um morango. Encara o corredor. Será somente uma lenda?
Ou seria uma das verdades sobre o navio que era como um filho para a Capitã Biih?

- Raveneh está linda com aquele cabelo novo! - comenta Umrae com um sorriso - foi você quem fez, Tatiih?
- Oh, yeah - respondeu Tatiih - pintei e cortei. Ficou um show, não?
- Absolutamente! - concorda Rafitcha - e ela está com Johnny...
Tatiih faz uma cara muito maliciosa e murmura:
- Sim... Raveneh e Johnny estão grudados demais.
Todas riem. E mudam o rumo da conversa.

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