quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Parte 18 - Contando sobre as impiedosas Terras de Gelo

Liz era a fada do fogo que falara a respeito do sangue na audiência. Ela analisava o vidrinho repleto de sangue com um olhar
curioso. Fez vários movimentos com as mãos, mexeu com as gotículas, e fez tudo que alguém imaginasse.
No final das contas revelou para toda a audiência seu veredicto:
- Ela alterou as propriedades do seu sangue. Mas não o suficiente para esconder a linhagem real.
As fadas todas se calaram.
A Renegada era uma princesa. Só não se sabia de qual reino. Mas isso não seria difícil de se descobrir...

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- Por que Maria acha que estamos entrando em guerra? - perguntou Raveneh descascando batatas.
- Porque parece que estamos entrando em guerra - respondeu Rafitcha também descascando batatas.
- O Rei baniu Rafitcha e desrespeitou o Tratado deste jeito - comentou Johnny.
- Nem me lembre isso - Rafitcha pediu. Mas Raveneh ficou curiosa.
- Como assim, banida??
- Ok - começou Rafitcha - madrugada, o sol quase raiando. Acordei sentindo algo estranho. De repente, vi uma cobra.
Era uma cobra enorme, aquela cor meio gelo, sabe? E tinha olhos vermelhos. Gritei. A cobra veio até a mim, e me arrastou.
E tinha asas a maldita. E voou. E eu suspensa por aquela coisa nos ares. Eu apaguei. E quando eu acordei, estava num lugar estranho.
Tudo azul, congelado. Terras de Gelo. Nunca senti tanto frio na minha vida - Rafitcha engoliu em seco - as pessoas tinham
um ar deprimente, triste. E as pessoas que não saíam dali morriam de tanto frio e desgosto. E a dor que você sentia... A dor era
algo que fazia você ter crises. Tudo gelo, deserto. Nada de água, comida, de amigos. Era uma terra de rejeitados, Raveneh.
E o gelo era como se fosse espelho, e eu via a mim como uma moça suja, morrendo de frio, desesperada. Reparei que havia algo
diferente em mim... eu percebi que quando se é banida, certas caracteristicas em você surgem e outras morrem. Vai ser difícil
você servir ao Rei como antes. Agora você tem raiva. E nada é mais venenoso à personalidade humana do que raiva. As pessoas dizem
que o meu olhar mudara. Passou a ter ódio, reserva. Não é nada fácil ser banida, Raveneh. A primeira coisa que você quer fazer
quando se é banida é morrer. Viver pra quê? Voltar para o Reino pra quê? Você foi expulsa de lá, não é bem-vinda! Então porque
insistir?
Raveneh engoliu em seco, e Rafitcha continuou:
- Eu fui inocente. A dor que eu sinto, somente inocentes sentem. A dor que eu, Maria, Amore... todas sentimos. A raiva que
surge no olhar. Ganhei também a Marca do Rejeitado - Rafitcha despiu o ombro, mostrando a tatuagem azul e preta. Era de uma
cobra que se delineava por todo o ombro, azul e preto. E seus olhos eram vermelhos, um olhar mau, cruel. Raveneh sentiu um
arrepio nas espinhas. Rafitcha cobriu novamente o ombro e recomeçou: - eu consegui voltar. Foi difícil, mas eu consegui voltar.
Quando o gelo começava a sumir, e aparecia uma floresta, eu nunca fiquei tão feliz. Um dia, e eu já estava de volta. Nunca me
senti tão querida...
Rafitcha sorriu.
- É nessas horas que os amigos dão a maior prova da amizade, Raveneh - completou Rafitcha com um sorriso misterioso, a la Mona
Lisa.
Raveneh nunca escutara tanta certeza assim na voz de uma pessoa.

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