sábado, 29 de setembro de 2007

Parte 50 - Mycil?

O ambiente era tenso: a enorme sala de gelo com toda a sua imponência e frieza que não ajudavam em nada a amenizar o clima de crescente nervosismo entre as meninas e o Rei. A Siih, vestida ricamente, sentava-se na ponta da mesa. Gika e Vê sentavam, cada uma a um lado (sim, quando se é iniciante como serva direta da Rainha, costuma-se viver juntamente com a Rainha durante sete meses - ou seja: acompanhar-la em tudo que é canto), Maria ao lado de Gika, Renegada ao lado de Vê diante de Maria e a Lala no meio entre Maria e Rei. Não, Lefi não estava na ocasião, apesar de requisitado. É que teve que sair correndo por causa de professores que estariam vendendo notas na melhor faculdade do Reino das Fadas.
- Nós temos uma série de perguntas, Rei de Heppaceneoh - disse Siih cerimoniosamente.
- Faça-as - disse o Rei - quantas quiser.
Siih deu um olhar crítico e perguntou muito séria:
- Como conseguiu escapar do castelo quando este foi tomado?
- Tenho sangue de fadas nas veias - disse o Rei - conheço alguns encantamentos.
- Todos já sabem que você tem um filho - persistiu Siih - como pôde abandonar-lo?
- Eu não o abandonei - respondeu o Rei - eu sabia que ele estava bem.
- Você não tem poderes para delegar proteção - afirmou Siih.
- Mas não fui eu quem concedeu proteção máxima ao meu filho - riu o Rei - pergunte isso para Renegada.
Pela primeira vez, a Renegada fez uma expressão ansiosa.
- Renegada?
- Errr... - fez a Renegada, sem saber o que falar.
- Rei de Heppaceneoh, como é que ficou tão perdido nas Colinas do Diabo? Não tinha poderes?
- Meus poderes só aparecem quando estou em perigo como teve na invasão - o Rei respondeu calmo - e eles não me garantem comida, água ou roupa lavada, Vossa Majestade.
Siih achou o tom utilizado para se referir a ela no mínimo muito baixo.
- Bem, eu tenho mais o que fazer - disse Siih - já vi que não conseguirei ter uma informação decente sua. Gika Branca e Vê G., venham comigo, por favor. Ainda falta seis meses e meio para se livrarem comigo :)
- E nós? - indagou Maria.
- Vocês ficam aí - respondeu Siih - Lala, agora é contigo. Torture-o, pode até tirar a pele dele. Mas eu quero todas essas perguntas - apontou para uma pequena pilha de papéis - respondidas com a verdade.
- E porque trouxe a Renegada? - perguntou Maria intrigada.
- Porque ela tem uma ligação com o Rei e ele só aceitou depor caso ela falasse também - respondeu Siih. E sem se escutar barulho nenhum de passos, ela saiu da sala acompanhada de Gika e Vê.
- Aham... - fez Lala.
Assim que a enorme porta bateu, a mesa se desfez magicamente. Logo Rei e Renegada se viram frente a frente, amarrados não com cobras finas e brancas mas com cordas finas e pretas.
- Mas isso é um absurdo! - protestou Renegada - agora eu sou uma interrogada também?
- Ao que parece, é - disse Maria - sinto muito, mas não posso lhe libertar...
Lala mordeu o lábio inferior, receosa. Ela nunca havia trabalhado com isso...
- Bem, a primeira pergunta é para Renegada - disse por fim - Renegada, você conhece o Rei? Err... as cordas são mágicas. Se você mentir, elas mudarão de cor.
A Renegada ficou boquiaberta. "Renegada, Renegada" disse para si mesma assustada "era melhor ter contado toda a verdade lá no começo. Agora você se ferrou e vai ficar sendo considerada uma falsa e provavelmente vai ser presa!". Renegada considerou as suas opções, olhou para o Rei. Bom, não tinha outra saída. Se iria se ferrar, iria levar-lo junto. O seu ódio pelo Rei estava quase a flor da pele, e ela não estava mais se importando se iria ser presa, morta ou sendo renegada pela segunda vez (de onde vocês acham que surgiu o apelido 'Renegada'?) contanto que o Rei ficasse sem o que mais amava na vida: o filho.
- Sim, eu conheço - respondeu Renegada por fim. O Rei deu um frio sorriso.
- De onde? Há quanto tempo? - Lala indagou sentada numa cadeira branca, ao lado de Maria.
- Há mais de dez anos... quando começou as medidas para escapar dos nortistas... - respondeu Renegada.
Lala assentiu com a cabeça.
- O Rei confirma? - indagou Lala virando-se para o Rei.
O Rei e a Renegada se olharam. O olhar de Renegada, vingativo e calculista, dizia tudo para o Rei: "você vai se ver comigo, otário". O Rei engoliu em seco.
- Confirmo.
- Que tipo de relação tinham vocês? - perguntou Lala lendo a prancheta.
A Renegada engasgou, o Rei olhou para o teto. Maria deu um olhar curioso, e indagou:
- Renegada... de onde veio este seu nome?
- Todas as minhas irmãs foram obrigadas a usar este codinome - respondeu a Renegada - viemos do Vale Norte.
- Mas qual é o seu nome de verdade? - perguntou Lala.
- Mycil. Das minhas irmãs, são Lynda e Kharën.
- E onde estão elas? - indagou Maria.
- Lynda está estudando a arte das trevas com as fadas renegadas no Vale Negro, e a Kharën se casou com um jovem alfaiate na Planície de Ouro e é mãe de duas doces crianças.
- Ahmm... - fez Maria - bem, voltando a pergunta...
- Qual era a relação entre vocês?
- Inimigos - afirmou Renegada, ou Mycil, enquanto o Rei respondia seguro:
- Amigos.
Lala e Maria ficaram muito confusas, e a Renegada e o Rei se fitaram cheios de ódio.
- Não fomos amigos, Calvin - disse Renegada, ao que o Rei retrucou:
- Mas também não fomos inimigos.
Mycil revirou o olhar, e Lala indagou mais uma vez - era visível a sua insegurança:
- Inimigos ou amigos?
Mycil revirou o olhar, e virando-se para Lala (apesar das cordas que a prendiam), disse em um tom desprovido de emoção:
- As duas coisas, Lala. Eu odeio-o, mas eu também o amo...
O Rei olhou para o teto, concordando com a Mycil/Renegada.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Parte 49 - Catherine e Johnny xP

Chegou o momento mais temido *-*
Siih estava vestida de preto, enfiada em um belo vestido preto feito de seda com flores brancas bordadas e seu cabelo castanho mantinha-se em um coque muito bem arrumado. Sentava-se numa cadeira, na sala feita de gelo diante do Rei. Estava sozinha, e ninguém se preocupou com isso porque as mãos do Rei estavam atadas pelas finas cobras, e estas faziam o completo trabalho.
Gika e Vê estavam vestidas de vestidos brancos com mantos cor de creme por cima, e broches em formato de escaravelhos feitos de ouro que prendiam os mantos: era a habitual vestimenta dos iniciantes dos servos da Rainha.
- Lala, estrategista militar das Kudöeken - anunciou uma Guardiã Real serenamente - Maria Jhujhu, governante das Campinas e Renegada, membro do povo das Campinas. Estão todas aqui e desejam falar convosco, Vossa Majestade.
- Permita-as entrar - disse Siih calmamente.
Uma por uma entraram.
A Lala entrou, e fez uma reverência, sendo seguida por Maria e Renegada. Siih olhou para cada uma das três, minuciosamente.
Lala, pensou consigo, parece inteligente e disposta. Maria a mesma coisa. A Renegada está calma, que surpresa! Será que ela imagina o que virá por vir?
Renegada, aparentemente, estava calma. Mas por dentro se roía de nervosismo. Será que descobriram seu maior segredo? Imaginava o que poderia acontecer: não seriam somente amizades desfeitas e laços de confiança quebrados. Se este segredo que ela guardava há anos viesse a tona, teriam mais um motivo para uma guerra!
- Lala de Kudöeken, Maria Jhujhu das Campinas e Renegada das Campinas - disse Siih se levantando.
- Vossa Majestade - disseram as três em coro.
- Eu as chamei aqui para tratar de um assunto muito sério - disse Siih - o Rei de Heppaceneoh foi capturado e se nega a transmitir informações. Rei de Heppaceneoh, trouxe a Lala para coletar informações suas.
- Ah, claro - o Rei zombou - com o quê? Alicates ou água fervente?
- Bem, as fadas são bem melhores que isso, sabe! - retrucou Lala.
O Rei deu um sorriso zombeteiro, do tipo "duvide-o-dó". Lala mordeu o lábio inferior de irritação e voltou-se para a Siih.
Siih deu um frio sorriso e voltou a sua atenção para Maria e Renegada:
- Queremos vocês duas no interrogatório. Maria, somente porque o assunto é de seu interesse. Renegada, a mesma coisa.
Estalou os dedos, e as cobras finas e brancas chiaram e se desfizeram.
Iria começar o interrogatório.

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- Johnny? - pergunta Raveneh meio tonta.
- Trouxe presentes - disse Johnny sorridente - você gosta de chocolates?
- Amo - murmurou Raveneh se sentando na cama e esfregando os olhos - Johnny, você trouxe chocolates?!
- Claro que sim! - murmurou Johnny - Nath recomendou, disse que chocolates fazem bem :) Aí eu comprei um monte!
- Ahhh! - Raveneh disse. Mas imediatamente mudou de postura, ficando mais ereta e provocante - que amor! - disse em uma voz completamente diferente, uma voz rouca e sensual - comprou chocolates para a Raveneh?
Johnny levantou o rosto surpreso. Não era possível! Justo agora?
- É, querido Johnny, justo agora! - murmurou Raveneh rindo - chocolates deliciosos, ao que parece!
- Raveneh? - perguntou Johnny pasmo.
Raveneh bufou impaciente, e se levantou da cama. Johnny ficou boquiaberto, afinal a Raveneh 'normal' não conhecia nem se mexer sem soltar um gemido de dor. E a Raveneh 'estranha' estava ali a sua frente, andando para todo lado.
- Raveneh?? Mas você não conseguia... - Johnny começou, ao que a Raveneh 'estranha' interrompeu bruscamente:
- Eu não quero saber! Meu nome não é Raveneh! Nome de santa, aff! - resmungou consigo mesma - ah, eu tive o paraíso naquele castelo, nas danças...
- Danças? - Johnny indagou.
- Sim, danças e só - murmurou Raveneh 'estranha' - meu nome é Catherine. E ai de você se não me chamar assim.
- Catherine...
A Raveneh 'estranha' que agora era Catherine sentou-se na beirada da cama, e olhou em volta.
- Legal esse quarto - disse - Johnny, o que a Siih queria com a Renegada?
- Quem é Siih?
- A Rainha - Catherine fez uma cara entediada.
- Não sei, Catherine - respondeu Johnny - e depois, o que você está fazendo aí? Raveneh, você está me pregando uma peça? Porque eu não estou gostando dessa história.
- Uuuh! - murmurou Catherine zombeteira - claro, você é tão certinho! Quer a sua amada Raveneh de volta e entupir-la de chocolates? Chocolate engorda, sabia? Sabe, Raveneh já vai engordar o suficiente quando tiver um filho seu... Qual vai ser o nome do pimpolho?
Johnny ficou tremendo, não sabia porquê: de raiva, ódio, medo, angústia.
A Catherine continuou tagarelando, até que Johnny se enfureceu.
- Basta! - gritou - não aguento mais! Se quer tomar o controle do corpo da Raveneh, que seja! Mas não venha encher meus ouvidos! Volte para a cama agora!
- Uiii! - sussurrou Catherine - o que vai fazer? Me chicotear? Me bater?
Johnny ergueu o rosto sério.
- Você seria mandada para um hospício se descobrissem sobre você... - disse Johnny - sabe, personalidades múltiplas não é muito comum por aqui.
- Ah, cala a boca, Johnny - riu Catherine - estou há séculos esperando poder agir como uma pessoa normal! Sabe, não ser a voz "da consciência" de Raveneh. Ah!, mas se ela soubesse o que moveu suas ações!
- ò.Õ uuhõ - fez Johnny com uma expressão surpresa, pasmo, divertido, tudo ao mesmo tempo.
- Sabe, Johnny, eu ODEIO Raveneh! Odeio, odeio, odeio!!! - exclamou Catherine emburrada - eu odeio muito³³³!!!!
- Catherine - e Johnny fez uma pergunta que nunca acreditava que iria fazer aquela personalidade estranha de Raveneh - quer um chocolate?
Catherine deu um sorriso.
- Mas você é um amor, Johnny! - disse - oh yeah, quero.
Catherine escolheu um chocolate em formato de morango na cesta, e comeu-o devagar, mordendo cada pedaço de forma lenta e paciente, sempre olhando para Johnny. E de repente, ele (Johnny) ficou muito vermelho. Achou o ambiente quente, e que estava tudo muito esquisito. Pensou em abrir a janela, mas logo a porta se abriu.
- Olá, pessoas - disse Nath sorridente lendo uns papéis - eu trouxe o remédio de Rave...
Parou vendo a cena estranha: Johnny todo vermelho feito pimenta e Raveneh/Catherine sentada na cama comendo chocolates.
- Raveneh, conseguiu andar? - perguntou Nath alegre.
Catherine olhou para Johnny receosa: e seu tom entregasse que ela não era a Raveneh normal?
- Sim... - murmurou Catherine tentando conter a voz e ter um jeito submisso - eu consegui...
Johnny engoliu em seco. Precisava falar sobre aquela história com Maria, Rafitcha, Nath, qualquer um!
Senão ele iria enlouquecer com essa Catherine que estava, cada vez mais, aspirando atitudes perigosas...

domingo, 23 de setembro de 2007

Parte 48 - Compras \o/ [romance! ♥²]

Não foi só Lala, Maria e a sua acompanhante (Renegada x.x) que foram ao Reino das Fadas. Johnny, Doceh, Lych e Rafitcha também foram, sob diferentes argumentos: Johnny queria comprar doces, Doceh iria a loja de poções mágicas, Lych precisava comprar armas e Rafitcha tinha que comprar sementes e coisas que estavam em falta nas Campinas, pois a cidade fora tomada pelos nortistas.
Ninguém entendera porque Renegada estava indo com a Maria. Ouviram dizer que ela fora convocada pela Rainha, e ninguém entendeu bulhufas disso. Mas ninguém ligou muito para o fato, pois todos estavam concentrados na recuperação de Raveneh, que ainda não conseguia andar sem se sentir tonta. Para evitar nervosismo, ela foi poupada de notícias como a Renegada sendo convocada.
Havia duas bonitas escadas rolantes de cristal, uma que subia em direção aos céus e a outra que descia do meio das nuvens. Maria, junto com o grupo, foi na escada que subia. Ninguém ali era iniciante: todos já foram no Reino das Fadas. Johnny e Rafitcha, inclusive, nasceram lá e estudaram juntamente com as fadas. Eram humanos normais, porém tinham cidadania de fadas, logo eram reconhecidos no Mundo das Fadas como cidadãos. Lych e Doceh foram muitas vezes (os primeiros dias da lua de mel se passaram no Reino das Fadas), e Renegada era uma fada das trevas. Ninguém sabia disso, mas dava para se perceber só pela sua expressão, que ela estava habituada.
Chegaram a Praça dos Sete Anjos, que serve de "seja bem-vindo" aos visitantes.
- Bem, nos separamos por aqui - disse Maria.
- Sim - disse Rafitcha - venha, Johnny. Tchau, povo.
Lych e Doceh se despediram também e foram na direção norte, enquanto Johnny e Rafitcha foram para o oeste. Já Lala, Maria e Renegada seguiram para o nordeste da cidade.

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- Você acha que Raveneh ia gostar disso? - perguntou Johnny analisando uma estante com diversos chocolates.
- Do quê? - murmurou Rafitcha descontraída, analisando sementes de jaca em outra estante.
- Disso! - exclamou Johnny com um sorriso e estendeu a mão, mostrando um chocolate em forma de flor. As pétalas eram feitas do mais puro chocolate amargo que existia, e o miolo era de baunilha que derretia na boca. Nas pétalas, confeitos de açúcar se exibiam orgulhosas de terem tentado se assemelhar a gotas de orvalho.
- Oooh, Johnny, é lindo! - exclamou Rafitcha admirada - claro que ela gostaria! Se bem que dá até pena de comer-lo!
- Sim, Rafitcha - Johnny concordou - tem tantos chocolates lindos!
- Eu não sabia que você era rico, Johnny - riu Rafitcha - por acaso, ganhou na loteria?
- Não, somente tenho algum dinheiro guardado - respondeu Johnny enquanto procurava outros chocolates - e o que trouxe foi somente para comprar doces...
- Você realmente a ama, Johnny - sussurrou Rafitcha - bem, não suma de vista. Irei comprar linho para roupas novas: estamos em outono, e daqui a algumas semanas o inverno chegará... Não podemos ser pegos desprevenidos!
- Tem razão, Rafitcha... - concordou Johnny com um múrmurio.
Surpreendeu-se com um chocolate branco em forma de um voluptuoso corpo de mulher com fartos seios, cintura fina e pernas definidas, e pensou: "Combina com a Raveneh estranha". Logo repreendeu-se ao pensar que podia levar aquele chocolate para Raveneh: o que estava pensando?

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- Veja que poção esplêndida, Lych! - exclamou Doceh entusiasmada - "Beleza por mil dias!" Que acha?
- Acho que você não precisa disso - disse Lych bastante desatento - o que você acha? Um pacote de quarenta espadas enormes e afiadas feitas de prata ou dois pacotes de pequenas espadas feitas de prata e ferro em brasa?
- Você nem está prestando atenção em mim! - repreendeu Doceh brava - mas de qualquer modo, melhor as espadas pequenas com ferro em brasa. Sempre se é melhor atingir os pontos fracos dos inimigos, e os nortistas vem de países frios e não estão acostumados com o calor.
- Vejo que você tem razão, querida - concordou Lych - e o que você dizia sobre uma poção?
- "Beleza por mil dias!" - afirmou Doceh - mas você já me deu a resposta que me foi bastante satisfatória.
- Para quê levar-la? - riu Lych - se você a levasse para as Campinas, as meninas iriam se ofender!
Doceh sorriu somente.
- Yeah - concordou.
- Espadas, flechas comuns, punhais, cordas... - recitou Lych.
- ...doces - completou Doceh com um sorriso.
- Doces... - concordou Lych.
- O que você acha que a Rainha queria com a Renegada? - Siih mudou de assunto, ficando séria.
- Não faço a menor idéia - respondeu Lych - você sabe que a Maria desconfia dela, né?
- Dela, quem?
- Renegada.
- Bem, eu não sabia - disse Doceh enquanto analisava uns vidros pequenos com um líquido nojento e verde - se bem que a Renegada é meio estranha, pro meu gosto.
Lych concordou com um múrmurio.
- Se bem que não podemos falar isso de ninguém - disse Lych com um sorriso - não sabemos do passado de ninguém ali nas Campinas...
- Mas não é disso que falo - retrucou Doceh - eu falo de que a Renegada nunca falou de quem era, e sempre me pareceu distante, apreensiva...
- Você tem razão, querida - concordou Lych - esse revólver ou este?
Doceh deu um sorriso acalentador e beijou Lych na bochecha.
- Só isso? - perguntou Lych zombeteiro.
- Essa poção ou essa?
Lych riu.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Parte 47 - Lala tem emprego novo! ;o

- O Rei foi encontrado? - exclamou Maria - peraí e...
- E o que querem comigo? - perguntou Lala, interrompendo a Maria.
- Quer que você ajude a arrancar informações do Rei - disse Gika alisando seu vestido branco.
- "Arrancar" informações? Eu sou estrategista militar, não uma torturadora! - exclamou Lala chocada.
- Ninguém está dizendo que você vai torturar o Rei, senhorita Lala - afirmou Gika.
- Ahãm. E que outro modo eu vou "arrancar" informações do Rei? - indagou Lala irônica - vou vestir uma minissaia e me insinuar toda?
- Pode ser - riu Gika.
- Ah, cala a boca! - suspirou Lala com um suspirou furioso - qual a recompensa?
- Muito, senhorita Lala - disse Gika sorridente estendendo um envelope - tem uma recompensa de, digamos, 20 moedas de ouro por hora =D
- Vinte moedas de ouro por hora?? - Lala disse surpresa - mas é uma fortuna! Ok, eu aceito o "emprego" *--------*
Maria riu com o deslumbramento de Lala.

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Chegou a noite. Johnny confidenciara a Nath sobre o desejo de Raveneh, e Nath consentiu que ele dormisse no mesmo quarto que a Raveneh. Esta ficou muito agradecida: teria alguém por quem chamar quando acordasse no meio da noite.
Chegou a noite com todos os seus mistérias e todas as suas sombras, e as pessoas começaram a dar "boa noite" uns para outros, e começaram a apagar as velas no navio, e este assumiu um aspecto fantasmagórico.
Johnny levou as cobertas pessoais e foi dormir na cama ao lado de Raveneh, que iria dormir sozinha, porque era a única hospitalizada do momento. Johnny apagou todas as velas, e Raveneh já estava mergulhada em um sono profundo. Deitou-se na cama pensativo.
Olhou para a face de Raveneh. Precisava contar a Maria sobre a segunda personalidade dela, senão como poderiam resolver o problema dela? Mas tinha medo de não o levarem a sério. Pare com isso, Johnny, disse a si mesmo, ninguém pensaria que você mente. Eles vão acreditar em você!
Mas Johnny não conseguia tomar coragem.
Fechou os olhos, cochilou durante uma hora, acordou quando escutou uns grunhidos que escutou.
Abriu os olhos, sentou-se na cama desperto. Mas logo percebeu que quem fazia os grunhidos era Raveneh que se debatia e chorava ao lado.
"Pesadelos?", pensou Johnny.
Sim, de fato era pesadelos. Raveneh se debatia, balbuciando palavras desconexas. Johnny se levantou e se sentou na beirada da cama, sempre pronto a amparar Raveneh. De fato, quinze minutos depois, não deu outra: Raveneh sentou-se na cama bruscamente, com um grito. Abriu os olhos e viu o quarto, e confusa, compreendeu que estava sonhando. Viu Johnny e debruçada em lágrimas, abraçou Johnny.

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Amanhecera, o sol viera sorridente como sempre, abraçando os dorminhocos no Navio. Mas Maria estava acordada, e de aspecto sério. Ninguém lhe perguntou o porquê de tanta seriedade, mas todos pressentiam que era algo sério. A Renegada, sendo uma fada das trevas, pressentiu que a coisa era com ela. E passou o dia ansiosa. Finalmente, quando o sol já subia, todos seguiam com a sua rotina anormal e depois do almoço, Maria chamou Lala e perguntou:
- Você partirá ao cair da tarde, não é?
- Sim, Maria - respondeu Lala não compreendendo o porquê da pergunta - já estou de malas prontas, só falta despedir-me dos amigos.
- Poderei ir contigo? - perguntou Maria.
- Claro, porque não? - concordou Lala dando um fraco sorriso.
- E eu gostaria de levar uma certa pessoa comigo... - murmurou Maria - iremos com você, está bem?
- Oh, yeah - sussurrou Lala.
Maria deu um sorriso e foi falar com qualquer pessoa, deixando uma Lala absolutamente confusa.

domingo, 16 de setembro de 2007

Parte 46 - Rei e Siih, malvados e irônicos

- Eu não consigo me lembrar ;_; - disse Raveneh tristemente - eu não sei como saí de lá...
- E o Arthur? - perguntou Maria - ele...
- Sim, é o filho adotivo do Rei - confirmou Raveneh - eu nem sei por que o trouxe. Ele é um menino chato, mimado, um pirralho qualquer. Mas... não sei, eu não sabia o que estavam fazendo com ele... E sem contar que o menino vale chantagem...
- Você tem uma mente sombria, Raveneh - riu Rafitcha. Ela estava bem mais leve agora que Raveneh podia conversar normalmente com ela e com todas as outras pessoas. Sim, Johnny ainda não contara sobre a segunda personalidade de Raveneh. Ele roía as unhas de preocupação, porque pressentia que esta Raveneh era perigosa. Ele não tinha certeza de nada, mas tinha medo do que poderia acontecer. E queria contar para Maria depois de conversar com a Raveneh "normal".
- Sim, estou bem... - Raveneh deu um suspiro.
- Bem, Johnny quer falar com você - disse Nath - vamos nos despedir aqui, você conversa com Johnny e dorme, está bem?
- Ok, Nath...
As pessoas foram saindo da sala, e entrou Johnny. Nath deu um sorriso malicioso e saiu da sala, juntamente com os outros.
- Olá, Johnny - cumprimentou Raveneh.
- Olá, Raveneh - respondeu Johnny admirando a face pálida de Raveneh - o que você vai fazer assim que sair dessa cama?
- Não sei - disse Raveneh - Johnny, eu tenho medo de dormir sozinha.
- Eu posso pedir a Rafitcha ou a...
- Não... Deixe elas - interrompeu Raveneh mordendo os lábios - eu... Você pode ficar naquela cama.
Johnny agradeceu em silêncio por a sala estar escura, sendo iluminada por umas poucas velas, porque assim Raveneh não viu que seu rosto ganhava uma tonalidade avermelhada muito interessante.
- Raveneh...?
- Não fala nada - disse Raveneh - eu só tenho medo de ficar sozinha. Por favor, não seja que nem Paulo e o Raven com mentes sujas...
- Rarã... O.o
Raveneh deu um sorriso e voltou a dormir.

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- Soltem-no - disse Siih - quero conversar com um Rei que saiba falar uma frase inteira com coerência.
As cobras que atavam as mãos do Rei chiaram, e caíram no chão, se contorcendo. E logo se desfizeram em chamas. Gika deu um múrmurio de surpresa, Vê chiou de nojo. O Rei deu um fraco sorriso, admirando suas mãos. Seu olhar que estava vazio logo assumiu uma expressão feliz.
- Não pense que está livre, Rei de Heppaceneoh - sibilou Siih - eu quero que me explique o desrespeito ao Tratado. Será que eu devo mandar você a falar com a Maria Jhujhu?
- Odeio a Maria Jhujhu ò.ó - disse o Rei.
- Eu não entendo seu ódio por ela - disse Siih - mas eu sei o que posso fazer para resolver seu problema de não se comunicar...
E logo duas cobras brancas e finas apareceram sibilando na mesa. O Rei assumiu uma expressão de medo e sussurrou:
- Eu digo...
Siih deu um sorriso. Virou-se para o séquito que a acompanhava e disse muito séria:
- Vocês estão dispensados. Muito obrigada.
Lefi abriu a boca para protestar, mas se calou ao ver a expressão segura de Siih. Se conhecia bem a irmã, ela iria intimidar o Rei até a morte, se for possível. Literalmente.
Todos saíram, deixando a porta fechada. Siih deu meia volta, e disse:
- Por que você desrespeitou o Tratado?
O Rei não respondeu.
- Por que você tentou raptar Raveneh?
Nada de respostas.
- O gato comeu a sua língua, Vossa Majestade?
O Rei levantou o olhar.
- Sabe, você está em baixa. Se eu te entregar ao povo das Campinas, você está morto! As pessoas têm raiva, sabem, quando alguém não cumpre uma promessa...
- Eu quero a vingança... - o Rei disse quase num sussurro.
- Vingança? Com quem? - Siih retrucou - eu era pequena na época, mas não quer dizer que eu seja burra.
- Você não sabe a história toda, menininha.
- Menininha? Aqui eu sou a Rainha, e é pra me tratar por Vossa Majestade ò_ó - sibilou Siih com raiva.
- Da missa, você não sabe a metade - riu o Rei.
- Você prefere morrer envenenado, fuzilado ou enforcado? - indagou Siih de costas para o Rei.
- Acho melhor envenenado, sem ninguém observando - respondeu o Rei com um suspiro.
- Você não é um bom pai - afirmou Siih.
O Rei levantou o olhar, furioso.
- Por que diz isso?
- Que tipo de pai não pergunta pelo filho? - indaga Siih voltando-se para o Rei, com um olhar sarcástico.
- Eu sei que Arthur está bem, Vossa Majestade. Ou você achou que eu ia deixar meu filho sem garantias?
- Ele tem a proteção de uma fada, por acaso? - ironizou Siih que sabia que bem poderia ser verdade.
O Rei deu um sorriso.
- Melhor que isso, minha cara. Mas melhor não falar muito... É segredo - finalizou a fala deixando o mistério no ar.
Siih mordeu a língua para conter o desejo de perguntar o que isso significava a resposta.
- Bem - disse o Rei - então vai ser difícil fazer você abrir a boca...
- Com certeza - disse o Rei.
- Você pode me dar uma pista, Vossa Majestade - perguntou Siih com uma ironia malvada.
- Perfeitamente, Vossa Majestade - respondeu o Rei com um sorriso - existe uma certa pessoa que sabe de tudo... Ela sofre, coitada.
- Ela? Quem é ela?
O Rei deu um sorriso ainda mais maldoso e respondeu sibilando:
- Eu não devia contar, mas pra uma moça tão bonita, quem resiste?
Siih bufou de irritação, e somente sussurrou um "fala logo, otário" em voz muito baixa. Mas o Rei ouviu e disse com uma maldade inconfudivel:
- Conhece uma tal de Renegada, das Campinas? Pergunte a ela sobre mim...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Parte 45 - Quarto de Gelo & Raveneh =D

Siih logo recuperou a compostura, e abriu a porta da Sala Escura, que tinha o nada singelo apelido de "Quarto do Horror" devido as torturas que aconteceram há mais de dois séculos, numa guerra lendária.
Dentro da sala, uma mesa de madeira e várias cadeiras. As paredes escuras, mas limpas. Reinava no aposento um clima de mistério. Uma fada de cabelo preto logo ergueu o nariz, e disse serenamente:
- O Rei de Heppaceneoh foi capturado em condições imploravéis, Vossa Majestade.
Siih olhou mais atentamente: quem falava era a Gika. Bem, fazia sentido: Gika tinha uma graduação excelente em Medicina, e era a Médica do Conselho. Nada mais justo que designar-la como a médica responsável pelo Rei de Heppaceneoh.
- Continue, srta Gika Branca - disse Siih gravemente.
- Ele está preso, e sendo bem-alimentado. Encontraram-no perto das Colinas do Diabo (que nome O___O" Imagino o motivo xD), mais exatamente na Taberna do Joè (N/A: se pronuncia "Joéé") tentando negociar a vigésima segunda caneca de uísque fervente com o dono do estabelecimento, Lue Joè Mêndelêh. Estava sem dinheiro algum, e ofereceu como pagamento a capa real que usava. O dono ficou chocado com a suavidade da capa, e viu o brasão da família real bordado. Achou que fosse algum ladrão, e denunciou as guardas. Logo foi reconhecido como Rei, e as fadas que lá estavam o trouxeram hoje, há exatamente quarenta e sete minutos, e err... dezessete segundos...
- Entendo... Quero interrogar esse Rei. E ai dele se tentar alguma gracinha ò_ó - disse Siih em um sussurro maldoso.
- Wow - disse Vê - ele está a sua espera, Vossa Majestade.
Siih somente deu um sorriso frio, e disse:
- Quero que Gika Branca, Vê G., Lefi e as duas fadas Guardiãs Reais acompanhem-me! - acentuou seu sotaque forte - agora!
Todos se puseram de pé, atrás de Siih, que estava toda chique na frente vestida de azul bem escuro, quase preto. Usava também um broche de prata em formato de estrela. No Mundo das Fadas, quando se morre alguém querido, é hábito usar roupas escuras. E a filha/o filho do falecido tem que usar, durante sete dias e sete noites, um broche em formato de estrela simbolizando saudades e iluminação. E era o que Siih estava fazendo.
Lefi vestia um manto negro muito bonito, Gika Branca um vestido amarrado com uma faixa clara na cintura e o vestido era da cor do mar. Vê usava um vestido que tinha a mesma tonalidade que a casca das árvores de uma floresta encantada. E as duas fadas Guardiãs Reais usavam o mesmo uniforme: um vestido branco e pouco volumoso, e um manto por cima, sempre branco de borda dourada: lembrava um poucos os gregos de antigamente, quando se conta sobre mitos gregos.
Atravessaram um comprido corredor, muito limpo, muito branco, muito... errr... muito frio. E chegaram a uma porta gigantesca, feita de gelo. Gika e Vê ficaram boquiabertas: construções feitas de gelo que não derretem não existe em qualquer lugar do mundo... São muito difíceis de fazer e exigem um bocado de magia: fadas com mais de cinqüenta anos de idade vestidas de amarelo, flores raras vindas do Oriente, e água da chuva...
- Rüeeh Min Ik Okï! - disse a Rainha Siih com rispidez.
Esse foi o máximo que consegui escrever as palavras em caracteres humanos, pois a língua é muito antiga. E como já disse aqui, a história se passa em tempos remotos antes de vir os homens das cavernas e o sol e a lua concordarem em não falar com humanos. E como estava contando, depois de Siih dizer os enunciados, a porta de gelo se abriu. Vê e Gika soltaram um múrmurio de surpresa: então as lendas eram verdadeiras!
O grupo entrou no aposento. Enorme, feito de gelo. Todos tremeram menos as fadas Guardiãs Reais, porque elas são pagas para se manter paradas e leais, e não para tremer em um quarto feito de gelo. Um quarto cujo teto tinha formato triangular, claro. O gelo não se derretia mesmo com o sol queimando lá fora. E no centro, uma única mesa, feita de vidro. E nesta mesa, estava sentado o Rei, de cabeça baixa, olhar sem expressão e mãos atadas com cordas brancas.
Gika se aproximou e percebeu que as cordas que atavam as mãos do Rei não eram cordas.
Eram cobras finas, de olhos vermelhos e maus.
O Rei estava sendo submetido ao pior tipo de tratamento psicológico que existia no Mundo das Fadas.

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Nath estava sentada ao lado de Raveneh, vestida de branco, lendo um livro grosso quando Raveneh se mexeu.
- Nath? - disse Raveneh em um tom tão fraco, que parecia estar a beira da morte.
- Raveneh! - exclamou Nath largando o livro de lado - como você se sente??
- Mal - murmurou Raveneh - eu... eu vim pra cá? Quando?
- Johnny te trouxe - Nath respondeu - você estava tão cansada! Desmaiou assim que Rafitcha te viu...
- Nossa - Raveneh suspirou - minha cabeça dói, Nath. Como está Rafitcha? Maria? Renegada?
- Todos bem, todos bem! - exclamou Nath - quer água, comida, qualquer coisa?
- Quero... bem, chamem Rafitcha, Maria, Umrae, essas pessoas primeiro. Faz muito tempo que não os vejo e tenho tanta saudade, Nath! - exclamou Raveneh dando um fraco sorriso - e depois quero falar com Johnny a sós.
Nath deu um sorriso.
- Sim, chamarei todos! - exclamou ela sorridente. E saiu pela porta afora.
Raveneh suspirou feliz. E olhou para o teto de madeira, dando um alegre sorriso. Estava em casa. Em casa.
Ela estava em casa.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Parte 44 - Ah!, o Navio! *.* E... pobre borboleta ;__;

Raveneh, Johnny e Arthur concluíram a sua viagem até as Campinas em três dias e três noites: não foi uma viagem exatamente empolgante, que foi basicamente dos três jovens se escondendo da Guarda Nortista que vigiavam as fronteiras. Não foi uma viagem interessante para se viver, quanto mais para se escrever sobre. De modo que eu, modestamente, pulo essa insignificante parte e vou direto que o trio chega as Campinas exaustos e irritados, e no caso de Raveneh, confusa.
Em seguida o trio avança, exausto, pela floresta que vem antes do Navio. E logo chegam ao imponente navio, e logo se sentem realizados - com exceção de Arthur, claro, que como toda boa criança mimada, logo começa a se debater e gritar qualquer besteira sobre não gostar dali. Raveneh mal ligou para o menino, somente deu um olhar maravilhado ao navio e caiu de joelhos na terra, com uma expressão de puro alívio. Johnny dá um sorriso misterioso, mas não tem nenhuma reação especial que se assemelhe a de Raveneh. Os gritos infantis logo chamaram a atenção de quem estava dentro do Navio, e logo veio Rafitcha, como se fosse um fantasma: deslizando pelo chão.
- Raveneh! - exclamou Rafitcha surpresa.
- Rafitcha... - exclama Raveneh, quase em um sussurro, dando um fraco sorriso.
- Oh!... - e logo Rafitcha cai no chão, pois Raveneh numa tentativa desesperada de se manter acordada, apoiara-se nela. Porém o cansaço chegou, fazendo-a desmaiar.

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Siih olhava com um olhar desinteressado pela janela, como se não fosse ninguém importante. As camareiras vinham arrumar seu quarto, e se assustavam com aquele olhar absolutamente vazio, nada comum vindo da própria Rainha.
Sim, de fato, a "conversa" com Lefi a atingiu profundamente. Relembrou todas as vezes que tivera crises de dor de cabeça, e no que acontecia depois. Ela se acostumara que a cada acesso de raiva, as plantações queimavam, que a cada crise de choro e depressão, o sol assumia um aspecto sombrio e as nuvens se fechavam, que a cada alegria, as flores se abriam coloridas e até mesmo a chuva vinha colorida. Simplesmente Siih nunca havia percebido que o mundo regia conforme seu humor. E ela não sabia se isso era bom ou ruim.
Mas ela se assustava tanto!
Estendeu um dedo, e uma borboleta enorme e vermelha pousou nele. Siih deu um sorriso. Todos pensam que é muito fácil uma borboleta no dedo, mas não é verdade: as borboletas pousam nos dedos de todos, menos no seu.
- Vire um cisne, minha borboletinha cor de sangue... - murmurou Siih, sem ter conta do que estava falando.
E em um instante, a borboleta crescia. O minúsculo corpo frágil e preto virou o corpo imponente de enorme cisne branco, as asas vermelhas ganharam uma fina e macia penugem branca. Nascia-lhe um bico dourado, uma cabeça ovalada, e as patas douradas. Tudo no cisne era lindo. Mas ele não sabia voar, e Siih estava em seu quarto, que ficava em uma das torres mais altas do castelo. De modo que Siih deu um grito quando percebeu que o cisne já não estava mais lá, mas sim lá embaixo onde se juntou as rosas bem-tratadas do jardim, e a terra se tingia de sangue...
Siih recuou assustada, e se sentindo mais culpada que tudo. Encarou as próprias mãos, de olhos arregalados: que poder era esse, tão grande?
Escutou batidas na porta, e Siih escondeu as mãos, assumindo um ar sério.
- Majestade, Majestade! - exclamou um rapaz de baixa estatura, com um nariz muito pontudo e olhos negros de expressão vazia.
- O que foi? - exclamou Siih brava.
- Encontraram o Rei, Majestade! O Rei foi encontrado! - exclamou o rapaz - e ele está aqui no Reino das Fadas!

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- Raveneh tem vários machucados...
- Coitada! Mas além desses machucados, o que mais ela tem?
- Terei que ver... Ela foi chicoteada, por exemplo.
- Ela nunca falou disso comigo ._.
- Deve ser vergonha, Johnny. Se você fosse chicoteado, contaria?
- Err... acho que... sim!, epa... não!
- Então pronto! Bem, Raveneh está mal. E temo de pensar nos efeitos psicológicos...
- Ela ainda está desacordada... Não seria melhor, sei lá, ela acordar e...
- Deixe ela acordar, Maria. Calma, não foi sua culpa nem nada. Ela está bem!
- Como?! Eu que a mandei para aquele castelo, é claro que...
- Não! Não admito que você pense isso, Maria! Vamos indo, veja, a Doceh está fazendo bolo de chocolate...
- Ai, Ly, mas...
- Maria...
- Tá bom, tá bom! Ah... pobre Raveneh!
- Gente, ela precisa de descanso.... Poderiam sair do aposento, por favor?
- Até eu??
- Até você, Johnny. Vá embora, vá comer o bolo da Doceh, vai...
- Te odeio, Nath =D
- Eu também te odeio, Johnny xDDD Mas agora tem que ir, ou será que vou ter que lançar uma injeção contra você???
- Tou indo, tou indo! Sai de perto, sai de perto!
- Olha, a agulha tá próximaaaa....
- Ahhhh!!!!! Ok, ok, good good bye bye good good bye...
- Tchau, Johnny.

domingo, 9 de setembro de 2007

Parte 43 - Lefi acusa Siih de provocarem cobras e donas-de-casa a...

Siih sentou-se na cama, cansada. Olhou para o vazio, mordendo o lábio inferior repetidas vezes: que dor de cabeça desgraçada! Andou várias vezes de um lado para outro, deitou-se na cama diversas vezes, bebeu vários goles de água, sempre resmungando. Tomou o chá mágico inteiro, mas nem assim a dor passou. Suspirou. Tinha uma Assembléia para dali a uma hora, e mal conseguia entender o que as pessoas falavam ao seu redor. Estava tudo muito confuso, estava tonta e tudo o que queria era dormir para sempre.
Mas a dor de cabeça não lhe permitia dormir.
Respirou. Um. Dois. Três.
- Siih? - chama alguém.
Siih levantou a cabeça. Era Lefi, muito bonito, em suas vestes reais.
- Você está bem? - perguntou Lefi.
- Claro que não - Siih resmungou - nem com chá, esta maldita dor passa.
- Tem certeza que não precisa de um médico?
- Não! O que vai dizer? Eu não estou doente!
Siih respirou fundo mais uma vez.
- Há quanto tempo você tem essas dores de cabeça? - perguntou Lefi.
- Há muito tempo. - respondeu Siih.
- Como foi a viagem ao Oriente? - Lefi perguntou.
- Ótima. Perfeita, excelente! - resmungou Siih - pra que esta pergunta agora?
- Err... por isso. - e Lefi mostrou um jornal.
Siih ergueu o olhar intrigada, pegou o jornal e começou a ler:

ESTRANHO TUMULTO EM DEFIJÄEH - COBRAS DANÇAM MACARENA E XUXA E DONAS DE CASA FAZEM STRIP-TEASE EM PLENA AVENIDA PLOE.

Noite passada, um estranho acontecimento tomou conta da cidade de Defijäeh. A cidade famosa por ser pacata, com bichos selvagens guardados que são atração turística virou notícia. Cobras selvagens e venenosas fugiram das reservas naturais e foram para os bares da região Noroeste, onde se dança valsa. Mas ao invés de envenenarem a população, simplesmente subiram no palco e rebolaram uma dança semelhante a de macarena, famosa durante a década de 70. Logo os músicos começaram a tocar Xuxa, e as cobras seguiram o ritmo sob os olhares assustados e impressionados das pessoas que estavam ali. Mal as cobras terminaram de dançar, logo a cidade se impressionou mais uma vez: na Avenida Ploe, sempre agitada, donas de casa se instalaram no meio da rua, causando congestionamento, e dançaram diversos tipos de música, desde tango até funk, sempre tirando peças de roupa. Logo foram presas por atentado ao pudor (na hora em que foram presas, estavam somente com as peças íntimas), mas liberadas no dia seguinte.

Ninguém entendeu as razões. Pesquisadores dizem que, provavelmente, foi um poder mágico... (...)


- Tá. O que isso tem a ver comigo? - indagou Siih.
- Aonde você foi exatamente, Siih? No Oriente? Você conviveu com as cobras?
- Você está dizendo que eu sou culpada disso aí? Lefi!... - mas logo mordeu o lábio inferior ao ver a séria expressão no rosto de Lefi - sim, eu convivi com cobras lá! Esqueceu que eu me hospedei na pensão do Sir Snake? Ele tem uma criação de cobras!
- Sim, estou achando que você é culpada disso - Lefi disse - mas não porque quis... Siih, eu... eu andei estudando um pouco por aí e acho que você é capaz de manipular mentes.
- O quê? - Siih sorriu desagradavelmente - manipular mente de donas de casa para fazerem strip-tease em plena Avenida Ploe? Está brincando!
- Manipular mente de qualquer pessoa.
- Ah, siiiim!!! Por que não manipulo a sua agora? - Siih estreitou os olhos - Lefi, vá embora, Lefi vá embora Lefi vá embora...
- Pára com isso! ù_ú - Lefi exclamou autoritário - você vai procurar um médico. Essa dor de cabeça não é normal. E também não é normal que a cada crise séria sua, aconteça coisas estranhas!
- Crise séria?
- Estou sabendo que você passou mal no Oriente! Ou você tá achando que é segredo? Todas as vezes que isso acontece... é sempre notícia de jornal.
Jogou o jornal na cara de Siih, que assustada, recuou.
- Você lembra de Doeh?
- Aquilo foi um acidente.
- Do pássaro rosa? Da camponesa de quatro braços? De papai?
- CALA A BOCA! - gritou Siih.
- Você precisa aprender a controlar isso - Lefi disse - senão vai prejudicar tudo isso. E cobras que dançam macarena é somente uma parcela do poder que você tem.
Lefi saiu do quarto, deixando uma Siih completamente confusa e que se sentia absolutamente culpada.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Parte 42 - Um caminho para casa.

Raveneh acordou meia hora depois, toda suada. Arthur já dormira, mesmo com os sussurros de Raveneh, mas Johnny não.
- Está acordado, Johnny? - perguntou Raveneh quando percebeu que Johnny estava sentado ao lado dela, com um olhar vazio.
- Sim, Raveneh - respondeu Johnny.
- Você está estranho, Johnny - disse Raveneh - o que foi?
- Com o quê você sonhou, Raveneh?
Raveneh emudeceu. Logo engoliu em seco, e sussurrou:
- Não foi nada...
- Nada? E este suor é o quê? Você dormiu, não dançou nem nada...
- Nada!... - Raveneh exclamou. Percebeu que Johnny estava bastante mal-humorado, e logo deu um suspiro - o que houve?
- Não mente, Raveneh - Johnny disse, ríspido.
- O que aconteceu com você? - perguntou Raveneh quase aos gritos - você está esquisito, estranho, ríspido, de mau humor...
- Você também está estranha! - retrucou Johnny - eu não consigo mais te entender! Você não se lembra de nada! Você foi buscar Arthur, mas não se lembra disso! Você mal consegue falar comigo direito, mesmo depois das cartas que trocamos! Você não é mais você... você virou caso de psiquiatra!
Raveneh mordeu o lábio inferior, tremendo. Ela não conseguia compreender o porquê de Johnny estar tão agressivo... mas ela também sofria por não se lembrar...
- Você trocou de corpo hoje, Raveneh - disse Johnny - e ficou parecendo uma vadia. E não se lembra disso!
- Eu mal sei trocar de corpo! - exclamou Raveneh surpresa.
- Mal sabe? Pergunte ao Arthur como você foi buscar-lo! Ele fez um escândalo, e você quase foi morta! Ele não te reconheceu, Raveneh! Pra começar, nem de cabelo preto você estava!
- Você está mentindo, Johnny. Eu não sei trocar de corpo!
- Então quem trocou de corpo na minha frente hoje?
- Não sei... não sei - Raveneh emudeceu - Johnny?
- Sim?
Johnny já estava se sentindo culpado. Não precisava ter exigido tanto de Raveneh... ela sofrera um bocado para poder sair do castelo, e ele só fazia ser ríspido com ela. Mas ele não conseguia se controlar.
- Me abraça.
Johnny deu um sorriso. Esta era a Raveneh que ele conhecia e admirava.

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Gika e Veronica estavam na Central Psicológica, que abrigava quatro hospitais diferentes: Son Miick, Santa Friggi, Son Mujik e Santa Män que era onde Gika trabalhava agora.
- Eu queria fazer parte da guerra ù_u - reclamou Gika - mas a Rainha só me manda pra cuidar de loucos!
- Você não estudou pra isso? - indaga Veronica risonha.
- Sim, mas eu queria... - Gika emudeceu. Veronica tinha razão: ela batalhou tanto pra ser médica do Conselho! Pra que reclamar tanto! Então deu um olhar (AQUELE olhar ò__ó) para Veronica e disse, quase sibilando:
- Eu preciso trabalhar!
- E o kiko?
- E o kiko - repetiu Gika sibilando - é que muita conversa, atrapalha!
- Oh, sim - Veronica riu gostosamente - lembrei que tenho que assinar umas admissões...
E Veronica saiu da sala correndo.

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- Arthur, quem te tirou do castelo? - indagou Johnny.
- Uma mulher loira toda bonitona - respondeu Arhur descrevendo o corpo dela com as mãos.
- Aham. Raveneh, foi você e não foi você quem buscou o menino... - observou Johnny.
- Primeiro, eu tenho um nome e pra vocês, eu sou a Vossa Alteza ù_ú E segundo, ela se chama Catherine! Num sabe nem o nome dela...
- Primeiro, você não é o príncipe onde eu vivo não - replicou Johnny - e você é um sequestrado, portanto mantenha-se na posição de sequestrado. E segundo, você ACHA que o nome dela é Catherine. Mas ela se chama Raveneh.
Arthur somente resmungou qualquer coisa a respeito de "eu odeio isso aqui".
- Raveneh, precisamos voltar - disse Johnny - mas as estradas estão bloqueadas.
- Sim... e apesar de que num dia normal, a gente demora somente uma tarde... nesses tempos, demora... - Raveneh concordou.
Johnny deu uma espiadela furtiva pela janela. Tivera sorte de que naquela área não tivesse vigilância...
- Bem, Arthur, você está pronto? - indagou Johnny.
- Sim, Johnny - disse Arthur de cara amarrada.
- Raveneh?
- Yes.
- Então, vamos!
E o trio deu o primeiro passo para a estrada. Somente uma estrada os separava de se juntar com a família deles...

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Parte 41 - Mico (:B) e Arthur/Raveneh/Johnny (o_O)

- Cara, estou morrendo de dor de cabeça - reclamou Raveneh - eu queria acabar com isso... quero voltar.
- Então vamos voltar - afirmou Johnny - a gente corta o caminho pela floresta.
Raveneh revirou-se na cama, olhando para o teto. Disse em uma voz sombria:
- Temos que pegar o menino.
- Que menino?
- Arthur.
- O príncipe? - indagou Johnny. Ao ver Raveneh confirmando com a cabeça, ironizou: - claro! Chegamos lá, vamos até o quarto de Vossa Alteza e simplesmente dizer: vem viajar com titia e titio, vem! É isso?
Raveneh se sentou.
- Desde quando você se tornou tão irônico, Johnny? - perguntou - céus!
Johnny mordeu o lábio inferior e ignorou a pergunta:
- Vamos voltar, é melhor - disse - mas se quer o menino, tá bom, mas... se algo acontecer a você, eu não vou mais me perdoar.
Raveneh deu um sorriso, e Johnny já não reconhecia mais a menina. Entendia que ela devia ter mudado bastante, mas as mudanças de Raveneh foram um pouco longe demais. Por que ela parecia variar de personalidade toda hora? Por que ora ela era amável, generosa e outra hora, ela era petulante e agressiva, até? O que foi que aconteceu? Por que Raveneh teve amnésia? Esqueceu do que aconteceu com ela?
Suspirou. Foram, escondidos, até no meio da vila. Avançaram cuidadosamente por toda a cidade dominada, e Johnny se remoía porque tudo o que queria era tirar Raveneh dali e levar-la para as Campinas e assim Nath poderia cuidar dela direito: Raveneh estava com sono toda hora, morria de dor de cabeça e tinha horas que não era ela mesma. Mas aí, Raveneh não tinha sono nenhum: mandava, batia o pé e parecia não conhecer Johnny direito, tratava Johnny como se fosse um total estranho. E Johnny odiava isso. Mas ele não queria deixar Raveneh, afinal ele a amava...
- Precisamos passar pelos guardas - disse Raveneh. Johnny suspirou:
- Descobriu sozinha?
- Cala a boca, Johnny - reclamou Raveneh - podemos subornar os guardas =D
- Quê? O.o Mas não temos dinheiro! - observou Johnny, ao que Raveneh replicou:
- Mas eu tenho um corpo (N/A: O___O RAVENEH???) - e num piscar de olhos, toda a Raveneh mudou de aparência.
Os cabelos pretos e desarrumados deram lugar ao cabelo loiro, perfeitamente arrumado como a Marylin Monroe (N/A: não sabe quem é? Corra no Google JÁ!), o corpo ainda frágil que não era nem de criança nem de mulher completa deu lugar a um corpo totalmente fatal, estonteante cheio de curvas exuberantes. O olhar, antes dócil e inocente, agora era cheio de mistérios. Raveneh tinha 16 anos de idade, mas parecia uma mulherona de 20. Johnny, claro, ficou de olhos arregalados (O_______O):
- Que droga é essa? Raveneh, você está bem? - perguntou.
- Eu vou pegar o menino - disse Raveneh - fica aí.
- Mas...! - Johnny mal pôde terminar, pois Raveneh sumira pelo castelo.
Aimeudeus, pensava Johnny, Mariavaimematar,merda!,Ravenehvaisedámal!!quedrogafoiaquelaqueaconteceucomela????
Não precisou se preocupar muito: meia hora depois Raveneh estava de volta, no corpo de mulher, com um menino de nove anos com uma cara de louco.
- Pronto! - Raveneh disse.
- Você é louca. - suspirou Johnny.
Raveneh somente deu um sorriso. Um sorriso que tanto poderia ser da Raveneh inocente que Johnny conhecera quanto da Raveneh exuberante que Johnny tinha medo.

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Siih tomou um gole do seu chá mágico e continuou:
- Maria, você levou a Lala para as Campinas, e ela é bastante talentosa - engoliu mais um gole - ela pode lhe ajudar a defender as Campinas.
- Sim, Vossa Majestade - murmurou Maria - ela vai ficar com a gente.
- Então, já definimos nossos papéis, não é? - Siih continuou - o Rei precisa da nossa ajuda, pois sem nós, o Reino dele não é nada. Mas ele está desaparecido, e para ajudar-lo, precisamos dele. Veronica G, quero que vá para a Central Psicológica.
Veronica suspirou.
- Como queira, Vossa Majestade - disse.
- Então tudo bem. Gika Branca, eu vejo aqui que você se especializou em... - Siih disse, mas foi interrompida por Gika:
- Medicina Sangüinea e Doenças Degenerativas e Psicológicas. Resumindo, medicina. - e Gika ficou vermelha de novo: afinal não era prudente interromper uma Rainha justamente no primeiro dia de trabalho. Que bola fora!, resmungou consigo mesma.
Lefi sufocou o riso ao ver a expressão constrangida na cara de Gika. Siih somente levantou uma sobrancelha. Petulante, pensou, me interrompe quando estou falando! Que bom para ela que ela foi selecionada na ENAM... senão era demitida na mesma hora ¬¬º
- Siih, releve isso - cochichou Lefi, mal conseguindo disfarçar o riso - a menina tá nervosa e você ainda aumenta o nervosismo?
- Cala a boca, Lefi! - exclamou Siih - só você pra rir numa hora dessas, não é?
- Foi engraçado!... - e Lefi começou a rir. Siih levantou as duas sobrancelhas e virou-se para a Gika, anunciando:
- Bem, quero você no Hospital Santa Män. Como a vice-chefe da Operação, claro - e virou-se para falar com outra fada.
A essa altura, a Assembléia já não estava mais organizada. Mas sim uma confusão: as fadas todas falavam umas com as outras, por isso quase ninguém percebeu o mico da Gika.
- Que micoo!!! - exclamou Gika baixinho - como eu fui interromper a...
- Calma, Gika - consolou Veronica rindo - ela nem te demitiu! Podia ser pior, né?
- Pior? Quer coisa pior do que a própria Rainha te achar uma... Vê, ela vai cismar comigo agora!...
Veronica só riu.

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- Droga.
- O que foi, Johnny?
- As estradas estão bloqueadas.
- Mas não íamos cortar caminho pela floresta? - indagou Raveneh.
Johnny fitou Raveneh. Estava no corpo normal, olhando docilmente para as paredes. Ela havia voltado ao normal, e ficou muito confusa. "Que corpo é esse?" havia perguntando ao Johnny "o que Arthur tá fazendo aqui?". E Johnny tinha que explicar tudo. Mas agora Raveneh tinha lembrança de uma coisa que ele havia dito para a Raveneh Estranha, como ele apelidou quando a Raveneh não estava em seu estado normal.
- É verdade - concordou Johnny - mas eles bloquearam tudo. Tá ruim pra gente voltar.
- Céus - suspirou Raveneh - quero voltar logo para as Campinas... que dor de cabeça! Será que Nath tem algum chá pra isso?
- Com certeza. Como está Arthur? - perguntou Johnny.
- Dormindo. Tive que cantar mil vezes pro moleque dormir - resmungou Raveneh - principezinho... Johnny, como está o povo lá? Só te perguntei isso agora!
Johnny logo deu um sorriso. Respondeu:
- Bem... todos estão bem e muito preocupados com você, Raveneh... quando os nortistas invadiram, a gente só faltou morrer... Maria, então, ficou se sentindo culpada porque ela que enviou você pra cá...
Raveneh sorriu inocentemente.
- Amo-os... - bocejou - bem, vou dormir. Estou morrendo de sono. Boa noite =*
- Boa noite, Raveneh =*
Johnny fitou a vela iluminando o aposento fracamente. Deu uma olhada ao redor. Olhou os dois montinhos na cama, e deu um suspiro. Que diabos acontecera com Raveneh? Arthur tinha um sono tranqüilo, mas Raveneh não. Logo ela começou a se mexer, sussurrando palavras desconexas. Johnny deu outro suspiro de cansaço, e sentou-se na beirada da cama observando Raveneh se remexer na cama, de olhos fechados. Aparentemente, estava tendo um pesadelo. E daqueles.
- Não...papai!,não.. - dizia Raveneh - por favor! - continuava ofegante.
Arhur se remexeu e logo abriu os olhos.
- O que houve? - indagou - Catherine está tendo pesadelos?
- Sim - respondeu Johnny num múrmurio - ela está tendo pesadelos.
Arthur somente a olhou calado e sério. Suspeitava que a Raveneh tinha segredos, e claro, ele estava certo: para começar, não era Catherine como ele acreditou, mas sim Raveneh. Mas ao que parecia, até mesmo a doce Raveneh tinha seus segredos mais terríveis.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Parte 40 - Gika Branca e Veronica G.

- Notícias! - exclamou Rafitcha com um sorriso - e boas!
Logo todos se puseram ao redor de Rafitcha, que desenrolava um pedaço de tecido. Provavelmente Johnny não estava com papel nenhum, aí achou um manto qualquer e arrancou um pedaço de tecido. Somente se conseguia ler algumas palavras:

"Raveneh está viva e comigo. Quando pudermos, voltaremos"

Maria suspirou. Pelo menos, estava bem. Se bem que Johnny não havia falado nada a respeito disso... somente que estava viva... Mas afastou essas preocupações.
- Bem, que ótimo! - Fer exclamou - Johnny gosta de Raveneh, vai cuidar bem dela.
- Eu queria que viessem logo - comentou Nath - eu poderia cuidar dela e tudo...
- Eu sei, Nath - Umrae concordou - eu também acho isso. Mas vai que Raveneh não pode nem andar e...
- Cala a boca, Umrae! - exclamou Rafitcha - quer virar essa boca pra lá?
- É isso mesmo, Rafitcha u_ú - concordou Fer - ela só precisa de descanso. Só.
- Aham - Umrae, porém estava pessimista.
E ela desejava ardemente que estivesse errada.

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Johnny rói as unhas. Consegue lembrar-se de alguns encantamentos ensinados na escola, e assim tirar sujeiras da água que estava parada fazia dias num balde em casa. De modo que a água estava limpissima (desculpe, mas não lembro onde fica o acento nessa palavra x.x).
Raveneh teve um sono tranqüilo durante a noite, coisa que Johnny não sabia se era bom ou mau. Se bem que ele supôs que era bom... Quando o sol começava a dar suas caras, Raveneh emitiu o primeiro sinal de vida: mexeu os braços. Johnny se sobressaltou, e logo se sentou a beirada da cama.
- Hmmm... - murmurava Raveneh de olhos fechados - hmmm, não... não... hã?
Raveneh abriu os olhos, logo tendo um aspecto confuso.
- Onde estou? - perguntou.
Johnny logo sorriu. Raveneh estava viva e podia se comunicar! Ficou tão contente, que mal pode disfarçar a excitação na voz:
- Em... bem, numa casa qualquer.
- Johnny? - indagou Raveneh como se tivesse dúvidas.
Johnny ficou ainda mais empolgado. Raveneh podia reconhecer-lo!
- Sim, eu sou Johnny, lembra? - disse Johnny - eu... eu fui atrás de você, e aí você estava tentando fugir e...
Logo se calou, antes que ele viesse com algo como "e aí eu te salvei". Soaria muito heróico para o gosto de Johny.
- Sim, acho que me lembro - comentou Raveneh. Ela se sentou, fazendo uma careta de dor - ai!... Ahãm... não consigo lembrar direito, estava tão cansada!
- Como você fugiu de lá? - perguntou Johnny.
Raveneh levantou os olhos. Tentou puxar pela memória, mas realmente não conseguia se lembrar: como conseguira fugir? Era uma pergunta que ela não sabia a resposta...
- Não sei. - respondeu por fim.
- Não sabe? - Johnny ficou perplexo - como não sabe? Fugiu de lá e não sabe como...
- NÃO SEI! - gritou Raveneh - NÃO SEI! Não sei como fugi, não sei! - Raveneh caiu em prantos - não sei...
Johnny ficou mudo. Não era intenção dele fazer Raveneh chorar, por isso se sentiu culpado.
- Raveneh, calma - murmurou Johnny depois de um silêncio incômodo - ninguém quer que você se lembre...
- Não consigo me lembrar... - choramingou Raveneh depositando o rosto molhado de lágrimas no ombro de Johnny.
Johnny suspirou. Não era exatamente com isso que sonhava quando partiu de Campinas. Lembrou-se da última conversa normal que tiveram, quando Raveneh perguntou se ele a salvaria e a sua resposta foi que era mais provável que ele que fosse o socorrido. Agora percebeu que Raveneh tinha praticamente previsto: ela estava em perigo, e ele a salvou. Não tinha nada mais conto de fadas. E agora viveriam felizes para sempre?
Era essa a pergunta que Johnny se recusava a responder.

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Siih estava na Assembléia, no trono macio feito de nuvem encantada. Observou todas as meninas da Assembléia (sim, não existem homens na Assembléia. Não é discriminação, é simplesmente porque nenhum homem quer ficar no Conselho. Um absurdo u_ú): Maria, como sempre, com vestes escuras de lã, características das Campinas. E as outras fadas. Sim, Maria era a única estrangeira ali.
- Siih, as duas novas especialistas chegaram - anunciou Lefi - sabe, as que foram selecionadas nos ENAM's... elas ficaram em primeiros lugares, Siih.
- Ah, sim! - exclamou Siih - claro! Mande-as entrar, elas estão atrasadas! O que houve, se perderam a caminho?
Lefi deu um sorriso e logo abriu a porta, revelando duas meninas. Uma tinha um enorme cabelo, liso e preto e vestia azul. A outra era morena também, mas seu cabelo não era tão preto nem tão liso como o da menina de azul. E esta usava rosa.
Toda a Assembléia calou-se.
Lefi disse, então, com uma voz de trovão:
- Essas são as duas selecionadas nos ENAM's (N/A: Exames Nacionais de Magia ^^') que irão participar do Conselho. Gika Branca, por favor... - e a menina de cabelo bem preto e liso deu um passo a frente. Maria notou que a menina estava com o rosto da mesma tonalidade que um tomate, de tão envergonhada que estava - e Veronica G.
Todo mundo continuou do mesmo silêncio que estava, e Gika, toda vermelha, começou seu pequeno discurso de apresentação:
- Err... eu me chamo Gika Branca, e err - engoliu em seco. Diabos, porque as fadas tinham que olhar todas para ela? Não tinha nada mais que fosse interessante na sala não?? - estudei na Academia Púrpura II, e err...
Mas todo mundo continuou olhando para a Gika, e ela ficou muito vermelha e somente sussurrou um:
- Bem, obrigada.
E recuou, cutucando a Veronica.
- Que é? - cochichou Veronica.
- É você! - respondeu Gika entre cochichos. Veronica deu um suspiro indignado e disse:
- Eu me chamo Veronica G, estudei na Academia Púrpura II junto com a Gika e...
E calou-se, tal como Gika. Agradeceu em um tom bem baixo, e tudo ficou silencioso novamente.
Ficou assim durante cinco minutos, até que Siih resolveu quebrar o silêncio:
- Bem, vocês ficarão naquelas poltronas. Sejam bem-vindas! E espero que façam uma boa participação no Conselho... Bem, começaremos a reunião, não?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Parte 39 - Raveneh é encontrada, Siih tem dor de cabeça.

Já amanhecia, e Raveneh ainda não parara. Estava exausta, e seus músculos gritavam, imploravam por descanso. Mas Raveneh se recusava a parar. Conseguira evitar os nortistas a todo canto que ia, e já estava quase na estrada principal numa área deserta com uma ou outra casa vazia, pois fora saqueada.
Sentia-se muito tonta, e seus passos eram lentos. Resolveu, então, ouvir o seu corpo e sentou-se sob uma árvore para descansar. Fechou os olhos, tentando relembrar o que lhe ocorrera. Por que não conseguia se lembrar?
- Raveneh? - indagou uma voz conhecida.
Raveneh abriu os olhos. Viu um rosto escondido sob um capuz cor de vinho, um par de olhos amáveis, um sorriso que ela amava.
- Johnny? - Raveneh sussurrou.
- Veja o seu estado! - exclamou Johnny colocando o capuz pra trás - venha comigo. Consegue se levantar?
Raveneh estendeu as mãos, mas as pernas não lhe obedeciam mais. Estava totalmente acabada.
- Meu Deus - sussurrou Johnny pasmo - você está pálida, sangrando, suja...
Não se importando nem um pouco em ficar todo sujo, Johnny carregou Raveneh no colo e a levou para a primeira casinha que viu. Raveneh estava muito sonsa, e não conseguia falar direito. Assim que Johnny conseguiu abrir a porta (com um singelo chute, a porta veio abaixo), achou uma cama caindo aos pedaços e depositou Raveneh com cuidado na cama, então pensou no que faria. Afinal como cuidaria de Raveneh? Pensou, então, com amargura que se arrependimento matasse, ele estaria mortinho da silva: por que não prestou atenção nas aulas? Estudou a vida inteira na Academia Masculina Mágica Bittencourt, só pra chegar numa situação crítica como essa e não saber cuidar de uma menina de dezesseis anos! Pensou em todas as aulas que havia assistido. Lembrou-se que passava o seu tempo brincando e matando aulas. Bem, Raveneh precisava de apoio e cuidados. E ele lhe dispensaria tudo isso...
Começou a escrever uma carta para Maria anunciando que Raveneh estava viva e com ele. Mas quando a Raveneh "estar bem", Johnny não podia garantir.

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- Vossa Majestade está vestida? - perguntou uma mocinha baixa, sem fitar os olhos da Siih - daqui a duas horas, esperamos a Vossa Majestade para a Assembléia.
- Bem, eu me arranjo sozinha - disse Siih - está dispensada...
A empregada saiu do quarto sem dizer palavra, deixando Siih e Lefi sozinhos. Siih suspirou, e passou as mãos pelos cabelos.
- Estou sentindo uma dor de cabeça insuportavel! - exclamou Siih - odeio essas dores de cabeça!
- Você ainda sente, irmã? - perguntou Lefi enquanto analisava algumas cartas.
- Sabe que esse inferno nunca me deixou - Siih disse. Deu um suspiro e continuou - mas não é mais forte como antes... Os chás fazem maravilhas, Lefi.
- Que bom. - falou Lefi - eu vou me retirar. Afinal, eu não estou vestido para a Assembléia...
- Sim, irmão - Siih concordou - vá.
Lefi deu um sorriso e deixou Siih sozinha no enorme quarto. A cama com dossel rosa e azul, as enormes cortinas de seda branca que revelavam uma cidade mergulhada em nuvens brancas e fofas, mesas de madeira clara. Deu um sorriso. Era seu quarto desde pequena, e não era agora que a mãe morrera e fora coroada Rainha que ia deixar este quarto maravilhoso. Deu uma olhada no espelho, analisando-se. Um vestido medieval, preto. O luto ainda não acabara, logo como boa Rainha estaria de luto. Seus cabelos foram trançados, e a coroa real estava sobre eles, dando um brilho magnifíco a toda a Siih. A coroa era de ouro puro, e um diamante somente fora incrustado. Pôs um manto azul, com um brasão bordado. A dor de cabeça lhe assaltou novamente. Droga!, exclamou Siih, por que...?
Sentou-se na cama, tentando raciocinar. Nunca sabia o porquê da dor de cabeça, nem o porquê de várias situações estranhas lhe acontecerem...
Mas logo percebeu que restara um pouco do chá que tomara. Tomou-o. Logo a dor passou, e a Siih começou a ficar preocupada com outras coisas.

domingo, 2 de setembro de 2007

Parte 38 - Siih impaciente, Lefi calmo.

Raveneh estava perdida no meio de um corredor no palácio.
Onde estou?, perguntava-se, como eu vim parar aqui? De fato, Raveneh não conseguia se lembrar do ocorrido na sala de tortura. Sabia somente que sentira muita dor, que sofrera demais. Só. Não sabia o porquê da dor, não sabia como fora embora. As lembranças pareciam evaporar-se.
O corredor estava imundo, o chão sujo de sangue seco. Ela lembrava de alguém gritando para parar, lembrava também de vozes maldosas e do choro... Conseguia sentir agora o cheiro podre, mas não conseguia voltar ao momento em que ficara presa na câmara escura com outros empregados. Estranhamente, ela não lembrava de nada que lhe ocorrera nos últimos três dias.
Fechou os olhos, tremendo de frio. Devia ser noite, pois o corredor estava muito escuro.
Andou, andou, andou sem sentir o cansaço, sem o fôlego lhe faltar. Estava muda, apática, e tudo o que queria era que o inferno acabasse ali. Mas o inferno só acabaria quando pudesse sentir o abraço de Johnny, os cuidados que Rafitcha lhe dispensava, as conversas distraídas das Campinas. Os corredores estavam vazios, um fato estranho. Mas os nortistas não se preocuparam, de fato, em proteger o castelo. Somente um ou outro guarda, em geral, tapados. Nas Campinas, Raveneh aprendia a odiar o Rei e a ironizar suas ordens. Pensava que o Rei era o pior, e tinha uma péssima impressão dele. Mas percebeu que o Rei não era o monstro que pintavam, apesar do seu autoritarismo. Bem, Raveneh agora sabia o que era realmente alguém cruel.
Perguntou-se onde o Rei estaria a essa hora. Estaria trancafiado com os nortistas? Fugira? Recebeu abrigo?
Raveneh conseguiu sair para fora do castelo, não se deixando ser vista por ninguém.

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- Lefi, quero que me entregue os jornais da semana - disse Siih.
Era uma mulher alta, bem jovem de cabelos negros e lisos. Tinha um sorriso radiante, mas naquele momento não sorria.
- Sim, Siih. - disse Lefi.
Lefi era, de certo modo, parecido com a irmã. Moreno, tinha olhos azuis bem bonitos. E assim como a irmã, o sorriso era contagiante. Porém as semelhanças paravam por aí: ela era impaciente, ele era todo calmo, ela era ambiciosa, ele não fazia questão de muitas coisas, ela era exigente, ele era mais tranquilo em relação aos outros. Mas não pense que a Siih era o tipo de pessoa histérica que fica dando chilique a cada meia hora: sua educação não lhe permitiria tal absurdo.
- Campinas não se mexem contra os nortistas; Nortistas conquistaram a Faixa Leste do Reino; Rei está desaparecido, etc, etc, etc!
Siih passou as mãos pelos cabelos, nervosa. Sua mãe morrera lhe deixando esse enorme problema. Que ótimo!, pensou com ironia. Queria poder se enlutar por mais tempo, pois ainda se sentia arrasada. Mas a situação atual não lhe permitira.
- O que Maria pretende fazer com esses nortistas? - perguntou Siih tentando ficar calma.
- Ela não pretende fazer nada, Siih - respondeu Lefi sentando-se diante dela - os nortistas a afetaram de outra forma, Siih.
- Que forma? As fadas sabem disso? - indaga Siih.
- Sabem.
- Que mal eu fiz em viajar durante meses ao Oriente! - cospe Siih irritada - agora não sei das novidades, nada!
- Maria ficou preocupada pois havia uma espiã no castelo do Rei - disse Lefi apressadamente - e ela desapareceu após os ataques dos nortistas.
- Coitada! - exclamou Siih - quem é esta espiã?
- Raveneh é o nome dela - contou Lefi - ela é uma imigrante.
- Imaginava. Mande uma assembléia de fadas agora, daqui a três horas - Siih disse - o Rei está foragido, o filho adotivo dele também e Raveneh, das Campinas, também.
- Sim, Siih - Lefi disse - mais alguma coisa?
- Você acha que eu devia ir a Assembléia de roupa preta ou roxa?
- Meu Deus, Siih! Não sei, não entendo desse papo. Vá de roxo, sei lá.
- Ok, então eu vou de preto - murmurou Siih pensativa.
- Então porque pediu a minha opinião se não ia seguir-la mesmo?
- Porque o contrário que você sugerir tá ótimo, meu irmão - respondeu Siih com um sorriso - eu ouço você em tudo, pois é inteligente. Mas em roupas... você é um desastre.
Lefi sorriu ao ouvir isso.

sábado, 1 de setembro de 2007

Parte 37 - Velório de Fada

- Tive péssimas notícias - anunciou Lych - fui a cidade disfarçado, e descobri que os nortistas tomaram toda a cidade e aprisionaram os súditos do castelo.
- Raveneh está no castelo - observou Rafitcha desconsolada - o que faremos?
- E o Rei? - perguntou Maria.
- Não se sabe - disse Lych - não sei do menino, ele era segredo... somente alguns servos do castelo sabiam. Lembra que Raveneh teve que conquistar a confiança do Rei para conhecer o garoto? Então.
Renegada mordeu o lábio inferior, tremendo. Todos atribuiram isso ao temor pela Raveneh, afinal a Renegada era bastante ligada a Raveneh, afinal eram amigas desde antes de chegarem as Campinas.
- Meu Deus - murmurou Maria - estou me sentindo culpada.
- Porque? - indagou Nath que estava servindo os chás para acalmar.
- Eu que a mandei para esta missão! Agora ela está em perigo e... - Maria exasperou-se - nós nem sabemos se ela está viva!
- Faça algo! - exclamou Johnny - vá lá!
- Mas é perigoso! - retrucou Umrae.
- Então vou eu - Johnny decidiu - eu vou lá e buscarei Raveneh, dane-se o Rei ou o príncipe. Depois vocês fazem um tratado qualquer e...
Alguém bateu na porta.
- Entre - todo mundo disse olhando para a porta.
Fer e Kibii entraram juntas, ofegantes.
- Maria... - começou Fer.
- Errr... - Kibii disse.
- A Rainha das Fadas... - disse Fer, mal podendo respirar direito.
- Fale logo! - mandou Maria, ficando de pé, dramática.
- Ela morreu - anunciou Kibii.
Raveneh desaparecida e a Rainha das Fadas morta.
O que mais faltava acontecer?, pensou Maria.

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Era tudo muito bonito, cheio de nuvens, luzes estranhas e um cheiro de jasmim no ar. A Cidade das Fadas é um lugar excepcional para se visitar, onde se compra livros que mordem, espadas de fogo e de água ao mesmo tempo ou flores que cantam Jinglle Bell. Mas Maria não estava ali para ver a peça do teatro do momento, como gostava de fazer. Estava ali porque todo o Reino de Fadas estava numa situação que só vinha de tempos em tempos: a morte da Rainha das Fadas.
O palácio principal, normalmente cor-de-rosa e lilás, estava mais cinza e uma bandeira negra tremulava triste, entregue ao vento. As fadas caminhavam de cabeça baixa, com jornais amassados contra o peito. As escolas não funcionavam, e os opositores da Rainha controlavam as línguas: não era legal falar mal de alguém que acabou de morrer.
Maria se dirigiu ao Palácio de Gelo, que na verdade era somente uma mansão maior do que o costume e construída com os fins de ter todos os eventos importantes da realeza local. Logo havia um crematório: sim, as fadas eram cremadas. Certamente não iriam ser enterradas, pois elas vivem em nuvens. Não custa muito lembrar disso u_ú
Maria estava conversando com uma fada ou outra, quando encontrou uma menina que não via há tempos.
- Lala? - chamou.
- Maria!... - exclamou Lala com um tímido sorriso - há quanto tempo!
- É...
- Céus, estou arrasada... Gostava tanto da Rainha! - comentou Lala - agora vai ser a filha dela...
- Sim, eu sei quem é - Maria disse - a Siih e seu irmão adotivo, o Conselheiro.
- Ah, o Lefi! - exclamou Lala - bem, estou pensando em morar de vez nas Campinas. O que acha? Ouvi dizer que você está entrando em guerra...
- Sim, você poderia me ajudar - afirmou Maria - você é uma estrategista militar, não?
- Oh, yeah - Lala disse com seu sotaque carregado.
As duas se calaram.
Logo se iniciou a cerimônia. Não vou perder meu tempo descrevendo a cremação enquanto Raveneh está tentando fugir do inferno. Portanto escreverei apenas que foi tudo muito triste, as fadas tinham a maior cara de miséria e tudo o mais. Não era exatamente um lugar agradável, e Maria, por mais que ela ficasse triste com a morte da Rainha, estava muito preocupada com Raveneh. De modo que assim que pôde, chegou as Campinas.

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- Vamos dar um jeito de tirar Raveneh de lá! - exclamou Maria, ainda com as roupas da viagem - Lala veio comigo, ela pode nos ajudar e...
Rafitcha, Lych, Doceh e Umrae estavam com uma expressão apreensiva.
- O que foi? - indagou Maria, lentamente.
Rafitcha mordeu o lábio inferior, hesitando antes de dar a notícia:
- Johnny... ele... - fechou os olhos e continuou: - ele foi atrás de Raveneh.
- Oh, meu Deus! - exclamou Maria - mais um que vai para aquele inferno, não...

Parte 36 - Inferno

Censura: 14 anos.
Motivo: violência.
Eu avisei. Não me responzabilizo pelo nojo ou pesadelos causados por esta historinha.


- Mocinha, pode gritar, sabia? - disse um dos homens rispidamente.
Raveneh estava com as mãos e os pés atados, e completamente vendada. Não podia ver nada, como se isso fosse possível com a escuridão dentro da masmorra onde ficavam os prisioneiros. Suas vestes estavam rasgadas e sujas. Escutou um estalo. Gelou: isso fazia dos piores relatos que lia de vez em quando. Mas nunca imaginava que iria acontecer com ela, um dia.
- Prepare-se, minha linda... - o homem disse - não vai doer nada, só um picadinho...
E no "picadinho", algo estalou nas suas costas, fazendo-lhe gritar. Estava sendo chicotada. Outro estalo, mais outro, mais outro.
- Tem que chegar nos 100, Jofre - disse outro homem entre risos - mas queremos a moça viva... ela é tão bonitinha. Mas se ela começar a estragar, a gente para, tá? Porque tá tristinha, bonitinha? Dê um sorriso aí, vai!
A voz demonstrava zombaria, desprezo.
Raveneh cuspiu.
Outra chicotada veio-lhe, dolorosa. Raveneh tinha certeza que as suas costas estavam em carne viva, e faria qualquer coisa para ser tirada daquele inferno.
- Jofre, pode continuar. Quero ver essa mocinha lutando pra viver - dsse uma voz com zombaria - sabe, o espetáculo pela vida é algo emocionante... Eu até choro, acredita?
Raveneh escutou risos. Conteve o ódio.
Um sentimento nascia dentro de si, rugia como um leão. Nunca sentira tal sentimento.
Ódio.
As fadas do tipo de Raveneh costumam ser boas e pacientes. Mas não são otárias. Para ficarem com ódio, é difícil. Mas quando ficam, não há quem os contenham.
Nem mesmo os nortistas cruéis.
Raveneh mordeu os lábios. Jogou a cabeça para trás. Já não sentia mais dor, estava insensivel. Riu.
Riu muito.
- O que está pensando, bonitinha? - perguntou grosseiramente um homem - Jofre ainda tem que chicotar mais algumas vezes... nós não terminamos com você...
- E nem vão terminar. - Raveneh disse.
A voz não era dela. Raveneh tinha uma voz doce, um eterno sorriso. Mesmo que tudo desabasse em cima de Raveneh, ela sorria e lutava. Era essa qualidade tão admirada pelo povo das Campinas, a habilidade de tentar e tentar inúmeras vezes, sem desistir. Ela não era brasileira, mas também não desistia nunca.
Mas a voz que Raveneh usou era rouca, sinistra. Até os homens se arrepiaram.
Jofre ficou paralisado, com o chicote na mão, sem se mover. Raveneh se levantou, e arrumou suas vestes que estavam rasgadas.
Parecia uma cena de Elfen Lied, quando a Lucy fica com muita raiva e trucida quem estiver no caminho. Mas se você não assiste Elfen Lied e não sabe quem é a Lucy, vou simplesmente dizer que a Raveneh somente se levantou, encarou os homens com um olhar bem estranho, com o cabelo preto caindo sobre sobrew os olhos e simplesmente rosnou:
- Agora o inferno mudou...
Eu fico sem palavras para descrever o que houve em seguida. Só se sabe que os homens se viram desarmados: os chicotes e outros instrumentos de tortura estavam voando em volta deles. Raveneh deu as costas, deixando os homens sozinhos com todas aquelas coisas de pontas malignas e afins pairando em volta. Quando Raveneh conseguiu destrancar a porta sem precisar tocar nela, os instrumentos que estavam voando agiram. E os homens se viram tendo facas cravadas nos estômagos ou chicotes sendo estalados nas costas ou alicates arrancando as unhas.
Raveneh deu um sorriso frio. Sabia somente que a liberdade estava lhe sendo devolvida.
Sabia que não estava sendo ela mesma.
Mas naquela hora, já não sabia mais quem era ela.