O Rei olhava as campinas verdes pela janela. "Ignorantes" pensava "mal sabem do destino que os aguarda". O sol iluminava todo o seu reino colorido e melancólico. Sim, o reino era colorido, mas tinha um ar de melancolia. Como isso é possivel, não sei. Estou apenas narrando os fatos u_ú
As pessoas caminhavam felizes. O Rei viu um casal namorando perto da fonte cristalina. O rapaz dava uma rosa vermelha para a garota, e esta corava. Do outro lado, dois meninos riam com as palhaçadas de uma garota. O Rei sorriu. O seu reino tinha fama de ser chato, mas bastava passar um dia e ver que chato era a única coisa que alguém pensaria daquele reino.
Observou as campinas verdes mais uma vez. Queria estender os dedos e sentir que tinha poder sobre aquelas campinas. Mas sabia que isso seria impossivel: fadas fizeram o possivel e o impossivel para tirar as campinas do alcance dele por pura vingança. Agora teria que ser torturado a cada dia sabendo que não tinha o poder sobre as melhores e férteis terras daquele reino. E aguçou o olhar: além das campinas podia ver umas nuvens arroxeadas. Fechou as cortinas bruscamente, contaminado por um sentimento estranho de irritação, ódio, inveja, e principalmente... alguma coisa que ele não sabia definir...
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- Raveneh! - chamou Rafitcha - quer vir ajudar a colher morangos? Sabe, minha família ama! - completou estendendo uma cesta enorme.
- Ok! - Raveneh concordou. Arrumou o vestido e seguiu com Rafitcha.
- Como você está se virando aqui? - Rafitcha perguntou enquanto andava pelas campinas em direção à mata, onde estavam os pés de morango. Raveneh só fez sorrir e responder:
- Bem, muito bem! Melhor do que imagina! - deu um tapa no braço, havia um mosquitinho incômodo. Ao andar, reparou que o ombro de Rafitcha estava desnudo. E no ombro, uma tatuagem estranha, preta e azul...
- Que bom! - Rafitcha arrumou as vestes, colocando a alça do vestido sobre a tatuagem. - hey, chegamos! veja, morangos!
- Morangos - repetiu Raveneh - quem mais gosta de morangos?
- Ah, meu irmão é viciado neles! Sabe, ele DIZ que não é... - Rafitcha sorriu - creio que você já conheceu meu irmão...
O céu mudou de azul para roxo.
- Sim, acho que sim - Raveneh concordou, mas parou, sentindo algo estranho.
Rafitcha não tinha reparado em nada, cantarolava enquanto colhia alguns morangos.
O ar ficou sobrecarregado. Os ventos, antes frescos, agora estavam gélidos. Rafitcha gelou.
- Que diabos está acontecendo aqui? - perguntou.
Raveneh andou pra trás, encarando a floresta fechada, atrás dos pés de morango. O céu estava roxo, quase negro. Ambas as garotas podiam escutar sussurros vindos da floresta.
- Oh, meu Deus - exclamou Rafitcha esganiçada largando a cesta repleta de morangos no chão - oh, meu Deus... isso não, de novo, não... por favor...
Rafitcha só fez sair correndo, em desespero.
Raveneh, assustada, ficou. Assistiu Rafitcha sair correndo, mas não fez nada. Somente levantou a face, encarando o céu, agora raivoso. Sinal de chuva. E a chuva veio, sinistra. As gotas eram gélidas, grossas, ensoparam a fadinha toda. Raveneh viu somente um vislumbre do céu: raios. Trovões. Água.
Ao ver no canto dos olhos um animal enorme e negro, de olhos amarelos, perdeu os sentidos.
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