Passou-se dias, semanas. A lua ficou crescente, cheia, minguante e nova várias vezes. O outono passou-se, e o inverno apareceu. E
começava a nevar nas campinas. E as Campinas Verdes ficaram brancas, com a neve mais pura que se podia imaginar.
E claro, gente que sabia costurar como Umrae teve trabalho dobrado: não era nada fácil fazer roupas quentes para um bando de gente.
E no primeiro dia de neve, chegou uma garota. Moça já, cabelos alaranjados, olhos verdes.
Rafitcha recepcionou a forasteira como sempre fazia.
- Olá - disse - qual seu nome?
- Tatiih - respondeu a garota - eu... Eu não sabia que as campinas tinham tanta gente!
- Muita gente pensa isso - Rafitcha comentou com um sorriso meigo - sinta-se bem vinda!
- Obrigada - respondeu Tatiih com seus alegres olhos verdes.
Tatiih ficou imediatamente amiga de todos: era simpática, alegre e ajudava Umrae a fazer as roupas quentes. Enquanto Fer tirava a lã
das ovelhas, Tatiih e Umrae teciam e costuravam.
E em questão de dias, todos já tinham suas vestes.
Hoje já fazia uma semana de neve. E todos estavam na grande cabana: uma enorme cabana que era usada somente no inverno. De madeira,
onde cabia todo mundo. Chão de madeira, fogo aceso dia e noite. Uma entrada quente para tomar banho na fonte borbulhante perto dali.
E todos dormiam sob o céu de madeira, recolhidos em sacos de dormir.
- Quem deseja chocolate quente? - perguntou Nath com um sorriso, estendendo xícaras.
- Eu!!! - todos responderam ao mesmo tempo.
Os chocolates quentes foram distribuídos para todos.
- Olá, Umrae, como vão as armas? - perguntou Lych sentando-se ao lado de Umrae, Fer, Raveneh, Rafitcha.
- Bem - respondeu Umrae - está preparado pra ser general?
- Perfeitamente - respondeu Lych com um sorriso - sabe que eu adoro guerras.
Umrae riu.
Uma mulher morena chegou com duas xícaras de chocolate quente. Entregou uma pra Lych.
- Obrigada, querida - agradeceu Lych - senta aqui com a gente.
- Claro - e sentou-se no chão - Maria só fica falando de guerra, e até agora isso não acontece - resmungou.
- É verdade - concordou Fer - estou louquinha para enfiar meus punhais naqueles soldadinhos do Rei...
- Credo, Fer - Rafitcha fez uma cara de nojo - pra quê matar? Não gosto muito de guerras...
- Se tiver guerra, onde a gente fica? - indagou Raveneh tomando goles do seu chocolate quente.
- No navio da Capitã Biih - respondeu Doceh - o povo vai ficar lá. E gente importante como Lych vai ficar na floresta *O*
Todos riram; Doceh e Lych eram casados.
- Quem é Capitã Biih? - perguntou Raveneh.
- A viciada em navios, piratas e afins - Rafitcha respondeu com um sorriso - muito simpática, mas não é lá muito legal contrariar-la.
- A lista de quem vai ficar na floresta lutando é grande - comentou Fer - Lych, eu, Maria, Kibii, Capitã Biih...
- Capitã Biih não vai ficar na floresta! - corrigiu Doceh - ela já disse que não arreda pé no navio dela nem se pagassem!
- Querida, você vai ficar em casa, né? - Lych perguntou com um sorriso zombeteiro.
- Não, eu vou lutar! - retrucou Doceh - e ai de você se me impedir!
- Céus, querida, luta não, fica em casa cuidando...
- Não.
- Querida, meu amor, luz da minha vida...
- Não adianta me bajular. Eu vou entrar na guerra e ninguém vai me impedir ù_ú
- Eu não dou o conforto que você precisa??
- Sim, dá todo o conforto e até mais - Doceh levantou o queixo - mas eu vou lutar.
- Você não tem armas nem especialidade! - mentiu Lych.
- Quem disse? - Doceh com um gesto, mostrou um bolinho branco com uma cereja no meio - porque você acha que meu nome é Doceh?
Eu lutei na Primeira Guerra... E com isso - atirou o bolinho na parede.
O que houve quando o bolinho atingiu a parede fez o grupo de amigos se pelar todo de medo.
Quando o bolinho atingiu, a parede queimou. E o bolinho caía, queimando cada pedaço de parede. E o final era simplesmente aquele
pedaço de parede se corroendo, deixando um buraco imenso.
- Eu sou Doceh, a Musa dos Doces Malignos - Doceh disse - e imagine o estrago que brigadeiros podem fazer em uma pessoa...
O grupo se calou, engolindo em seco e encarando o buraco pequeno na parede.
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