- O que houve, Maria? - indagou Capitã. Ela conhecia um atalho para o mar, atalho curtinho e tinha um belo navio
cheio de salas enoooormes e canhões onde podia atirar de uma longa distância pela floresta. Ela amava este navio
mais do que tudo.
- Estou farejando guerra, Capitã - respondeu Maria - e isso me preocupa. Muito.
- A qualquer hora, estou pronta para isto - disse a Capitã seriamente - eu lutei na Primeira Guerra, e nunca
fraquejarei.
- Eu agradeço, Capitã. Seu navio dá para quantas pessoas?
- Oh, muitas! Mais de cem pessoas e ainda é rápido, sabe! - a Capitã disse com orgulho na voz - nunca terá outro
navio semelhante ao meu!
- Não duvido - Maria comentou - Capitã... você acha que demora quanto tempo pra botar todo mundo dentro do navio?
- Menos que uma hora. Basta todo mundo formar uma fila e ir entrando, se espalhando pelo navio.
- Terei uma reunião com as fadas daqui a três horas - Maria respirou fundo - quando eu voltar, vou te falar qual vai
ser o plano. Precisamos das pessoas dentro daquele seu navio protegido. Senão vai ter sangue sujando essas campinas.
E eu não vou gostar disto.
----------------
Maria roía as unhas de tão nervosa que estava. Estava dentro de um salão todo branco, aspecto de nuvem. Tinha a
impressão que iria cair a qualquer instante das nuvens e cair no profundo mar abaixo de si. Uma a uma, as fadas
foram chegando. Não existe fada feia. Todas elas eram lindas, com olhos doces, expressões de ternura e cabelos
sedosos e bem-cuidados.
Uma fada negra, vestida de amarelo, estava sentada no banco mais alto. Era a Princesa das Fadas da Luz. Com um
encantamento feito com um mover somente dos dedos, silenciou todas as fadas presentes ali.
- Senhoras e senhoritas - disse numa voz grave - Maria Jhujhu, chefe das Campinas Verdes, pediu uma audiência a
respeito do encantamento feito sobre as Campinas Verdes há dez anos. Maria Jhujhu, gostaria de falar?
Maria Jhujhu se empertigou e disse em voz solene:
- Sim, claro - respirou fundo - eu... o Rei Mo está desrespeitando o Tratado. Começou banindo Rafitcha...
As fadas ficaram muito mais interessadas no que Maria tinha a dizer. Quando se tratava de Tratado, Rei e coisas
fora de lei, as coisas ficam muito mais interessantes, obviamente.
- E eu desconfio daquela forasteira que chegou essas semanas - completou Maria.
- Raveneh? - perguntou a fada negra, que presidia a audiência.
- Oh, não. Esta é um amor de pessoa, canta que é uma maravilha! Estou falando da amiga dela, Renegada. Ela não
me parece muito confiavel.
- Ela tem um passado oculto - comentou uma fada vestida de azul-claro com óculos de meia-lua - ela escondeu o seu
passado para ninguém ver. Ela mente a respeito de quem é.
Um múrmurio percorreu todo o salão.
Quando você é mágica, e não quer que ninguém descubra quem você é, pode se utilizar de uma mágica meio complicada:
esconder seu passado todo. Aí se alguém quiser ver como é a sua vida antes, vai encontrar somente nuvens negras escondendo
vultos. Mas ao passo que é prático, também é muito suspeito alguém querendo esconder de onde veio e quem é, de fato.
E a Renegada ocultou seu passado.
Uma fada com vestes vermelhas e laranjas - uma fada do fogo - moveu as mãos, e disse:
- Ela é suspeita. O sangue dela é algo para se suspeitar.
Fadas do fogo sabem mexer com sangue. Elas sabem mexer com o sangue e descobrir quem foram nossos pais, de quem
a gente descende, se temos doenças de sangue, essas coisas. Que nem a gente quando tira sangue do nosso corpo, e a gente
descobre se os nossos pais são quem a gente pensa que são ou somos adotivos.
Mas continua a história...
- Ela ocultou o passado dela de uma forma meio estranha, eu diria mal-feito - continuou a fada - mas tenho que pegar sangue
dela. Maria, você acha que consegue?
Maria Jhujhu só fez concordar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário