quinta-feira, 27 de março de 2008

Parte 15 - Perfurada

- Quer viajar, Vinicius? - Thá perguntou, batendo a massa.
- Hã? - fez Vinicius pasmo - viajar? Pra.. pra onde?
- Pra capital - perguntou Thá.
- Mas é onde Ophelia vai! - Vinicius gritou, se levantando bruscamente da mesa - é louca de se meter com ela?
- Ela está perto demais! - Thá lembrou - e depois da capital, podemos nos mudar para a região oposta onde faz mais calor. Não está entediado com esse frio eterno?
- Eu gosto do frio. - Vinicius resmungou, cabisbaixo.
- Tá, eu sei que gosta - Thá afirmou - mas com Ophelia por perto, Cherllaux vai ser destruída. Entendeu?
- Sim.
- Então temos que sair daqui se temos amor as nossas vidas, entendeu?
- Sim.
- Então porque a resistência?
- Ok, vamos!
Thá sorriu.
- É assim que eu gosto, meu aprendiz!

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Era loucura. Lala sabia muito vagamente de quem era a garota coberta com o seu manto, mas sabia que era melhor fugir. Deu um passo para trás, colocando a mão no punho da espada que segurava.
Reparou que Ophelia não portava armas. Com certeza pensou ela já é uma arma com aquelas mãos.
- Bela katana - reparou Ophelia - forjada pelos orientais? Uma boa e linda espada, com certeza... mas não é forte o suficiente para mim... - mas a última frase não foi dita em voz alta.
Sorriu.
Lala não viu mais nada depois disso. Só viu o sorriso e um borrão marrom. Pulou para trás sem hesitar, tentando fugir do tal borrão marrom que a perseguia ferozmente. Corria para trás, tentando cortar o borrão com a sua "boa e linda espada", mas sem sucesso. Até conseguir subir em uma árvore, e o borrão simplesmente parou.
- Deu para perceber que você consegue fugir bem. Não é uma idiota - elogiou Ophelia, mostrando os seus dentes, em um charmoso sorriso.
Lala constatou com assombro e pavor que o tal borrão era o seu braço esquerdo que se esticava e a perseguia por mais que ela fugisse e fizesse ziguezague entre as árvores. Parecia elástico! Um elástico duro, que ela não conseguia cortar.
- Mas eu fui muito fraca - Ophelia disse com aquele seu semblante belo e tranquilo - oh sim, eu fui fraquissima. Nem 10% da minha força usual eu coloquei! Será que estou ficando fraca? Vamos testar...
Aquilo já estava virando uma coisa desgraçada... era só uma aposta besta, mas Lala já começava a se arrepender...
E mal tinha começado.
Um novo borrão marrom passou a perseguir Lala, mais rápido, mais cruel! Corre, corre, Lala, senão o bicho vai te pegar...
Correu enlouquecidamente pela floresta, não sabendo o que fazer para se esconder do borrão. Precisava fugir... se tivesses asas...
- Ah, tá muito sem graça! - suspirou Ophelia que logo deu um outro dos seus sorrisos - ah! que idéia brilhante!
E esticou o outro braço, e claro veio o segundo borrão tão rápido quanto o primeiro. Lala se viu encurralada: atrás de si, havia um braço. Na sua frente, surgira outro braço. E os dois braços estavam esticados e as unhas haviam se transformado em garras. Parou subitamente.
E a desgraçada estava de costas, na clareira, tranquilamente sentada no chão, observando seus braços se mexerem.
- Continua sem graça! - exclamou se fazendo de indignada - ah, céus! Estou usando duas mãos com garras, mas continua entediante. Porque será...?
Ophelia fechou os olhos, sem sorrir. Mas não deu um segundo, seus olhos se abriram e demonstrou felicidade:
- Claro! Como não pensei nisso? Não se tem graça de se lutar com uma pessoa se você se esforça pra não machucá-la...
GWAAAAAAA - o grito agudo de Lala irrompeu pela floresta. As garras haviam se unido de repente, e claro, encontraram o corpo de Lala no meio: cortaram o abdômem sem pena, fazendo o sangue jorrar do corpo como a água jorra da fonte. Lala tinha certeza que aquelas malignas garras haviam feito um buraco no seu corpo.
- Ah. Ah. Ah.
- Isso está começando a ficar mais interessante - murmurou Ophelia - mas odeio ficar sem mãos para outras coisas.
Lala reparou com horror que dois novos braços humanos começavam a surgir dos ombros. Primeiro foram os dedos que irromperam a carne como agulhas, depois as mãos surgiram inteiras, se contorcendo. Em seguida vieram os punhos, os antebraços. Os cotovelos apareceram de imediato, e logo terminou-se, com os braços completos como se tivesse nascido com eles.
As garras se remexeram, Lala ofegou.
- S-sua bruxa... - conseguiu dizer. Fechou os olhos, era muita força para falar.
Ophelia sorriu.
- Acho que foi o bastante. Não quero que você morra, sabe.
Soltou as garras, deixando Lala cair no chão, sangrando. Os braços se recolheram, voltaram a forma humana e sumiram.
- Ah-... - Lala tentava se recuperar, mas sem chance. Seu abdomên fora perfurado, o estômago praticamente foi rasgado ao meio e o sangue saía em grandes quantidades - m-maldita... maldita...
- Ah, não consegue regenerar seu estômago? Que fracassada! Já vi que será uma escrava fraca! - suspirou Ophelia, indignada.
Lala ofegou, rangendo os dentes. Pousou a mão na katana, que miraculosamente não escapara das suas mãos nem quando foi perfurada e a moveu rapidamente, como um raio, para as pernas de Ophelia. A katana foi parar exatamente no tornozelo, fazendo um pequeno corte.
- Yeah! - exclamou Lala contente ao ver que conseguira ferir Ophelia. Mas esta simplesmente olhou para os pés, retirou a katana com cuidado e olhou o corte onde jorrava pouco sangue.
- É só isso que sabe fazer? - indagou - mas és uma fracassada mesmo!
Lala sabia que não era impressão quando ela deu as costas e seu tornozelo não apresentava nenhum corte. Seria imaginação? A katana com um pouco de sangue mostrava que não. Ela se curou sozinha, tão rápido assim? Céus, a menina era mais poderosa do que ela pensava...
Conseguiu se sentar, fazendo força. Só um pouco, um pouquinho que seja... Seus vasos sanguíneos começaram a se unir e o sangue já não mais jorrava. Concentrou-se mais ainda, seu estômago fez força para se unir também.
Aquilo era cansativo. Aquilo doía. Como Ophelia podia fazer isso tão naturalmente? Claro, era um pequeno corte... mínimo. Mas era regeneração completa, sem uma cicatriz sequer!
- Ah--
Não soube quanto tempo passou naquilo. Só soube que já era noite quando acordou e viu sua barriga intacta, como se nunca tivesse sido perfurada. Sua roupa estava rasgada, é claro. Mas estava tudo normal, tudo liso, sem cicatrizes. Suspirou aliviada. Estava viva.
- Venha - uma sombra lhe disse.
Ergueu o rosto, surpreso. Como assim?
- Você perdeu a aposta - disse Ophelia, escondida pelas sombras - vai me servir para o resto da vida. Esqueceu-se disso?
- Ah.
- Venha. Já é noite e precisamos avançar...
Lala se levantou e fazendo uma breve reverência, passou a seguir a sua mestra.



E no próximo capítulo...

- Essa cidade é dividida em vários bairros, mas existem os mais importantes, os médios e os mais distantes e estes são os piores. Eu morava em um médio, pois apesar de meu pai ser um "subversivo", minha mãe recebeu uma boa herança do meu avô e assim pode garantir uma casa boa... E bem, meu pai sempre trazia algum dinheiro das viagens dele...
- E esse bairro, Otipim - continuou - era onde eu morava. É perto do Fórum, o suficiente pra ir a pé e a pensão em que vamos ficar é uma de bom gosto e fica perto de uma lanchonete decente... é um bom lugar, tem verde.
- Menos mal - murmurou Rafitcha. O lugar lhe desagradava bastante...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Parte 14 - Desafio

TRAGÉDIA NO SHOW DE YOHANA!
FELIZMENTE SEM MORTES!


Yohana se retirou ao quarto em que ficara nas Campinas. Se sentia perdida já que Rafitcha e Tatiih tinham partido. Estava com saudades do seu porco de estimação e queria férias. Havia despedido a última empresária há pouco tempo, e estava cansada.
Será que Vê já buscara informações a respeito?
Fechou os olhos, despreocupada. Só queria ter Pinkê ao seu lado, mas não sentia um pingo de vontade de voltar ao palco.

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- Já liberou o dinheiro? - indagou Siih, apressada, lendo os jornais, tudo de uma vez.
- Sim, mais de 200 mil - afirmou Libby, correndo junto com ela.
Os consertos custavam rios de dinheiro, mas não era isso que Siih se preocupava. Era com a volta de Ophelia: ouvira a lenda várias vezes quando era pequena, da boca do seu pai. A lenda acontecera quando nem mesmo sua bisavó estava viva, e a história passara de geração a geração. Os avós do seu pai haviam visto de tudo e inclusive perderam todos os três filhos na guerra entre Ophelia e as outras Musas. Somente duas meninas sobreviveram. Uma delas gerou o pai de Siih, a outra morreu solteirona.
Ophelia, a Musa Adormecida. Tinha que ter um modo de matar a Ophelia: afinal era o tipo de Fada Alta que vivia durante décadas a fio sem se preocupar com envelhecimento. De velhice, nenhuma Musa morre.
Somente as Musas poderiam matar a Ophelia. Porém na antiga batalha, os humanos prometeram não pedir mais a ajuda dela.
Não vou pedir a ajuda delas
- O que vai fazer a respeito de Ophelia?
- Não sei.
- Vai pedir ajuda às Musas?
- Não.
Os jornalistas estavam plantados na porta, ansiosos por uma entrevista. Não demonstrou surpresa. Siih não se incomodou, e continuou com a sua expressão inexpressiva como se nada a afetasse, mas por dentro estava intrigada: como faria para parar Ophelia.
Eu realmente não quero pedir a ajuda daquelas Musas
- Então como vai vencer Ophelia? - indagou Libby, erguendo o rosto, surpresa.
- Não sei.
O que vou fazer? O que farei? Tem um monstro em forma de criança destruindo o reino que minha família lutou para construir.
E ela está destruindo!

- Se eu ainda tivesse os meus poderes - murmurou, quase em um cochicho.
- Disse algo, Majestade? - Libby perguntou.
- Nada, meu doce... nada.
Libby ficou ainda mais surpresa: Siih nunca tratava a alguém de forma carinhosa, somente seu meio-irmão a quem ela amava mais do que tudo. Mas as assistentes? Ela tratava com frieza, e não era exatamente a chefe mais caridosa do mundo: chegava a ser exigente e fazer seus servos enlouquecerem de tanto trabalho. Siih parou de repente:
- Libby.
- Sim, Majestade? - Libby se ajeitou.
- Quero que você chame Lefi rapidamente, que você mande Alicia fazer alguma coisa para eu comer, que você traga o relatório 4014 das três testemunhas e que mande oito especialistas para verificarem os danos da Ophelia.
- De novo? - supreendeu-se Libby - mas---
- Já foi?
Libby engoliu em seco, praticamente ressentida. Fez uma breve reverência e saiu de perto, indo cumprir os afazeres.
Siih saiu apressada, ignorando as reverências que faziam quando passavam por ela. Precisava arranjar o problema da Ophelia, antes que todos os outros. O país estava estarrecido com a notícia de que a Musa havia acordado: tentara abafar a notícia, mas não deu jeito: nenhum jornal quis ser subornado para ocultar o fato de que a Musa havia acordado. Lefi passara as horas tentando subornar os jornais com ofertas altíssimas, mas nem uma oferta de 80 milhões seduziu algum diretor. A idéia de que a tiragem dos jornais se superaria era melhor.
E ao mesmo tempo tinha que continuar reinando e governando como sempre fizera: não podia admitir a idéia que uma Musazinha qualquer causasse prejuízos ao país inteiro.
Como era complicado ser rainha.

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Ophelia se deitou sobre a grama, completamente nua: como podia ser outra coisa, já que não tinha roupas e nem se lembrava de como produzir uma roupa, ainda mais com magia.
Seus cabelos castanhos caiam sobre o rosto, seus olhos fitavam o céu, desinteressados. Fechou os olhos, calma, serena. Não queria muitas coisas, aliás nem sabia direito o que queria. As suas lembranças eram vagas demais, alguma coisa relacionada as outras Musas. E quando se lembrou das Musas, um sentimento de ódio e culpa penetrou calmamente no seu coração. Ódio por elas terem lhe feito sofrer tanto, por terem assassinado a sua mãe. Culpa por permitir que a mãe e a irmã sejam feitas de reféns.
Se desligou do mundo.

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Lala tinha cabelos lisos e laranja, e era bem viva. Normalmente estaria na capital, mas se entediou e resolveu viver como uma andarilha, quem sabe ajudando as pessoas no decorrer do caminho. Em troca de recompensas, é claro.
Havia pescado um peixe qualquer, comia com gosto. Comeu o último pedaço, jogou os restos para debaixo da terra.
- Repouse bem, peixinho.
A floresta era estranha: não conseguia definir se era dia ou noite. O céu era meio alaranjado, meio rosado e as nuvens eram quase imperceptíveis. Lala mordeu o lábio inferior: queria sair logo daquela floresta, era tudo muito estranho. Arrumou a trouxa: não estava muito longe da capital e diziam que era nessa sinistra floresta onde Ophelia se escondeu. Do outro lado havia a pequena vila de Cherllaux: ouviu dizer que a irmã de uma julgada, Renegada, tinha se mudado pra lá depois de ter visto a irmã assassinar o ex-amante e se matar de forma trágica.
As nuvens se amontoavam devagar e o céu assumia um aspecto cinzento. Sentiu as primeiras gotas, gélidas como se fossem alfinetes.
Pôs o manto, ajeitou o capuz ocultando perfeitamente seus cabelos alaranjados, agora longos. Estava perto de algum rio e alguma cachoeira, mas ainda assim conseguia escutar um arfar de respiração. Quem seria?
Em vez de seguir em frente, andou para a esquerda, seguindo o ruído da respiração. Depois de tanto andar, já imaginando que era só imaginação, a fina chuva molhando o manto, encontrou.
Ela estava deitada no chão, nua, de olhos fechados. Não reparava na chuva. Não reparava no céu, na grama, em nada. Seus cabelos castanhos estavam desarrumados, sua respiração pausada.
A menina era linda, e tinha algo de infantil no jeito em que respirava. Abriu a sua mochila e retirou um manto negro, jogando sobre o corpo.
A garota se remexeu, seus olhos tremeram. Logo suas pálpebras se levantaram, dando a ver suas íris castanhas.
Em um segundo, Lala se viu presa na parede, com algo a prendendo na garganta, os pés suspensos, as íris castanhas a fitando:
- Quem é você?
Quando conseguiu abrir os olhos, reparou que a) estava suspensa no chão. Tipo, seus pés estavam uns 5 metros de distância no chão. As árvores eram realmente altas. B) a menina estava onde sempre estivera. Seu braço que se esticou e alcançava e apertava Lala na árvore. Era um braço. Que se esticava. Reparou que a medida que o braço esticava, a cor variava: a cor pálida da pele até alcançar um negro com afiadas garras. C) E aquilo doía.
- Quem é você?
Lala tentou se desvencilhar, queria fugir. Fugir pra onde não importa, mas estava na cara que aquela menina era doida e perigosa: podia esticar membros!
Provavelmente nem mesmo a Rainha podia fazer isso, como essa podia?
- Quem é você?
A voz saia ameaçadora e doce. Como podia ser, ela não sabia. Mas Lala achava que a voz da garota era ao mesmo tempo um pesadelo e uma música aos ouvidos. Era atormentador aquela sensação de bondade e violência ao mesmo tempo.
- L-Lala - tremeu Lala, sem saber o que fazer.
A garota afrouxou as garras para o alívio de Lala: porém não soltou, o que deixou Lala mais preocupada ainda. Será que a garota era do tipo que brincava com suas presas antes de... matar?
- O que faz? - indagou a garota, quase como um sussurro venenoso.
- Planejo lutas e guerras - Lala respondeu devagar - e luto...
A garota achou interessa, aparentemente: ela sorriu. Deixou Lala cair de 5 metros, fazendo o braço voltar a forma original.
- Oh, você luta - murmurou a garota - que grosseria a minha, estou falando com uma guerreira, certo?
Reparou que estava nua, o manto havia caído quando se levantara bruscamente e esticara o braço. Mas sem nenhum pudor, deu as costas e pegou o manto no chão e se cobriu, amarrando, formando assim uma capa.
Sorriu mais ainda e disse:
- Me chamo Ophelia e perdoe-me pela má recepção. Bem, eu tenho uma idéia... você é uma fada?
- Sim... uma fada absolutamente normal... - respondeu Lala sem saber o que falar.
- Perfeito - Ophelia sorriu - eu a desafio para uma luta. Se você ganhar, deixarei você ir embora ilesa e terá a minha proteção em qualquer terra. Se você perder, servirá a mim para sempre.
Lala ouvira vagamente sobre a louca e sabia que o nome dela era Ophelia. Mas a queda, a fina chuva, a floresta estranha, tudo contribuiu para ela não relacionar a Ophelia-que-destruiu-tudo com esta Ophelia-que-desafiava-para-uma-luta.
E Lala lutava bem: conseguia pôr muitos homens a pedirem perdão por terem lutado. Consequência de vir de uma família que treinava para a guerra.
O orgulho falou mais alto, Lala assentiu.
- Está bem - disse por fim.
Ophelia sorriu.
- É assim que se faz - murmurou.



E no próximo capítulo...

Reparou que Ophelia não portava armas. Com certeza pensou ela já é uma arma com aquelas mãos.
- Bela katana - reparou Ophelia - forjada pelos orientais? Uma boa e linda espada, com certeza... mas não é forte o suficiente para mim... - mas a última frase não foi dita em voz alta.
Sorriu.
Lala não viu mais nada depois disso. Só viu o sorriso e um borrão marrom. Pulou para trás sem hesitar, tentando fugir do tal borrão marrom que a perseguia ferozmente. Corria para trás, tentando cortar o borrão com a sua "boa e linda espada", mas sem sucesso. Até conseguir subir em uma árvore, e o borrão simplesmente parou.
- Deu para perceber que você consegue fugir bem. Não é uma idiota - elogiou Ophelia, mostrando os seus dentes, em um charmoso sorriso.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Parte 13 - Partindo para as trevas.

- Aonde vai, Thá? - indagou uma garota, o seu rosto coberto pelo capuz.
- Lynda, você também sentiu, certo? - indagou Thá sem rodeios - Ophelia acordou... Ouvi dizer que ela provocou uma confusão durante o show de uma cantora lá, acho que o nome dela é Yahana...
- Yohana - corrigiu Lynda, fechando os olhos hesitante - imagino o que as Musas farão...
- Estão ferradas - afirmou Thá.
As duas estavam em pé, diante da feira, seus rostos cobertos por capuzes. As pessoas normais da vila de Cherllaux costumam achar isso estranho, mas já se acostumaram de tal forma que não falavam nada.
- Eu gostaria de uma dúzia de maçãs - pediu Thá, falando para o vendedor. O vendedor assentiu - bem, Lynda, você vai fugir como vão fazer várias pessoas? Ou vai ficar aqui?
- Eu não vou ser morta pela Ophelia - disse Lynda - nem se Ophelia acabasse com tudo aqui.
- Isso soa muito arrogante, Lynda - Thá riu.
Os olhos azuis de Lynda cintilaram.
- Sim - Lynda sorriu - mas permita-me perguntar... como vai o seu aprendiz?
- Bem - Thá respondeu - consegue algumas pequenas magias. Admito que é meio difícil educá-lo, mas garotos são mais difíceis de aprender do que garotas. Nunca entendi isso.
- Sim, é verdade - Lynda murmurou - garotas tem mais potencial para magias que garotos. Mas eu reparei que Vinicius tem muito talento para preparar poções mágicas. Deveria aperfeiçoar isso.
Thá sorriu. As poções de Vinicius eram perfeitas, tamanha era a habilidade do aprendiz.
- Bem, eu tenho que ir para a casa - disse Lynda. E para o vendedor, disse: - obrigada. Eis o pagamento.
- Eu vou com você - e Thá estendeu algumas moedas para o vendedor.
As duas moravam na mesma rua: uma casa em frente a outra. Lynda sorriu, e assentiu a cabeça, confirmando que esperaria a amiga. Pelo que Thá sabia, Lynda se mudara para Cherllaux há uns dois anos ou três, quando viera do norte para assistir a um julgamento cuja irmã mais nova era a ré. O julgamento foi uma verdadeira tragédia, em que tanto a irmã quanto o outro réu morreram de formas assustadoras, deixando um garoto de dez anos órfão. Lynda então não quisera voltar, e se fixara na pequena vila gélida, que fica entre a floresta e montanhas. A outra irmã, Kharën, agora morava sozinha e estava grávida da terceira criança.
Era uma história simples e incomum.
- Mestra! - gritou uma voz masculina - Mestra!
Thá se virou, deixando cair o capuz. Avistou Vinicius correndo apressadamente, seu rosto vermelho, sua expressão de medo.
- O que houve, Vinicius? - Thá indagou rispidamente.
- E-eu... - Vinicius tentou respirar sem sucesso. Embolou nas frases - Opheliaestáporperto.
- Ophe-o-quê? - Thá fechou a cara. Repreendeu o aprendiz: - fale direito, garoto!
- Ophelia está no meio dessa floresta, na cachoeira - foram as palavras que Vinicius conseguiu dizer.
Lynda franziu as sobrancelhas, intrigada.
- Eu não senti isso - disse - então Ophelia está suprimindo a sua energia?
- Eu não senti - Vinicius disse - eu a vi. Estava indo pescar alguns peixes e... bem, eu a vi do outro lado, tomando banho.
- Você viu a Ophelia? - Thá se supreendeu - e ela nem soube que estava ali?
- Ela levantou o r-rosto... - Vinicius tremia de medo - e me viu. Mas ela fez uma cara de asco, e me ignorou .___.
- Seu tolo - Thá disse, suspirando - vá pra casa e tome um chá. Céus, seu suor está frio.
Vinicius a olhou apatetado.
- Já foi?
Vinicius saiu correndo para a casa onde ele e Thá viviam.
- Vou indo também, Thá - disse Lynda - o que seu aprendiz diz é preocupante. A Ophelia está em algum lugar por aqui, e já que está suprimindo a energia, pressume-se que ela tem algum plano...
- Sim - Thá concordou.
Chegaram ao final da rua. As duas se despediram com uma reverência formal.
Thá suspirou, após fechar a porta atrás de si.
Não conseguia sentir a energia de Ophelia. Normalmente um monstro como a Musa Adormecida se faria sentir até mesmo de muito longe: Thá não havia sentido a bagunça que fizera quando entrara na capital? E a capital nem era tão perto assim, era uns dois dias de viagem considerando uma noite de descanso, a viagem no ritmo de um cavalo. Mas se o seu aprendiz estava certo, Ophelia estava perto demais, ali na cachoeira, no rio em que as pessoas da vila pescam, tomando banho distraída. E ela não sentira. Nem ela, nem mesmo Lynda que tinha maior precisão que ela.
Definitivamente Ophelia estava se escondendo.

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- Eu lhe darei uma carona - Raven disse.
Maria sorriu.
Rafitcha, Tatiih, Bia, Raveneh e Johnny estavam prontos para a viagem de alguns dias. Normalmente duraria muito tempo, mas os cavalos alados eram rápidos, então a viagem só duraria dois dias.
Raven levaria o grupo até o reino e depois voltaria para buscar a todos.
- Mande notícias - pediu Maria.
Ly e Doceh assentiram. Umrae chamou Tatiih e lhe entregou sete potes de vidro, cada um com um líquido de cor diferente.
Tatiih se intrigou:
- O que é isso?
- Veneno - respondeu Umrae - guarde-os. Entregue-os para Johnny, Bia ou Rafitcha quando for a hora. Por favor, não se esqueça: branco é sonífero leve, rosa é sonífero forte. O vermelho faz a pessoa cair doente e com febre, o azul causa alucinações e vícios. O verde queima por dentro, mas só mata se tomar muito de uma vez. O laranja tem gosto de laranja e faz os órgãos gelarem, e você sente muito frio a ponto de desejar a morte. E o negro... bem, o negro fica da cor do ar quando se mistura com outro líquido e é o único que mata com um gole somente. Tome muito cuidado com o veneno negro, está bem?
- S-sim... Mas porquê... eu? - Tatiih estava tremendo com a caixa de madeira, os sete potes de vidro dentro. Tremia com a hipótese de confundir o veneno...
- Vá, estão te esperando! - Umrae sorriu.
Tatiih fez uma mera despedida e correu para a carruagem, onde o restante do grupo esperava. A maioria das pessoas daram presentes para ajudar a Raveneh e os outros na viagem: Fer dera dois punhais de prata, Kibii cedeu um conjunto de flechas venenosas, a menina dos feijões dera uma ampola com algo transparente dentro (a finalidade não foi muito bem explicada), Ly ensinou a Johnny um pouco sobre defender alguém, Doceh produzira um conjunto de chocolates que corroíam qualquer um que os comessem.
- Adeus - Maria despediu-se.
- Adeus.
Em um rompante, os quatros cavalos alados se levantaram e começaram a voar, entre as nuvens. Era uma viagem mais exaustiva que a que fizeram para o show, que podiam ter feito a pé (mas como era um grupo e estavam com preguiça de subir as escadas rolantes/achar a praça, preferiram ir nos cavalos). Raveneh

suspirou, agradecida por tanta gente a acompanhar, além do seu marido. Sentia que não estava sozinha. Perguntou-se o que Jorge acharia daquele grupo todo.

Ele era um dos baba-ovo da irmã Catherine.
Provavelmente era filho da mãe com um amante vagabundo qualquer, tamanho seu contraste com os outros irmãos: enquanto os outros irmãos tinham cabelos escuros do pai e os olhos cor-de-mel da mãe, Jorge era ruivo e com olhos verdes, repleto de sardas. Enquanto os irmãos eram fortes, Jorge era magricela. Desde que o pai morrera, todos trabalhavam para o governo. Mas somente Jorge estava no cargo mais alto, na área de advocacia. O resto costumavam trabalhar para os figurões do governo como seguranças ou assassinos profissionais.
Mas ainda assim era o preferido da sua mãe e da Catherine. A mãe o paparicava mais do que os outros filhos, e era o único com quem a Catherine não se irritava.

Era o único irmão que Catherine contava suas confidências.
Reparou que quando viera dar a notícia, seus cabelos estavam escuros. Provavelmente tingira para ficar mais parecido com um filho da sua mãe... Mas as sardas continuavam, sua magreza continuara. E os olhos verdes e penetrantes continuavam, sempre sinceros.
Apesar de Jorge ser o mais paparicado e preferido, era o único que não humilhava a Raveneh. Raveneh e uma barata era a mesma coisa para ele: nada. Jorge nunca ligara para Raveneh, nunca se dirigia a ela. Talvez se sentisse culpado de tantas humilhações e preferia se manter omisso. Raveneh não lembrava se alguma vez Jorge falara com ela quando moravam sob o mesmo teto.
- Eu queria poder lutar - suspirou Raveneh, ao que Johnny retrucou:
- Não pode fazer isso, pelo menos até o nosso bebê nascer. É muito esforço.
- Sim... - Raveneh estava aprendendo a lutar com espadas há dois anos, e já estava conseguindo desenvolver boas técnicas. Mas a maternidade interrompera esse aprendizado, e Raveneh não gostava disso.
Porém o bebê estava ali dentro, se mexendo. Quem seria?
- Que nome você daria para o nosso bebê? - indagou Raveneh.
- Será uma menina - sorriu Tatiih observando a barriga. Raveneh ergueu o rosto, surpresa.
- Como você sabe? - indagou.
Tatiih sorriu.
- Eu não sei dizer como - respondeu - mas as mulheres que viviam comigo na cidade sabiam dizer. Meu irmão, Giovanni, sempre errava quando tentava.
Giovanni?
- Você tinha um irmão? - indagou Rafitcha curiosa.
-Sim... ele era filho natural dos meus pais, mas eu fui adotada. Desde pequena - confidenciou Tatiih.
Eu já escutei esse nome... quando?
- E onde ele está agora? - indagou Bia.
Eu sei... eu sei, mas não consigo me lembrar!
Tatiih se entristeceu.
- Estava trabalhando em Heppaceneoh quando foi invadida pelos nortistas. Não tive mais informações desde então.
Estou lembrando.. Estou lembrando!

- Avisem... que... eu... morri... pra... minha... irmã...
- Onde ela mora? Qual o nome dela? E...
- Campinas... Ela vive nas Campinas... Irmã adotiva... O nome dela é...
- Campinas?

Foi anos atrás...

- Você acha que ele sucumbiu aos nortistas? - indagou Rafitcha.
- Talvez - Tatiih sorriu - talvez.
Tatiih fechou os olhos, embalada nas lembranças do irmão, enquanto Raveneh mordia o lábio inferior por nunca ter contado a verdade. Precisaria contar, já que

lembrava. Mas... quando?



E no próximo capítulo...

Siih saiu apressada, ignorando as reverências que faziam quando passavam por ela. Precisava arranjar o problema da Ophelia, antes que todos os outros. O país estava estarrecido com a notícia de que a Musa havia acordado: tentara abafar a notícia, mas não deu jeito: nenhum jornal quis ser subornado para ocultar o fato de que a Musa havia acordado. Lefi passara as horas tentando subornar os jornais com ofertas altíssimas, mas nem uma oferta de 80 milhões seduziu algum diretor. A idéia de que a tiragem dos jornais se superaria era melhor.
E ao mesmo tempo tinha que continuar reinando e governando como sempre fizera: não podia admitir a idéia que uma Musazinha qualquer causasse prejuízos ao país inteiro.
Como era complicado ser rainha.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Parte 12 - A dor antes do prazer.

Todos se amontoaram na cabana, com medo pelo que viria. Raveneh estava abraçada com Johnny, os braços cobertos pela manta bege.
- Johnny - começou, hesitante.
- Sim, querida? - indagou Johnny, os olhos semi-cerrados.
- Pediram a minha extradição para eu ser julgada - contou Raveneh, os dedos tremendo - mas recusaram.
- Sério? - indagou Johnny - que bom que recusaram.
- Eu realmente não quero voltar para... para aquele lugar... - Raveneh disse - mas não é melhor eu ser julgada logo? E ainda mais com essa maluca da Ophelia aí... Queria ficar longe dela...
- E o bebê? - indagou Johnny.
Não parou para pensar no que significaria viajar para longe. Só pensava no bebê.
- Não sei - Raveneh soluçou. - só sei que preciso de um lugar seguro. Eu... eu senti aquela energia monstruosa. Eu senti a Ophelia, eu encarei seus olhos. Sua aparência é de uma criança, mas... ela é um monstro e não quero viver perto dela, Johnny.
- Então vamos até onde você nasceu - afirmou Johnny - e você vai ser julgada e inocentada. Viveremos lá, se for preciso.
- Abandonar as Campinas... - Raveneh enxugou os olhos - eu realmente não queria isso. Mas irei só para ser julgada... Só para isso. Voltarei não importa o que tenha acontecido.
- Então que seja - Johnny sorriu.
Entendia o medo da esposa. A Ophelia era louca, e queria a vingança de qualquer modo. E Raveneh sofreria desnecessariamente se tentasse escapar ao julgamento, pois seu meio-irmão faria questão de encher o saco quantas vezes for preciso. Raveneh não precisava sofrer mais do que já sofria e seria mais sensato passar pela prova do fogo rapidamente, e criar seu filho em paz.
Os dois adormeceram.

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Ophelia sorriu. Estava em um rio, numa floresta, nua, lavando sua roupa. Não adiantava, seu vestido não melhorava de aparência. Mas não se importava: estava feliz porque podia se mexer, sentia fome e frio como uma humana, estava viva. Já havia se alimentado, conseguira algum bicho pra comer.
Se perguntou porque seu corpo não crescera. Já devia estar no corpo de uma mulher, pois era uma criança quando adormecera.
Mordeu o lábio inferior, cerrando os dentes, concentrando. Ajoelhou-se, a água cobrindo todo o seu corpo, fazendo força. Estava pouco habituada a poderes mais sofisticados que destruir coisas. Sabia fazer tudo, mas estava enferrujada por causa de todo o tempo dormindo. Nem destruíra as coisas direito no show.
As pessoas se apavoram por tão pouco.

Droga.
Mergulhou o rosto na água, seus cabelos se encharcando. Era só sair daquele corpo...
Era só se libertar.
Um pouco só... um pouco mais de energia...
Ofegou. Sua face se contorceu, as veias do seu rosto e seus membros ficaram nítidas, suas pupilas diminuiram. Tremia.
Era dolorido. Não lembrava de como era dolorido. Será que já fizera isso alguma vez?
- Ophelia, seja a melhor.
Um pouco mais. Um pouco mais de poder...
- Nunca seja a segunda, seja sempre a primeira.

Seus dentes se transformaram em presas, seus órgãos se remexeram de tanta dor, sua cabeça parecia que ia explodir.
E agora...
Seus seios aumentaram. E como isso doía! Era toda a dor do crescimento acelerada e multiplicada: os seios pareciam explodir, cada pêlo que surgia era como se espetassem uma agulha em brasa, suas mãos e pés cresciam como se esticassem com aparelho de tortura, suas unhas adquiriam aparência uniforme e era como se arrancassem as unhas, seu rosto se tornava mais feminino e era como se alguém esculpisse sua face com violência, como se a carne fosse mera pedra ou argila.
Sentia a dor em cada célula do corpo. Seu coração batia apressado, seus dentes gemiam de dor ao se alinhar forçadamente, sua coluna vertebral e seus ossos empurravam com toda a força e isso doía. E a sua bacia crescia, e seu corpo ganhava curvas perfeitas e reclamava por fazer isso tão forçadamente.
Um pouco mais de energia...
Fechou os olhos.
Não doía por mudar de corpo. Doía por se libertar daquela prisão do corpo infantil. Mudar de corpo para Ophelia ou qualquer uma das Musas era como uma cobra mudar de pele: a coisa mais natural do mundo. Mas aquilo não era simplesmente transformar a aparência. Era se libertar daquele corpo infantil que lhe fora imposto, aquele corpo que limitava seus poderes. Era como uma barreira que só desabaria caso ela se dedicasse a isso.
E se para libertar, precisava doer a ponto de desejar morrer... Ophelia fazia.
Seu coração parou de bater um minuto.
Foi como se toda a dor se dissipasse um minuto, e Ophelia experimentou a sensação de morrer pela primeira vez. Quando fora forçada a dormir por Olga, era somente como se estivesse mergulhando em um sono profundo. Mas agora era como desespero e alívio misturados. Deixou-se entregar a estranha neblina que a envolvia, confortante e fria.
Mas foi só por um segundo. Um segundo em que experimentou o pavor de nunca mais respirar e o alívio de nunca mais sofrer.
Um segundo para abrir os olhos e se ver dentro de um rio, perto de uma cachoeira. Tocou os seios. Eram grandes o suficiente para encher um par de sutiãs. Alisou a cintura. Afinara-se. Olhou as próprias mãos e se surpreendeu com os dedos longos. Estava tudo em seu lugar.
Agora era uma mulher. Fechou os olhos, contente. A dor lhe parecia gratificante agora, como um sacrifício antes do prazer.
- É assim que se faz, Ophelia... parabéns.

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- Mas você vai aceitar ir para a sua terra, Raveneh? - indagou Maria pasma.
- Eu quero acabar com tudo logo, Maria - disse Raveneh - estou cansada de sofrer anos a fio. Tive dois anos de paz, e realmente não queria acabar com eles.
- Mas... - Maria parecia hesitante a permitir que Raveneh saísse daquelas terras de tanta paz - você vai com quem?
- Johnny vai me acompanhar, é claro! - Raveneh sorriu, contente por Maria se preocupar tanto - não irei sozinha.
- Acho melhor que mais alguém lhe acompanhe - murmurou Maria - e alguém que possa lhe defender. Johnny não vai poder lutar por você.
- Maria, por favor... não precisa... - Raveneh disse em um fio de voz, constrangida.
- Sim, você precisa. Acho que Rafitcha gostaria de lhe acompanhar, ouvi dizer que ela prestou algum curso na área jurídica quando era estudante. Alguém que saiba lutar...
- Maria... - Raveneh hesitou antes de continuar, permitindo que Maria continue.
- Umrae seria ótima, mas na situação que estamos precisamos de alguém que saiba fazer venenos. Ophelia vai vir e com força total. Hmmm...
- Ai... - Raveneh queria partir logo. Não que estivesse ansiosa pra sair dali, muito pelo contrário. Já podia imaginar os dias sem notícia, preocupada, nervosa. Mas queria acabar com aquele inferno logo.
- Ah, vou perguntar pra Bia se pode lhe acompanhar - disse Maria - talvez ela queira.
Raveneh resmungou e arranjou um lugar qualquer para sentar, enquanto Maria dava as costas e procurava a senhorita Premy. Logo voltou, acompanhada de Tatiih e Bia.
- Elas duas vão lhe acompanhar também - disse Maria - Bia aceitou e Tatiih queria lhe acompanhar.
Raveneh sorriu, agradecendo. Mais tarde, Rafitcha aceitara acompanhá-la. Agora tinha um grupo de amigos para defendê-la enquanto viajava para o inferno. Suspirou aliviada.



E no próximo capítulo...
- Ophelia está no meio dessa floresta, na cachoeira - foram as palavras que Vinicius conseguiu dizer.
Lynda franziu as sobrancelhas, intrigada.
- Eu não senti isso - disse - então Ophelia está suprimindo a sua energia?
- Eu não senti - Vinicius disse - eu a vi. Estava indo pescar alguns peixes e... bem, eu a vi do outro lado, tomando banho.
- Você viu a Ophelia? - Thá se supreendeu - e ela nem soube que estava ali?
- Ela levantou o r-rosto... - Vinicius tremia de medo - e me viu. Mas ela fez uma cara de asco, e me ignorou .___.
- Seu tolo - Thá disse, suspirando - vá pra casa e tome um chá. Céus, seu suor está frio.

terça-feira, 18 de março de 2008

Parte 11 - Desespero / As Musas

E quem sabe, um dia voltarei
Voltarei para ficar aqui


Foi a última frase entoada por Yohana naquele show. A última frase coerente e ritmada com a sua voz afinada. Porque de repente se viu em um lugar destruído. Não entendia, mas as estrelas foram apagadas pela fumaça e pelo pó, os gritos alegres foram substituidos pelo pânico. Alguma coisa aconteceu. Alguma coisa.

- RAVENEH! - gritou Johnny, olhando em volta. Raveneh respirava com dificuldade por causa de todo o pó, colocando a mão na barriga. Tinha só seis meses de gravidez, se acabasse parindo agora, ia ser fatal. O bebê poderia morrer, e nem em sonho, ela pensava nisso.
- J-Johnny - tremeu Raveneh - a energia da garota... ela é poderosa demais...
Bia que estava no meio da bagunça ficou em pé, mesmo quando tudo foi destruído. Pôs a mão na espada, olhando em volta procurando o motivo da destruição repentina. Umrae pousou as mãos sobre as adagas escondidas, Kibii ajeitou o arco, Fer arrancou o primeiro punhal, Tatiih ficou junto com Rafitcha olhando em volta e procurando um lugar para sair.
- Voltem para as Campinas! - Maria gritou com seu porte decidido - Raven, acalme os cavalos! Johnny, recolha Raveneh e a proteja! Umrae, proteja Raveneh! Bia, Kibii, Fer, venham! Tatiih, vá junto com Raven! Ly e Doceh, acompanhem Tatiih!
O grupo correu, ignorando o burburinho. Raveneh olhou para o lado, sendo interrompida por Johnny que a queria levar para o lado contrário. Não desviou o olhar, pois conseguiu enxergar no meio de toda a poeira uma criança com olhos castanhos, cabelos amarrotados e um vestido que nem o mais maltratado dos escravos usaria. Mas ainda tinha no seu olhar a elegância de alguém que outrora poderia se comparar a uma rainha.
- Venha, Raveneh! - exclamou Kibii preocupada - Umrae vai lhe proteger.
- É ela - murmurou Raveneh apontando para a criança - ela que causou isso tudo.

Yohana estava apavorada. Desceu do palco, tentando fugir.
- Hey! - gritou alguém em quem trombou. A garota sorria bondosamente.
- Desculpe... - disse quase em lágrimas - desculpe...
- Hey, você não é a Yohana? - disse Tatiih com seu olhar bondoso - venha com a gente.
- Hã? - fez Yohana - mas...
- Tem uma saída - disse Tatiih - estou com amigos.
Yohana ainda assim parecia uma princesa. Sorriu, curvando-se com cerimônia, agradeceu. Mas no meio daquele pânico, ninguém percebeu, somente Tatiih que a puxou para fora.
Enquanto isso Kibii suspirou e disse com raiva:
- Pois bem, vou dar uma sova naquela al--
- Não - Bia a segurou - você não a conhece. Ela é a chamada Ophelia.
A boca de Kibii tremeu, assim como Johnny que arregalou os olhos.
- O-Ophelia? - murmurou Kibii - a Musa Adormecida? A-Aquela...
Olhou para a criança que olhava o quadro do pânico com um prazer escondido no olhar.
- Mas... achei que fosse uma lenda - murmurou Johnny.
- Vamos - afirmou Bia - melhor sairmos daqui. Raveneh está grávida, não pode ficar aqui. Você tem algum lugar para onde ir, Raveneh?
Raveneh parou, estupefata. E aquele documento lhe voltou a memória. Não, Campinas era seu único lar e não queria sair dali. Mas...
Johnny interrompeu:
- Que está dizendo? Não temos que ir embora! - gritou.
- Ela vai destruir tudo! - protestou Bia - Raveneh tem que ser protegida! Ela é a sua esposa e está com uma vida no ventre!
Johnny não pôde argumentar diante de tal afirmação e saiu na frente, quase sendo empurrado pelas pessoas.
Todo o grupo encontrou os quatros cavalos que relinchavam, mas com a ajuda de Raven se tornaram mais calmos. Todos se meteram dentro da carruagem com esforço, depressa demais, se assustando com a visão da praça destruída.
- O que Yohana está fazendo aqui? - indagou Maria de repente, ao reparar que a cantora estava sentada ao lado dela.
- Errr--- - fez Yohana espantada e com medo. Será que a expulsariam dali? Porém, Tatiih interveio:
- Ela estava fugindo, e eu a ajudei.
- Fez bem - parabenizou Raveneh segurando a enorme barriga.
- Vai! - gritou Raven - ninguém está faltando? VAI!
E de repente, alçaram vôo tão depressa que nem mesmo a Ophelia, a pequena criança que destruiu ruas e ruas em um segundo, conseguiria contê-los.

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- Ah, mas ela já fez baderna... - suspirou Miih - ela é impossível de se conter!...
- Vamos esperar os humanos nos pedirem ajuda, certo? - afirmou Loveh - então não se preocupe com isso. Você sabe que faz jus ao seu título.
Miih sorriu. O céu estava esplêndido, com todas as estrelas brilhando sorridentes.
- O que ela fez exatamente? - se perguntou Miih em voz alta, tentando avaliar os danos, com quilômetros de distância.
Loveh fez uma reverência delicada, e respondeu polidamente:
- Ela destruiu uns 51% do bairro Jearinne, na capital.
- Descobriu graças aos ventos? - riu Miih - você melhorou bastante, saber disso com tanta exatidão.
- Sim, Miih - sorriu Loveh - vou ficar sozinha um pouco. Até logo.
- Até - fez Miih, pensativa.

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Ophelia não sabia mais o que fazer. Havia destruído tudo a sua volta. Arruinara o que era para ser um divertido show. Fizera uma noite inesquecível para as pessoas presentes. Dera material para revistas e jornais sensacionalistas. Apavorara pessoas achando que houve mortes.
Entediou-se.
E novamente, levada pelo conforto e pelo doce perfume das florestas, voltou. Correu velozmente, que ninguém podia sequer avistar a sua sombra: só via um borrão marrom (por causa do seu vestido). Mas quem conseguisse vê-la, veria um sorriso e um olhar iluminado. Ela estava feliz.
Ela estava viva. Podia ouvir seu coração batendo, o sangue correndo pelas veias junto com a magia, tão poderosa e ardente. Um dia queria morrer por tamanha carga de poder que recebera, agora só queria aproveitar e ser tratada como rainha. Tinha poderes para tal.
Queria ser uma Rainha, poderia reclamar a respeito disso. Tinha que ficar melhor: seu vestido estava intragável, estava suja e seu cabelo precisava ser lavado e escovado.
Sorriu mais ainda.
Podia sentir a brisa da noite bater em sua face, conseguia sentir até fome. Podia preparar algum coelho para comer.
Estava viva.
Só quem nasceu, viveu, morreu e renasceu...
... sabe o quanto é valioso aspirar o delicioso perfume das árvores e sentir a fome.

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Yohana tiritava de frio e medo.
Talvez você ache estranho uma cantora sumir assim nem mais nem menos, sem ninguém gritar por ela ou qualquer coisa do tipo. Acontece que nesses tempos uma cantora era realmente igual a pessoas comuns e anônimas. Hoje em dia os cantores tem mania de dizer que são pessoas normais, mas obviamente eles não: são famosos, belos, ricos e todo mundo quer ser igual a eles. Gente assim nunca pode ser normal. Mas naqueles tempos ninguém protegeria Yohana, a não ser que ela pagasse por isso. Acontece que Yohana nunca pagava por segurança, portanto não seria salva por ninguém em tempos de urgência. Só se a sorte estivesse ao seu lado, o que aconteceu realmente, quando ela na hora de fugir, esbarrou com Tatiih.
- Yohana, quer um manto? - ofereceu Maria erguendo um manto escuro, de algum tom de cinza que Yohana não conseguia identificar. Ela só sorriu, e murmurando um "sim", aceitou o manto.
Melhorou muito depois disso.
- Ophelia - sussurrou Bia - melhor arranjarem um abrigo.
- Aquilo é só uma lenda, ok? - exclamou Johnny - Ophelia não é esse monstro! Aliás, nem existe Ophelia! Era só uma criança super-poderosa fazendo arruaça!
- Ophelia existe sim - teimou Bia - ela existiu e acordou. Melhor se mandarem.
- Ah, claro! - zombou Johnny - e o Papai Noel também existe, certo?
- Mas como não consegue compreender? - gritou Bia - eu senti... Eu senti aquela menina! Ela não quer somente destruir tudo...
- Que prendam a garota, a Rainha tem poderes pra isso! - argumentou Johnny.
- Ah, seu... - fez Bia, mas foi interrompida por uma voz feminina:
- Quem é Ophelia?

Raveneh havia perguntado com serenidade e simplicidade, com seu olhar doce. Sorria. Mas todos ficaram em silêncio, mal lembravam que Raveneh vinha de uma terra que expulsara todos os seres mágicos e vivera somente entre humanos, logo não conhecia as lendas mágicas. Kibii e Doceh morderam os lábios inferiores, Fer baixou o olhar, Umrae começou a roer a unha do polegar, Tatiih passou a remexer no seu vestido, Maria revirou os olhos como sinal de tristeza. Ly e Raven não demonstraram nada, nem Yohana que só se aquecia no manto.
Bia suspirou e começou.

- Bem. De tempos em tempos, uma fada nasce mais poderosa que o normal. Isso é comum, e nada que mereça muito interesse. Mas existem duas categorias que recebem especial atenção: fadas altas e uma classe que não tem nome. As fadas altas são fadas que nascem com poderes anormalmente grandes, mas vivem pouco. Porém podem abdicar dos seus poderes e viver mais. A classe que não tem nome é uma ainda especial: em toda a História, só teve umas onze assim, creio. São fadas cujos poderes se equiparam aos deuses, e hoje existe exatamente oito, eu acho. Mas a grande diferença entre essas fadas e as fadas altas é a resistência do corpo: ao passo que o corpo de uma fada alta não resiste e cede a morte, o corpo de uma das sete fadas só se rejuvenesce a todo instante, como se fosse jovem o tempo todo. A resistência, a imunidade a doenças é absurda. Como já falei, existem sete: Miih, Loveh, Catherine, Sunny, Elyon, Alice, Louise. Como o passar do tempo, elas foram se especializando em alguns setores da natureza: Miih passou a ser a Rainha das Trevas, Loveh controla os Ventos, Catherine vive com os Oceanos, Sunny prefere a Luz, já Elyon vive no Submundo e controla. Alice gosta das Florestas e Louise mexe com as Chamas. E antes havia a Olga, que aprendeu os segredos das estrelas ... Se lutassem, iriam se destruir e destruir o ambiente e as outras pessoas por perto. Se dividiram de forma organizada, e em algumas tribos são tidas como deusas. São chamadas de "Musas".

Bia respirou um pouco antes de continuar.

- As, na época oito, Musas não brigavam entre si. E como se tornaram ociosas porque não havia nada a fazer, passaram a ter como missão proteger os humanos ou ter alguns objetivos. Não importa. Mas chegou a Ophelia... Ophelia podia se tornar a Musa Suprema, tamanho era o seu poder. Mas era uma criança, ingênua e foi manipulada pelo gênio terrível e ambicioso da mãe, que a fez destruir tudo e competir com as Musas. As oito Musas entraram em ação, e foi a guerra mais absurda que teve. De uma hora para outra, todo o Reino das Fadas desmoronou, Heppaceneoh ruiu - naquela época se chamava Jubilah - as pessoas que moravam nas Campinas morreram, restaram muitos poucos sobreviventes que repassaram a história. Enfim, foi tão terrível que os sobreviventes nunca mais se recuperaram. No final, Elyon se encheu. Ela gostava de paz e sossego, e odiava perder. Toda a família de Ophelia já estava morta, só restando a mãe e a irmã mais velha. Elyon sequestrou a mãe e a irmã de Ophelia, o que a fez parar. Mas não foi o suficiente. Miih tomada de raiva por Ophelia, disse que a única saída era deixar de existir porque Ophelia nunca seria aceita entre elas. Catherine se chocou, Loveh balançou a cabeça. Mas ninguém podia condenar Miih por isso: Ophelia era só uma criança e demonstrava que não iria ser exatamente muito controlada. A mãe gritou para que Ophelia não consentisse, e não parasse até matar todas as oito Musas. Ophelia, obedecendo a mãe, se remexeu. Elyon, então, apunhalou a mãe com suas próprias mãos, com requintes de crueldade. A mãe morreu pagando todos os pecados que cometera. Ou não, sofreu pouco para o que causou. Ophelia arrasada, se deixou cair. Olga, a que sabia os segredos das estrelas, a fez adormecer, então. Porém Ophelia não se deixou render tão fácil... Resistiu com violência, e Olga acabou por se sacrificar. Não sei bem os detalhes, pois eram poupados das pessoas que ouviam. Mas quem contou a história para mim disse que Olga morreu de forma tão violenta, tão terrível que as outras Musas se apiedaram e se enfureceram mais que o normal. Mas a morte de Olga aconteceu porque ela fez Ophelia dormir a força. Ophelia foi levada a uma câmara selada, e lá ficou durante anos. As Musas restantes fizeram um memorial para Olga descansar em paz.

Bia ficou em silêncio. Porém Raveneh tinha uma dúvida:
- E a irmã mais velha de Ophelia?
Bia deu de ombros:
- Ninguém sabe. Provavelmente fugiu. Talvez tenha conseguido superar, talvez tenha se matado.

Raveneh se silenciou. A história era bastante longa, mas não se importava. Aquela criança era a Ophelia. Ophelia que dormiu durantes anos a fio, traumatizada com a destruição que fizera, enfurecida com o assassinato da mãe, preocupada com a irmã, odiando as outras Musas e quem sabe, arrependida pela morte da Olga. Fechou os olhos, triste, deixando-se ser confortada por Johnny.

Todos ficaram em silêncio até aterrizarem nas Campinas, e todos preferiram se refugirar na grande cabana de madeira onde cabia todos. Queriam ficar juntos até na morte.

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Elyon acordou, seu corpo doendo. Ela acordara, já se movera, já fizera bagunça.
Mais do que Miih, Loveh ou qualquer uma semelhante, é a ela que Ophelia queria. Se a menina entrasse em confronto com ela, o que haveria. Só tinha uma certeza: uma das duas ia acabar morta, pois se recusaria a perder. Ou ganhava ou morria.
Passou as mãos nos seus cabelos, nervosa. Poderia pedir ajuda a Catherine, quem sabe, e assim venceria o iminente confronto. Catherine era a sua amiga leal assim como Loveh e Miih eram amigas sempre unidas, porém os mares chamavam a Catherine tantas vezes que quase nunca se encontravam.
Levantou-se, arrumou o vestido delicado, andou. Estava escuro, provavelmente já era madrugada. Vivia no submundo, era o que diziam. Diziam que ela era uma feiticeira que falava com mortos e manipulava espíritos. Talvez seja verdade. Talvez a alcunha "Elyon, Rainha dos Mortos" esteja certa.
Talvez.
Em algum lugar por perto, estava um túmulo. Claro, morava quase ao lado de um cemitério.

Aqui Jaz Jakeline Moore
Esposa e Irmã amada

Não.

Aqui Jaz Jack Po
Marido que faz falta

Não.

Aqui Jaz Emmeline B.
Amante eterna.

Não.

Aqui Jaz Olga
Aquela que salvou a Humanidade.

Sim.

As margaridas repousavam em cima do túmulo, já murchas. Diziam que ela falava com mortos, mas não passava de um mito. É verdade que podia encontrar um ou outro espírito, mas não podia convocá-los e se odiava por isso. Queria que Olga voltasse, aquela garota animada e sonhadora que queria ajudar todas as crianças do mundo. Trocou as margaridas por um botão de rosa vermelha, tão singelo quando Olga era.
As lágrimas vieram salgadas como sempre, lágrimas amarguradas e culpadas. Se não tivesse matado a mãe da Ophelia, será que ela se tornaria tão mais furiosa a ponto de exigir a morte de Olga para adormecer?
Enxugou os olhos. Não adiantava mais.

O sacrifício de Olga tinha que valer algo. Algo.
Ela se sacrificou para que humanos pudessem reconstruir a sociedade, para que as Musas pudessem viver sem ter que abaixar a cabeça a ninguém. E agora Ophelia acordara, e o sacrifício da amiga podia ir por terra abaixo. Fechou os olhos, jogou a cabeça para trás. Ela mataria Ophelia.
Por ela, pelos humanos, pelas amigas, pelos inocentes.
Por Olga.



E no próximo capítulo...
- Mas você vai aceitar ir para a sua terra, Raveneh? - indagou Maria pasma.
- Eu quero acabar com tudo logo, Maria - disse Raveneh - estou cansada de sofrer anos a fio. Tive dois anos de paz, e realmente não queria acabar com eles.
- Mas... - Maria parecia hesitante a permitir que Raveneh saísse daquelas terras de tanta paz - você vai com quem?
- Johnny vai me acompanhar, é claro! - Raveneh sorriu, contente por Maria se preocupar tanto - não irei sozinha.
- Acho melhor que mais alguém lhe acompanhe - murmurou Maria - e alguém que possa lhe defender. Johnny não vai poder lutar por você.
- Maria, por favor... não precisa... - Raveneh disse em um fio de voz, constrangida.
- Sim, você precisa. Acho que Rafitcha gostaria de lhe acompanhar, ouvi dizer que ela prestou algum curso na área jurídica quando era estudante. Alguém que saiba lutar...

domingo, 16 de março de 2008

Parte 10 - O ínicio da raiva.

Maria estava impecável, com o cabelo loiro liso caindo charmosamente nos ombros. Mas a sua expressão estava séria, e ela estava caminhando para onde Raveneh estava, sentada no banco de madeira em frente a casa de Rafitcha.
- E ela veio e disse: sua estúpida, o chocolate é meu! - riu Tatiih - como se eu pudesse saber daquilo!
- Coitada da mulher, Tatiih! - comentou Raveneh, mal percebendo a sombra da Maria à sua frente.
- Raveneh - murmurou Maria.
- Sim...? - fez Raveneh desligada, sem perceber que Maria estava séria.
- Recebi um documento - disse Maria - venha comigo.
Raveneh mordeu o lábio inferior, preocupada. A lembrança da visita de Jorge veio como uma avalanche: seria isso? Levantou-se com dificuldade, segurando a barriga.
- Fale.
- É um documento pedindo a sua extradição - disse Maria entregando um papel preto - vão lhe julgar pela morte da sua mãe.
As mãos tremiam, a boca se mexia sem emitir um som. Parecia tudo tão irreal? Então Jorge realmente a culpara? Realmente...
- Eu... Eu vou ter que ir embora? - mesmo tremendo de ódio ou medo, não sabia, conseguiu falar. Seus dentes batiam um contra o outro.
Maria sorriu levemente, com o olhar bondoso.
- Não, Raveneh - disse - o pedido foi negado. Até você ter o bebê... até tê-lo... não vão poder fazer nada. A não ser que você queira...
- Jamais! - exclamou Raveneh como se fosse traição Maria ter levantado a hipótese. Mas se aliviou. Durante os próximos três meses... nada de voltar para o reino. Uma sensação preencheu seu peito com alívio e felicidade.
- Obrigada por me informar isso, Maria - Raveneh fez uma reverência profunda, mas do que a necessária.
Maria fez uma reverência simples de resposta e deu as costas para chamar Raven e aprontar os cavalos alados. Raveneh ficou olhando os papéis com um estranho sentimento, como se as coisas nunca mais voltassem ao normal.
E ela não sabia o quanto esse sentimento era verdadeiro, porque naquele instante...
... naquele instante, a vida de todas as pessoas começou a mudar.
E para pior.

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O ódio e a mágoa se estranhou no coração e na mente, a cegando de razão. Bondade? Ela nunca experimentara o que era a bondade.
Ela colocou os pés no chão. Cara, doía tanto! Era frio, será que era inverno? Os cheiros que lhe eram trazidos pelo vento diziam que não, que era o fim do verão...
Fechou os olhos, cerrando os dentes. Estava friofriofriiiio! Como podia aguentar? Hesitou antes de ficar em pé em definitivo.
Seus lábios tremiam com a memória de tempos atrás. Quanto tempo se passou desde que dormiu? Lembrava-se bem da face que a fez dormir, lembrava-se de muitas coisas. Deu um passo. Tudo, tudo, tudo doía. Cada célula do seu corpo protestava, cada fio de cabelo se contorcia horrorizado, seus dentes reclamavam, a sua pele ardia de frio.
Doía.
- Argh.
Lembrava também dos poderes que corriam pelas suas veias. Era incômodo, era como se tivesse um bicho dentro. Antes era delicioso ter aquelas coisas dentro do corpo, aquele poder monstruoso, manipular quase tudo. Mas agora se incomodava, parecia uma doença. Os joelhos fraquejaram, mas não caiu. Olhou para a sua mão direita. Como era mesmo? Um gesto tão simples...
Sorriu. Os poderes agora pareciam mais agrádaveis, suas mãos belos instrumentos, seu cansaço? que cansaço? Agora podia até voar...

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- Cheguei - Louise sussurrou.
- Ela já acordou, recobrou a consciência - afirmou Miih.
Agora estavam as sete reunidas: Miih, Loveh, Sunny, Alice, Louise. E entre Louise e Alice, Catherine e Elyon haviam chegado.
- E então, o que faremos? - indagou Louise. Sua pele era amorenada, digamos da cor de café com leite (sem querer ser preconceituosa, vejam bem!). Seus olhos eram verdes e redondos, os cabelos pretos e crespos presos em um rabo-de-cavalo, com o seu vestido laranja e amarelo.
- Como assim, o que faremos? - questionou Elyon - ficaremos na nossa! O que ela pode fazer contra a gente?
- Ela é simplesmente mais poderosa que todas nós juntas! - lembrou Catherine - e nós sabemos do que ela é capaz de fazer.
- Mais poderosas que todas nós juntas? - Elyon zombou - jamais! Uma de nós jamais a derrotaria, mas nós sete? Ah-ram!
- Ela vai estar movida com o ódio - lembrou Loveh - e vai destruir todo o reino que as Fadas demoraram séculos para erguer.
- E isso não é bom? - sussurrou Louise. Louise odiava os humanos, sabe-se lá porquê.
- Não. Não é bom - queixou-se Catherine - eu realmente não estou muito afim de ajudar os humanos, mas não quero tudo destruído... Quando ela destruir tudo, somente nós restaremos.
- Ela não vai destruir tudo - Alice disse - ela não é uma deusa ou algo do tipo.
- E nós somos o quê? - ironizou Sunny. Na verdade eram somente fadas extraordinariamente poderosas, com poderes quase divinos. Como elas nasceram há muitos e muitos anos e tinham poderes absurdos, muitas tribos passaram a adorá-las como deusas, conferindo a cada um atributo. Porém elas mesmas sabiam que eram fadas praticamente imortais, que tinham poderes que ninguém imaginava. Não tinha ninguém superior a elas.
Exceto uma, que acabara de acordar. E esta é vingativa, cruel e está com raiva.
- Nós prometemos não ajudar os humanos - lembrou Miih.
- Os humanos prometeram não pedir mais ajuda - corrigiu Loveh impaciente.
- Que seja. Na hora que ela começar a destruir tudo... - murmurou Miih.
- A gente age - completou Sunny, mesmo a idéia não lhe agradando muito.
- Que seja - murmurou Elyon aliviada. Não gostava da idéia de ajudar os humanos nem quando realmente ajudara, anos atrás.
As sete garotas se separaram novamente, cada uma voltando para o seu lar.

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- Vamos! O show logo, logo vai começar! - protestou Maria.
Praticamente todo mundo ia não restando quase ninguém em Campinas. Mas os nossos personagens preferidos foram todos para o fatídico show da melhor cantora pop, a belissíma Yohana! *-*
- Eu não vou beber um gole de mimatta - afirmou Kibii. Tinha se arrependido bastante da aposta que fizera, pois ficara com uma dor de cabeça terrível durante toda a manhã.
Ly concordou.
- Isso aí, Ly - disse Doceh - se eu te vir bebendo feito um gambá de novo... aiai, eu não me responzabilizo pelos meus atos!
Raveneh porém estava calada. Pensava no tal documento de extradição. E se ocorresse de novo? E se dessa vez as fadas liberassem? E quando ela parisse o bebê? Quem iria garantir que ela não seria julgada? Quem? Quem? Quem?
- Raveneh, você gosta de Yohana? - perguntou Johnny curioso, com um leve sorriso na sua face - ou nem sabe quem ela é?
- Nem sei quem ela é - riu Raveneh - eu sou tão desligada desse mundo de famosos...
- É uma excelente cantora - sussurrou Johnny - você vai gostar dela.
- Espero que sim, Johnny - Raveneh respondeu, ficando em silêncio.
Johnny não insistiu. Não sabia coisa alguma sobre o documento, mas pressentia que era algo que abalara Raveneh e esta preferia ficar sozinha. Sabia disso sem precisar falar... só de olhar a face da amada.
Quatro cavalos alados seguravam uma carruagem enfeitiçada onde cabia todo mundo. Sim, isso parece coisa de Harry Potter e como a viagem foi chatinha, vou pular direto para quando eles entraram na fila e entregar os ingressos.
Para começar, o show ia ser no estádio que fica em uma certa praça com o nome 'Santa Sii'. Não, não tem nada a ver com a atual Rainha. A fila ia do estádio e dava a volta pela praça toda (e ela não é nada pequena!). Só terminava em uma padaria chamada 'Pão Douradinho', que fica depois da praça, descendo a rua. Só para se ter uma idéia.
- MELDELZ - fez Kibii ao ir animada e ver o tamanho.
- Quanto tempo vai demorar? São oito e quatro - exclamou Tatiih.
- A gente fura, ué - brincou Umrae, mas logo se corrigiu - vamos, vamos para o fim---
Mal iam, um casal com uma criança se intrometeu na frente deles. Foi tão rápido que ficaram assustados, diante do casal com a mulher gorda e loira e o homem alto e magro, e o garoto gorducho com alguma mancha marrom na blusa.
- Falta de educação - murmurou Fer estarrecida.
- Sim - concordou Umrae impressionada em como o casal se intrometeu na frente com rapidez.
- Bem...
E ficaram mais ou menos dez minutos cantando, conversando e rindo alegremente até chegarem na bilheteria.
Pulando para a parte do show (sim, porque eu como quem conta esta história não vou desperdiçar minhas palavras em uma conversa de fila), Yohana estava belíssima. Brilhante, deslumbrante e com aquele sorriso que parecia verdadeiro, mas na verdade era um sorriso criado por artistas quando se esforçam para parecerem simpáticos.

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Yohana estava no palco, o microfone na mão. Os holofotes em cima, aquele público imenso aguardando a estrela. A estrela era ela.
Respirou fundo, e logo seu mau humor começou a se dissipar. Adorava a sensação de estar com um microfone na mão, adorava a sensação de cantar e distrair outras pessoas. Foi para a frente do palco, sendo recebida com entusiasmo.
- Boa noite - disse com um sorriso. O sorriso era falso, mas agora se revertera em um lindo e sincero sorriso.
- Como estão? - perguntou, ao que todo mundo pulou e gritou de alegria.
Yohana sorriu. As luzes eram rosadas, combinando perfeitamente com o seu figurino. As estrelas pareciam colaborar para aquele momento feliz.
- Essa música é especial, afinal ela foi a primeira que eu compus. Talvez vocês gostem dela... - hesitou - espero que sim x.x'

oh! veja a estrela tão simples
oh! veja a flor tão básica
oh! veja que belo pôr-de-sol


Sua voz saía afinada, cantando baixinho, quase como um sussurro. Parecia demasiada inocente ao cantar, com os olhos gentis e a voz baixa.

meu amor, eu não sei
meu amor, não tenho como saber
meu amor, tem certeza que é assim?


Hesitou, respirando fundo. Andou para o outro lado, sorrindo levemente. Voltou, ficou no meio do palco. Foi para a frente, sentou-se. Estava ao alcance dos fãs, praticamente. Só havia uma cerca de segurança entre ela e os fãs.

mas, meu amor, deixe-me ficar com você
eu não sei de nada, estou perdida aqui
deixe-me ficar com você, deixe-me procurar abrigo
no teu abraço, no teu cheiro, no teu olhar


Fechou os olhos, jogando a cabeça para trás. A galera delirou, cantando junto. Como podia não cantar? Era a música mais antiga e clássica de Yohana, a chamada "Não sei", que todo autêntico fã de Yohana tinha que saber.

mas, mas, mas...
quero ficar com você
quero abraçá-lo até não poder mais
me mergulhar no seu sorriso
posso? me diz que posso, eu não sei


Raveneh sentou-se em alguma cadeira, longe do palco. Estava junto com Johnny, Rafitcha, Tatiih e Maria que preferiram ficar no fundo e comer algo antes de mergulharem no meio do público.

eu não sei, eu não posso
eu só quero ficar com você--


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As pedras se movimentaram, como se ganhassem vida. Ela sorriu.
Seu corpo parecia se contrair de prazer, e logo ganhou felicidade. Quem a guiava era as suas lembranças, e havia no ar um cheiro estranhamente familiar. Correu, seu corpo atravessando o ar, as árvores abrindo caminho, o ar não resistindo ao movimento veloz.
Parecia que suas pernas haviam se transformado em algo... como uma roda. Em questão de minutos, chegou a uma bonita cidade.
A entrada era uma formosa praça. As lembranças lhe atingiram como um martelo, o cheiro se tornou persistente, impregnando tudo como se fosse um fedor. Não aguentava mais, e incapaz de raciocinar, quebrou tudo. Em questão de instantes, a Praça de Sete Anjos deixou de ser a formosa praça com a fonte cristalina e os canteiros organizados e virou um amontoado de pedras e cristais, com água a todo canto. As pessoas que ali transitavam agora estavam caídas no chão, algumas desmaiadas, outras conscientes querendo saber o que foi que as atingiu.
Ela não sorriu, somente continuou caminhando. Lembrava-se daquela cidade, lembrava bem demais. Não foi ali que era alegre? Não foi ali que a sua vida mudou para sempre? Escutou uma música em algum lugar. Guiada pelo som, chegou a outra praça. Alguém cantava baixo, alguém gritava de entusiasmo.
Sua boca tremeu, e seus olhos se estreitaram. Alguma coisa naquela situação a estava incomodando. Ela desejava se vingar, mas não sabia como...
Tomada de fúria, fez a fonte da praça explodir. E todas as flores morreram naquele instante, e o chão desmoronou fazendo a fila de gente que ia pro show tombar em algo estranho, estupefato.
Ela não ligou, somente seguiu em frente, fazendo construções ruirem a cada passo. De uma hora para outra, a cidade se viu com quase um bairro inteiro destruído.
Mas ninguém estava morto. Até agora.



E no próximo capítulo...
- Ophelia - sussurrou Bia - melhor arranjarem um abrigo.
- Aquilo é só uma lenda, ok? - exclamou Johnny - Ophelia não é esse monstro! Aliás, nem existe Ophelia! Era só uma criança super-poderosa fazendo arruaça!
- Ophelia existe sim - teimou Bia - ela existiu e acordou. Melhor se mandarem.
- Ah, claro! - zombou Johnny - e o Papai Noel também existe, certo?
- Mas como não consegue compreender? - gritou Bia - eu senti... Eu senti aquela menina! Ela não quer somente destruir tudo...
- Que prendam a garota, a Rainha tem poderes pra isso! - argumentou Johnny.
- Ah, seu... - fez Bia, mas foi interrompida por uma voz feminina:
- Quem é Ophelia?

terça-feira, 11 de março de 2008

Parte 09 - Yohana e Alex - Cinco perguntas e três fotos!

- Ai...
Sua face era de uma criança, com olhos arrendondados e em um tom de verde adorável, como se fosse uma floresta no seu olhar. Ela não sorria, embora qualquer um soubesse que seu sorriso era perfeitamente encantador.
Seus cabelos castanho-escuros estavam bagunçados, emaranhados. Seu vestido que outrora era perfeito e lindo agora estava amarrotado e sujo de terra.
Tossiu. Estava estranhamente cansada. Porque acordara? Parecia que tinha mergulhado em um sono profundo, onde sonhos não existiam e nenhum barulho a pertubava...
... até agora. Escutou somente um cri-cri de algum grilo por perto, e foi o suficiente para se remexer. E os pesadelos haviam voltado, e estranhamente todos eles eram confusos.
Fechou os olhos, sem saber o que dizer. Cada célula do seu corpo doía, como se não aguentasse mais.
- Ai...
As lágrimas vieram, irritantes, salgadas. Mordeu o lábio inferior, de dor. Seu corpo não estava evoluído...
... sua memória estava meio fraca, mas lembrava das coisas. E lembrava que já era uma mulher quando adormeceu... mas por algum motivo a trancaram em um corpo de menina. Peraí, já era mulher? Talvez fosse só sua consciência...
Droga pensou irritada eles vão receber o que fizeram comigo...

Por um instante, todos os bichos a volta daquela região se calaram. Alguma coisa muito, muito grande tinha acontecido.
Muito grande...

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- Acordou.
Disse uma mulher que estava junto com Loveh e Miih, reunidas em uma floresta.
- Sim, Sunny - disse Loveh - ela acordou.
- Vamos ajudar? - indagou a Sunny curiosa e apreensiva.
- Por mim? - disse Miih - não.
Sunny olhou para Miih com um olhar infantil, como se tivesse medo. Seus olhos eram muito claros, de um azul-pálido. Combinava muito bem com o tom dos seus cabelos, que eram de um loiro-quase-branco e a sua pele alva, como se fosse um fantasma. Seu vestido era amarelo-pálido, com algumas camadas de seda brancas. Ela estava descalça, e emanava uma luz estranha, como se fosse uma alma que veio de outro lugar.
- Cadê Alice, Elyon, Louise, Catherine? Elas estão atrasadas! - resmungou Miih.
- Eu já consigo vislumbrar o perfume de Elyon - sorriu Loveh aspirando o doce aroma da floresta.
- Você e sua mania de sentir perfume de todo mundo que está por perto! - Miih retrucou - e Alice? Sente o perfume dela também?
- Aqui na floresta não tem como - murmurou Loveh sem se alterar - Alice tem o mesmo perfume que uma floresta...
- Sim... - sorriu uma mulher entre as árvores.
- Está atrasada, Alice - disse Miih duramente. Alice somente sorriu.
Loveh tinha dito que as outras tinham medo dela, por ela manipular o pânico melhor que todas. Mas aparentemente Alice havia treinado para nunca ser derrotada pela Miih, e aparentemente podia confrontá-la sem medo.
Será que foi a mesma coisa com as outras?
- Você está bela, Alice - disse Sunny gentilmente, fazendo uma reverência.
- Obrigada, Sunny - sorriu Alice.
Realmente Alice era bela: sua face era morena, com os olhos castanhos e os cabelos também castanhos, em uma perfeita e ordenada rebeldia. A coroa de flores jazia na sua cabeça, e seu vestido tomara-que-caia era marrom com flores bordadas cuidadosamente, a bainha dourada, o comprimento que terminava nos joelhos.
- Alguém já pediu ajuda? - indagou Alice.
- Não - resmungou Miih - parece que nem sentiram quando ela acordou.
- E quem você acha que vai tentar barrá-la? - indagou Loveh.
- Uma tola fada metida a heroína, provavelmente - disse Miih - quem sabe a mando da Rainha.
Loveh ficou quieta por um momento. Logo falou, em um sussurro calmo e breve:
- Ela finalmente recuperou a memória.

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- Que tal estou? - riu Kibii mostrando seu curto vestido de batalha - bonita?
- Está ótima - Fer respondeu, amarrando as suas botas prateadas.
Kibii ajustou o arco nas suas costas - não se desgrudava das suas armas nem se o papa mandasse. Estava anoitecendo, a lua subia devagar e aparecia tímida entre as nuvens.
Em outro lugar, entre as nuvens, Yohana morria de nervosismo. Mordia o lábio inferior, enquanto os maquiadores cuidavam para que seus olhos ficassem deslumbrantes, os cabeleiros mexiam para que o seu cabelo fosse o mais bonito entre todos que existiam, os estilistas faziam com que a sua roupa causasse inveja a todas as mais belas que existiam.
- Não fique nervosa - resmungou Vê - o público veio em cima! Ingressos esgotados!
- Céus... - suspirou Yohana - e se eu cair do palco?
- Você se levanta e continua a cantar - responde Vê, imaculadamente maquiada, com os cabelos caindo em cima dos ombros, charmosamente.
- E se a minha voz falhar? - continua Yohana - o que eu faço?
- Você respira, bebe água e pronto - resmungou Vê.
Yohana suspirou impaciente. A cada segundo, ela estava cada vez mais deslumbrante. Seus olhos estavam com cílios enormes, o traço negro do delineador logo acima dos cílios e depois a sombra rosa-choque, com os strass nos cantos. As bochechas coradas, a boca rosada. O cabelo loiro estava solto, fazendo Yohana parecer uma dessas dos anos 60. O vestido solto, roxo com algumas flores desenhadas em rosa e prateado. As botas negras até o joelho, a meia-calça arrastão preta.
- Pronto... - disseram os cabeleiros se afastando. Os maquiadores também terminaram, com um sorriso no rosto.
- Está uma verdadeira estrela! - exclamou Vê, ao que Yohana sorriu desajeitada.
Eram seis, sete horas. O show começaria às oito horas, e Yohana resolveu esperar no camarim onde leria as cartãs de fãs para relaxar. Pelo menos lá não teria jornalistas insanos ou fãs fanáticos e tarados que gostariam de ter uma calcinha sua. Quer dizer, não poderia ter.
Mas tinha. E ele estava sentado na sua cadeira!
- Quem é você? - cuspiu Yohana, se esforçando para não acabar com a maquiagem.
- Eu sou um cara - riu o rapaz.
O rapaz era alto, moreno com o cabelo negro, caindo em cima do olho. Os olhos demonstravam sinceridade e alegria.
- Saia do meu camarim - Yohana se controlou - saia ou chamo os seguranças.
- Eu sou seu fã - o rapaz disse - eu me chamo Alex.
- Ótimo. Quer um autográfo? Eu dou. Uma foto? Ok. Mas saia - Yohana estava pouco se lixando em parecer antipática, ela só queria descanso! ù.ú
- Quero fotos e entrevistas - disse Alex. Mostrou uma câmera fotográfica e uma bloco de papel.
- Você é um jornalista - cuspiu Yohana - qual a revista?
- Você me descobriu - Alex riu - eu trabalho para a Gossip Girl. Poderia dar uma entrevista?
- Uma pergunta.
- Dez.
- Três.
- Cinco.
- Fechado! - finalizou Alex.
- Vá logo - retrucou Yohana. Repórteres era uma desgraça social.
- Você realmente está namorando o Principe de Kolumb, o Jack Mitt? - começou Alex com um sorriso maroto.
- Não! - exclamou Yohana - não respondo perguntas pessoais, e esse boato é uma bela de uma mentira! Ele está se casando!
- É verdade que você bebeu e dirigiu, e quase matou uma senhora grávida? E para se livrar da prisão, subornou um guarda?
- Não e não. E você gastou duas perguntas!
- O que diz a respeito da sua rival, a chamada Loanne Jumb?
- Não tenho medo dela - cuspiu Yohana - ela é uma tola ruiva que se acha a maioral com aquelas roupas vulgares. Definitivamente, não tenho medo dela! ù.ú
- Perfeito - sorriu Alex. Já imaginava a manchete na capa da revista, com a cobertura completa do show e cinco perguntas respondidas! - e a penúltima...
- Última...
- Eu fiz três perguntas... - fez Alex, quase que para irritar a cantora.
- Você fez quatro. Faça a última e saia daqui - argumentou Yohana, finalizando a frase apontando para a porta.
Alex levantou uma sobrancelha, sorrindo marotamente.
- Ok. Última pergunta. Bem... querida Yohana... é verdade que seu ex-empresário, Lup Omp, tentou abusar de você sexualmente?
Essa foi realmente invasiva. Yohana se enfureceu, mas não descendo do salto, respondeu sinceramente:
- Não, só tentou extorquir dinheiro de mim. Já esgotou suas cinco perguntas - abriu a porta - pode ir.
- Poderia tirar uma foto? Aliás, dez? - pediu Alex com aquele sorriso que tentava ganhar qualquer garota.
- Uma.
- Três? - implorou Alex - e nem precisa sorrir!
Yohana concordou por fim. Posou para três fotos, em duas delas aparecia séria. A primeira foi tirada com ela de lado, sem olhar para a câmera. A segunda, ela olhava para a câmera com um olhar mais divertido - o olhar fingido que todas as grandes musas do showbizz tinham para fingir que estavam só mentindo sobre estarem chateadas. O delineador em formato de gatinha, a sombra rosa, tudo combinava para que Yohana ficasse realmente bela naquela foto: um olhar sedutor, um meio sorriso, os cabelos jogados para cima do rosto, o decote do vestido que era ao mesmo tempo discreto para que nenhuma velhinha se sentisse ofendida e sexy para os homens sonharem à noite com o que havia dentro. Parecia uma musa.
A terceira foto era simplesmente Yohana sorrindo, mostrando seus dentes brancos e alinhados. E aí Alex se foi, para o alívio de Yohana. Ela odiava fingir para as fotos.
Trancou a porta, sentou na cadeira e tentou descansar até o show começar.



E no próximo capítulo...

Lembrava também dos poderes que corriam pelas suas veias. Era incômodo, era como se tivesse um bicho dentro. Antes era delicioso ter aquelas coisas dentro do corpo, aquele poder monstruoso, manipular quase tudo. Mas agora se incomodava, parecia uma doença. Os joelhos fraquejaram, mas não caiu. Olhou para a sua mão direita. Como era mesmo? Um gesto tão simples...
Sorriu. Os poderes agora pareciam mais agrádaveis, suas mãos belos instrumentos, seu cansaço? que cansaço? Agora podia até voar...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Parte 08 - Tenho certeza que vão gostar de você.

- Tem certeza que vou fazer sucesso? - ela perguntou.
- Absolutamente! Você é uma excelente cantora, é linda e cheia de carisma! Todos vão amar!
Ela se olhou no espelho. Era bem difícil ser uma cantora sem empresária: havia demitido a última porque esta roubava todo o lucro que tinha, um absurdo, sinceramente.
- Sai, Pinkê - disse com rispidez para um ser que fazia 'oinc oinc' com seu enorme nariz.
- Bem, sua estréia é amanhã de noite - disse Vê - todos os detalhes estão arranjados como você quis. A tabela final de preços também está finalizada. E a sua carruagem também foi arranjada. Virá lhe buscar amanhã, às oito da manhã.
- Ok...
- Tchau tchau! - disse Vê sorrindo e fechando a porta atrás de si.
Vê era uma médica que trabalhara no alto escalão juntamente com Siih. Mas assim que viu Gika abrindo seu escritório de psicológa, logo após encerrar os sete meses de convívio com a Rainha, abriu uma pequena empresa. E logo virou a maior empresária que negociava para que artistas de sucesso e companhias apresentassem seus espetáculos naquela região. Já tinha várias outras empresas, mas a da Vê era a melhor e a mais confiável.
E trouxe a chamada Yohana, apelidada pelos íntimos de "Yo Flor".
Ela a maior cantora pop que existia, capa de todas as revistas que você podia imaginar, garota-propaganda de várias marcas como a mais chique grife de roupas e outra de jóias, enfim, uma beldade com uma belíssima voz.
Yohana estava dentro do seu apartamento no melhor hotel da cidade, Gold Palace, com seu porco de estimação, fêmea e cor-de-rosa, com um colar de pérolas de verdade no seu pescoço. E as pérolas eram lilás!
- Ah, Pinkê... ah, Pinkê!
E se deitou no sofá, dormindo. Mesmo com a maquiagem, mesmo com a fina roupa de festa.

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- Como está? - riu Fer erguendo uma xícara de chá.
- Morrendo de dor de cabeça Ù_Ú - resmungou Kibii - maldita aposta...
- Pelo menos ganhou! - riu Fer - beba tudo!
Nath chegou com a sua infalível maletinha e logo começou o disparate de perguntas:
- Como está a dor de cabeça? Sente dor em algum outro lugar? Onde? Acordou que horas? A dor é em que região da cabeça? E o chá é de quê? É daquele que eu falei pra fazer? E--
- Nath. Calma - Fer disse - o chá é das ervas roxas, não se preocupe. Adicionamos canela, como pediu.
- Dor de cabeça normal (: - murmurou Kibii levantando a xícara, risonha - pelo menos ganhei a aposta!
- Mas o dinheiro nem vai pra você! - riu Nath - o dinheiro foi devolvida, até mesmo a quem apostou em Ly.
- E por falar em Ly, como ele está? - perguntou Kibii, ao que Nath respondeu séria:
- Está bem. Mas brincadeiras como essas podem levar a morte, ouviu, Kibii? Ele já ouviu meu sermão, agora é a sua vez! Como foi tão irresponsável fazendo uma aposta dessas? Não sabe que álcool faz mal? Sorte que começou com 10% e o máximo foi 40%! Se começasse aos 40% e ultrapassasse os 70%, você tinha que ir pro hospital tamanha a quantidade de bebida! E--
Kibii sussurrou para Fer:
- Nath falou muito ontem?
- Não x.x' - cochichou Fer, sem Nath perceber a conversa paralela.
- Tá entendido então xD - riu Kibii.
- Hein? Vê se não apronta mais uma dessas, senhora Kibii! - finalizou Nath com verocidade.
- Bem, isso não importa... O que importa é que... - fez Fer deixando um suspense no ar - tcharam! - mostrou um bilhete azul - vamos ao show de Yohana! *o*
- Legal, Yohana! - riu Kibii - e quem vai?
- Todo mundo! - disse Fer - Maria deu o jeitinho dela lá e tcharam!, ela trouxe um bilhete para cada um! Tanto, taaaanto bilhete!
- OH MY GOD! - riu Nath - então todos veremos a bela Yohana cantar hoje!
- Sim!
E as três riram, imaginando estarem no palco, dançarem ao som de Yohana.

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- Voltei. Minhas mensagens foram respondidas - murmurou Loveh.
Miih se virou, e fazendo uma reverência em respeito a amiga, perguntou:
- Quais foram as respostas?
- Alice quer ajudar os humanos, Louise é contra. Catherine está em dúvida, Elyon é categórica: não vai ajudar ninguém.
- E Sunny? - Miih lembrou, ao que Loveh respondeu calmamente:
- Está favorável aos humanos.
- Humm... - fez Miih - então quer dizer que estamos empatadas. Três a três. Catherine que vai acabar decidindo...
- Bem, todas nós vamos seguir a sua opinião, Miih - disse Loveh - você é quem manipula as Trevas e todas conhecem bem o que acontece quando é contrariada. Ninguém quer enfrentar a sua ira.
- Eu sou a mais malvada entre todas? - retrucou Miih olhando para o sol.
- Sim - Loveh afirmou - as outras tem medo, Miih. Todas nós juntas conseguimos te derrotar facilmente, mas quem manipula o pânico melhor é você. E você consegue apavorá-las de uma forma absurda.
- Eu sou a mais poderosa simplesmente por ter o medo ao meu favor? - perguntou Miih quase com zombaria na voz.
- Odeio admitir isso, mas é - sussurrou Loveh - bem, voltando ao assunto... A respeito da adormecida... ela está acordando e todos dizem isso. Nós não faremos nada, por enquanto, a não ser que os humanos ou fadas peçam ajuda. Mas duvido que a Majestade Siih das Fadas vá buscar a nossa ajuda. Ela é orgulhosa demais, é inocente demais.
- Bem, então quem irá salvar a pátria será um desses aventureiros? Um desses metidos a héroi? - suspirou Miih com dúvida - ah!... tem horas que eu nem consigo sentir o futuro...
- E lembre-se que a adormecida... a adormecida vai desejar vingança. E não somente contra as fadas. A gente... a gente também está incluída.
- Se estivermos em perigo, a gente age. Ok?
- Está bem, Miih - deu um leve sorriso.

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- Majestade... - disse Alicia - aqui estão os documentos a respeito de "justiça" desta semana.
- Ah, obrigada, Alicia - murmurou Siih pegando nos documentos, dando uma rápida repassada. Alicia fez uma reverência e se retirou, enquanto Siih viu o segundo papel: era amarela, com a borda preta.

DOCUMENTO DE EXTRADIÇÃO Nº15840
Pedido de Extradição enviado pela Direção Administrativa Jurídica da República da Istypid.

Peço formalmente, por meio deste documento, que nos permita que Raveneh Liptene, residente nas Campinas, território governado por Maria Jhujhu (feiticeira de grau A++), e protegida pela Fadas, venha à República de Istypid para prestar depoimentos a respeito da morte da sua mãe, Jillie Liptene, morta por ingestão exagerada de remédios para amenizar a dor. Suspeita-se de assassinato cometido pela filha, Raveneh Liptene.

Obrigado e perdão por todo o incômodo...
... Juxpi Mutt, Diretor do Compartimento Jurídico de Extradição


Siih engoliu em seco. Raveneh não era uma garota nova que chegou, e foi tratada por sua antiga assistente, Gika B.? Ela não era protegida? Johnny fez questão de arranjar proteção para a esposa, lembrava disso. Também lembrava que ela estava grávida, segundo notícias da Maria Jhujhu. Lembrou que não era ela quem liberava, havia um departamento específico para isso. Viu a folha preta colada, com as letras prateadas.

Resposta ao Pedido de Extradição nº 15840 enviado pela Direção Administrativa Jurídica da República de Istypid.

Pedido Negado em decorrência do fato da ré, em questão, estar grávida e casada. Raveneh Likara (nome atual) é protegida pelas Fadas (encantamento de uso particular), reside nas Campinas, é casada e tem vida fixa e não demonstrou interesse em sair de Campinas quando foi avisada de que seria julgada em breve.

Portanto, com as nossas devidas desculpas, pedido negado.

Obrigada
Kathyne Jupnata, Presidente da Divisão Especial Jurídica


Que bom. Que bom o pedido foi recusado, pensava Siih. Que bom, que bom, que bom.
Chamou Libby.
- Sim, Majestade?
- Tire cópias deste documento - mostrou os dois papéis - e envie para Maria Jhujhu. Ela decidirá o que fará.
- Sim, Vossa Majestade - falou Libby sem sorrir.



E no próximo capítulo...

- Alguém já pediu ajuda? - indagou Alice.
- Não - resmungou Miih - parece que nem sentiram quando ela acordou.
- E quem você acha que vai tentar barrá-la? - indagou Loveh.
- Uma tola fada metida a heroína, provavelmente - disse Miih - quem sabe a mando da Rainha.
Loveh ficou quieta por um momento. Logo falou, em um sussurro calmo e breve:
- Ela finalmente recuperou a memória.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Parte 07 - A Aposta com Mamitta, proporção 10% e depois 40% O_O

Era já noite, e embora as encantadoras fossem convidadas para participar da festa, somente Bia Premy e Lounie Othi. No centro, havia a maior fogueira e outras pequenas, por todo canto de Campinas.
- Mais suco! - exclamou Rafitcha balançando uma garrafa enorme repleta de algum líquido rosa dentro.
- Suco? - murmurou Ly - não salta uma mimatta?

Eu não contei ainda, mas agora é hora. "Mimatta" é o nome de uma bebida, e tradicionalmente é feita com ervas e álcool. Seria o equivalente a um chope, que nos nossos tempos, é uma cerveja mais leve. Mas existe "mimattas" de vários sabores: morango, uva, laranja e até chocolate. A porcentagem de álcool também pode variar. Não se sabe da origem do nome, mas a versão mais aceita conta que um dia quando um tal senhor Ta morava em uma região chamada Mima e com os restos de ervas (ervas eram utilizadas para chás) começou a fabricar bebida. Como era viúvo e depressivo, adicionou álcool e bebia aos montes. E reza a versão que ele morreu de tanto beber, e seus sobrinhos passaram a fabricar dando o nome de mimatta (MIMA - nome da região; TA - nome do cara. O "T" extra foi só pra dar um toque estrangeiro). Mas existem outras versões mais esdrúxulas ainda. De qualquer forma, a mimatta era uma bebida gostosa para os homens e mulheres, e crianças não podiam beber.

- Sim, uma mimatta - riu Kibii - mas nada daquelas mimattas estúpidas que Ly adora com quase 100% de álcool ò_ó
- Hey! - protestou Ly furioso - não é isso tudo! O problema é que VOCÊ é fraca pra álcool!
- Bah! - fez Kibii - bobagem!
Ly se enfureceu, e pediu uma mimatta com 70% de álcool para Kibii beber. Kibii riu, e disse que podia beber o quanto quisesse, mas nunca iria ficar bêbada. Umrae riu também, e disse que tinha que ter aposta.
- Um gm', confiando em Kibii - riu por fim.
Doceh mordeu o lábio inferior, divertida. Jogou uma moeda de prata:
- 5 gm' por Ly! - disse.
Todos murmuraram de surpresa. Fer jogou uma cédula, rindo.
- 10gm' por Kibii!
Logo foi uma saraivada de moedinhas e cédulas, apostando ou em Kibii ou em Ly.
Somente Raveneh não apostou, pediu que Johnny apostasse por ela.
- É dinheiro arriscado - disse Johnny - quem você acha que vai ganhar?
- Sinceramente não sei - murmurou Raveneh sorrindo - mas acho que Ly ganha.
- Porque? - indagou Johnny enquanto jogava duas moedas de prata: 5 gm' cada, uma pra Ly e outra pra Kibii.
- Por que Kibii não vai aguentar toda a mamitta, por céus! - exclamou Raveneh - nem Ly aguentaria!
- Ly não é tão bebedor, assim - riu Johnny - e pode não parecer, mas Kibii tem uns truques na manga.
- Eiaa... Veremos! - riu Raveneh levantando sua taça de suco de morango.
- Sim.
Bia Premy assistia a aposta divertida, morrendo de rir. Não demonstrava, mas se divertia. Muito mais que Lounie Othi, com certeza, que observava tudo lambendo os beiços. Será que ela via no povo das Campinas comida? O jeito vampiríco com o que ela olhava...
Afastou esse pensamento da cabeça, vendo quem iria ganhar.
- Senhorita Premy! - cumprimentou Tatiih - não deseja apostar?
Todos olharam para ela.
- Err-- eu... - sorriu amareladamente. Não tinha previso isso! - é, quem sabe? O que vou ganhar se meu lado vencer?
Todos se entreolharam. Ninguém tinha pensado nisso, pois provavelmente o dinheiro só ia ser devolvido ou doado para os gastos das Campinas.
- Err... nada - riu Rafitcha depois de um incômodo silêncio - depois a gente decide o prêmio ^^"
Bia sorriu.
- Tudo bem - e jogou uma nota roxa: 50 gm'
Todos ficaram em silêncio, admirando aquela nota toda arroxeada, com lindas letras cuidadosamente desenhadas: "50 galleom's - Emitido Pela Unidade Monetária Élfica - Válida Por Território Élfico".
- O-oh - alguém murmurou.
Bia não disse nada, se deixando vagar.
- Senhorita Premy... - sussurrou Raveneh, pondo a mão na barriga - tem certeza que vai apostar 50gm'? 50? É... é muito dinheiro em uma aposta de bobeira!
Bia sorriu:
- Podem pegar - disse - eu tenho muito mais.
Todos arregalaram os olhos, bestificados pela última afirmação. Até mesmo a Maria Jhujhu, que fazia cachos nos cabelos distraída. Está certo que 50 gm' nem era taaaanto dinheiro assim, mas ainda assim era uma quantia absurda para desperdiçar em uma aposta besta. Para se ter uma idéia, as Campinas gastam 200 gm' por semana, o que seria 28,571... (número irracional) gm' por dia de acordo com a calculadora do pc.
Mas considerando que Bia ganhava 450k em média a cada trabalho, então 50gm' não era realmente muito dinheiro pra ela x_x'
- Bem, vamos continuar! - riu Rafitcha.
Kibii e Ly se sentaram lado a lado, diante de uma mesa.
- Ah-ah! - riu Maria Jhujhu - pois bem: Ly também vai beber!
- Hey! - protestou Ly - não era o combinado!
- Já era - caçoou Doceh - mas, por favor, se embebedar muito, não vomite em cima do novo tapete! ò.ó
Ly fingiu bater na esposa.
- Opa! - riu Doceh - já vai começar.
- ... quem resistir mais ganha! - finaliza Maria - entendeu, Kibii? E você, Ly?
- Com certeza - disse Ly - quem desmaiar primeiro de bebida perde, não é isso?
- Sim - sussurrou Kibii, sorrindo maldosamente.
- Um.
Rafitcha encheu ambas as taças com mamitta com 10% de álcool.
- Dois.
Ly e Kibii se entreolharam, cada um crendo que seria o vencedor daquela aposta delirante.
- Três.
Ly e Kibii olharam para as tuas taças.
- JÁ! - bradou Maria e todos.
glubglubglubglub.
- Mais!
Taças enchidas até a borda, derramando mamitta por todo o lado, mais uma vez bebidas...
- Mais!
Rafitcha, desajeitada, pediu ajuda a Umrae, que encheu a taça de Ly até a borda. Raveneh observou os dois, preocupada.
- Será que não vai fazer mal? - indagou, entre cochichos a Johnny. Johnny sorriu e murmurou:
- Não se preocupe - apontou para uma garota de olhos verdes - Nath cura tudo, só não cura a morte XD
Nath estava ali, rindo, mas com a sua maletinha pronta.
- Mais!
TCHUAA. Agora nem Rafitcha nem Umrae colocam os líquidos nas taças com cuidado: derramava tudo, esparramava em toda a mesa. Maria punha a mão na boca, pensando, provavelmente, em quem iria tirar aquele cheiro de mamitta no dia seguinte.
- Era pra ser uma festa, não era? - murmurou a menina dos feijões, olhando para a dupla bebendo com voracidade.
- Era - concordou Fer - mas só eles vão beber. Que graça vai ter isso?
- Nenhuma - murmurou a menina dos feijões, que ninguém sabe o nome.
glubglubglubglubglub.
- MAIS!
Agora o ritmo era acelerado, todos ansiosos, o dinheiro repousando em cima da mesa.
- MAIS!
- Epa! - interrompeu Maria.
Kibii e Ly continuavam sóbrios, talvez os olhos um pouco vermelhos demais.
- A porcentagem de álcool era de 10% até agora. Aumentem para 40%.
Todos murmuraram entre si, mas nem Ly ou Kibii mostraram alteração. Somente fixavam a taça, mordendo seus lábios inferiores, ansiosos.
Rafitcha e Umrae adicionaram mais 30% de álcool (já que a bebida já continha 10%) e serviram novamente.
- MAIS!
Enche até a borda.
- MAIS.
- MAIS.
- MAIS.
Kibii já estava tonta, Ly igualmente. As faces vermelhas, os olhos desfocados, dificuldade em pegar em um copo e levá-lo até a boca.
- Não acha melhor parar, Maria? - pediu Raveneh preocupada.
Maria sorriu.
- Será? Quem sabe? - e se virou para os participantes e disse: - se quiserem parar?
- Txchaaaamaaaaaaisxxx - balbuciu Kibii apontando o dedo ferozmente para Rafitcha.
- Xssssiiiiiim! - concordou Ly dobrando a língua - Kibiiiiiiii txáááá xceeerda... ceeerda...
- LY! - exclamou Doceh - vai pra casa agora! Nem consegue falar!
- Naaaaaaaaaaaaaao - Ly olhou para Doceh, de repente focando os olhos - saaaabe, eu txooo bem T_T
- Kibii, venha, a aposta terminou... - Fer murmurou - devolva o dinheiro!
- Eu consigo! - riu Kibii, de forma esganiçada, que não lhe era comum.
- Kibii... - murmurou Rafitcha.
Kibii riu, olhando para Rafitcha. E simplesmente pegou a taça na mesa e bebeu o que restava. Ao seu lado, Ly quase desmaiava de tanta bebida.
- Acho que ganhei a aposta - murmurou Kibii.
- Ela fingiu? - riu Raveneh. E tinha se preocupado a toa!
- Sim, eu ganhei a aposta! - Kibii gritou esganiçada, se sentindo tonta. E aí desmaiou.



E no próximo capítulo...

- Tem certeza que vou fazer sucesso? - ela perguntou.
- Absolutamente! Você é uma excelente cantora, é linda e cheia de carisma! Todos vão amar!
Ela se olhou no espelho. Era bem difícil ser uma cantora sem empresária: havia demitido a última porque esta roubava todo o lucro que tinha, olha que absurdo!
- Sai, Pinkê - disse com rispidez para um ser que fazia 'oinc oinc' com seu enorme nariz.
- Bem, sua estréia é amanhã de noite - disse Vê - todos os detalhes estão arranjados como você quis. A tabela final de preços também está finalizada. E a sua carruagem também foi arranjada. Virá lhe buscar amanhã, às oito da manhã.