Siih sentou-se na cama, cansada. Olhou para o vazio, mordendo o lábio inferior repetidas vezes: que dor de cabeça desgraçada! Andou várias vezes de um lado para outro, deitou-se na cama diversas vezes, bebeu vários goles de água, sempre resmungando. Tomou o chá mágico inteiro, mas nem assim a dor passou. Suspirou. Tinha uma Assembléia para dali a uma hora, e mal conseguia entender o que as pessoas falavam ao seu redor. Estava tudo muito confuso, estava tonta e tudo o que queria era dormir para sempre.
Mas a dor de cabeça não lhe permitia dormir.
Respirou. Um. Dois. Três.
- Siih? - chama alguém.
Siih levantou a cabeça. Era Lefi, muito bonito, em suas vestes reais.
- Você está bem? - perguntou Lefi.
- Claro que não - Siih resmungou - nem com chá, esta maldita dor passa.
- Tem certeza que não precisa de um médico?
- Não! O que vai dizer? Eu não estou doente!
Siih respirou fundo mais uma vez.
- Há quanto tempo você tem essas dores de cabeça? - perguntou Lefi.
- Há muito tempo. - respondeu Siih.
- Como foi a viagem ao Oriente? - Lefi perguntou.
- Ótima. Perfeita, excelente! - resmungou Siih - pra que esta pergunta agora?
- Err... por isso. - e Lefi mostrou um jornal.
Siih ergueu o olhar intrigada, pegou o jornal e começou a ler:
ESTRANHO TUMULTO EM DEFIJÄEH - COBRAS DANÇAM MACARENA E XUXA E DONAS DE CASA FAZEM STRIP-TEASE EM PLENA AVENIDA PLOE.
Noite passada, um estranho acontecimento tomou conta da cidade de Defijäeh. A cidade famosa por ser pacata, com bichos selvagens guardados que são atração turística virou notícia. Cobras selvagens e venenosas fugiram das reservas naturais e foram para os bares da região Noroeste, onde se dança valsa. Mas ao invés de envenenarem a população, simplesmente subiram no palco e rebolaram uma dança semelhante a de macarena, famosa durante a década de 70. Logo os músicos começaram a tocar Xuxa, e as cobras seguiram o ritmo sob os olhares assustados e impressionados das pessoas que estavam ali. Mal as cobras terminaram de dançar, logo a cidade se impressionou mais uma vez: na Avenida Ploe, sempre agitada, donas de casa se instalaram no meio da rua, causando congestionamento, e dançaram diversos tipos de música, desde tango até funk, sempre tirando peças de roupa. Logo foram presas por atentado ao pudor (na hora em que foram presas, estavam somente com as peças íntimas), mas liberadas no dia seguinte.
Ninguém entendeu as razões. Pesquisadores dizem que, provavelmente, foi um poder mágico... (...)
- Tá. O que isso tem a ver comigo? - indagou Siih.
- Aonde você foi exatamente, Siih? No Oriente? Você conviveu com as cobras?
- Você está dizendo que eu sou culpada disso aí? Lefi!... - mas logo mordeu o lábio inferior ao ver a séria expressão no rosto de Lefi - sim, eu convivi com cobras lá! Esqueceu que eu me hospedei na pensão do Sir Snake? Ele tem uma criação de cobras!
- Sim, estou achando que você é culpada disso - Lefi disse - mas não porque quis... Siih, eu... eu andei estudando um pouco por aí e acho que você é capaz de manipular mentes.
- O quê? - Siih sorriu desagradavelmente - manipular mente de donas de casa para fazerem strip-tease em plena Avenida Ploe? Está brincando!
- Manipular mente de qualquer pessoa.
- Ah, siiiim!!! Por que não manipulo a sua agora? - Siih estreitou os olhos - Lefi, vá embora, Lefi vá embora Lefi vá embora...
- Pára com isso! ù_ú - Lefi exclamou autoritário - você vai procurar um médico. Essa dor de cabeça não é normal. E também não é normal que a cada crise séria sua, aconteça coisas estranhas!
- Crise séria?
- Estou sabendo que você passou mal no Oriente! Ou você tá achando que é segredo? Todas as vezes que isso acontece... é sempre notícia de jornal.
Jogou o jornal na cara de Siih, que assustada, recuou.
- Você lembra de Doeh?
- Aquilo foi um acidente.
- Do pássaro rosa? Da camponesa de quatro braços? De papai?
- CALA A BOCA! - gritou Siih.
- Você precisa aprender a controlar isso - Lefi disse - senão vai prejudicar tudo isso. E cobras que dançam macarena é somente uma parcela do poder que você tem.
Lefi saiu do quarto, deixando uma Siih completamente confusa e que se sentia absolutamente culpada.
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