Já amanhecia, e Raveneh ainda não parara. Estava exausta, e seus músculos gritavam, imploravam por descanso. Mas Raveneh se recusava a parar. Conseguira evitar os nortistas a todo canto que ia, e já estava quase na estrada principal numa área deserta com uma ou outra casa vazia, pois fora saqueada.
Sentia-se muito tonta, e seus passos eram lentos. Resolveu, então, ouvir o seu corpo e sentou-se sob uma árvore para descansar. Fechou os olhos, tentando relembrar o que lhe ocorrera. Por que não conseguia se lembrar?
- Raveneh? - indagou uma voz conhecida.
Raveneh abriu os olhos. Viu um rosto escondido sob um capuz cor de vinho, um par de olhos amáveis, um sorriso que ela amava.
- Johnny? - Raveneh sussurrou.
- Veja o seu estado! - exclamou Johnny colocando o capuz pra trás - venha comigo. Consegue se levantar?
Raveneh estendeu as mãos, mas as pernas não lhe obedeciam mais. Estava totalmente acabada.
- Meu Deus - sussurrou Johnny pasmo - você está pálida, sangrando, suja...
Não se importando nem um pouco em ficar todo sujo, Johnny carregou Raveneh no colo e a levou para a primeira casinha que viu. Raveneh estava muito sonsa, e não conseguia falar direito. Assim que Johnny conseguiu abrir a porta (com um singelo chute, a porta veio abaixo), achou uma cama caindo aos pedaços e depositou Raveneh com cuidado na cama, então pensou no que faria. Afinal como cuidaria de Raveneh? Pensou, então, com amargura que se arrependimento matasse, ele estaria mortinho da silva: por que não prestou atenção nas aulas? Estudou a vida inteira na Academia Masculina Mágica Bittencourt, só pra chegar numa situação crítica como essa e não saber cuidar de uma menina de dezesseis anos! Pensou em todas as aulas que havia assistido. Lembrou-se que passava o seu tempo brincando e matando aulas. Bem, Raveneh precisava de apoio e cuidados. E ele lhe dispensaria tudo isso...
Começou a escrever uma carta para Maria anunciando que Raveneh estava viva e com ele. Mas quando a Raveneh "estar bem", Johnny não podia garantir.
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- Vossa Majestade está vestida? - perguntou uma mocinha baixa, sem fitar os olhos da Siih - daqui a duas horas, esperamos a Vossa Majestade para a Assembléia.
- Bem, eu me arranjo sozinha - disse Siih - está dispensada...
A empregada saiu do quarto sem dizer palavra, deixando Siih e Lefi sozinhos. Siih suspirou, e passou as mãos pelos cabelos.
- Estou sentindo uma dor de cabeça insuportavel! - exclamou Siih - odeio essas dores de cabeça!
- Você ainda sente, irmã? - perguntou Lefi enquanto analisava algumas cartas.
- Sabe que esse inferno nunca me deixou - Siih disse. Deu um suspiro e continuou - mas não é mais forte como antes... Os chás fazem maravilhas, Lefi.
- Que bom. - falou Lefi - eu vou me retirar. Afinal, eu não estou vestido para a Assembléia...
- Sim, irmão - Siih concordou - vá.
Lefi deu um sorriso e deixou Siih sozinha no enorme quarto. A cama com dossel rosa e azul, as enormes cortinas de seda branca que revelavam uma cidade mergulhada em nuvens brancas e fofas, mesas de madeira clara. Deu um sorriso. Era seu quarto desde pequena, e não era agora que a mãe morrera e fora coroada Rainha que ia deixar este quarto maravilhoso. Deu uma olhada no espelho, analisando-se. Um vestido medieval, preto. O luto ainda não acabara, logo como boa Rainha estaria de luto. Seus cabelos foram trançados, e a coroa real estava sobre eles, dando um brilho magnifíco a toda a Siih. A coroa era de ouro puro, e um diamante somente fora incrustado. Pôs um manto azul, com um brasão bordado. A dor de cabeça lhe assaltou novamente. Droga!, exclamou Siih, por que...?
Sentou-se na cama, tentando raciocinar. Nunca sabia o porquê da dor de cabeça, nem o porquê de várias situações estranhas lhe acontecerem...
Mas logo percebeu que restara um pouco do chá que tomara. Tomou-o. Logo a dor passou, e a Siih começou a ficar preocupada com outras coisas.
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