domingo, 29 de junho de 2008

Parte 43 - Lar Doce Lar

Cavalos alados são realmente um excelente transporte. Eles são tranquilos, lindos, aguentam muito peso e se cansam pouco. Somente são caros de manter, mas fora isso são magnifícos. E era num grupo formado de oito cavalos sustentando uma bela carruagem toda branca e azul, se confundindo com o céu, que Raveneh, Johnny, Bia, Rafitcha, Tatiih e Amai e Kitsune viajavam. Sim, Amai e Kitsune decidiram se mudar para Campinas mesmo que Istypid nem existisse mais e que Amai nem tivesse completado seus estudos.
- Finalmente... - Raveneh sorriu - eles vão ter uma surpresa e tanto!
- Sim, querida - respondeu Johnny - eles vão amar a May.
- Ela não é linda? - Raveneh dizia, levantando o bebê para olhá-la nos olhos. Os olhos da garotinha eram azuis, idênticos aos da mãe. E os fios de cabelo eram castanhos, bem escuros. E ela sorria!
- Sim, ela é linda - concordou Rafitcha que mais tentava dormir do que conversava. Ela, assim como todos os outros, estava tentando tirando o atraso de sono. Bia ficava de olhos fechados, sempre impassível. Kitsune dormia a sono solto, Amai se aconchegando no colo da tia e Tatiih dormia com a cabeça encostada no ombro de Rafitcha. Esta acordava e dormia a todo instante: é muito chato tentar dormir numa altura tão alta, entre as nuvens, quando na verdade você pode ver tudo lá embaixo. Era simplesmente lindo, mas arrepiante.
- Johnny... - começou Raveneh encostada no banco, se aconchegando ao Johnny, o bebê entre os dois.
- Sim? - Johnny fez, pousando os lábios sobre os cabelos dourados de Raveneh. Esta só admirava a menininha enquanto falava:
- Como vamos criá-la? Quais são as regras? Será que ela vai gostar da vida dela?
- São perguntas demais, Raveneh - disse Johnny - a criaremos da melhor forma que pudermos. Mas já temos o que não se deve fazer, certo?
Raveneh ergueu o olhar para Johnny, um sorriso torto se formando nos lábios:
- Eu sei que a minha mãe foi a pior mãe do mundo, mas não precisa ficar falando isso na frente de Maytsuri, ok?
- Claro, querida - riu Johnny - você é tão linda.
Ela só pôde sorrir. Ela achava a mesma coisa de Johnny, mas não tinha palavras para descrever o que sentia. Era mais tímida, corava a cada elogio que recebia. E Johnny adorava essa inocência toda, amava cada sorriso sem graça que a amada dava, se sentia agraciado a cada vez que conseguia fazer Raveneh rir. Era uma sensação tão boa, tão confortável, essa plenitude quase anormal... Johnny se perguntava quando aquilo tudo se acabaria de vez e se sentia torturado só de imaginar ser privado de Raveneh...
- May vai ser tão bonita - murmurou Raveneh - independência e doçura. Você acha que combina?
- Claro - Johnny concordou - isso combina tanto com você!
Raveneh novamente só corou.
A viagem prosseguiu sem mais detalhes, chegando ao destino de noite. Mas não vamos descrever a viagem toda.

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Siih lavava o rosto repetidas vezes, se admirando no espelho a todo minuto. Era uma coisa idiota para se fazer, ainda mais se tratando de uma Rainha que tinha muitas obrigações a fazer. Mas Siih se permitiu ser uma Rainha desnaturada por alguns minutos.
- Siih? Alicia já conseguiu evacuar! - contou Lefi - e Libby já contatou as caçadoras de demônio, estão todas a caminho!
- Excelente - disse Siih, encarando o espelho. Seu rosto molhado demonstrava urgência e aflição escondida - excelente. A evacuação... quantas pessoas precisam ser abrigadas?
- Quarenta e nove pessoas! - Lefi respondeu, olhando para uns papéis - sendo que dezesseis são crianças de até dez anos de idade.
- Se preocupe com essas crianças primeiro - Siih secou o rosto e ajeitou a pequena tiara de brilhantes - mande os órfãos para o Abrigo Sant'Antonië, os que estiverem com pais, mães, avós... mande-os para os Abrigos Segundo e Terceiro, entendeu? Da melhor forma que puder! As Musas?
- Miih, Loveh, Sunny e Elyon já estão aí - Lefi disse de prontidão - quer que eu as chame?
- As mande para o meu escritório pessoal - Siih decidiu - vou indo.
Siih saiu por uma entrada do seu quarto que se ligava diretamente para o escritório pessoal, assim esperaria as Musas na poltrona real, feita de veludo e ouro. Mordia os lábios apreensiva, sua expressão extremamente preocupada. Precisava matar Ophelia.

- Olá, Majestade - Loveh fez uma reverência educada e se acomodou em uma das cadeiras postas por Lefi - quais são as novidades?
- Como se você já não soubesse - riu Miih - boa tarde, Majestade.
- Boa tarde, Miih, Loveh, Sunny e Elyon - Siih engoliu em seco - a notícia... já devem saber... Ophelia agiu.
- Oh imaginei que você ia relacionar o incidente de Farey Ma com a Ophelia - disse Elyon - demônios agindo assim, um ataque tão brutal? Isso não acontecia há quatrocentos anos atrás, desde o genocídio que vocês fizeram! E só porque não teve mais ataques de demônios, afirmaram que eles haviam sido extintos e demônios passaram a virar lenda! Que tipo de governo faz uma coisa dessa?
- Sinto muito - alfinetou Siih friamente - mas eu só sou a Rainha faz dois anos e meio - seus olhos se estreitaram de forma vil - eu não tenho culpa do que meus antepassados fizeram. Entendeu?
- Entendi, Majestade - Elyon bufou indignada. Na hora que ela suspirava, a porta se abriu e uma Alice totalmente suja e ofegante.
- Alice! - exclamou Loveh surpresa - o que houve?
- Ah - Alice ofegava impaciente - Ah. Um... ah, um maldito... demônio ¬¬
- Um demônio? - Siih indagou pasma - você lutou com mais um servo de Ophelia? Ophelia mandou lutar com VOCÊ?
- Acho que era um desses rebeldes deslumbrados - Alice se deixou cair sobre uma poltrona, curando uma ferida aberta na perna - sabe, esses demônios que fingem obedecer à Ophelia. Ela não é idiota de lutar comigo agora.
- Precisa de alguma coisa? - perguntou Siih preocupada - sei lá, banho? Cuidados?
- Um banho seria ótimo - Alice sorriu - poderia arranjar isso para mim?
- Oh, claro, claro! - repetia Siih às voltas. Atrás da mesa, ela procurou uma caixinha dourada. Ao achar a caixinha, abriu-a e pegou um punhado de pó branco que havia (não, não é cocaína ¬¬). A mão branca por causa do pó, fez uma expressão séria ao atirar o pó no ar. Mas o pó não caiu no olho de ninguém, somente ficou ali suspenso, flutuando. E no meio de toda aquela poeira branca, o rosto de Lefi apreensivo.
- Lefi? - Siih engoliu em seco. Não era muito experiente nessa magia, era tão mais prático utilizar as outras maneiras como um telefone bem estranho - Lefi.
- O que foi, irmã? - o rosto de Lefi estava mais pálido que o normal por causa da poeira que o envolvia.
- Mande preparar um banho para Alice. Agora - Siih disse somente, ao que Lefi concordou.
A poeira desceu, e a porta se abriu novamente. Catherine e Louise estavam ofegantes, mas não estavam sujas. Somente Catherine que estava meio molhada, mas como poderia ser de outro jeito se a Catherine que vivia entre os mares?
- Estão atrasadas - observou Miih secamente - sentem-se e vamos começar.
- Por que Alice está toda suja? - perguntou Catherine, admirando a ferida na perna que se fechava.
- Porque lutei com um maldito demônio que me fez lutar mais do que o normal - Alice respondeu rispidamente - agora vamos começar?
- Certo... é que... - Siih engoliu em seco, fechou os olhos contrita, ficou em uma posição bem ereta, os nós dos dedos ficaram brancos - como sabem, Ophelia precisa ser contida. Eu queria saber se vocês... bem, se poderíamos fazer uma armadilha para Ophelia e matá-la de uma vez.
- Como assim? - perguntou Loveh. Claro, o que Siih dissera foi muito óbvio e Loveh era inteligente o suficiente para entender o que a Rainha quis falar. Mas ela queria mais detalhes.
- Uma armadilha. Espioná-la primeiramente, é claro - Siih começou a detalhar - espionar Ophelia, descobrir seus hábitos, seus planos. Assim podemos criar uma armadilha com maior facilidade. Talvez seduzir Ophelia a entrar em uma região onde os poderes são contidos, ou enfraquecer Ophelia, seja lá o que for. Uma armadilha simples, rápida, eficiente. Não uma luta que demore dias... somente um golpe traiçoeiro.
- Eu odeio golpes traiçoeiros - sentenciou Elyon.
- Sequestrar a mãe dela foi um golpe traiçoeiro - observou Loveh, evidentemente remoendo as lembranças da última luta.
- Bem, o que poderíamos ter feito? - lembrou Miih - ela estava destruindo o Reino inteiro! Ela conseguiu matar Olga!
- Temos que vingar a morte de Olga - disse Elyon, fechando a cara - agora... eu não me importo de aplicar golpes como matá-la enquanto dorme... se isso significar a morte definitiva dela...
- Então você vai se sacrificar por causa dela? - Loveh disse, suas sobrancelhas se franzindo. Loveh nunca foi uma pessoa má... na verdade, era o tipo de pessoa muito pacífica, sempre solucionando conflitos à base do diálogo.
- O que temos a perder? - Louise perguntou, o rosto quente virado para Siih - o que temos a perder se fizermos isso contra Ophelia?
- As suas vidas - admitiu Siih - e se fracassarem, eu perderei a minha vida também - seus olhos se abaixaram, e o sentimento que podia ser traduzido por aquele olhar, pela voz tremida seria... remorso? - eu dou tudo o que vocês quiserem. Tudo... o que eu quero é a morte de Ophelia. Só isso me importa...
- Então você aceitaria ser a isca? - perguntou Alice, erguendo a sobrancelha direita - para atrair Ophelia?
- Sim - Siih engoliu em seco, a voz falhou - ela destruiu uma vila... ela... ela é uma assassina! Isso não pode ficar assim!
- Está sendo passional demais, Majestade - lembrou Elyon - isso não é bom. E bem, julgar alguém por ser assassino... bem, nós também não somos os melhores exemplos...
- Fale por você, Elyon - cutucou Loveh incomodada, o que fez Elyon revirar os olhos e rir, zombeteira.
Siih mordeu o lábio inferior, se controlando. Elyon estava certa, estava agindo de forma passional demais. Se aproximou da janela, vendo o céu todo azul da tarde, as nuvens sendo queimadas pelo sol. O outono começaria logo, logo. Suspirou pensativamente.
- Bem... - Louise murmurou - eu aceito aplicar um plano na surdina contra Ophelia. - levantou a mão esquerda, o sorriso iluminando seu rosto moreno.
- Eu também - Loveh admitiu, dando um longo suspiro de conformismo - é o jeito...
- Yo - Miih fez, erguendo a mão esquerda. A franja negra sobre os olhos e a sua expressão séria lhe davam um ar sombrio, bastante adequado a uma Musa das Trevas.
As outras Musas também ergueram suas mãos, simultaneamente. Siih só pôde sorrir, aliviada. Ah!, elas haviam aceitado a proposta maluca! E agora, agora o que faremos? Claro, antes de começar a decidir por um plano especifíco, a porta se abriu e apareceu uma Libby meio desorientada:
- Desculpe-me interromper, Majestade - começou timidamente - o banho da senhorita Alice está pronto.
- Oh obrigada! - Alice sorriu. Levantou-se, dando um último olhar ao grupo das Musas e Majestade e fechou a porta atrás de si, deixando uma Majestade perdida entre estratégias e lendas.

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- OH MY GOD! - uma mulher de cabelos loiros exclamava, feliz - voltaram! vivos! inteiros! e nasceeeu!
- Maria! - gritava Raveneh dando gritinhos esganiçados, abraçando a Maria, olhando em volta - está vazio! Nem uma luz sequer! O que houve?
- Evacuação da área! - gemeu Maria contorcendo a face em uma careta - venham! Rafitcha, Umrae, Tatiih! Wow, vocês...?
- Err-- - Amai sorriu timidamente, seus cabelos ruivos enrolados em um rabo-de-cavalo - eu me chamo Amai...
- E eu, Kitsune - Kitsune se apresentou, prática - eu sou a tia de Amai e moravámos em Istypid. Ajudamos Rafitcha a se recuperar de...
- Se recuperar? - Maria perguntou preocupada - o que aconteceu com você, Rafitcha?
- É uma longa história - sussurrou Johnny constrangido - vamos entrar no abrigo logo?
- Oh sim, sim - Maria dizia - malas, malas...
Todas as malas foram encantadas de modo que ninguém teve que pegar no pesado. O soldado que comandara os cavalos alados fez uma reverência e se retirou dali, se mandando para o quartel-general. Maria andou pelas Campinas, sendo acompanhada pelo grupo. Sim, as Campinas vazias era estranho: as casas ainda existiam ali, mas estavam vazias: nenhuma luz, nenhuma vida. Chegou até o meu, onde fica a "praça" das Campinas (na verdade uma área grande onde pessoas faziam piquenique). No canto direito, uma árvore pequena. Aproximou-se, e retirou a árvore, abrindo um buraco na terra: uma escada que se dirigia ao abrigo.
- Wow - admirou-se Raveneh que foi a primeira a descer as escadas, o bebê dormindo no colo - é aqui que vivem durante guerras? Que... que fabuloso!
Maria chegou ao fim da escadaria, e assim que Johnny desceu (ele foi o último da fila), Maria fechou a porta com um gesto apenas de mão.
- R-Raveneh? - exclamou alguém.
- Eles chegaram! - exclamou outro alguém.
Logo se formou um grupo em volta de Raveneh, admirando o bebê principalmente. Umrae, Kibii, Fer, Ly, Doceh não conseguiam se conter de tanta felicidade:
- Que linda menininha! - suspirava Fer - puxou seus olhos, Raveneh *-*
- Qual o nome que decidiram? - perguntou Umrae.
- Maytsuri - respondeu Raveneh - Maytsuri. Não é lindo?
- Difícil de rimar - Kibii observou, mas calou-se ao receber um olhar fuzilante de Umrae - é lindo!
Felizmente Raveneh não escutou o "difícil de rimar" que Kibii dissera: não é muito educado dizer coisas como essas a uma mãe que acabou de nomear seu filho.
- Raveneh... - Umrae estreitou os olhos, observando um arranhão na bochecha esquerda - o que houve exatamente?
Raveneh baixou o olhar, se controlando para não chorar. Com certeza, os apuros que passara em Istypid lhe valeriam pesadelos para a vida inteira. Umrae engoliu em seco:
- O que Jorge fez com você, Raveneh? Ouvi algo que ele tentou prejudicar Raveneh. O que exatamente ele fez?
- Nada de mais - Bia se intrometeu (sim, ela estava calada todo o tempo) - só tentou afogar Rafinha e conseguiu que todo mundo fosse condenado à morte. Acho que estou me esquecendo de algo...
- Claro - Raveneh sorriu - você esqueceu do dia que tentou me levar, e você teve que matar aqueles soldados?
- Oh sim! - Bia deu um sorriso cínico - nada de mais, Umrae.
Umrae deu um olhar irônico, aquele sorriso torto:
- Amanhã vocês me contam o que realmente aconteceu e a gente põe vocês a par das novidades aqui - murmurou - mas acho que devem comer algo agora.
- Com certeza! - concordou Rafitcha - wow, ainda nem apresentamos! Amai, Kitsune!
- Prazer - sussurrou Kibii, um sorriso bem pequeno, quase nada - vocês são as moças que ajudaram Rafitcha, não é?
- Ah - Amai sorriu - sim. E você é...?
- Kibii - apresentou-se. Seus cabelos negros estavam amarrados em um coque prático, deixando o rosto oval a mostra.
- Umrae - Umrae disse, se apresentando a Amai e Kitsune - muito prazer.
Kitsune sorriu, Amai idem.

Logo se ajeitaram: não foram feitos relatos a respeito da "temporada" que Raveneh passara em Istypid e todos compreenderam que tudo o que eles queriam era uma longa e confortável noite de sono. Não houve cerimônias, beijinhos, nada do tipo. Felizmente Maytsuri repousava serena, e Raveneh pôde dormir.

Um comentário:

. L disse...

Mesmo de castigo eu tento acompanhar, tá, tá?? T_T
Hoje pao por aqui, mas qdo eu puder entrar na internet de novo vou pôr a leitura em dia.
Tô adorando. *-*