sábado, 7 de junho de 2008

Parte 36 - Erros e Juras Fofas de Amor.

Catherine se moveu devagar, tentando fugir do sol para evitar as sombras. Ela queria se vingar, matar logo Jorge e depois fugir do país, levando seus amigos junto, obviamente. E claro... Maytsuri, a menina mais linda que havia. Ela era a sua filha! A pimpolha, a filhote, a menininha, o seu bebê! *-*
Mas precisava primeiro ver com Jorge. Olhou para as calças, ajeitou a capa.
Para poder escapar, tivera que ser imaterial por longos instantes: toda a sua matéria viva foi passada para a cópia, sendo que Catherine virou apenas ar, um fantasma com roupas. Era um bocado estranho e não sei muito a respeito de magias poderosas para dar maiores detalhes. Mas quando a cópia morreu (nossa, que modo estúpido de morrer, pensara Catherine), toda a matéria viva se esvaiu e voltou para Catherine e aí sim, Catherine pôde sentir as dores, o coração pulsando e tudo o mais. Era uma magia poderosa, fatigante, que podia até matar uma pessoa caso algo desse errado (imagine simplesmente ser um fantasma por poucas horas, sem matéria? Um erro de cálculo...). Ainda bem que Catherine herdara grande parte dos poderes da mãe biológica e os exercitara secretamente desde que nasceu. E diz a lenda que quando uma mulher é mãe, seus poderes dobram =O

Bem, de qualquer modo, Catherine estava na frente do fórum, a capa roubada de um soldado dorminhoco. Se vingaria naquela hora, não precisava de muita coisa. Só uma distração, usar um pouco de seus poderes-ai. Droga, "sua mágica ainda não havia sido totalmente reestabelecida" -.-' Estava fraca. E tinha que manter muita energia para conseguir andar sem ser vista, concentrando-se em manter cada parte do corpo totalmente leve, quase feito de ar.
Visualizou algumas pessoas, seus semblantes variados: nervosos, serenos, normais, nebulosos. Se esgueirou para dentro do fórum, tentando continuar a parecer um fantasma, quase imperceptível. Obviamente se as pessoas "comuns" conseguissem vê-la, iriam dar um berro e fugir para China de tanto terror. Mas as pessoas comuns perderam a habilidade de perceber a magia (coisa que nem está no sangue, só na convivência), logo não viam Catherine. E ela se aproveitava disso. Achou logo a sala de Jorge, seu cheiro era inconfundível. Jorge não estava na sala.
Era uma sala quadrada, um tapete quadrado e vinho no chão, uma mesa também quadrada de madeira escura, toda reta, sem um único erro na simetria e ângulos. Papel, pena e tinteiro, além de várias pastas. Uma cadeira de madeira, reta, com um estofamento vinho da mesma cor do tapete. E outras duas cadeiras, lado a lado, igualmente retas, de madeira e estofamentos cor de vinho. Devia ser desagradável sentar nessas cadeiras, Catherine pensou. As cortinas avermelhadas, em um tom muito próximo ao vinho, ficavam penduradas na janela (dã), deixando ver a cidade lá embaixo. Para Catherine a visão era bastante desagrádavel: uma cidade repleta de barracos lá longe, perto do céu. Perto do Fórum, as casas eram mais bonitas, com portas bem-pintadas, molduras de janelas bem desenhadas e batentes dourados.
Suspirou, deixando ser totalmente visível. O sol estava fraco e começava a aquecer sua pele.

Sentou-se na cadeira, a esperar. Tic Tac Tic Tac. Escutou passos, observou a porta se abrir devagar.
- E claro, a nova iniciativa da Senhora Muppy é totalmente louvável, imagina!, doar uns quatro milhões de ouros para --
Catherine respirou fundo, muiiiiito pausadamente, contando até dez.
- Raveneh! - exclamou Jorge. Ao seu lado, um homem bem gordo, vestido com um fraque preto, o rosto bem redondo, as bochechas bem rosadas, a papa sob o queixo bem grande e mole, os olhos bem claros quase brancos e a careca quase absoluta, restando poucos fios loiros. E claro, uma careca perfeitamente oval, ou seja, um ovo rosado *o*
- Err-- - o homem rosado e oval e gordo disse - ela não tinha sido morta hoje? Estão enterrando a menina ainda, ohmeldelzoquefaremos?? é um fantasmaeveionosatormentar, vamosrezar e pedirperdãaaaaao ;-;
- Cala a boca - cuspiu Jorge com todo o seu jeito arrogante e desprezível - cala a boca

Jorge pode ser o personagem mais irritante e odioso dessa história e compreendo que vocês sintam raiva dele. Mas ele não é burro. Sabia perfeitamente que Catherine não era um fantasma (essa é uma idéia bastante estúpida e só pessoas comuns sem inteligência podem achar isso diante de um ser tão sólido como Catherine. Todo mundo sabe que fantasmas não têm sombra, já que não possuem matéria). Não sabia como escapara porque desconhecia as magias, mas sabia que escapara.
- safada... vagabunda! - gritou Jorge cuspindo aquela saliva nojenta.
Catherine riu. Gostava de ser xingada pelas pessoas que odiava. Significava que o sentimento era recíproco e isso era realmente muito bom. Ha-Ha!

Concentrou-se em imaginar seus braços se multiplicando de tamanho, mas não deu certo. Claro, ela não era uma Ophelia que conseguisse aumentar o tamanho dos braços e mudar suas propriedades. Percebeu que não podia usar a magia a média distância, como machucar pessoas à distância.
Teria que usar seus poderes na força e no reflexo '-'
Subiu na mesa, desafiando Jorge a se aproximar. O homem tentava afrouxar o fraque, suando muito frio, morrendo de medo do "fantasma loiro". Este, um covarde, saiu correndo pelo corredor gritando coisas desconexas a respeito de vingança, espíritos e a chegada do Juízo Final x.x'
- Vamos? - Catherine convidou, sempre zombeteira - Raveneh está com pressa!
- Aah - Jorge sorriu - você é a Catherine, outra face de Raveneh.

Aqui foi um erro fatal de Catherine. Ela, tolamente (tola, tola, como pôde?), resolveu investir e dar um chute fenomenal na cara de Jorge, quebrando todos os seus dentes. Porém Jorge tinha um reflexo muito bom, e ele sem-querer-querendo, acabou por desviar do seu chute, o que fez Catherine dar um chute em falso e acabar caindo contra a parede, caindo de mau jeito. Levantou-se, aquilo não era nada. Jorge riu. Ele recuou, ela avançou. E isso foi outro erro de Catherine. Ela tinha que ter se movimentado no sentido anti-horário, assim conseguiria pegar Jorge por trás. Mas tola como era e pouco experiente em lutas estando completamente consciente, se movimentou no sentido horário, pelo lado da mesa, e tolamente caiu em cima de Jorge: foi presa fácil. Logo se viu amarrada e contida. A última coisa que viu era o rosto irônico de Jorge na hora de bater com algo na sua cabeça.

Desmaiou.

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- Já organizou a tropa? - perguntou Crazy - tem que estar bem organizada! Quero disciplina, garra! Força de vontade! Aposto que você nem sabe o que é isso ¬¬
O homem resmungou.
- Bem, sabe que é o melhor que tem por aqui, comandante - tentou bajular - você vai ser promovido depois dessa operação *-*
- E ficar longe da sua incompetência - Crazy replicou - olha que coisa boa. Você pode ficar com esse país metido a besta, essas frescuragens de ficar longe de magia... nem percebem o que fizeram. Bem, se a tropa está toda preparada... então está tudo bem. Epa, a Zidaly ficou com você, né?
- Sim, está na minha casa - respondeu o homem todo besta de orgulho.
- Ótimo se é que pode chamar aquilo de casa - Crazy disse - bem, então fique com ela e não deixe ela chegar perto de mim, entendeu? Tente e vai ser posto na rua antes que você possa dizer "direitos trabalhistas".
- Ah-Ah - o homem recuou, intimidado.
Crazy sorriu. Seu rosto não era de um cara durão nem aparentava ser um grande comandante, embora houvesse algo aristocrático na sua face.
Quem sabe, nos seus olhos penetrantes ou no seu sorriso de gente que se acha superior? Quem sabe? Deu as costas, colocando as luvas brancas. Não precisava mais de tanta cautela como em se transformar em um tigre, já estava na véspera mesmo.
He-He.

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Catherine se viu jogada de volta à cela. Ah que droga, foi seu primeiro pensamento, eu fui tão idiota e deixei ser pega de novo! E criar uma cópia como aquela é tãaaao exaustivo, não dava para repetir tudo de novo sem ter crises. Teria que arranjar uma saída, não importa o que fosse. Reparou que estava solitária, pois parecia que todas as outras celas estavam vazias. Só escutava os lamentos.
Me perdoa, Raveneh... me perdoa.
Não chorou, chorar era coisa de fracos. Somente se levantou, tentando imaginar o que poderia ser utilizado para escapar. Ah que droga não podia usar poderes de longa distância, nem manipular soldados para lhe cederem a chave. Tentou queimar as barras, mas só conseguiu queimar a gordura recém-ganha com o parto.
Legal, fiquei magra e esbelta de novo. Mas não vai servir!
O sol estava quente, meio-dia. Passou as mãos nos cabelos, nervosa. Olhou para o teto, para a janela, para as grades, para o chão. Para tudo e para o nada. Para fora e para dentro. E passou aqueles momentos tão tensos, tão nervosos, o coração a mil. Como? Como escaparia? E mais... como diria aos seus amigos que estava viva?

Como... como protegeria Maytsuri?

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- Como está indo? - perguntou Maria à Umrae, apreensiva.
Estavam fora do abrigo, o sol fraco.
- Bem - Umrae respondeu - um soldado pode derrotar, sozinho, um demônio de porte pequeno como um ollumpi. E um grupo de quatro soldados, agindo perfeitamente em conjunto, podem matar um demônio poderoso de porte médio como um jaken canibal de poderes mágicos. Porém demônios como hikiri... esses são mais complicados.
- E como anda a respeito desses? - perguntou Maria já sabendo a resposta.
- Um grupo de vinte soldados consegue matar um hiriki bastante enfraquecido e sem poder se regenerar - disse Umrae - você sabe, hirikis são páreo duro até mesmo para as Musas...
- Sim sim eu sei disso - Maria engoliu em seco - então continue assim. Estou sentindo cheiro de guerra...

- Ly - Doceh sorriu timidamente - trabalha tanto... eu... bem, eu fiz um bolo!
- Obrigada, querida - sussurrou Ly. Ele sentou no chão, ordenando descanso de dez minutos para a tropa que estava treinando.
- Ly... - Doceh também se sentou, dividindo o bolo que tinha um cheiro delicioso - você está trabalhando tanto! Sinto sua falta.
- Oh querida... - Ly disse. Sabia que as palavras da esposa eram a mais pura verdade, mas sabia também que não podia ser diferente - Ophelia está em todo canto, querida.
- Eu sei - Doceh disse friamente - eu sei. Mas... eu tenho tanto medo de te perder! O que farei se você morrer? O que vai acontecer? Vou ficar sozinha, Ly! E eu não quero ficar sozinha!
- Querida - Ly sorriu.
A abraçou carinhosamente, a envolvendo com todo seu conforto que podia dar. Um homem que lutava era sempre um homem que lutava. Por mais que amasse, que tivesse um lar e uma esposa, era sempre um guerreiro. E quando havia uma guerra, não podia simplesmente ignorar as batalhas e o desejo pelo sangue. Mas Doceh não era a típica esposa que esperava o marido. Ela tinha muito mais medo que esposas comuns pois sabia o que acontecia nas batalhas, sabia que Ly tinha mania de se meter em arriscadas empreitadas, ela mesma lutara ao lado dele e ela mesma já fora oponente dele.
- Eu não quero ver você morrer - murmurou Doceh contendo as lágrimas com firmeza - eu não quero.
- Ninguém vai me ver morrer, querida - Ly retrucou - eu não vou morrer. Não agora, entendeu?
- Mas quem garante? Eu sinto... eu sinto... a gente não vai ganhar, não, não vai... - continuou sufocando as lágrimas, tentando parecer calma, firme, serena. Mas como? Podia sentir que a derrota estava ali, a um passo de distância. Não queria ver aquele com quem vivera durante anos e anos morrer. Não queria ver seus amigos, Maria, Umrae, Johnny, Rafitcha, Fer, todas essas pessoas com quem vivera, morrerem... Como podia suportar a falta dessas pessoas? Como aguentaria? Como poderia viver sendo que certas pessoas ficariam ausentes depois da guerra...? nesse momento ela desejou morrer.
- Vai ficar comigo - Doceh simplesmente disse - você vai ficar comigo até o fim do mundo. Não é?
- Sim, meu amor. Ficaremos juntos até o fim dos dias...

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