domingo, 22 de junho de 2008

Parte 40 - Incertezas do Quase.

- Invadiram Istypid! - gritou Lefi irrompendo pela porta enquanto Siih meditava calmamente, canalizando todas as energias calmamente (e o chakra também, mas não se deve brincar com isso ;D).
- Ist-o-quê? - perguntou Siih também muito calma, tranquila como se Lefi contasse que estavam distribuindo balas de menta no castelo.
- Istupid! Não, Estypid! Não não, Estúpidy! Não droga - Lefi parou por um instante até sua carinha ficar feliz de novo e exclamar: - Istypid! Isso aí! Pois é, invadiram Istypid!
- Istypid... - Siih repetiu fechando os olhos tentando lembrar onde foi que viu esse nome. Reabriu-os - ah claro, é o principal reino da Terra Seca. Quem invadiu?
- Grillindor - respondeu Lefi de prontidão.
- Ah - Siih fechou os olhos de novo e os "reabriu novamente" (ai que pleonasmo feio) - é a única terra mágica da Terra Seca, não é? Pois então...
- Sim?
- Mande cento e setenta soldados da Tropa Vermelha... - disse Siih.
- Para ajudarem Istypid?
- ... para ajudarem Grillindor :)
- Sim, Majestade!
- E quero os cento e setenta soldados vivos quando voltarem! ù.ú
- Sim, Majestade!
- E me traga um chá de cogumelos da Andalásia! Com as balas de menta!
- Sim, Majestade!
- Não esquece dos biscoitos de trigo!
- Sim, Majestade!

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- Haha.
O seu sorriso era maligno. Perverso. Endiabrado. Pavoroso. Cara, que sorriso assustador!
Na verdade, era só um sorriso inocente de Raveneh que tentava dar uma de Catherine (sem sucesso, porque vocês sabem, meus queridos fãs de Catherine, ela é simplesmente "inimitável" e nem mesmo Raveneh pode ser igual a ela *-*), mas Jorge estava tão apavorado que sentiria medo até mesmo se a Raveneh desse uma de Poliana e passar a achar o lado bom de todas as coisas, distribuindo balas. Mas para Raveneh um Jorge medroso não tinha graça nenhuma, iria se humilhar fácil demais. Claro, um jogo dado com muita facilidade não é tão gratificante. Resolveu jogar um pouquinho, um joguinho só para levantar a moral de Jorge, só para fazer ele se sentir o poderoso. E assim se sentir saciada quando ele realmente se apavorar. Não tinha pressa nenhuma, a vingança é um prato que se come frio.
- Ora Jorge - murmurou Raveneh - você não devia estar - apontou para a janela - lá?
- Nem moooorrrto - gemeu Jorge. Realmente estava parecendo um fracote e Raveneh odiou esse Jorge ainda mais do que já odiava.
- Morto você não conseguiria mesmo - Raveneh riu - mortos não brigam.
- Grrr - Jorge detestou a piadinha - pra quê veio aqui?
- Ora - exclamou Raveneh - pensei que você fosse mais inteligente, meu querido irmão. ;D
- Eu sou inteligente - Jorge rosnou mais para si mesmo do que para Raveneh - eu sou inteligente. Veio tentar me matar?
- Ooooh! Descobriu que tem cinco dedos em cada mão também? - zombou Raveneh, ao que Jorge deu a língua de uma forma muito grosseira, também fazendo um gesto muito feio. Hmpf.
Raveneh sorriu. Estava fácil demais... o que tinha acontecido. Antes não conseguia dar um chute direito, agora conseguira até derreter uma maçaneta de ferro? Sim, seus poderes estavam aumentando ou a experiência estava aumentando? Sim, Catherine acabara se fundindo um pouco à Raveneh... esse desejo de vingança, essa sensação de superioridade, essa aversão absurda à voz de Jorge, essa fúria que queria ser extravasada... era tudo característica de Catherine. Mas quem as sentia era Raveneh...
- Você só vai me matar no dia que os porcos criarem asas! - riu Jorge, ao que Raveneh retrucou:
- Eu tenho a sensação de que porcos criaram asas em algum lugar por aqui - riu - faça suas preces, maldito.
Jorge não viu, mas Raveneh se servira dos seus poderes para aumentar seus reflexos, destreza e força, e assim se moveu tão rapidamente para trás de Jorge que num piscar de olhos, ele não a viu parada na porta. Mas o que acontecera para ela se mover foi um passo, um passo só que ele deu, preparando seu punho para acertar um soco, visando o olho esquerdo de Raveneh. Mas ela percebera.
- Cadê? Maldita, cadê você? - gritou.
- Estou aqui - disse ela.
- Maldita... - Jorge se virou.
Mas ela sorria diabolicamente, do jeitinho que Catherine fazia, do jeitinho que ele tinha medo. Arrancara as cortinas escuras de uma vez, com todo aquele tecido em suas mãos, com aquele sorriso muito, mas muito maligno.
- Vadia... - ele disse, mas já estava com medo e recuou.
- Eu não vou me contentar com uma morte rápida - disse Raveneh sombriamente - sabe disso, né?
- Vagabunda... - continuou, recuando.
Quando ele chegou à porta, foi derrubado por uma certa garota de cabelos loiros, o tecido escuro em torno do seu pescoço (de Jorge, não dela).
- Nem pense em fugir, mocinho! - gritava Raveneh enquanto apertava o tecido - eu já te falei que isso é impossível!
- Sua vadia! Me--cofarrrghh-me-cofsolte-aarrrgh ;_;
Ter um tecido pesado (assim era o tecido da cortina dele) enrolado com força em volta do pescoço não é legal. Mas como Jorge é nosso vilão, isso é o mínimo que pode acontecer para não ficar impune e não, não, Raveneh não vai se contentar em matar Jorge estrangulado. Ela quer muito mais... vingar tudo o que sofrera desde que nascera, todas as torturas que sentira quando vivia presa, sufocada por uma mãe maluca e irmãos mais malucos ainda que apoiavam sorridentes o seu sofrimento.
- Morra, desgraçado - Raveneh rosnava, tentando pôr o dobro da força nas suas mãos, sentindo que Jorge quase desistia de viver. O "quase" é muito importante. O "quase" delimitaria o quanto Jorge iria sofrer, o quanto Raveneh sofreria por machucar tanto uma pessoa, a que horas Crazy chegaria, tudo, tudo depende do "quase".

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Crazy limpava a espada pela segunda vez, no segundo escritório. No primeiro havia um homem gorducho de rosto oval e cor-de-rosa, foi fácil demais. O segundo era um magrelo e ele bem que tentara se defender, sem muito sucesso, pois Crazy cortara a sua cabeça friamente. Respirou fundo, olhando para a noite estrelada através da janela. Um, dois mortos. Havia umas vinte pessoas que se trancaram nesse Fórum... nesse corredor, dez quartos. E no outro andar... uma a uma, pessoas iriam ser mortas até não restar uma única pessoa viva. Havia reinos que preferiam aprisionar em vez de matar. Tolos, essas pessoas podiam ressurgir e conspirar. Como confiar em pessoas que não se devia confiar?
- Boa noite, Jeremias - disse ele para o cadáver sem cabeça, pois esta havia parado junto ao armário.
Saiu, deixando somente rastros de destruição. O próximo quarto seria o de um cara muito alto, imponente e que fora um juiz facilmente corruptível.

Ele sabia lutar com uma espada, visto que andava sempre armado. Seria mais difícil matá-lo, mas nada que demorasse mais que dez minutos.

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- Maldito - Raveneh apertou o tecido, mas viu que Jorge estava morrendo já. Desistiu. Sofreu tão pouco.
Frouxou o tecido, ao que Jorge somente teve tempo de ofegar antes de levar um chute nas costelas.
- Sabe, você vai ser morto de qualquer maneira - murmurou Raveneh - você prefere morrer nas mãos de um cara que está matando porque faz parte do trabalho dele ou por minha causa.
- Prefiro morrer por causa da pátria, obviamente - rosnou Jorge, cuspindo nos pés de Raveneh. Ela sorriu:
- Que bom - disse - sabe, não tem mais nada que satisfaz um adversário quando vê que seu inimigo não tem os desejos atendidos.
- E se eu desejar morrer? - Jorge desafiou.
- Irá sofrer antes de morrer - Raveneh deu mais um chute no meio das pernas - sofrer muito.
aaaarrghh...
- Ouviu isso? - disse Raveneh - é alguém morrendo! Talvez... talvez seja um amiguinho seu, meu irmão.
- Maldita... maldita - Jorge cuspia a todo chute que levava, tentando se levantar e se defender - maldita, mamãe odiaria você se te visse fazendo isso...
Raveneh riu, uma risada que soou diabólica aos ouvidos de Jorge:
- Mas, meu irmão! - ria - mamãe sempre me odiou!
- Te odeio também! - Jorge continuou - sua maldita, eu também te odeio!
- O sentimento é recíproco, querido - Raveneh murmurou deixando Jorge se apoiar nos joelhos, reclamando da dor. Ela havia fechado a porta, trancado de vez. Era só ela e ele.
Ele se levantou, tonto. Sangrava por várias partes do corpo, sua cabeça muito confusa, os olhos tentando focá-la direito. Ela somente sorria e se

sentou na mesa, esperando Jorge se recuperar. Sofrer mil vezes, era o que ela queria.
- Raveneh... - rosnava Jorge se apoiando na porta, tentando abrir.
- Não dá - disse Raveneh - eu tranquei e estou com a chave... terá que derrubar a porta, primeiramente. E nesse estado, você não consegue nem segurar um copo d'água... sinto muito.
- O que vai fazer comigo? - perguntou Jorge, se recompondo friamente.
- Não decidi ainda - Raveneh disse com sinceridade - sabe, eu tive várias idéias! Cortar suas mãos, furar seus olhos, dar veneno paralisante e te jogar no rio, castrar você, botar você dentro de um barril cheio de facas dentro, váaaarias idéias. Mas não sei qual é a mais cruel e definitiva para você, sabe... talvez eu deva misturar tudo, já imaginou?
- Maldita... - Jorge disse - acho que não vai conseguir nada.
- Bem, eu vou ser muito mais cruel do que nas mãos do seu ex-empregado traidor - afirmou Raveneh - ele pretende fazer mortes rápidas, sabe. Não tem interesse em torturar antes, ao contrário de mim. Eu quero ver você morto, Jorge. Mais do que isso, quero vê-lo sofrendo!
Jorge mordeu o lábio inferior. Reparou que Raveneh estava completamente calma, controlada e fria. A vingança é um prato que se come frio, e Raveneh não tinha pressa nenhuma em executar a sua morte, pois a queria lenta e dolorosa o suficiente. Ela queria que envolvesse sangue.
Ela suspirou, cansada.
Ele suspirou, medroso.

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- Droga... - murmurou Bia - vamos ter que voltar.
- Por quê? - perguntou Rafitcha olhando para o céu, cujas estrelas foram ofuscadas pela fumaça e confusão.
- Eles começaram a incendiar casas por aí - disse Bia se esgueirando por uma ruela muito pequena e estreita - teremos que voltar, sem dúvida.
- Eu quero achar Crazy - disse Kitsune seguindo Bia - ele é um traidor que nos conhece. Ele é de Grillindor e sabe bem quem somos!
- Sim... - Rafitcha concordou cansada. Tentar fugir da morte com um bebê recém-nascido nos braços não é brincadeira, e Rafitcha se sentia ainda mais aflita porque tinha que cuidar de si mesma, do bebê e se preocupar com Raveneh.
- Cadê Johnny? É perigoso para ele subir nos telhados... - disse Amai - AI!
Um homem passara de rompante, um homem meio branco, de cabelos quase brancos e olhos cor-de-mel, maus. Parecia um troglodita albino... Amai fora suspensa no ar pelos braços do troglodita, e fechava os olhos tentando escapar da situação.
- Solte-a! - disse uma voz.
- Solte-a! - gritou Bia ao mesmo tempo.
Se viraram para ver de quem era a voz. Um soldado franzino, pequeno, olhos redondos e lábios desenhados. Cílios negros enormes, mechas negras molhadas que eram afastadas dos olhos o tempo todo, os braços fragéis e uma expressão de sinceridade e bravura no olhar.
- Solte-a! - disse o rapaz novamente, empunhando a espada.
- Você não é páreo para ele... - sussurrou Bia quase para si do que para o rapaz. Talvez fosse verdade: era até covardia comparar o homenzarrão que aprisionara Amai em seus braços com o fragil soldado que ali empunhava uma espada para salvar uma mulher.
- O que vai fazer? - gritou o homem - como vai proteger sua amada.
- Oh céus... - dizia Rafitcha se vendo sem saída, sendo seguida por Tatiih - Bia...
- Não se preocupe - murmurou Bia dando um passo a frente, porém a espada aindas guardada - não se preocupe.
- Você não parece uma civil - disse o soldado em um tom baixo de voz, de modo que Bia teve até alguma dificuldade para ouvi-lo. Mas logo sorriu e respondeu a dúvida não dita em voz alta:
- Sim... eu sou uma caçadora de demônios - admitiu Bia - sou Bia, filha de Lorëna e aprendiz de Lïa.
- Já ouvi falar sobre a sua mestre - disse o soldado - uma caçadora lendária, devo dizer... bem, vamos lá então.
- Sim - Bia pôs a mão atrás de si, aquele sorriso quase maligno, aquela pose de guerreira, aquela personagem que encarnava a cada vez que se via diante de um demônio - é hoje o dia que ele vai ser mandado para o inferno.
O homem não riu mais, até afrouxou os braços fazendo Amai cair no chão com estrondo. Ele havia percebido, de algum modo, conseguira perceber aquele espiríto de guerreira de Bia. Conseguira perceber as mortes que ela trazia nas costas, o medo que acompanhava cada visita dela, as súplicas imploradas de cada demônio. De algum modo, mesmo sendo um pobre ser humano comum, sem alguma habilidade, ele conseguiu ver além de uma mulher aparentemente fria: uma arma de matar.
- AMAI! - gritou Kitsune, correndo para onde Amai estava caída - se machucou??
- Tia... - Amai tentava dizer, mas ofegava: aparentemente fora com muita sorte que não quebrara a perna na queda.
- Ah, minha querida... - Kitsune dizia a todo momento, tentando pegar a sobrinha no colo - vem, vem...
Amai só sorriu, ao se sentir consolada pela tia.
O soldado sorriu.
- Pela direita - disse Bia com aquele olhar assassino e gélido - vá pela direita. Eu te dou cobertura...
- Sim! - o homem compreendeu as instruções imediatamente.

Foi um movimento tão veloz que ninguém pode ver direito: Rafitcha piscou os olhos várias vezes, Tatiih tentou ver mas só enxergou um borrão, Kitsune ficou paralisada com a sobrinha boquiaberta: o homem foi pela direita, segurando a espada com a mão esquerda, tentando cortar uma das pernas dos homens. Um pulo, um olhar frio. Bia saltou quando estava muito próximo, ficando atrás do oponente. E eis que ele tenta se defender do golpe mortal na perna, Bia perfura a espada em sua garganta, rasgando todo o corpo, deixando gravada no rosto do troglodita loiro o pavor antes da morte.
- Meu Deus - murmurou Rafitcha - oh céus... ela é uma arma de matar...
Ver corpos mutilados não é uma coisa legal, só para gente sádica. E ninguém ali gostava muito de sangue, e realmente Tatiih, Rafitcha e Amai que eram as mais doces ali se sentiram um bocado nauseadas. Kitsune controlou a ânsia de vômito com eficiência, Bia sequer piscou. Ela devia estar acostumada com isso...
- Obrigado - disse o soldado se levantando depois que caíra por causa do golpe que dera - obrigado, senhorita.
- Não tem de quê - Bia disse. A sua máscara de frieza permanecia ali, sempre gélida.
- Eu não sei como lhe agradecer - o soldado falou, fazendo uma breve reverência - posso lhe ajudar com algo?
- Err - Bia começou, ao que Kitsune interrompeu:
- Pode! - engoliu em seco - peço-lhe que abrigue sete pessoas e um bebê.
- Sete? Mas eu só vejo você, essa... vejo cinco! Cadê as outras duas, então? - perguntou o soldado intrigado.
- Ela foi buscar a vingança, ele se abrigou no telhado de uma casa - respondeu Amai se levantando timidamente.
- Ele? - o soldado imediatamente fez uma expressão de compreensão - aaah. Posso falar com a Zidaly... busquem-no e achem-na.
Foi tudo o que ele disse, antes de ele partir em retirada. Bia não falou nada, mas Rafitcha começou a raciocinar, tentando se lembrar do percurso.
- Tatiih! - disse freneticamente - procure Johnny e traga-o agora!
Tatiih mal deu conseguiu ouvir a sentença toda, antes de Rafitcha dizer um "já foi?" com rispidez.

Rafitcha mordeu o lábio inferior, vendo Tatiih se afastar, saltando sobre os muros. Os cabelos alaranjados estavam soltos, e caiam o tempo todo em cima dos olhos. Tatiih mirou o próximo muro com os agudos olhos verdes, pegou o cabelo e tentou prendê-lo desajeitadamente. Um telhado alto, lembrava-se. Viu um vulto nele, era o Johnny, podia distingui-lo de longe. Sorriu... mais um telhado plano, chegaria a Johnny facilmente. Firmou o pé, logo outro, lembrou-se de ter a maior leveza possível. Um, dois saltos rápidos, precisos, ágeis.
- Tatiih? - exclamou Johnny surpreso.
- Vamos? - disse Tatiih - acharemos um abrigo.
Johnny sorriu, tentando se decidir entre ficar e ir. Mas decidiu ir, raciocinando que Raveneh provavelmente acharia primeiro os outros do que ele... talvez ela esteja protegida também...
- Vamos - respondeu Johnny.
Tatiih também sorriu, e logo foi seguida por Johnny, de volta para o lugar onde as meninas estavam.

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