terça-feira, 29 de abril de 2008

Parte 24 - Pernas quase Quebradas e A Volta de Quem Nunca Foi! :o

- FER! - Kibii subiu nas árvores, tentando respirar direito. Não deixe o medo tomar conta de você, Kibii. Não deixe o medo vir... - UMRAE! MARIA! DOCEH!
Umrae acordou, escutando os berros. Calçou as botas, pegou uma arma que nem viu direito, mergulhada na escuridão. Andou sorrateiramente, continuou escutando os gritos. Seria a única? Provavelmente não, tinha certeza que os outros ouviram e ainda se perguntavam de quem era a voz.
- Kibii! - essa exclamação foi dita por Fer, que se lembrava que a amiga tinha ido tomar banho. À noite! Aquela louca! Mas o que seria? Se fossem somente arruaceiros, não era esse escândalo todo o_o"
Também saiu pra fora, encontrando Umrae já indo em direção à floresta.
- Umrae! - gritou.
- Xii! - Umrae sussurrou - fique em silêncio. É um demônio.
- Como pode saber? - Fer murmurou, assustada - eu só... eu só sei que Kibii está em perigo por causa de algo grande...
Mal disse "grande", Umrae deu praticamente um pulo pra frente, Fer mal podia distinguir a silhueta tamanha era a escuridão.
- Umrae! - Fer disse, como se fosse um grito sussurrado - droga, até eu sinto... está por aqui. Está andando...
- Fer! - era uma voz exasperada que vinha de cima.
- Kibii! - Umrae exclamou - o que houve? E porque está só com a capa?
- Não posso explicar - Kibii disse, ofegante - subam!
De um salto, Fer e Umrae estavam ao lado de Kibii, no alto, sem fazer um único barulho.
- Consegui despistá-la subindo nas árvores - Kibii disse. O medo não estava mais presente no seu espírito - mas ela está vindo, sente meu cheiro. É um demônio de três metros de altura e quatros braços de meio metro, eu diria. A pele dela é negra, então se confunde com a escuridão e é um ser da água, pelo que percebi. Eu não posso acabar com ela sozinha.
- Então...? - Umrae começou, mas Kibii continuou, esta tentando respirar:
- Ela não é muito rápida e cai facilmente em truques - ofegou - e reparei que ela tem a visão limitada. E aparentemente come carne de gente como nós. Imagino que deva ser um jaken, pela sua habilidade em manipular mentalmente, causando dores psicológicas e medo sem motivo. Veja, ela está se aproximando. O plano é o seguinte: estou com a katana, o arco ficou perto do rio. A katana não tá boa, pouco afiada. Bem, Fer, pegue seus punhais. Umrae, por favor, use a sua cimitarra.
- Ah. A cimitarra... - Umrae reparou pela primeira vez que a arma que trouxera fora a cimitarra.
Fer, vá pra lá. Umrae, fique naquela árvore. Voltarei pro rio, para pegar o arco e as flechas e ficarei ali - Kibii continuou. Aparentemente havia traçado todo um plano perfeito de ataque de modo que Umrae e Fer nem se preocuparam em planejar caso algo desse errado.
- O demônio está vindo - Umrae reparou - e vem por aqui, em direção às Campinas.
- É agora! - Kibii murmurou - a distraiam, eu volto.
Kibii sumiu, e em um piscar de olhos, estava saltando de galho em galho, os cabelos voando ao vento, os pés tocando os galhos com tanta leveza que era como se tivesse voando.
- Vá! - Umrae sussurrou. Não era tão boa com a cimitarra como era com a besta, mas ainda assim era boa e conhecia algumas técnicas. Sorte que trouxera um frasco de venenos, na pressa de não sair desarmada. Rasgou um pedaço do seu vestido, embebeu o pedaço no veneno e passou na lâmina da espada. Fer estava se afastando, cuidadosamente, a roupa preta se misturando à escuridão.
- Onde está, garotinha? Aaah, sua carne era tão gostosa... comerei a carne dos seus amiguinhos, tolinha! Aaah, que pena que perdi, parecia tão gostosa!...
Fer conseguiu ver Kibii voltando, mirando com seu arco. Olhou pra Umrae: era um olhar de compreensão: paramos o demônio agora.

Foi como mágica: Umrae desceu das árvores, cortando o corpo do demônio por trás, não provocando mais que um arranhão. Mas o veneno, apesar de fraco, causava sonolência e fazia a visão piorar. Umrae sorriu, dando o sinal para Fer manejar seus punhais, cortando todos os dedos de todos os seus braços, o sangue roxo empapando o chão.
- O que está acontecendo? A carne dessas duas também parece deliciosa *-* hmmm...
Mal terminou de falar, abriu a boca, mostrando a enorme língua, fina e pegajosa, caçando Umrae. A pegou no pé, como uma cobra se enrosca na comida, querendo quebrar seus ossos.
- Umrae! - Fer gritou. Manejou o punhal mais forte, visando cortar a língua. Porém a língua era de tal carne que não se cortava com uma lâmina comum, Fer entrou em desespero. Umrae ofegou, vendo que teria o pé quebrado.
Kibii mordeu o lábio inferior, mirando cuidadosamente a língua. Aquilo não estava nos planos, pois tinha somente duas flechas boas e planejava usar as duas no corpo do demônio, uma na cabeça e outra no tronco. Mas agora usaria uma na língua, com grande chance de falhar, visto que a língua era um corpo fino, esguio e que se mexia o tempo todo.
- Ai... mais um pouco e o pé de Umrae é quebrado... E quando for - Kibii ofegava. Umrae se defendia, tentando cortar a língua com a cimitarra, porém continuava não dando certo. A língua se mexia o tempo todo: pros lados, pra cima, pra baixo. Então volta e meia Umrae ficava pendurada de cabeça pra baixo ou era jogada para as árvores, tentando causar dores o suficiente para desmaiar.
- Fique parada, por favor... - Kibii suplicava - fique parada um minutinho só...
Fer respirou descompassadamente. De novo ofegava se a língua não pode ser cortada... o que pode ser cortado e causar dor a ponto que a língua fique parada?
De um salto, ficou em pé, se apoiando em um dos braços agora sem dedos, já que o demônio não conseguia se regenerar. Ergueu os dois punhais, as mãos tremendo e a mente delirando. Quando seus olhos brilharam e sua boca sorriu ZAZ as duas lâminas frias e cruéis cortaram o braço, causando tamanha dor que o demônio parou de mexer a língua, embora não soltasse Umrae.
- Perfeito, Fer! - Kibii sorriu, mirando cuidadosamente na cabeça. ZUM.
A flecha veio, saiu entre as árvores e transpassou a cabeça do demônio com tamanha perfeição que não houve nenhuma margem de erro: o demônio ficou paralisado na hora. Umrae respirou aliviada: ser jogada o tempo todo nas árvores fora um ato cruel e com certeza seu pé estava quebrado, tamanha a dor que sentia. Pegou a cimitarra e tentou cortar a língua, mas continuava dura. Droga. Porque me deixei pegar?
- Umrae - Kibii disse, com um sorriso - Fer. Obrigada.
- Mas você que deu o golpe final! - exclamou Fer.
- Você que conseguiu fazer ela parar um pouco - Kibii disse - e Umrae acabou por quase sacrificar a própria vida para não permitir que o demônio soubesse de mim. Ele está só desacordado, aparentemente ela só morre caso o coração seja ferido. Que bom que estão vivas.
Umrae sorriu, e tentou se levantar. Droga, meu pé realmente está quebrado.
- Venha - Kibii disse - vou precisar de você e Fer para ajudarem a transpassar o coração.
As três andaram (bem, Umrae estava mancando) até o demônio, caído sobre o chão. Kibii pegou a flecha que havia atirado na cabeça, transpassando-a no tronco do demônio, o sangue jorrando do outro lado.
Umrae se ajoelhou, cortando todo o tronco com a cimitarra, tarefa ajudada por Fer que retalhou junto com ela, até mostrar a carne por dentro: o coração que não conseguia pulsar mais, os pulmões, o estômago.
- Agora sim - Umrae sorriu. Ela e Fer retalharam os pulmões e o coração que já estavam perfurados. Pronto, um demônio a menos.

Agora Umrae estava sentada no chão, pensando em como conseguiria cortar a carne da língua, esta parecendo uma corrente a prendendo ao demônio. Respirou profundamente, pensando no que usaria. A língua parecia feita de ferro...
Andou mais um pouco, com dificuldade por causa do peso.
Quando a língua começa? será que por dentro era tudo como se fosse ferro? Ou será que em alguma parte era frágil? Será que o interior da língua era frágil, macio feito carne? Provavelmente... Umrae sabia (e não sabia como podia saber) que era só fachada: o seu interior era macio, podendo ser facilmente retalhado. O rosto do demônio não fora retalhado, somente seu corpo: portanto os olhos fechados, a boca entreaberta e o ar sereno permanecia. Com grande facilidade, cortou o rosto ao meio, mostrando o começo da língua propriamente dita: como Umrae pensava, era áspera, mas também mole, macia.
- Kibii. Fer. - disse, quase em um sussurro - acordem Maria, se é que já não está acordada, e alertem-na. Não se preocupem comigo, encontrei um modo de me livrar disso. Chamem Nath também... ai, acho que quebrei a perna .-.
- Não pode ser - Kibii disse - acho que só torceu... Mas de qualquer modo, não quer realmente ajuda?
Umrae sorriu com simpatia:
- Não, não precisa. Eu já sei como acabar com isso... só traga a Maria e Nath...
Kibii e Fer hesitaram em deixar a amiga sozinha, mas acabaram por concordar depois de Umrae ter passado um olhar repreendor.

- E agora - Umrae suspirou enquanto as duas amigas se distanciavam - vamos ver isso.

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- Essa é a Amai e essa é a Kitsune - Rafitcha murmurou. Havia saído e encontrado as duas, agora, amigas escondidas. Sorrira e dissera que agora dava para entrarem e pra não ligarem pra bagunça (imagine, um corpo com a cabeça rachada e uns quatro homens desacordados mergulhados no sangue não era nada!).
- Prazer - Raveneh cumprimentou, tentando se animar. Mas o cheiro de sangue a enjoava, e estava bastante abatida.
- Vou levá-la pra fora, tomar um ar fresco - Johnny disse, preocupado - vocês vão ficar aqui?
- Não - Bia murmurou - eu vou pra fora. Não suporto esse cheiro, embora esteja acostumada.
- Vamos pra fora também - Tatiih disse - tomar um pouco de ar... assim a gente conversa melhor.
- Sim - Amai concordou - e o que faremos com isso? - apontou os corpos desacordados.
- Depois veremos - Bia disse - eles só acordarão daqui a umas quatro horas, e já estaremos de volta. Tenho medo de que eles procurem vingança.
- É só matá-los - Rafitcha murmurou, mal percebendo o que dissera. Quando percebeu, nem ficou surpresa: desde que fora jogada na água, já deixara de ter piedade há muito tempo.
Todos assentiram e simplesmente trancaram o quarto, não permitindo que ninguém entrasse. Sim, ninguém foi ajudar os feridos nem esconderam o corpo. Ninguém estava com cabeça pra isso e simplesmente resolveram ser cruéis.

Raveneh saiu da pensão, segurando a barriga, quase caindo em choro. Johnny a apoiou, e preferiu ficar longe do restante do grupo, ajudando Raveneh.
- Que horrível! - lamentou-se Raveneh - horrível, nunca vi tamanha... carnificina...
- Bia te defendeu, querida - Johnny sussurrou, segurando Raveneh, de modo que ela ficou virada para a calçada.
- Eu sei - Raveneh respondeu - eu sei, eu sei, eu sei... é horrível, tanto... tanto sangue... Eu nunca vi tanto sangue... Nunca...
- Nunca? - para Johnny ia soava estranho, visto que Raveneh deixara a própria irmã morrer de um aborto mal-feito, matara a própria mãe e fora sequestrada pelos nortistas (e Johnny nem queria saber o que aconteceu no trajeto que Raveneh fizera desde que abandonara a terra que vivera até encontrar Renegada).
- Nunca!... - as lágrimas marcaram a face de Raveneh, salgadas e doloridas - Catherine, Catherine, porque me faz suportar isso? Por favor, não me deixe ver isso, por favor, não me abandone agora... - agora a voz de Raveneh era como um sussurro, como se estivesse orando devagar, as lágrimas jorrando sem parar.
Johnny abraçou Raveneh por trás, quase apavorado.
- Não peça por Catherine! Enfren--
- Tarde demais.
A voz era mais rouca que o normal, o olhar diferente.
- Sinto muito, Johnny... mas eu não aguentei, não pude ver Raveneh sofrer tanto... - murmurou Catherine, com a sua característica falta de emoção.

Um comentário:

Umrae disse...

*_*
Deixa eu pegar a besta na próxima que esses bichos vão ver só... Vou comprar uns dardos de cold iron e eles vão ver o que é bom LOL.