quinta-feira, 1 de maio de 2008

Parte 25 - Lágrimas.

- Ah. Ah. - Umrae respirou fundo mais uma vez, retalhando todo o rosto do demônio. Odiava fazer isso, e sinceramente retalhar demônios é uma tarefa ingrata, ainda mais quando nem precisa mais, é só pra se livrar de algo como... como uma língua dura que se enroscou na perna. Quando chegou à "raiz" da língua (bem, parecia uma raiz: era cheia de ramos) que ficava na garganta, começou por cortar as raízes. Pronto, já podia andar pra qualquer lugar, nem que tenha que arrastar a língua estranha. Bem, deixando a cimitarra no chão, pegou a língua pelo "começo", a virando para si. Era meio nojento, mas era a única saída.
Enfiou a cimitarra dentro, destruindo de dentro pra fora. A cada golpe, sentia o pé ficar mais leve, menos peso carregado. Em poucos instantes, se viu livre da língua que fatiara por dentro.
- Aaah! - Umrae sorriu, e aproveitou para verificar a extensão dos ferimentos: bem, a perna não estava quebrada ("ufa"), mas o pé torcera.
Não deu muito tempo, chegou Maria, Nath, Kibii e Fer. Bem, era pra chegar elas, porém veio um bando de gente: Doceh, Ly, Raven, outros curiosos.
- Aaaaah! - exclamou Nath - o que aconteceu com você? Está toda arranhada!
- Err--- Umrae sorriu - só um pé torcido, err--
- VOCÊ TORCEU O PÉ??? - Nath deu um berro que Umrae não duvidava que pudesse ser ouvido do Mundo das Fadas - rapaz, então era realmente poderoso... argh!, este é o que restou dele?
- Dela. A desgraçada era fêmea - Fer murmurou, observando o corpo do demônio todo destroçado - filha da puta - xingou - só raça assim pra atacar na surdina mesmo, filhos da...
- Ok. Vamos tentar ser práticos - Maria sussurrou. Ela estava quieta, seus cabelos loiros caindo nos olhos, alguns fios verdes (às vezes o cabelo dela é roxo e verde, quando está obedecendo às ordens da mestre. Mas no dia a dia, ela costuma ser loira) - um demônio apareceu e tentou comer Kibii a milanesa, literalmente. Há quanto tempo que demônios não aparecem?
- Nas Campinas? - Doceh fez uma cara pensativa, para logo responder - foi um pouco depois que as Campinas se separaram de Heppaceneoh, ou seja, há uns cinquenta anos.
- Meio século - afirmou Maria - faz meio século que não aparece um único demônio aqui. Por que...
- Ah. Ophelia - Ly respondeu - ela quer algo mais do que simplesmente se vingar. Provavelmente cresceu durante os anos que dormiu.
- Ah. Ok. Beleza. - Umrae lembrou que existia - estou com o pé torcido, podem me ajudar?
- Beleeeeza *o* - Ly riu - se apoie aqui - estendeu o braço.
Kibii e Fer não puderam ajudar, pois estavam cansadas e não tinham condições nem de se aguentarem (levaram uma repreensão de Maria por isso, porque ambas as garotas - e Umrae também - usaram mais força que o normal. Em suma: não avaliaram a força do oponente primeiro e usou mais força que a necessária, o que causa mais cansaço), que dirá ajudar Umrae. De modo que foi Doceh que estendeu o ombro, ajudando Umrae. O grupo voltou para as Campinas, Maria refletindo sobre as novas medidas drásticas que teria que tomar.
O céu estava escuro, devia ser de madrugada. Deitaram Umrae na cama, Nath cuidando do pé torcido e dos arranhões que sofrera.
- Precisa tomar mais cuidado! Usou força bruta demais, se esqueceu das técnicas - repreendia a enfermeira - agora está aí com o pé torcido. Bem...
Se escondeu entre as cortinas, em algum lugar. Voltou, trazendo um monte de folhinhas pequenas (sim, isso é uma redundância) e verdes:
- Isso é mastruz? - Umrae perguntou - err, vai fazer o quê? Não é mais simples usar uma poção de cura.
Nath fechou a cara.
- Essa maneira é extremamente eficiente também - Nath murmurou, logo se escondendo. Umrae sentiu um cheiro desagradável, percebendo que Nath estava fazendo algo com aquelas ervas. Sabia que se podia usar mastruz para pé torcido.
- Aaaff - Umrar resmungou.
Nath mergulhou o chá em panos brancos, e enrolou em torno do pé, dependurando no alto.
- Quanto tempo eu tenho que ficar assim?
- Três dias e meio - Nath respondeu - e não reclame - disse ao ver a expressão indignada de Umrae - se você fosse uma humana normal, teria que ficar uma semana inteira.
Os olhos dourados de Umrae se estreitaram, suspirando.
- Beba - Nath murmurou, dando um frasco - é para seus arranhões.
Umrae bebeu: tinha um gosto amargo, que odiou. Mas se era para se recuperar, aguentava o que fosse. Três dias e meio... parecia um século.
- Agora vou tomar conta de Kibii e Fer - Nath sussurrou. Saiu do quarto.

Umrae olhou para o teto, suspirando de impaciência. Lembrou do demônio com quem lutara... provavelmente era da categoria jaken, e da água... aaah... eu aguento três dias... eu aguento.

Adormeceu.

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- Está melhor? - Dahes perguntou, quase carinhoso. Nos últimos dias, se afeiçoara tanto à Rainha que até mesmo a sua aparência era mais agradável.
Siih sorriu. Caíra doente mais uma vez, e ficara muitos dias na cama. Perguntou-se sobre Lefi: será que ele estava realmente conseguindo cuidar de tudo? Mordeu o lábio inferior, respondendo com um aceno de cabeça.
- Ophelia vai atacar logo - sussurrou mais para si mesma do que para Dahes.
Dahes somente deu um olhar intrigado.

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- Catherine, deixe Raveneh voltar - Johnny começou a pelejar. Já fazia dois anos que Catherine não surgia, porque justo agora? Por que toda vez que tinha sangue, tragédia ou qualquer coisa assim, Catherine TINHA QUE ENTRAR? Não confiava em Raveneh?
E era ainda pior, porque Johnny não conseguia odiar Catherine: odiá-la era odiar Raveneh, porque elas não eram nada mais nada menos que metades que se complementavam.
- Cala a boca, Johnny - Catherine disse - já falei que Raveneh não precisa desse tipo de coisa.
- Ok, certo - Johnny resmungou - então o que vai fazer? A cada treco que tiver, você aparece dizendo "Raveneh não pode ver isso"? Como você vai conseguir que Raveneh supere os problemas dela, se você fica aparecendo toda hora?
Catherine suspirou, impaciente. Detestava como Johnny preferia Raveneh, e odiava mais ainda quando Johnny a repreendia por aparecer.
- Deixe-me respirar um pouco - Catherine murmurou - eu não vou ficar a vida toda aqui... imagina!...
Olhou para a barriga de praticamente oito meses, agora.
- Só falta um mês, né? - Catherine sorriu. Seu sorriso era igualzinho ao de Raveneh, o sorriso que Johnny tanto amava: aquele sorriso doce, inocente, como se nada de ruim existisse no mundo, como se tudo fosse simplesmente perfeito - um mês para o bebê...
- Sim... o nosso bebê - Johnny concordou. Esquecera que costumava brigar com Catherine, o que se podia fazer quando Catherine era amável?
- O bebê vai nascer bem - Catherine murmurou - eu sei... ele vai nascer bem, ele vai ser feliz... É meu bebê também... afinal eu sou a Raveneh, não é? E Raveneh faz parte de mim... é tão estranho compartilhar do mesmo grupo...
- Duas mulheres no corpo de uma - Johnny sussurrou, pensativo. Era estranho, mas não sabia como seria Raveneh se não tivesse isso. Chegava a ser doentio, era uma atitude insana preferir continuar assim, sendo dominada por outra mente, mas Raveneh preferia assim: ela tinha medo, medo das sensações que acabaria tendo caso Catherine deixasse de existir, deixando as lembranças para a personalidade principal.
- O bebê vai ser tão lind0 - Catherine murmurou - não me admira que ela nunca tenha me deixado vir... afinal eu só venho quando tem desgraça, e ela nem tenha sofrido nos últimos dois anos...
Catherine sorriu, quase que com ternura, tanto que pareceu Raveneh por um momento. Mas o momento se desfez, e Catherine voltou ser a menina fria e apática que era.
- Raveneh está bem - murmurou Catherine friamente - já volto.
- Ei! Você vai aonde? - Johnny perguntou, exasperado.
- Só... só cometer um assassinato - Catherine admitiu, já de pé. Parecia irritada - sabe, estou cheia desse lugar e definitivamente não vou ficar esperando uma semana pra ser condenada.
- Rafitcha vai ganhar o caso - Johnny ponderou.
- Sim, vai ganhar - Catherine concordou, a voz gélida - mas Jorge não vai concordar. Por isso que Rafitcha quase morreu hoje. Não se preocupe em proteger Raveneh, ela tem a mim. Se preocupe em proteger a sua irmã, Johnny.
- Mas... minha irmã sempre soube se defender - Johnny sussurrou, a sua expressão triste. Não sabia porquê, mas lhe doía Catherine dizer que Raveneh não precisava dele.
- Sim - Catherine conseguiu se desvencilhar dos braços de Johnny - mas agora é diferente. Ninguém pode ficar sozinho, não agora. E não se esqueça que Ophelia está em todo o canto, e não se pode ser pego desprevenido.
Johnny não falou nada, somente virou o rosto onde podia visualizar Rafitcha e as outras meninas conversando entre elas.
- Mas... - tarde demais.
Catherine aproveitara o momento de distração e escapara, sumindo no meio da escuridão. Ela, Raveneh e um bebê com oito meses no ventre.

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- O que foi, Johnny? - perguntou Rafitcha, preocupada.
- Raveneh foi embora - Johnny respondeu, pasmo, a cor fugindo de cada traço no seu rosto - Raveneh sumiu.
- Como assim? - exasperou-se Bia - foi o Jorge? Um sequestro?
- N-Não... - Johnny estava assustado - a Catherine...
- Ah não... - de imediato Rafitcha compreendeu, os olhos assumindo um pesar que lhe era estranho - de novo? Então...
- Catherine foi atrás dele - Johnny admitiu - e eu não pude fazer nada...
- Oh, querido irmão - Rafitcha murmurou com pesar na voz - não te culpes, não agora... Catherine não fará nada contra Raveneh e o bebê... Vão voltar vivos, todos eles...
- Espero que sim, irmã... - Johnny respondeu.
E pela primeira vez em todos os últimos dias, chorou sem parar no colo da irmã. Por que só agora percebera que quem precisava de proteção não era nem Raveneh nem a irmã, era ele mesmo.

2 comentários:

Umrae disse...

Ainda me deixou de castigo!
*chora histericamente*

. L disse...

:O
Viciei. *o*
Comecei ontem de madrugada e já li tudo.
;**