terça-feira, 22 de abril de 2008

Parte 22 - Barco.

Raveneh decidira voltar para a pensão, pensando que talvez tenha acontecido algo com Rafitcha e ela decidira voltar à pensão para se proteger. Tal qual foi a sua decepção vendo que realmente a amiga desaparecera!...
- Onde Rafitcha estaria? – suspirou Raveneh preocupada – Johnny, tem alguma idéia?
- Não faço a mínima idéia! – Johnny disse, triste – a última vez que ela sumiu, o Rei resolvera bani-la das Campinas, injustamente...
- Sim... – Raveneh roeu as unhas – e já estou praticamente com oito meses... Queria voltar logo para as Campinas e ter o meu bebê lá...
- Então você teria que ser inocentada. Por que a gente veio pra cá, mesmo? – Tatiih perguntou, mais para si mesma do que para os outros.
- Porque ficamos com medo de Ophelia – Johnny respondeu, meio amargurado.
- Deve estar pra explodir uma guerra – Bia murmurou – sim, uma guerra deve estar para explodir.
- Bem...
Raveneh se deixou largar na cama, triste.
Quer deixar de ficar aí um pouco, Raveneh? perguntou uma voz lá dentro, uma voz conhecida. Me deixe, Catherine. Eu consigo Raveneh disse para si mesma.
- Alguém aí fora quer falar com você – uma mulher disse, abrindo a porta sem bater. Ao contrário do outro, ela falava sem nenhum sotaque.
- Crazy? – Raveneh perguntou, lembrando-se do outro.
- Ele diz que é parente – a mulher acrescentou, sem nenhuma expressão no seu rosto.
- Deixe-o entrar – Johnny consentiu, curioso.
A mulher fez uma reverência, e logo voltou, trazendo um homem ao lado. Ele sorriu, cinicamente.
- Jorge!

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- Parece uma boa área pra viver – murmurou Thá.
- Sim – Kibii disse, admirando seu dedo mais uma vez – é lindo.
- Você é uma arqueira? – perguntou Thá, observando a parede repleta de flechas diferentes, o tesouro de Kibii.
- Sim – Kibii respondeu distraidamente. Retirou um anel do seu dedo, guardando-o na pequena bolsa de couro: iria nadar no pequeno rio na floresta, não queria perder o anel que valia mais do que todas aquelas flechas.
- Onde aprendeu? - Thá insistiu.
Kibii pegou uma muda de roupas, parou pra pensar. Onde mesmo que eu aprendi? Mas ignorou os pensamentos que sempre a faziam se perder no passado, e somente sorriu:
- Por aí.
Thá fez uma breve reverência, pediu licença e se retirou para procurar o Vinicius.

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- O que está fazendo aqui? - perguntou Raveneh - o julgamento só será daqui a uma semana!
- Prisão preventiva foi decretada - disse Jorge com aquele seu ar de zombaria tentando se disfarçar de seriedade - portanto...
- Não vou! - protestou Raveneh - estou grávida, a lei não garante a minha proteção?
- Não brinca? Acontece que você é bastarda e estranha e de sangue sujo - disse Jorge - tem que vir conosco.
- Não! - Bia se intrometeu a frente, com seu aspecto frio como sempre - podem dá ré.
Jorge riu, as bochechas mais vermelhas que o costume:
- O que pode fazer com essa espada enorme? - disse com a voz de escárnio - tentar me cortar ao meio?
Bia não se deixou afligir por um estúpido: ela lutara com perigosos hirikis que comiam seres humanos e adorariam servir uma Bia a milanesa, vai partir pra cima de um humano boboca? Jamais!
Era estranho: o Jorge na frente de Bia, que estava na frente de Raveneh, esta sendo abraçada por Johnny e Tatiih sentada na cama, no canto do quarto, temendo a disputa.

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- A Pensão Yurii... - Amai sorriu - veja, o nosso barco.
Como a noite já caíra, Rafitcha não conseguia ver o barco de madeira em que subira. Mas a água agora era negra, refletindo a lua. Que lindo pensava esse lugar é bonito, pena que seja hospedado por tantos humanos estúpidos.
- Como são as Campinas? - perguntou Kitsune - eu escutei tantas lendas de lá...
- É lindo - Rafitcha disse - é como se... é como se a felicidade reinasse todos os dias, é tão bonito! Lá tem uma plantação de morangos! E Raveneh convenceu todo mundo a aumentar a plantação de batatas... e logo depois das Campinas, tem um imenso bosque que mais parece uma floresta... E logo depois, a praia, coisa mais linda. Uma amiga minha tem um navio, enorme e forte.
- Parece fantástico - Amai disse com aquele seu sorriso eterno, ao que Kitsune concordou:
- Sim. Quem sabe a gente não se muda pra lá quando Amai concluir os estudos dela?
- Tia... no verão eu já não preciso mais estudar. E estamos no outono, quase inverno... ou seja, começo de ano ;_;.
- É... - Kitsune abaixou o olhar, somente remando - mas eu queria que você fizesse o segundo grau...
- Esse reino não vai durar muito - Amai disse - melhor fugir. Veja, a corrupção está corroendo tudo e as pessoas estão com medo.
- Mas não tem fome nem seca - Kitsune ponderou - as pessoas demorarão mais para perceber.
- Sim... por isso será mais demorado - Amai concordou - mas deixa pra lá. A nossa missão agora é levar Rafitcha em segurança... A Pensão Yurii é bem perto do rio, e já estamos perto dessa margem.
- Aquela não é a pensão? - Kitsune perguntou, apontando para um casarão apagado com apenas um lampião aceso: YURII.
Rafitcha riu, contente. Mas ao chegar mais perto, conseguiu ver uns soldados parados à porta do portão graças aos fracos lampiões acesos ao redor. Ah, não!
Kitsune e Amai remavam tranquilamente, mas Rafitcha roubou um remo da tia e outro da sua sobrinha e começou a remar desesperadamente, como se fosse tirar o pai da forca.
- Merda! - exclamou, logo ela que não soltava um palavrão sequer - mil vezes merda! Raveneh está grávida, seus filhos da...
Logo o barco alcançou a margem, e Rafitcha pouco ligou em prender o barco ou qualquer coisa assim: só queria chegar à pensão rapidamente. Correu. A noite era fria, gélida. Porque a todo momento a pensão parecia ainda mais distante? A terra era macia demais, acaso a rua não era pavimentada?
Mas não era hora de pensar nisso.
Viu-se diante da pensão, duas janelas com as luzes acesas e a trupe de soldados na porta: dez soldados, Rafitcha poderia dizer: todos grandalhões, expressões sérias como se soubessem o que é morrer e renascer, os uniformes esverdeados, os olhares cinzentos. Mergulhou no meio do grupo, nenhum soldado se opôs. A porta estava aberta, viu o senhor que deu as chaves do seu quarto quando chegou caído no chão. Revirou-o. Não estava morto, só atordoado. Alguém batera na sua face, talvez tenha se opusedo a entrada de Jorge. Subiu as escadas desenfreamente, sem escutar o que um soldado dizia pra outro:
- Devíamos deixá-la entrar, chefe?
- Vai dar na mesma: todos comendo terra...
Abriu a porta. E aquela cena estranha com Jorge todo arrogante e a Bia com seu olhar desafiador.
- O que pensa, Jorge - Rafitcha começou a dizer, ofegante - que está fazendo, ao ferir o artigo 7º da Lei Protetora?

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- Vamos atrás dela! - exclamou Amai - ela pode estar em perigo!
Kitsune olhou para a pensão, olhou para o barco e tornou a olhar a pensão:
- Pouco me importa o barco! Vamos!
Correram desenfreadamente em direção à pensão, atravessando o grupo de soldados, e vendo o homem desmaiado no chão.
- Aonde é o quarto? - perguntou Amai, nervosa.
Kitsune olhou em volta. Mas tal como seu nome, era astuta e esperta: respirou profundamente, olhou para a escadaria e sorriu:
- Seguiremos - apontou para o chão: Rafitcha, quando saíra do barco, acabara molhando os sapatos e logo depois pisara em terra. E todo mundo sabe que isso resulta em uma lama que ninguém gosta de limpar.
Subiram a escadaria, e viraram a direita. A porta estava aberta, e podiam sentir o tensão de longe.
- Parece que vai ter algo interessante - Kitsune sorriu.
Amai somente tomou mais cuidado com os passos que dava:
- Sim... e nós seremos o elemento surpresa, Kitsune.

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