sábado, 26 de abril de 2008

Parte 23 - Sangue: Um Passo Para a Destruição.

- Então vai ser daqui a pouco tempo - disse o homem - não deixe escapar a oportunidade.
- Sim, senhor - Crazy sorriu - e a respeito de Ophelia?
- O chefe diz que não importa, vai seguir em frente - o outro disse - mas você sabe que Ophelia sempre odiou os humanos. Uns humanos a menos não fará a mínima falta para ela, e estamos longe do seu campo de atuação.
- Você que pensa... - Crazy riu, zombando - ela é uma bruxa poderosa e pode governar em todas as terras que pensar. Bem, você é um tolo mestiço, sabe nada a respeito disso...
O outro se indignou, e somente disse secamente:
- Vou-me. Olha o jeito que falas com um superior seu!
- Superior... sei. - Crazy sorriu, e deu as costas, andando lentamente.
O homem se mordeu de raiva, e somente resmungou para si.

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- Vai tomar banho de noite, Kibi-chan? - perguntou Fer, intrigada.
- Sim - respondeu Kibii - eu treinei muito hoje e deixei a higiene de lado.
Fer sorriu e disse:
- Está bem então. Boa noite, Kibi-chan.
- Boa noite, Fer.
Kibii adentrou a floresta, encontrando rapidamente o rio em quinze minutos: o rio seguia até o mar, e no meio, havia uma cachoeira bonita, onde as pessoas tomavam banho. Era final de verão, apenas alguns dias para o outono. A brisa sobrava fresca, a noite estrelada, tudo absolutamente escuro. Mas Kibii não tinha medo.
Tirou a roupa, e entrou no rio.
A água está uma delícia.
Andou mais ainda, sentindo a água lhe molhar o corpo.
Definitivamente.
A água chegou a molhar sua boca, mal alcançando seu nariz. Kibii permaneceu assim por uns instantes quase adormecida. Mergulhou de vez, molhando os cabelos negros, voltou a superfície. Ficou assim por uns dez minutos, brincando de mergulhar e subir, mergulhar e subir, nadando por toda a pequena área. Até sentir algo arranhando suas pernas, como se fossem pares de mãos tentando pegá-la.
Subiu a superfície, nervosa. Isso nunca tinha acontecido, e não havia plantas lá embaixo que causasse essa sensação. E era noite, como poderia ver? Resolveu ficar junto à terra, e começou a nadar de volta para a terra, onde suas roupas estavam. A mesma sensação: como se fossem mãos tentando pegar seus pés. Bateu os pés com violência, evitando pisar no chão.
Merda. O que é isso? e mais uma vez mergulhou com violência, tentando manter os olhos abertos dentro do rio.
Logo alcançou a terra, e foi obrigada a pisar para conseguir firmeza e sair do rio. Foi seu maior erro: finalmente o par de mãos a agarrou, caindo pra trás.
Tentou voltar a superfície, mas as mãos ficaram maiores e foram capazes de retê-la debaixo d'água.
- Adoro garotinhas como você...
Kibii se debateu, desesperada. A noite parecia tão estranha, tão triste debaixo d'água... era estranho, aquelas mãos lhe prendendo, e que estranho!, parecia que estava sendo presa por cordas... Tentou olhar o que a prendia, não conseguiu tamanha a escuridão.
- Não tentes fugir, me ofende!
Quem fala? Quem consegue falar debaixo d'água?
Tentou se debater mais uma vez, mas a força dos braços aumentou e ela se sentiu ainda mais sufocada, não conseguindo mais respirar. Estava sendo afogada.
Quem poderia fazer isso comigo? apesar de tudo, Kibii conseguia raciocinar mesmo com todo o desespero. Fechou os olhos, tentando ignorar a sensação de estar sendo presa e o fato de não conseguir respirar, devido a toda a água.
Parece aquelas histórias de demônios... demônios? Demônios? era como se sua mente desse um estalo, os olhos se abriram, a boca abrindo de surpresa Ophelia já está agindo! Como fomos tão burros? Preparando-nos tanto para a guerra, achando que Ophelia iria atacar abertamente... claro que não!

Ela não seria tão estúpida! Mas agora, como avisar? Já estou morrendo? Como avisar?

Forçou o rosto para cima, tentando se livrar das mãos: agora não debatia mais, somente empurrava o corpo para trás, como uma cobra tenta se livrar da sua pele. As mãos fraquejaram, inseguras, foi a deixa de Kibii: ela deu um empurrão para trás com toda a força, as mãos acabaram por se soltar, a água invadindo as narinas. O desespero diminuiu, levantou os braços, se apoiou na terra e imediatamente se sentou no meio da grama, ofegante.
- Ah. Ah. Ah.
Viu ondas surgirem onde estavam, e na água, um par de mãos negras surgiram, como se alguém estivesse se afogando. Kibii com medo, deu pra trás: não ia ter tempo de colocar a roupa toda, colocou só a capa negra que cobria todo o seu corpo. Definitivamente não podia ficar nua, ia pegar um baita resfriado e ia ficar vulnerável. Colocou a bolsa no ombro direito, a katana na mão esquerda. Deu uns passos pra trás, tentando enxergar as duas mãos que subiram à superfície. Mas estava escuro, estava frio...
Deu as costas, sentiu passos.
- Fugindo de mim? Me ofendeu!
Tremendo de medo, se virou e apesar da escuridão, conseguiu distinguir a silhueta feminina, repleta de curvas generosas, dois pares de mãos abraçando o corpo negro de mulher. Os cabelos eram enormes, lisos e as pontas estavam mergulhadas no rio (detalhe: ela estava de pé, no chão). Seus olhos eram amarelos, brilhantes. E Kibii pôde sentir seu sorriso frio, sua beleza absolutamente fascinante a crueldade contida em cada centímetro naquele pele negra como a noite.
- Que monstro é esse? - Kibii não estava acostumada com monstros fora do normal, só com uns gigantes. E a idéia de um demônio em forma de mulher com quatro braços existir lhe era totalmente nova. Recuou, assustada.
- Oh, querida, agora vê a minha face? - o demônio sorriu mais abertamente, mostrando os caninos afiados - sabe, os demônios me chamam de "A Moça dos Quatro Braços". Mas os humanos não me conhecem, até porque todos os que me viram acabaram por morrer, sabe... E nem deixo pista dos mortos... ^^
- É louca - Kibii murmurou, muito³ assustada. Lutara com tudo que era tipo e sabia que qualquer dia iria lutar com um demônio, mas nunca realmente parara pra pensar no que significaria.
Por que demônios não são como seres humanos, simples para lutar: eles costumam ter uma anatomia mais complexa, com diversas armadilhas no próprio corpo. Cada demônio tem uma arma diferente e costumam saber usá-la com maestria. E sem contar com o reflexo, a força, a destreza de um demônio que costuma humilhar um humano. Por isso é muito²² raro um humano lutar com um demônio: geralmente quem faz isso são os que tem sangue mágico, portanto possuem além de força bruta para lutarem justamente com eles.
E Kibii era uma elfa, mestre na arte das flechas. Porém o medo atrapalha e nos faz esquecer tudo o que aprendemos... e Kibii estava com medo.
Pra onde eu vou? Se eu for pro oeste, irei parar no mar. Se for pro leste, as vidas das pessoas inocentes estarão em risco. Mas assim eu poderia ter ajuda de Ly, Fer, Umrae... merda, ela está andando!
E se fosse pro sul, iria continuar na floresta. E não dava pra ir pro norte, o bicho estava lá.
Campinas é a única saída... mas os inocentes...
Bem, se gritasse... alguém poderia perceber que era ela. Se mandasse um sinal qualquer, qualquer coisa...
Continuou a andar pra trás, a tal da demônia sorrindo e andando devagar, como se quisesse apreciar cada segundo daquela tortura.

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- Artigo 7º da Lei Protetora? - Jorge riu - que besteira é essa?
Rafitcha respirou profundamente antes de responder, com a maior calma do mundo:
- "A ré que conter uma vida no ventre não pode ser presa, mesmo se for julgada culpada. Deve-se esperar até o nascimento da criança, e ela deve conviver com a
criança durante sete meses na prisão especial. Somente ao fim deste período, o bebê poderá ser separado da mãe e a ré culpada poderá cumprir a pena, contando-se a partir desse dia".
Todos ficaram em silêncio, parados, aguardando a reação de Jorge ao escutar o artigo citado com perfeição.
- Onde? - Jorge disse, mas sem o seu sorriso zombeteiro - me mostre.
- Código Penal, nesse mesmo livro preto que carregas - Rafitcha respondeu com segurança, o sorriso tomando conta da sua face.
Jorge ficou uns quinze segundos calado, cada segundo pulsante e agoniante, ah!, quanto tempo demorará pra tudo ter um fim! Raveneh com medo de perder o bebê, Johnny com medo de perder a amada, Tatiih temendo perder a vida e ser dada como desaparecida como supostamente acontecera com o irmão, Bia tentando se controlar para não enfiar a espada em Jorge e não causar mais problemas. Somente Rafitcha não tinha medo, somente estava leve, tão leve como o vento por ter desafiado, ter respondido, por estar certa.
Amai e Kitsune escutavam tudo, sem deixar escapar um som. Elas preferiam não se exporem, não agora. Somente na hora certa.
- Então vá embora, Jorge - Raveneh cortou o silêncio - está incomodando a mim, ao meu marido e aos meus amigos, além de incomodar ao meu bebê que ainda nem nasceu. Não tens apoio na lei para me prender. Vá embora.
- Jamais. Você tem sangue sujo, quem liga pra você? - Jorge respondeu, tentando recuperar sua compostura.
- Acontece que os que tem sangue sujo - Raveneh respondeu - são mais poderosos que você.
Jorge ficou calado, não sabendo o que responder.
Deu as costas, todos acharam que ele havia desistido. Amai e Kitsune se esconderam rapidamente quando Jorge passou pelo corredor, descendo a escadaria, olhando para a frente.
- Uuuuuf! - suspirou Raveneh, aliviada.
Todos olharam um para o outro aliviado, como se a tortura tivesse terminado. Somente Bia desconfiou:
- Ele desistiu depressa demais.

Rafitcha sentou-se na cama, procurando por Amai e Kitsune. Correra tão depressa... será que elas se perderam na hora de segui-la ou preferiram ficar em frente à casa? Embora esteja cercada de atenções e perguntas sobre o desaparecimento, não respondeu a nada, não disse nada: somente se preocupou com Amai e Kitsune. Será que preferiam se esconder, aguardando a hora de agir? Ou será que ficaram no barco, ou se perderam na pensão?
- Por que sumiu?
- Como voltou?
- Viu alguém?
Rafitcha ficava calada, bastante tonta e exausta.
BLAM.
- Fiquem atrás! - Bia gritou.

Eu não aguento mais perder
Eu não aguento mais andar pra trás


Bia ficou a frente, segurando a enorme espada. Desconfiou, Jorge desistira rápido demais. Agora podia escutar os homens subindo as escadas bruscamente, provavelmente com ordens de matar qualquer que resistisse à "prisão preventiva". Escutou-se berros de Jorge:
- Matem a todos! Mas mantenham Raveneh viva!
- Eu sabia! - Johnny gritou, tentando proteger Raveneh com seu corpo - esse papo de "julgamento justo"... Merda, Raveneh, que tipo de vida que você viveu?
Raveneh corou.

Por que você insiste em me perturbar?
O que você vai ganhar com isso?
Por que deseja tanto se vingar de algo que não fiz?


- Raveneh, agora não tem mais saída. São cinco! - Jorge gritou - acha que uma mulher grávida conseguirá vencer cinco homens!
- Esqueceu que quem luta aqui - disse Bia - sou eu. Todos protegem Raveneh da melhor forma que souber, e todos dão a vida por ela. E a minha forma de protegê-la, senhor, é com a espada.
- Uma mulher portando uma espada? Que ridículo! - zombou um dos homens enormes, a barba por fazer - aposto que mal consegue cortar um cachorro com ele.
ZUM.
Bia girara a espada de cima para baixo, como se fosse cortar um pedaço de madeira. Mas mirava no homem que acabara de dizer tal besteira, e sua cabeça se partiu em dois, a expressão ainda presunçosa. O sangue sujou todo o chão, os pedacinhos de cérebro no chão. Rafitcha e Tatiih quase vomitaram, Raveneh virou a cabeça pro lado tentando controlar o enjôo, Johnny abraçando Raveneh. Mas Bia estava impassível como se cortar cabeças humanas ao meio fosse um passatempo tipo jogar xadrez.
- Eu sou caçadora de demônios e tenho sangue de fada, e tenho o sangue puro - Bia disse - o próximo que duvidar das minhas habilidades terá o mesmo destino, ou até pior. Agora, Jorge, volte e espere o julgamento de forma justa, sem perturbar a nossa paz.
- Você matou um dos nossos! - Jorge protestou - homens, matem-na! Como pôde pensar em matar e deixar por assim?
Os quatro homens restantes foram à frente, brandindo suas espadas, mas estavam hesitantes: eles eram soldados e treinados para avaliar a força do oponente, classificar a força do oponente em "ridículo", "um pouco fácil", "dá pra se divertir", "forte", "risco de morrer", "muito perigoso", extremamente poderoso, 1% de
chance de sobreviver" e o mais raro "FUJA!". Definitivamente a força de Bia estaria classificada em "FUJA!". Mas eram ordens, e eles foram a frente, rezando antes e se despedindo mentalmente de todos os parentes para o fim evidente.
- Estúpidos - Bia murmurou, bradindo a espada.
Bem, Bia classificaria seus oponentes em um grau abaixo de "ridículo".
POW.
Em um golpe, ela abatera todos. Como a lâmina era de dois gumes, e não queria causar mais problemas (porque o fato de ter partido a cabeça de um cara já ia ser usado o tempo todo), feriu pouco. Cortou o primeiro no abdomên, o segundo nas pernas. Decepou os pés do terceiro e o braço esquerdo do quarto. Agora estavam todos guinchando, esparramando sangue, chorando, chamando por mamãe.

Está vendo o que você fez?
Estava tudo bem, mas você não podia descansar
Agora o seu mundo acabou, e eu tento salvar o meu
Não podia ter ficado quieto?


- E agora - Bia estava no meio de todo o sangue, os cabelos na cara e o suor na pele de tanto brandir a espada com força desnecessária, a voz fria e rouca - e agora, vai voltar e esperar o julgamento?
Jorge iria desafiar mais uma vez, mas ao olhar os homens choramingando com ferimentos por toda a parte e a espada, cujo sangue descia lentamente pelo fio, desistiu. Engoliu em seco.
- Até semana que vem, Raveneh.
Raveneh não respondeu, os lábios tremendo.

Jorge deu as costas, pouco se importanto com os homens agonizando.
- E agora, como é que vai ser? - Johnny perguntou - agora não é somente Raveneh que se arrisca a perder a vida... Bia, você também está em perigo.

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