segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Parte 51 - um beijo para não se esquecer.

As horas se passaram, Lala e Maria iriam dormir em quartos destinados aos hóspedes - o interrogatório não fora útil em nada. A Renegada que agora era chamada de Mycil (embora ela odiasse este nome) dormia no quarto ao lado do Rei, em um corredor chamado "Corredor VIP". Os quartos, porém, eram apelidos de "Cantinho do Bicho-Papão", pois as camas são tão macias que dão a impressão de que você está dormindo em areia movediça, e tão quentes que parece o próprio inferno. O teto é pintado de modo que durante a noite, as figuras pintadas assumem um aspecto sombrio e o andar abaixo, que é o Calabouço do Inferno, onde ficam os prisioneiros hediondos, vive lamentando durante a noite perturbando todos os quartos do Corredor VIP.
A Renegada desejou morrer.

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- Raveneh, você precisa tomar esse remédio! - tentou Nath mostrando um copo cheio de um líquido estranho, borbulhante e roxo.
- Raveneh, isso vai te fazer bem!... - comentou Kibii.
- Não. - dizia Raveneh - esse troço é nojento.
- "Esse troço nojento" - disse Umrae - é um remédio. Tome-o.
- Odeio que mandem em mim - falou Raveneh torcendo o nariz.
- Mas parece que você pede pra isso! - retrucou Johnny - tome este remédio agora!
- Nénéné - fez Raveneh enquanto engoliu em seco - está bem, eu tomo.
- Weee!!! - festejou Johnny - sabe, é uma sábia decisão, Raveneh!
Raveneh deu um olhar divertido e pegou o copo.
- Um... - fez Fer.
- Dois... - Kibii continuou.
- E três!!! - gritaram Lych e Doceh juntos.
Raveneh tomou o líquido.
- Bleeeeeeergghhh!!!! - gemeu Raveneh, contorcendo o rosto - que horrível!
- Um copo d'água! - pediu Nath, ao que Doceh atendeu o pedido.
- Água, água, água! - gemeu Raveneh e pegou o copo d'água descontrolada, fazendo derramar quase tudo x_x
- Raveneh - falou Nath - se tomar o chá verde sempre, beber muita água e comer alguma coisa, além de repousar... É certeza que vai sair da cama daqui a quatro dias!
- Tudo isso? - gemeu Raveneh.
- Melhor que ficar na cama pra sempre! - riu Fer.
Raveneh deu um tímido sorriso.
- Estou com sono - declarou - eu gostaria de dormir... boa noite :)
- Vamos dar o descanso para essa mocinha! - declarou Kibii - retiremos-nos do quarto! Johnny, Raveneh, uma boa noite! ^^
- Obrigada, Kibii - disse Raveneh com um suspiro cansado.
- Oh, sim, Raveneh, uma boa noite - murmurou Umrae.
Todos saíram do quarto, exceto Johnny e Raveneh.
Logo a maioria das velas se apagaram com um sopro, e Johnny se endireitou na sua cama, dando um sonoro "boa noite" para Raveneh, que permanecia acordada. Mas Johnny não conseguia dormir direito. Não sabia porque, não conseguia dormir. Sentou-se na cama, já se preparando para uma caminhada noturna no navio, quando viu que Raveneh já dormia. Mas dormia em um sono perturbado: se contorcia, gemia e murmurava frases desconexas.
- Não... Papai?
Johnny mordeu o lábio inferior. Toda noite que Raveneh dormia desde que fora encontrada, era a mesma novela: pesadelos que Raveneh nem lembrava mais. Ou será que lembrava?
- Não... por favor, não... não... argh, urgh... NÃO! - com um berro Raveneh abriu os olhos.
- Raveneh! - Johnny exclamou com o susto e foi socorrer a menina.
Ela estava tremendo, suando frio. Olhou para Johnny desnorteada, como se não o reconhecesse.
- Argh... - disse Raveneh - argh, odeio-o! Odeio, odeio, odeio, odeio... - soluçava e se abraçou ao Johnny.
- Odeia quem, Raveneh? - indagou Johnny intrigado.
- Ele! Não o vê, Johnny? Ele é tão mau! - soluçou Raveneh - ah, como fiz bem em sair daquela casa! Mas foi sair e voltar!
- Casa? Voltar? - Johnny estava bastante confuso, cheio de perguntas que não conseguia responder.
Raveneh enxugou as lágrimas, admirando Johnny. Logo fez outra cara de choro e disse:
- Eu... Ah, tenho tanto medo da noite, Johnny! - exclamou Raveneh com os olhos molhados - tanto medo! E tem a maldita Catherine... Será que ela nunca vai me abandonar de vez?
Se Johnny estava confuso, agora definitivamente estava confuso E louco.
- Quem é Catherine? - perguntou.
- Minha irmã - respondeu Raveneh - ela me endoida. Ela é melhor que eu em tudo. Que bom que ela se mandou para trabalhar como puta para um militar qualquer ¬¬
- Como o quê, Raveneh? - Johnny estava muito intrigado com aquela história toda. Quer dizer que a segunda personalidade de Raveneh era a irmã dela, que de acordo com Raveneh, era basicamente melhor que Raveneh.
- Ela é totalmente oferecida, Johnny - disse Raveneh - céus, como passei o inferno por causa dela! Ela era a mais bonita - continuou hesitante - a que tinha mais sorte, a que tinha mais namorados, mais amigos, a mais popular...
- Mas ela não era mais doce que você, Raveneh - interrompeu Johnny.
Raveneh olhou para Johnny, sorrindo.
- Você é muito gentil, Johnny - murmurou.
Os dois ficaram em silêncio, mal sabendo o que deveriam dizer. Sorriam muito timidamente, e Johnny agradeceu por estar tão escuro, pois assim Raveneh não poderia ver seu rosto corado.
- Isso não é mentira, Raveneh - disse Johnny - e-eu... Eu g-g-gosto de você...
- Eu também, Johnny... - disse Raveneh.
Os dois se abraçaram lentamente. Johnny queria algo mais do que um abraço. Mas estava tão confuso, tão perdido que não sabia o que fazer... E o fato de tudo ficar estranhamente quente também não ajudou muito o.õ
Raveneh fechou os olhos lentamente, erguendo o queixo.
- Johnny - sussurrou Raveneh muito baixo.
Foi o suficiente para Johnny pirar. Como que de surpresa, tomou Raveneh pelos lábios de forma delicada, ao que Raveneh correspondeu.
O que você está fazendo, Johnny? perguntava para si. Mas quem se importava? Aquilo era o céu, o máximo da felicidade!
- Johnny...? - Raveneh suspirou entre um e outro beijo.
Mas Raveneh não pôde terminar a fala, pois Johnny a atacou novamente com um outro beijo, ansioso. Estava decididamente desesperada, e Raveneh não podia negar que estava adorando aquilo. Raveneh segurou o namorado (namorado! Já? :o), a medida que ia se deitando (N/A: hey! nãaaaaaaaaao!!! eles não são safados... é... err O.õ continuem lendo :D), e Johnny prosseguia confuso. Só sabia que estava sendo delicioso aquele momento a sós, quando eram mais que amigos, quando tudo se turvava, quando tudo estava em uma temperatura adoravelmente alta.
- Você é um amor, Johnny.
Johnny sentiu um frio na espinha, e todo o calor confortavel se evaporara.
- O que foi? - disse Catherine.
Johnny recuou, olhando friamente para a face ofegante de Raveneh/Catherine.
- Catherine?
Catherine jogou o cabelo pra trás, sorrindo, totalmente provocante.
- Quem mais poderia ser? - disse revirando o olhar, divertida - Raveneh! Coitada! A menina mal consegue usar saia curta, você acha que ela vai beijar?
- Você é uma vagabunda, Catherine - sussurrou Johnny. Catherine só riu:
- E eu não sei? Raveneh me odeia tanto...
- Ela sabe que você existe? - indagou Johnny surpreso e morrendo de vergonha - a irmã...
- A irmã que era mil vezes melhor que ela! - exclamou Catherine - ela contou isso! Uau! Raveneh me surpreende!
Johnny segurou firme o braço direito de Catherine, que tentava se soltar e disse:
- Você vai para um médico amanhã, está me ouvindo, Catherine?
- Uau! - riu Catherine se insinuando - você não é tão... firme com Raveneh... Você me odeia.
- Eu não te odeio, Catherine - Johnny disse - eu tenho desprezo. É diferente.
Catherine deu um riso de escárnio, e se debateu mais uma vez, conseguindo se livrar de Johnny. Este, furioso, voltou para a própria cama onde não conseguiu mais dormir. A toda hora, se remexia pensando no ocorrido.
Diabos. Quem estava beijando? Estava conversando com Raveneh, lembrava do seu jeito meigo, dengoso. Mas quando foi que Catherine assumiu o comando? Era isso que não conseguia compreender. Catherine havia dito que Raveneh era muito reservada. Seria verdade?
Mordeu o lábio inferior, relembrando o desespero no beijo, o sabor ainda fresco...
- Odeio a minha vida - sussurrou.
Puxou o travesseiro, deu uns murros e deu uma última olhada na cama de Raveneh (ou Catherine).
Raveneh dormia tranqüila, com uma respiração lenta, como um anjo.
Este anjo, pensou Johnny, é o que está acabando comigo.

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