sábado, 20 de outubro de 2007

Parte 58 - o Outro Depoimento de Renegada/Rei

- Que interessante - disse Lala - Lefi acabou de me informar uma coisa curiosa. - estendeu um papel - Mycil Regallian. - Renegada mordeu o lábio inferior - posso afirmar que Regallian é a família que descende da antiga linhagem que reinava sobre Kuppytta, no norte?
Renegada suprimiu um riso: finalmente descobriram a sua família! Bem que suspeitava dos gestos suspeitos de Maria, ao recolher seu sangue, há muito tempo atrás... definitivamente Maria não era a melhor pessoa para fazer algo escondido.
- Sim. - respondeu Renegada.
- Bem, é uma coisa interessante - disse Lala - mas voltemos ao assunto. Por que você deixou Arthur nas mãos do Rei?
- Porque eu praticamente aproveitei da boa vontade de Renegada e sequestrei o Arthur - o Rei disse gravemente - quando Arthur deixou de amamentar, eu o escondi e disse para Renegada que...
- ...Se eu não o obedecesse prontamente, nunca mais veria meu filho - interrompeu Renegada em um múrmurio frio.
Aammm... Por isso que Renegada odeia tanto o Rei? Por isso que dói amar-lo... afinal, o Rei roubou o filho dela!, refletiu Lala concluindo sobre o caso.
- De modo que trabalhei para Calvin durante dez anos - disse Renegada - só via meu filho de mês em mês, e nunca ele sabia que era eu a sua mãe. - Renegada engoliu em seco, controlando suas lágrimas - há pouco tempo, resolvi parar com essa história. Mas antes de exigir a soltura de Arthur, pressenti a vinda de uma outra fada. Não era das trevas, pelo contrário. Nós, fadas das trevas, chamamos fadas do tipo de Raveneh de "fadas cor-de-rosa". E não sei porquê, tive a sensação que encontraria a salvação se estivesse com ela. De modo que parti, mas mal cheguei ao portão e fui capturada. O Rei previu o meu limite. Ele exigiu que eu contasse sobre tudo.
- Mas você não poderia ter feito algo? - indagou Lala - você é uma fada, ele é mortal comum.
- Mas Calvin conhece as minhas fraquezas - respondeu Renegada - se uma fada amar a outro ser que não seja fada, já fica um pouco mais vulnerável. E ele sabia se prevenir... De modo que eu não podia usar meus poderes em larga escala, nem poderia resistir caso ele me capturasse. O máximo que podia era ficar brava e obedecer. Calvin conseguiu arrancar as informações sobre Raveneh... Ele disse para eu manter-lo informado sobre ela. E fui.
- Encontrei Raveneh, chegamos até as Campinas - continuou Renegada - e voltei em segredo ao castelo. Exigi a soltura, ele não cedeu. Disse-lhe que ele não podia tocar em Raveneh, pois ela estava protegida por mim.
- Espere - interrompeu Lala em um múrmurio de surpresa - Raveneh está sob a sua proteção?
- Sim. Calvin tentou sequestrar-la para me chantagear - disse Renegada - ele não podia matar Arthur, pois este era o herdeiro. Mas com Renegada, era outra história: ele não nutria sentimento por Raveneh, e a mataria sem pestanejar. Mas mesmo sendo avisado de que eu a protegia, Calvin insistiu e tentou sequestrar Raveneh, causando pânico nas Campinas. Bem, isso é tudo.
- Vamos resumir a história: vocês tem um caso, ela tem filho, aí ela é sequestrada, ele a salva e ela como prova de gratidão, aceita criar o filho no castelo - disse Lala apressadamente, tentando resumir a história - mas aí ele pega o menino, e passa chantagear-la, e anos depois, ela não aceita mais a situação e tenta ir embora, e envolve uma menina que não tem nada a ver com a história, e... ok, não falarei mais senão meu cérebro vai dar um nó. Mas e os ataques às Campinas? - observou Lala interrogativamente.
- Isso é puro interesse - disse o Rei - as Campinas são fabulosas, e tomar-las é um sonho de consumo para muitos reis - sorriu - sabe, eu sempre desejei ser o Senhor das Campinas.
- Ah bem - disse Lala - e para isso, quebrou o Tratado.
- Eu não me incomodaria com isso - disse o Rei com um sorriso bastante sinistro - o Tratado foi que as fadas não me protegeriam nem me almadiçoariam, caso eu não invadisse nem as Campinas nem o Reino das Fadas. Bem, meus sonhos foram por terra e não me incomodo de ser julgado e ser condenado.
- Calvin, você vai ser morto, muito provavelmente - disse Renegada séria - sequestrar uma protegida é um crime punido com a morte. E desrespeitar a uma aliança mágica, também.
- Sim. - disse o Rei - eu sabia do que estava fazendo. Mas os nortistas intervieram... bem, o que posso fazer? O menino está bem, com as pessoas das Campinas. Ele tem o meu sangue e o sangue de Kycci. Não poderá existir pessoa mais dividida entre o bem e o mal - o Rei baixou o tom de voz ao falar a última frase.
- Eu escutei isso - afirmou Renegada - você acha que é o bem ou o mal?
- O bem, minha querida - respondeu o Rei - sempre serei o bem. Mas você, minha querida, é a pessoa mais dividida que conheço. Como pode uma fada das trevas ser uma pessoa de tão boa índole?
- Como pode um Rei aparentemente bom ser tão mau? - ironizou Renegada.
- Paremos com a tola discussão - disse Lala - os depoimentos foram suficientes. A verdade virá a tona daqui a uma semana, no julgamento. O crime do Rei será a tentativa de sequestro de uma protegida e a quebra do Tratado. O crime de Renegada será a "espionagem" que fez, pois fez em função do Rei. Mas - disse quando viu a expressão surpresa de Renegada - suspeito que você sairá inocente. Afinal foi chantageada, e creio que não havia outra solução.
- Oh... - murmurou Renegada - sim.
- Ficarão uma semana mantidos em cativeiro - disse Lala já em pé - tenho todos os fatos, e no julgamento vocês os repetirão quantas vezes for necessário. Guarda Real!
Vieram quatro fadas vestidas de branco com dourado para dentro da sala, e se encarregaram de levar Renegada e o Rei para os seus respectivos quartos.
- Calvin... - pensou Renegada consigo mesma - mal sabe o que o destino lhe reserva...

Um comentário:

Unknown disse...

*-*
Nossa fiquei tanto tempo sem ler.
Mas agora coloquei tudo em dia, li tudo de uma vez *lol*
Nossa, essa história de Renegada com o Rei me trouxe más memórias :/

Enfim, o importante é que ADOREI o rumo que você deu à história.
E só tenho pena que esteja a acabar :(

:*