segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Parte 54 - Confissões de Raveneh/wow... Johnny...?

- Bem, eu serei a sua médica - disse Gika para Raveneh - pode me chamar apenas de Gika.
- Obrigada, Gika - disse Raveneh com um sorriso.
Johnny fizera um pedido para Lych ajeitar alguma coisa sem deixar vazar pro resto das Campinas, de modo que Lych foi pessoalmente pedir a Gika que atendesse Raveneh. Vê também recebera tal pedido, mas negara argumentando que fora convocada para cuidar do Rei e da Renegada, prisioneiros especiais da Rainha. E como Gika ansiava por um paciente, aceitou, então, o pedido. E Gika também desejava inaugurar o seu escritório recém-construído, mobiliado de forma bastante charmosa.
- Por que veio aqui, Raveneh? - indagou Gika paciente.
- Johnny acha que fiquei traumatizada com a invasão nortista - respondeu Raveneh - ele diz que tenho pesadelos todas as noites.
- E você tem os pesadelos?
- Sim - disse Raveneh. Baixou o tom de voz - mas eu os tenho muito antes de vir para as Campinas, doutora.
- Gika - corrigiu Gika - eu quero que me chame de Gika ^^" Mas continuando, muito antes de vir para as Campinas? Há quanto tempo?
- Quase um ano - Raveneh estava deitada no divã, olhando para o teto - foi um período bastante feliz.
- Você veio de onde, Raveneh?
- Em um reino distante, onde uma cruel ditadura se instaura - contou Raveneh.
Gika percebeu que se continuasse com as perguntas que fazia, não iria muito longe. Lych confidenciara, muito secretamente, que Raveneh estava apresentando uma dupla personalidade e que, provavelmente, a raíz deste distúrbio estava na infância.
- Como foi a sua infância, Raveneh? - indagou Gika.
Raveneh fez uma careta de dor, mas logo respondeu em uma voz calma:
- Boa.
- Boa como? - insistiu Gika - boa boazinha ou boa excelente?
- Boa boazinha - Raveneh sorriu, mas logo desfez o sorriso pesarosa - não fui completamente feliz...
- Por que não?
- Eu tinha nove irmãos, Gika - contou Raveneh - todos eles mais velhos que eu. Mas todos gostavam de mim, exceto uma. Ela se chamava Catherine. Bonita, ela. Demais. Seus cabelos eram negros, olhos azuis tal como os meus. Ela era a mais bonita entre todas da minha cidade, e a minha mãe a idolatrava. Mamãe sempre dizia que eu tinha que ser como a Catherine. A Catherine tinha quinze pretendentes para casar-se com ela, quando completasse dezessete anos. Eu nunca tive um e sempre odiei a idéia de casamento. Catherine era orgulhosa, tinha modos finos para tratar a realeza, e era a mais bonita de toda a cidade. Nenhuma moça era mais bonita que ela. Nenhuma. Meu pai estava preso nessa época. Sempre esteve. O regime forçado é cruel, e prendeu muitas pessoas. Era comum, meu pai sempre vinha, passava dois dias e voltava para a prisão. Ou ficava por aí, perdido, sem bom senso. Ele lutava contra a ditadura, por isso foi preso. Mas apesar de ser um ótimo combatente do regime, ele não era um pai nem mesmo quando estava em casa. Nunca se interessou conosco, nunca perguntou como íamos. Nunca. Acho que era por isso que minha mãe passou a odiar-lo.
Gika estava impressionada com a história que Raveneh contava. Como podia uma moça tão doce, meiga carregar nas costas uma história de dor e sofrimento?
- Bem - continuou Raveneh - eu vivia nisso desde que nasci. O regime foi implantado há uns dois anos antes de eu nascer, portanto não era algo verdadeiramente normal. - Raveneh suspirou profundamente e continuou - Como eu disse, eu era a mais nova dos irmãos. E era muito diferente deles. Todos eles eram morenos, de pele bronzeada. Eu era branca feito neve, e era loira de olhos azuis. Catherine tinha olhos azuis, porém puxara da minha avó paterna. E somente eu e ela tínhamos olhos azuis, e isso era algo raro na cidade em que a gente morava. Mas eu era loira. Minha mãe não era loira. Meu pai idem.
- Enfim, era isso. As pessoas me achavam bonita, sempre. Diziam a mesma coisa: "se você fosse como a sua irmã Catherine, iria ser melhor que ela". Passei a odiar Catherine. Bom, até meus dezessete anos, minha vida foi essa.
- Interessante, Raveneh - comentou Gika - diria que houve algum trauma relativo a isso?
- Acho que não.
- Por que saiu de lá? - indagou Gika.
- Minha mãe morreu - contou Raveneh - e meus irmãos foram trabalhar para o governo.
- Seu pai, sendo opositor do regime, concordou com a ida dos irmãos?
- Não - disse Raveneh - ele morreu.
- Quantos irmãos foram trabalhar para o governo?
- Nove. Um dele era Charlin, e foi adotado quando eu tinha quatorze anos.
- Adotado? Por que?
- Catherine morreu - contou Raveneh - e meus pais o adotaram na esperança de amenizar a dor.
Oooh!, Gika exclamou mentalmente, que interessante! Catherine morreu? Foi aí que ela criou a dupla personalidade?
- Como ela morreu? - perguntou Gika.
- Enforcada - respondeu Raveneh - mas não lembro direito. Foi há tanto tempo! Sim, foi há muito tempo! Não consigo me lembrar de muitas coisas...
- Compreendo... - disse Gika mais para si do que para Raveneh - o choque...
- Foi realmente um choque - concordou Raveneh sorrindo fracamente - um choque... Não lembro direito, mas acho que fui eu quem a encontrei... Sim, fui eu. Meu pai estava na ocasião, eu lembro disso. Ela se enforcara no celeiro, junto aos cavalos. Foi terrível! É a cena que revisito nos meus pesadelos...
- Pesadelos? - Gika disse inocentemente - poderia me contar como são os seus pesadelos?
- Nunca lembro direito - disse Raveneh - mas são algumas lembranças ruins que vem, sei disso. E meu pai está em todas elas. Minha mãe e a Catherine também...

PEEEEIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMM.....
Gika entristeceu. Disse:
- Oh, sinto muito. Mas o nosso tempo acabou e eu terei que servir a Vossa Majestade das Fadas agora...
Raveneh se levantou.
- Oh, não se desculpe... Afinal é o seu dever...
- Virá na próxima quarta-feira? - indagou Gika.
- Sim, virei - concordou Raveneh - contar histórias me deixa mais aliviada...

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Passou-se uma semana. Lala continuou recolhendo informações sobre o relacionamente entre Renegada e o Rei, mas nada que fosse mais chocante que o fato de eles terem sido amantes e terem um filho. E Lala ainda não havia chegado na parte mais importante, em que o filho ficou com o Rei e a Renegada teve que se submeter a vontade do ex-amante.
Raveneh continuou tendo pesadelos, e chorava durante a noite, e sempre era o Johnny que a acalentava. Siih vivia ocupada com seus deveres de Majestade, tendo contínuas dores de cabeça que nunca sabia o que significava. Depois do episódio da borboleta que virou cisne e morreu, ficara relutante em experimentar os poderes que Lefi jurava que ela tinha. E a vida seguia conforme mandava os acontecimentos.
E Johnny se sentia cada vez mais perdido. Ele amava Raveneh e a queria, mas não tinha mais coragem para beijar-la. E se sentia demasiado constrangido em pedir conselho a Rafitcha, sua irmã, ou qualquer uma das meninas.
- Johnny!! - exclamou Raveneh.
Johnny levantou a cabeça, observando Raveneh chegar da floresta. Céus, ela estava mais linda que nunca. O seu vestido era feito de seda, todo branco. O decote de princesa, com as mangas compridas e o comprimento chegar um pouco acima do joelho, tudo isso fazia Raveneh parecer uma perfeita princesa. Os cabelos ainda negros voavam, e Raveneh estava descalça. Johnny só faltou morrer com a deslumbrante visão.
- Johnny - disse Raveneh com um sorriso - Johnny! - abraçou Johnny fortemente. Porém ninguém viu o fato, já que era no pôr-do-sol, e todos preferiam ficar na parte oeste para verem o sol descendo lentamente no oceano. E a floresta ficava na parte leste.
- Raveneh! - exclamou Johnny - de onde você veio? Sumiu o dia inteiro!
- Oh! - Raveneh sorriu - eu dei uma passeada lá no Reino das Fadas - rodopiou fazendo a bainha do vestido levantar, o que fez Johnny fechar os olhos - o que acha do vestido?
- Lindo! - comentou Johnny - Raveneh, você fica linda em qualquer vestido...
- Eu amo a sua gentileza, Johnny - Raveneh disse docemente - hey, amanhã é quarta...
- Sim, dia de terapeuta - concordou Johnny. Por que lhe faltava coragem? Era o momento perfeito! As árvores estavam silenciosas, o céu estava se despedindo do

sol calmamente, Raveneh estava perfeita em um vestido branco de princesa, e estavam sozinhos! Ninguém veria alguma coisa! Todos estavam batendo palmas de forma idiota e cantando hinos ao sol. E os dois estavam ali, sem saber o que dizer...
- Dane-se, Catherine - Johnny disse bem baixinho - vá se danar.
- Johnny, o que vo...? - assustou-se Raveneh, mas não deu tempo de completar a oração.
Johnny a levantou (N/A: pensem o que quiserem, mas Johnny é BEM mais alto que Raveneh ù_ú), e levantou seu rosto. Johnny sabia que estava cometendo uma loucura, mas ainda assim, contra todos os seus princípios, tomou Raveneh pelos lábios de forma quase lasciva. Raveneh, felizmente, correspondeu. Johnny sabia que Catherine podia aparecer a qualquer momento, que podia estragar o beijo, que podia zombar dele, de Raveneh. Mas ele não ligava para isso. Queria Raveneh, desejava Raveneh. Queria que ela fosse sua (N/A: possessivo! lol), somente sua. E ele podia ter isso. Bastava a Catherine não ficar atrapalhando.
Raveneh envolveu o pescoço de Johnny com os braços, sem pensar em parar. Ela era mesma. Tinha a vaga sensação que isso já acontecera, em algum lugar nos dias anteriores. Mas não lembrava direito, era como um sonho perdido por aí.
- Johnny? - riu Raveneh - eu te amo.
Johnny passou as mãos pelos cabelos de Raveneh, que pousara a cabeça no peito de Johnny, com um sorriso.
- É, Catherine - disse Johnny para si - dessa vez, você aprendeu, não é?
Raveneh somente abraçou-o mais forte.

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