quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Parte 55 - Siih fica doente.

Durante a madrugada, pela primeira vez em muito tempo, Raveneh dormiu tranquilamente, sem pesadelos. Acordou bem-disposta, e Nath afirmara que ela estava totalmente recuperada, o que foi motivo de alegria para todos.
- Onde está a Renegada? - indagou Raveneh. Era visível que ninguém contara a ela sobre a ida de Renegada para o Reino das Fadas.
- Está com as fadas - disse Rafitcha.
- Fadas? Por que?
- A Rainha a convocou - contou Umrae - o porquê, ninguém sabe.
Raveneh ficou pensativa, então. Mas logo se animou, e começou a tagarelar. E todos ficaram felizes, pois queriam de volta a Raveneh alegre, que dava conselhos e sempre fazia os outros ficar com alto astral.

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- Você não está bem, Siih - disse Lefi.
- Estou sim e eu posso levantar! - insistiu Siih - veja, eu estou bem.
- Siih, minha querida irmã - afirmou Lefi - a sua febre está aumentando, a sua dor de cabeça também. Você mal consegue ficar de pé. Como pode dizer que está bem?
- Eu te odeio, Lefi - suspirou Siih olhando para o teto.
O casal de irmãos estava sentado na cama, enorme e pomposa de Siih. Como Rainha, tinha uma cama grandiosamente arrumada, com colchas feitas de linho branco, almofadas que faziam sua cabeça afundar, e um cheiro bastante agradável de bala de menta. A iluminação no quarto estava fraca, pois era hora de entardecer, quando o sol descia e o céu assumia tonalidades laranjas. Era um clima bonito, por assim dizer.
- Siih, você está muito fraca - insistiu Lefi.
- Eu posso andar - replicou Siih.
- Não, não pode - contradisse Lefi - você está com febre. Acho que isso é consequência dos seus poderes.
- Lá vem você com essa história! Só preciso de um chá...
Siih ergueu o braço, mas logo falhou, e suspirando profundamente, olhou para o teto cansada.
- Siih, não seja tão dura consigo - disse Lefi - terá todos os cuidados como deve ser. Uma Rainha não fica abandonada. Nunca.
- Eu tenho medo de os nortistas atacarem o Reino das Fadas - confidenciou Siih.
- Medo? Eles não conseguirão chegas às Campinas! - exclamou Lefi incrédulo.
- Acho que conseguem. O exército é brutal, forte demais - disse Siih - lembro dos relatos que li... Um horror.
- As Campinas resistiram há dez anos atrás - Lefi observou - quando você era uma criança.
- Argh... - respirou. A pele de Siih estava encharcada de suor tamanha era a febre - foi demais o choque da Renegada ser levada praticamente presa... Está se iniciando uma desconfiança, Lefi. Eu sinto isso, entende? - ofegou - eu sinto que logo, se não for feito alguma coisa, o veneno da desconfiança poderá ruir com as Campinas. E aí... tudo será tarde demais e as coisas não poderão voltar ao normal.
- O que está dizendo? - Lefi observava Siih surpreso, pois esta não estava mais "normal".
Suava frio e tremia demais. Não encarava Lefi, e seu olhar estava decididamente muito estranho. Normalmente os olhos da Siih eram castanho-escuros, mas naquela hora adquiriam uma coloração avermelhada muito estranha.
- Perceba... Renegada era uma espiã - disse Siih em uma voz rouca bastante estranha - ela não contou, mas eu percebo. Ela teve algum motivo para se encontrar Raveneh no meio da estrada, ela tinha uma ligação com o Rei muito íntima... Renegada está decidida a ferrar o Rei, vejo pelo olhar. Ela não tem mais medo, como antes. E logo, logo as pessoas das Campinas se perguntarão se há outro espião... Afinal, a história - Siih ofegou - sempre pode se repetir... Quais os mistérios que cada um envolve? Cada pessoa ali tem uma história, e nem todas tiveram um passado feliz, Lefi. Nem todas. Uma vez eu vi Raveneh, muito de relance, quando ela veio para cá para fazer terapia. O seu jeito, o seu olhar. Raveneh tem um passado sombrio...
- Não se pode escapar que Renegada era espião. Eu sei que não há nenhum espião, somente seres com passados que devem ser esquecidos tamanho o horror que encerram. Mas as pessoas das Campinas não sabem disso, não sabem dos outros direito...
- Siih, você não está falando coisa com coisa, precisa dormir - insistiu Lefi assustado com as coisas que Siih falava uma atrás da outra.
- Não consigo dormir.
Siih já não suava nem ofegava mais. Não tinha mais o olhar estranho e somente deu um fraco sorriso.
- Não?
- Toda vez que fecho os olhos, tenho a impressão que alguém me vigia - contou Siih - dessa forma, não consigo dormir.
- É um pesadelo típico de febre - afirmou Lefi - tome um remédio, eu vou pedir para a criada.
- Não precisa... - disse Siih - somente... somente deixe a janela aberta e...
- A janela aberta, irmã? - indagou Lefi - mas assim os seres alados poderão entrar...
- Que entrem - Siih estava bastante calma - e deixe, por favor, aquela caixinha de música aberta. Ela me tranquiliza bastante.
- Está bem. Mas pelo menos feche as cortinas?
- Não, desejo ver a lua - Siih sorriu - ela está cheia hoje.
- Está bem, minha irmã - concordou Lefi - por favor, melhore.
Siih somente sorriu.

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