- Iuihuu!! - exclamou uma Raveneh radiante, diante de Johnny que lia o jornal do dia.
- Raveneh? - disse Johnny surpreso.
A Raveneh rodopiou contente, mostrando as longas madeixas loiras. É, Raveneh tirara a tinta negra.
- Voltou a ser loira? - riu Johnny - ficou mais linda ainda!
- Ah... ser morena me fazia lembrar Catherine - disse Raveneh com tristeza - era só nela em que eu pensava. Sabe, nós somos parecidas em boca, olhos, essas coisas.
- Wow... - fez Johnny - é um motivo válido.
- Oh sim! - Raveneh rodopiou mais uma vez - eu amo ser loira!
Johnny sorriu, e logo lembrou:
- Não é a hora da terapia?
- Hmmm - fez Raveneh - preciso mesmo ir?
- Você precisa de tratamento, Raveneh - observou Johnny.
- Mas eu já superei! - insistiu Raveneh - com uma consulta, mas já superei. E...
Raveneh suspirou.
- É por causa da Catherine, não é? - indagou.
- Ca... o quê?
- Catherine, minha irmã. Eu falo demais sobre ela...
- Não é por isso - Johnny disse - por favor, vá.
Raveneh assumiu um aspecto triste, e olhando vagamente para o céu, disse:
- Está bem, Johnny. Não é tão ruim passar uma hora por semana com a Gika, afinal das contas.
Johnny sorriu, e erguendo o rosto, beijou Raveneh na testa suavemente.
Raveneh levantou o rosto, com o olhar sombrio e uma voz séria:
- Sabe, Johnny - disse Raveneh - eu odeio a Catherine. Será que tal ódio foi o que fez fazer-la surgir dentro de mim?
- Hã?
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- Já se passaram muitos dias - disse Lala - e não descobrimos muitas coisas interessantes. Vocês só sabem me enrolar.
O Rei riu.
- Lala - suspirou Renegada - eu tive o filho com o Rei, que é o Arthur, e eu desejo ver-lo, ao menos.
- Renegada - disse Lala ignorando a afirmação da Mycil - você é uma fada das trevas. Estou correta, não?
- Sim, em absoluto - confirmou Renegada.
- Por que não utiliza de seus poderes para livrar-se da prisão? Você não me parece uma iniciante, muito pelo contrário - indagou Lala.
- Porque - Renegada baixou o olhar, triste - quando se perde a liberdade, seus poderes se vão e só restam os mais inúteis.
- Só por isso? - disse Lala.
- Só? Bem, também foi porque eu desejei que tudo fosse esclarecido, e também... - Renegada levantou o olhar com um sorriso bastante sinistro - eu acabei por deixar o ódio tomar meu coração...
Lala se assustou com a última afirmação, mas não demonstrou tal surpresa. Somente ficou séria, e perguntou:
- Por que Arthur veio a cair nas mãos do Rei?
Renegada mordeu o lábio inferior, o Rei riu.
- Bem - disse o Rei - digamos que Kycci foi capturada.
- Por quem? - Lala anotava tudo, mesmo que o pássaro gravasse tudo em sua mente.
- Pelos nortistas - disse Renegada - fui tida como uma traidora. Há dez anos, fui ser empregada na Conferência servindo aos nortistas, envolvi-me com o Calvin, enfim, o que você já sabe. Quando eu engravidei, Calvin disse para eu voltar a minha terra. Ele renegou a mim e ao filho. Isso você já sabe também.
- Sim, mas eu quero saber... por que foi capturada?
- Insisti e preferi ficar morar no reino de Heppaceneoh. E foi justamente na Ofensiva Sexta, a sexta vez que os nortistas tentaram tomar o reino. Estava grávida de sete meses - Renegada suspirou - sabe, e eu tinha que aturar aquele castelo cheio de festas, luzes, o escambau. Ainda por cima, quando estava grávida, o Calvin casou-se com aquela vagabunda da Seelie.
- Hey, a Seelie não é uma vagabunda! - protestou o Rei - aliás...
- Aquela mulherzinha não era vagabunda? - Renegada riu sarcasticamente - ah, você me faz rir! Seelie era uma vadia completa, só você que não viu. Ainda bem que morreu tão logo que casou. Mas uma vez corno, corno para sempre - gargalhou de uma forma desagrável que fez Lala se arrepiar toda.
O Rei mordeu o lábio inferior, furioso.
- Quando eu tive Arthur, foi no dia em que os nortistas tentaram invadir a cidade - contou Renegada - lembro muito bem, como se fosse ontem. Era noite, e eu estava sozinha. Da minha janela, dava-se para ver as luzes do castelo a brilhar. Lá dentro eu podia imaginar Calvin e Seelie, e eu me roía por dentro com isso. Eu não podia chegar ao castelo e dizer que eu estava grávida dele na frente de todos, senão meu pescoço iria rolar. Sabe, Calvin sabe enganar uma mulher muito bem. Ele não nutre sentimentos por ninguém, ele finge, engana, trapaceia. É uma coisa triste de se ver.
- Nesta noite, deitei-me na cama e senti as contrações. Foi a maior dor que eu senti na minha vida, e foi ainda mais dolorosa o fato de eu estar completamente sozinha. Lynda, antes de eu partir, disse para mim que estaria sempre comigo, não importando a situação. As fadas, de modo geral, podem manter contato mental uma com a outra. Acho que foi somente isso que me salvou naquela noite: Lynda se comunicar comigo, mesmo estando muito longe. Banhei-me, e lavei o Arthur com imenso carinho. Era meu filho. Somente meu. A esta hora, os nortistas foram derrotados na primeira batalha. No dia seguinte, visitei o Rei para parabenizar-lo pela vitória na primeira batalha, como muitos cidadãos fazem. A Rainha Seelie recebeu-me bem, mas ela nunca gostou de mim e sempre suspeitou das minhas reais intenções. Apresentei-me ao Rei, e apresentei-lhe também o Arthur. Foi o maior erro que cometi. Logo ele começou com uma conversa mole de que eu tinha que dar o filho para ele, coisa que recusei. Ele não falou nada. Voltei para a casa, e continuei a criar meu filho. Enquanto isso a guerra acontecia. Foi um ano e meio de guerra, devo dizer. Já estávamos no meio, e os dois lados estavam cansados, exaustos. Nessa época que o Rei resolveu contar com a ajuda das Campinas e das Fadas. Quando meu bebê tinha dois meses de vida, vi as fadas marchando vigorosamente nas ruas. Pressenti que algo de grandioso iria acontecer. Também vi as pessoas das Campinas. Eram sorridentes, felizes. Ah, como eu as invejei naquele momento. Eu poderia chegar com o bebê lá, eram tão receptivos!
- Aos três meses, as fadas começaram a vencer os nortistas e resolvi me apresentar de novo ao Rei. Ele continuou com a mesma proposta, e disse que a Seelie não conseguia engravidar sem abortar. Dizia que ela era estéril. Maldita, tenho certeza de que ela abortava de propósito. Quando as fadas conseguiram matar a maior parte dos nortistas, Seelie ficou grávida novamente. E quando ela completou dois meses de gravidez, uns nortistas penetraram o castelo e mataram quase todos os empregados. Sequestraram a rainha Seelie e disseram que se não entregasse as minas de Ockötti, eles iriam matar a Rainha. Seelie passou quatro semanas com os nortistas, mantida em cativeiro.
Renegada silenciou, cansada de tanto falar. O Rei então passou a continuar a história que Renegada contava:
- Fiz um trato com as fadas para que salvassem o meu reino. Almejava na época tomar as Campinas, mas agora precisava do apoio daquele povo. As fadas concordaram em me ajudar e em não me machucarem, contanto que eu não machucasse ninguém sob a proteção das fadas ou do povo das Campinas. Elas conseguiram descobrir onde a Seelie estava presa, e mataram todos os nortistas em volta. Mas quando chegaram, Seelie estava muito fraca e sangrando. Lembro até hoje... foi terrível. Ela tentava respirar, seu vestido estava todo rasgado, e vários cortes que não se fechavam. Uma das fadas disse que ela teve sorte, pois normalmente os nortistas costumam decepar partes do corpo, coisa que não ocorrera com Seelie. Claro, ela abortara. Um corte profundo ferira-lhe o ventre, e ela já não podia sequer engravidar. A ferida se infeccionou. Ela caiu morta uma semana após o resgate, e nada pude fazer para salvar-la. As fadas fizeram um ataque surpresa, e derrotaram os nortistas de vez. No funeral da Seelie, Kycci veio me dar os pêsames e lhe pedir mais uma vez que me entregasse Arthur...
- Mandou - rosnou Renegada virando a cara para o outro.
- Não me interrompa, senhorita - rosnou o Rei - ok, eu mandei. Ela se recusou a entregar o bebê. Porém ela acabara se envolvendo no submundo, onde rola muitos crimes. Havia, na época, um Sir Mük que era um cafetão e traficante de drogas ilegais. Kycci ajudou várias prostitutas a fugirem e conseguiu saber demais, causando prejuízo ao negócio do Sir Mük, e ela acabou sendo sequestrada e Arthur feito de refém.
- Não sabia o que fazer - continuou Renegada - não sabia que tempo havia passado desde que eu fora sequestrada, eu já estava em carne viva de tanto que eles me machucaram. E eu não sabia o que estavam fazendo com o meu filho... foi nessa época que Arthur ganhou a maior parte da proteção dele. Quando uma fada é mãe, ela não sabe os limites. Ela enlouquece caso o filho esteja em perigo, e muito provavelmente abrirá mão dos seus poderes para proteger o filho. Foi o que eu fiz. Eu sabia que Arthur estava vivo, só não sabia se ele estava bem. De modo que cedi os meus poderes para meu filho, e fiz com que ele suportasse. E quando já estava fraca, consegui fazer que um pássaro contasse o que ocorrera para o Rei.
- Assim - disse o Rei muito sério - eu soube do sequestro. De modo que mandei tropas escondidas. Renegada me dissera pelo pássaro onde o bebê estava, ela sabia, só não tinha forças para resgatar-lo. Consegui resgatar o bebê, e matei pessoalmente todos aqueles que "brincavam" com Arthur. Agradeci por Kycci ter cedido seus poderes para Arthur, senão ele não teria sobrevivido a aquela tortura. Não fora machucado, nem nada. Mas o terror daqueles homens, os gritos, os 'bilu-bilus' maldosos... Arthur tem pesadelos até hoje por causa disso.
Renegada respirou fundo mais uma vez e continuou:
- O Sir Mük irrompeu no meu 'quarto' e me xingou de 'vadia' e outras coisas mais. Estendia uma faca, e já ia me matar. Normalmente fadas não morrem com uma facada, mas eu já estava tão fraca e sem meus poderes que eu morreria ali mesmo. Nessa hora o Rei o matou e me resgatou. Fui levada até o castelo, e consegui me recuperar bem, conseguindo até mesmo alguns dos poderes de volta. Mas Arthur ficaria para sempre protegido magicamente por mim. Calvin, disse, então que eu estava devendo a ele. "Nojento!" eu disse "você está me chantageando?". "Chantageando?" ele disse "não, não seria isso. Só digo que você deveria dar o seu filho para eu criar-lo. Mas você poderia viver aqui se quiser". Então, por "gratidão", aceitei a proposta. Entreguei Arthur, contanto que ele me mantivesse no castelo, por perto. Mas as coisas começaram a ficar perigosas...
Lala ficou em silêncio, anotando tudo o que ouvira.
Estava ainda na parte das causas dos problemas, agora precisava chegar quando chegaram as consequências.
N/A: a partir de agora, finalmente a historinha vai entrar na reta final. (:
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