- Ah - Raveneh ofegava. Havia passado duas horas desde que as amigas haviam a deixado sozinha. Haviam dito para ela ficar tranquila e não se debater, que tudo ia ficar bem - Ah (como posso ficar tranquila?) Ah (como?) - as contrações passaram a ser de dez em dez minutos.
Chegou um homem. Ele estava alto, de jaleco branco, o rosto oculto sob uma máscara também branca. Seu cabelo era grisalho e seu olhar não era nem um pouco confortável. Raveneh gelou.
- Vai ficar tudo bem - disse o homem.
Levantou-se tonta, aceitando ser levada. Viu que havia uma mulher do lado de fora. Ergueu a face, eram dois olhos doces. Kitsune!
Ela havia oculto a face debaixo da máscara, e penteara o cabelo de um jeito estranhissímo, mas Raveneh pôde reconhece-la. Sorriu aliviada.
- Doutor - disse Kitsune - não é perigoso um parto de oito meses?
- Ela é metade fada, Patty - explicou o médico - não tem perigo, as fadas podem parir aos oito meses tranquilamente.
- Ah - Kitsune sorriu para Raveneh como que dizendo "vai ficar tudo bem". Raveneh concordou com um aceno de cabeça e andou, as contrações vindo a cada dez minutos.
- Ah - ofegava - Ah - Ah.
Raveneh estava tonta demais, trocando os pés, o corpo pesado. O intervalo diminuiu: cinco minutos. Ainda bem que já estava no quarto, a roupa sendo tirada de baixo sendo retirada às pressas, o vestido mantido. Doía, porque doía?
Conseguiu escutar a voz de Johnny sendo sussurrada no seu ouvido lhe dizendo que tudo ia ficar bem, que não se preocupasse, que as coisas iam melhorar. Conseguiu ver os olhos de Tatiih a lhe tranquilizarem. Conseguiu sentir as mãos de Kitsune apoiando sua cabeça. E alguém, provavelmente o médico, segurava as pernas.
Força, Raveneh
Ofegou. Tentou mais uma vez, empurrando o bebê com força.
Sentiu algo molhar suas pernas.
Vai, vai
Estava doendo demais.
Céus, porque dói tanto?
E essa coisa que me molha?...
Tentou mais uma, forçou de novo, o bebê colaborando com a sua força, se empurrado e sendo empurrado. Nunca sentira dor igual, nunca, nunca.
Era uma dor praticamente indescritível (por isso não tentaria descrever mais aqui, será impossível). Raveneh ofegou.
- Você consegue, Raveneh... você consegue... - de quem era a voz? Johnny? Tatiih? Kitsune? de ela própria? De Catherine?
Sentiu como se conseguisse se apoiar em algo. Não era a cama ou as mãos dos "médicos" (já que eram amigos disfarçados, na verdade), era como se fosse uma alma a lhe segurar.
Catherine.
- ooh - murmurou feliz - está aqui comigo.
Sim, porque agora Raveneh não conseguia viver sem Catherine e vice-versa. E agora podia partilhar seu sofrimento com a outra face de forma completa, integral. Assim não sentiria tanto a dor. E o sangue, o sangue nas pernas, sentia agora o cheiro...
- Você consegue, Raveneh.
Respirou fundo antes de tomar fôlego. O cheiro de sangue a deixava nauseada.
Vai...
- Você consegue! - era a voz de Catherine, a voz que lhe acolhera nos dias e noites mais difíceis.
Viu um sorriso no rosto de alguém que não conseguia identificar.
- A cabeça! A cabeça! - exclamou alguém.
Raveneh nem sentira, só um alívio imediato que não identificara e atribuira a Catherine lhe ajudando...
Sorriu, erguendo o rosto para o céu. Estava difícil, mordeu o pano na boca com toda a força (antigamente - e ainda hoje, sei lá - punham panos na boca quando uma mulher estava em trabalho de parto, assim os gritos seriam abafados. Não sei qual é a explicação exata).
Estava completamente molhada de suor.
Vá logo!
Rezou quase em silêncio, uma oração perdida nas lembranças da infância, ela que nem religião ou deus tinha. A que deus servia? Não sabia mais, só sabia que rezava sem freios, rezava como se o mundo fosse acabar, como se todas as forças existentes se reunissem naquele ventre que tentava empurrar o bebê.
- Está vindo! Ombros! Ombros! - alguém gritou, perdido em extâse.
Raveneh cuspiu o pano, os dentes se chocaram com força e reuniu tudo o que tinha: esperanças, frustrações, sonhos, forças, alegrias e bateu tudo em um liquidificador mental, concentrando tudo no ventre. E de imediato o bebê saiu.
Ficou tonta, amolecida pelo cansaço e alívio.
Viu os rostos felizes, contentes: o bebê era saudável.
Olhou para o teto, escutou o choro tão esperado. Nunca se sentira tão feliz.
- Deixe-me - ouviu Johnny pedir - permita que a mãe segure-o por uns momentos.
O médico não era uma pessoa cruel nem insensível, então não teve problemas em permitir.
- Aqui - Raveneh viu Johnny dizer, bem pertinho - é uma menina, mamãe.
Raveneh se debulhou em lágrimas, de tão feliz que estava. Sentiu o corpo quente, pequeno do bebê. Era uma linda menininha, já tinha o corpo limpo.
Deu de amamentar, feliz, a menininha guti-guti lá feliz da vida.
- Meu bebê... - riu - ela é a nossa menininha, Johnny. Ela é a nossa menininha.
Johnny sorriu.
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- Crazy - era o mesmo homem dos malditos recados - Crazy.
- Argh - Crazy resmungou - de novo. Sabe que tenho vontade de fatiar você em mil partes e dar para o cachorro mais pulguento que encontrar,
certo?
- Ah, certo - o homem sorriu mostrando seus dentes brancos e tortos - só vim lhe avisar que a mulher foi enviada para lhe ajudar.
- Aquela oferecida da Zidaly? - Crazy riu - aquela lá mais diz "eu te amo" que trabalha!
O homem riu, zombeteiro.
- Bem, o chefe mandou você trabalhou com a Zidinha - disse - então vá trabalhar.
- "Zidinha"? - Crazy teve que fazer muita força para não cair na gargalhada - "Zidinha"? Quantas noites ela teve que encarar com você para ser chamada de "Zidinha"? Duas? Cinco? Dez--
- Cala a boca e vá trabalhar!
- Ah-Ah - resmungou Crazy - Ah-Ah! "Vá trabalhar!" Quem tem que mandar trabalhar sou eu, vagabundo! Vá trabalhar em vez de se engraçar com uma moçoila incompetente!
O homem fechou a cara, ao que Crazy riu - magoou, foi?
- Vou virar hippie - resmungou o homem - vou virar emo, vou processar você, vou convocar o sindicato de escurraçados :K vou-me embora daqui.
- É uma decisão muito sábia - Crazy alfinetou mais ainda - e nem precisa voltar!
- Gruuuumpf :K
O homem deu as costas e foi embora, elaborando planos malignos para matar o chefe. Algo envolvendo pauladas na cabeça e sadomasoquismo O.o
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Ophelia resolvera, de uma hora pra outra, viajar para alguns reinos pequenos lá longe. Lala a acompanhara, sendo encantada por Ophelia para conseguir voar (já que Lala não sabia e Ophelia achava isso um absurdo).
- O que fará?
- Veja só... - Ophelia sorriu. Não voava em vassouras, somente trazia Lala nas costas e levitava no ar como se estivesse dando saltos e deslizando entre as nuvens feito uma dessas fadas de contos de fada.
Ophelia pousou em um reino estranho, com montanhas repletas de neve no topo e um céu meio arroxeado, em nuances de lilás. Estavam cercadas de árvores altas, com copas pequenas, folhas minúsculas, amareladas. Lala olhou em volta: não havia uma casa, fumaça de chaminé, castelo, nenhum sinal de existência. Nem mesmo pegadas: era um lugar lindo onde parecia não ter vida.
- Lala - murmurou Ophelia a conduzindo pela estranha floresta - existe uma coisa que você deve aprender.
- Sim? - Lala já estava acostumada com os "você tem que aprender" de Ophelia, quando aprendia várias coisas diferentes que realmente a ajudavam, mas desta vez Ophelia estava com o semblante mais sério que o comum. A conduziu meio que flutuando, correndo, atravessando as árvores, tão veloz que Lala mal conseguia visualizar as árvores direito.
Chegaram em um barranco, abaixo umas casinhas enfileiradas. Eram de madeira, acabadas: deviam ser quantas? Vinte, cinquenta casas? Não sabia definir. Eram barracos miseráveis, onde pessoas de pele seca e enrugada ficavam na frente, comendo a poeira. Lala sentiu aperto ao ver aquelas casas tão miseráveis, em um deserto de areia com um céu lilás, as pessoas tão definhadas, aquelas crianças caladas, os homens rabugentos, as mulheres pálidas. Era um cenário tão triste que Lala quis recuar.
- Não.
Foi a voz de Ophelia, grave e séria. Então Ophelia resolvera agir em prol dos desajustados dos reinos das fadas? Seria a Musa da Caridade? Isso não combinava com ela... de jeito nenhum Lala imaginaria Ophelia ajudando pessoas.
- Venha agora - Ophelia chamou - eu não mostrei essa vila para você para ver o que as fadas estão fazendo. Eu mostrei para você ver o primeiro passo do meu plano... as fadas fizeram um vasto império durante muitos anos. Para tanto, subjugou vários povos. Ninguém se rebelou porque... quem tem força para vencer? Mas agora é diferente. Vou precisar que esses reinos derrotados me apóiem e que me reconheçam como a Rainha do Novo Mundo. Está entendendo aonde quero chegar?
Lala levantou as sobrancelhas, a voz carregada de ironia, um dos cantos do lábio se erguendo:
- E você como boa santa, vai mandar os seus amiguinhos para convocar todo mundo?
Ophelia sorriu, olhando para o céu lilás:
- Sabe, só vence no jogo quem manipula. E sabe, minha querida Lala, é muito importante semear o caos...®
Lala ficou calada, fitando o céu lilás quase azul, seus olhos pensativos.
Nota de Autora: O "®" deve-se que a frase 'é muito importante semear o caos' não é minha. É de Umrae, minha amiga³, portanto não a considere obra minha =)
2 comentários:
Umrae disfarçada.
É "O importante é semear o caos... Sempre!"
Mas ainda bem que saiu errado mesmo, senão eu teria que processar a Ophélia. Ela não é da Aliança, portanto não tem direito a usar nosso bordão. XD
Hahahahaha!!!
Rolei de rir!
Luna, tô viciada, por favor, não seja uma Rata da vida e estacione no sexto capítulo (cofcof)
;**
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