- Não é muito grande mas acho que deve dar - disse Amai.
- Não, é ótimo - disse Raveneh sentando-se no sofá. Ficou instantaneamente tonta, mas logo se recuperou. Cuidar de um bebê estava ficando difícil e pesado, apesar de adorar a sensação de ter uma vida no ventre. Mas agora se preocupava em dobro com a própria segurança, e não gostava da sensação de ter mais alguém que tinha que proteger a qualquer custo. Era estranho.
Johnny resmungou qualquer coisa.
Já estava ficando tarde: nem repararam que o pequeno passeio no leito do rio tomou tanto tempo. Mas ninguém se incomodou: era como um pouco de paz no meio da turbulência.
Todos estavam sentados ou em sofá ou no chão, em meio a inúmeras almofadas de formato meio oriental, coloridas, repletas de estampas. O passeio foi agradável, comeram bastante e estavam sonolentos.
- Está preparada, Raveneh?
Raveneh estava no colo de Johnny, e respondeu com a voz sonolenta:
- Sim...
- Eu também - Rafitcha murmurou.
Amai olhou para o teto:
- Não sei o que vocês pensam, mas estamos ferrados.
- Sim - Kitsune concordou - pelo menos sabem as estradas de emergência? Para o caso de fuga.
Ninguém neeeeeem tchum. Estavam todos quase dormindo, e foi o que fizeram: dormir a sono solto.
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- Ah-Ah - Nath resmungou - seu remédio.
- Ai Ai - Kibii disse - a Musa TPM chegou. Bye bye, Umrae, eu volto logo =D
- Oks - Umrae disse.
- Depois de amanhã você vai estar bem, Umrae - disse Nath quando a porta atrás de si bateu - eu prometo.
Umrae bebeu o remédio amargo, o remédio de todos os dias. Yohana entrou no quarto, apressada, o rosto suado.
- Tola! - Nath repreendeu a garota - é pra chegar na hora!
- Eu só cheguei dez minutos atrasa--
- Não perdoarei mais um atraso - cortou Nath - vem, eu vou te ensinar a fabricar alguns remédios.
Umrae franziu as sobrancelhas, intrigada.
- Yohana decidiu ser minha aprendiz - explicou Nath - enquanto ela não volta a cantar.
- Por que está deixando de cantar? - Umrae perguntou, olhando nos olhos de Yohana: os olhos amáveis (N.A.: quanta gente nessa história tem olhos amáveis ¬¬) e a expressão de boneca.
- Sei lá, cansei. Era muito cansativo... A empresária que marcou a minha turnê está louca da vida comigo...
- Quem é ela?
Nath se enfiara no quartinho dela, arrumando as coisas.
- Vê G. - Yohana respondeu - ela trabalhou com a Rainha Siih!
- Vê G...? - Umrae sorriu timidamente - eu não sabia que ela trabalhava como empresária também... Também não vou há tempos para o Mundo das Fadas...
Vê G. não era apenas uma empresária, ex-serva da Rainha. Também fazia negócios ilícitos debaixo dos panos, negociando ervas proibidas e poções tão venenosas que foram abolidas de todas as colônias mágicas, com exceção de algumas. Ela também manda em um negócio altamente poderoso que vende a mimatta mais forte que já se ouviu falar, chamada de "ikuppa". Esta também é proibida em vários países, inclusive nos nã0-mágicos. Ou seja, Vê G. era a Rainha do Mundo dos Crimes: todos a conhecem, porém poucos sabem a sua verdadeira identidade. Umrae, entre outras pessoas como Kibii e Maria, sabem que a Vê G. é a mesma que coordena o submundo cinicamente. Não me perguntem como elas sabem, eu sou somente narradora: isso é um mistério. E depois as Campinas não estão sob jurisdição de nenhum país, portanto caso Vê contrabandeie alguma erva proibida para as Campinas, as Fadas não poderão buscá-la.
- YOHANA! O que pensa que está fazendo conversando de papo pro ar com Umrae?
Yohana suspirou e se retirou, deixando Umrae sozinha.
Umrae suspirou também.
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A noite veio. Sim, um dia veio e se foi sem nenhuma novidade surpreendente. Raveneh acordou. A barriga se mexeu. Alguém batia na porta.
Levantou-se devagar para não acordar ninguém, abriu a porta. Tal foi a sua surpresa que era Jorge.
- De novo? - abaixou o tom de voz, quase em um sussurro.
Reparou que Jorge não trazia soldados: a casa dava direto pra rua.
Ele estava muito mais solene do que na noite anterior, o cabelo repartido para a direita, seus olhos sem emoção.
- Boa noite, Raveneh.
- Não me diga que você... - Raveneh começou, os lábios tremendo e a mão na barriga, quando Jorge interrompeu:
- Não. Só vim anunciar que o julgamento foi anunciado. Vai ser amanhã.
Raveneh simplesmente ficou parada, tentando absorver a notícia.
- Às oito da manhã - continuou Jorge - no Fórum...
- Ah. Tá.
Raveneh já ia fechando a porta, quando Jorge a parou:
- Eu devo dizer que... - hesitou - o acontecimento de ontem foi relatado e está sendo usado contra você.
Raveneh fechou os olhos. Não se preocupava nem um pouco.
- Err - Raveneh começou - como descobriu que estávamos aqui?
- Foi fácil - Jorge sorriu, aquele sorriso frio que gelava a alma - foi fácil demais. Vocês nem se preocupam em estarem seguros, né?
E deu as costas. Raveneh fechou a porta delicadamente, sem nenhuma raiva ou rancor. Só... só estava imersa em apatia.
- Raveneh?
Ela estava sentada no chão, encostada na porta. Os olhos fechados, o nariz inflando e desinflando a todo momento, tentando não chorar. Ergueu os olhos, tentando descobrir quem a chamara.
- Bia?
Bia sorriu.
- Ora ora - disse - você está acordada.
Seus olhos eram profundos. Raveneh nunca diria que são olhos "amáveis"... pareciam olhos de uma alma ferida.
- Sim... acordei agora - Raveneh respondeu. Mordeu o lábio inferior, receosa: - Jorge veio aqui.
Bia não se alarmou nem nada como Johnny faria. Somente ergueu as sobrancelhas e perguntou:
- O que ele queria?
Bia se sentou ao seu lado, agora calada.
- O julgamento foi adiado - informou Raveneh, engolindo o choro - vai ser amanhã.
- Vai dar tudo certo - Bia disse - vai dar tudo certo.
- Quem sabe... - Raveneh sorriu - talvez daqui a uma semana, eu seja considerada inocente. Quem sabe eu esteja livre em breve!
Bia sorriu.
- É, quem sabe - disse, com um longo suspiro.
Mas parecia não ter convicção do que dizia. E Raveneh sentiu isso.
Raficha acordou, encontrando uma Raveneh sonolenta no ombro da Bia acordada. Sorriu.
- Ela está dormindo - Bia sussurrou a verdade óbvia - não acorde.
- Está bem - Rafitcha cochichou - está tudo bem?
- Jorge veio - Bia contou, seus olhos demonstrando preocupação - o julgamento vai ser amanhã.
Rafitcha gelou.
- Que horas? - Raficha perguntou.
- Não sei, ela não falou - Bia disse, com um suspiro.
Rafitcha desabou no sofá, preocupada. Era madrugada, tinha perdido o sono. A escuridão lhe parecia confortável, todos em silêncio absoluto e Bia velando o sono de Raveneh.
- Ah droga - murmurava Rafitcha em um fio de voz - aiquedroga. Jorge não podia ter feito isso, como adia um julgamento assim sem mais nem menos?
Bia não disse nada.
- Drogamaselevaisevercomigo - os dentes de Rafitcha cerravam, os olhos furiosos.
Se trancou na cozinha, acendeu uma vela e começou a reler todo o processo.
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- Onde estou?
A voz de Ophelia estava tonta.
- Perto de algum rio - Lala respondeu - você bebeu muito, Ophelia.
- Ah - Ophelia pôs a mão na cabeça, fazendo uma careta de dor - é. Eu vomitei ou fiz alguma besteira?
- Não, só falou do seu vizinho-namorado - Lala sorriu - nada de grave.
- Ah.
Ophelia olhou para o céu, os seus olhos pensativos, se perdendo em pensamentos.
- Vai ser quando?
A pergunta parecia um eco.
- O quê?
Ophelia fechou os olhos, meio tonta.
- O ínicio de tudo...
Lala dissera deixando o final vago, ao que Ophelia sorriu.
- Sim... logo, logo vai começar.
O céu estava perfeitamente estrelado, as nuvens não existiam e a lua estava ali, serena assistindo uma rainha meio tonta com a bebida. A Rainha do Novo Mundo.
Como era triste a vida.
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Nova reunião. Nova idéia.
Mas dessa vez era entre as Musas e Lefi.
- Sua irmã sabe que chamou a gente?
- Não - respondeu Lefi apreensivo.
- E você sabe - perguntou a Musa dos cabelos de fogo - que os humanos feito vocês prometeram não recorrer mais a nós?
- Sim - admitiu Lefi - mas você precisa compreender! Ophelia vai atacar!
- Mas sua irmã, a Majestade, não admite que peça a ajuda de nós! - gritou uma das Musas, a com ar mais angelical - o que está fazendo, contrariando a sua irmã?
Era uma reunião incômoda, Lefi acompanhado das fiéis servas, a Libby e a Alicia, ambas caladas e seus ares serenos. E Lefi sabia que quando elas estavam sozinhas, tinham uma aparência perfeitamente humana. Mas agora pareciam que tinha algo de mágico e diabólico em seus olhares. A tal da Louise, por exemplo, seus cabelos eram para estarem normais. Mas agora pareciam feitos de fogo, até mesmo o seu olhar parecia chamuscado. Lefi sentia medo.
- Ai que tolinho - Alice riu - abriu mão do orgulho para nós... Bem, você quer que a gente detenha Ophelia.
- Sim - Lefi concordou.
- Que a gente dê a vida por isso - retrucou Miih.
- Não. Vocês vão sobreviver - Lefi lembrou.
- Ah! Ela é muito poderosa - Catherine disse. Seus cabelos eram esverdeados, os olhos impassíveis - como podemos detê-la?
- Nem unidas, vocês conseguem? - perguntou Lefi.
- Só desgastar Ophelia uns 70% em luta e com todas vivas - respondeu Loveh com exatidão - cada uma de nós tem somente um atributo superior a Ophelia.
- Atributos? E o que seria? - Lefi continuava interrogando, curioso e ávido para que a irmã aceitasse a ajuda.
- Força, velocidade, reflexo, regeneração, essas coisas - disse Alice - para derrotarmos Ophelia... precisariamos atacar de surpresa.
- Mas o reflexo dela é excelente - murmurou Elyon meio abatida.
- As Campinas estão se organizando para derrota-la - disse Lefi em um tom baixo.
As Musas riram.
- Então aqueles humanos e elfos querem derrotar Ophelia? - zombou Miih - jamais conseguirão!
- Sinto muito, mas tenho que concordar! - Loveh ria, seus olhos brilhando - qual é a estratégia?
- A estratégia é simplesmente sobreviver.
Catherine rira, mas agora parara. Ela olhava a tudo muito vagamente.
- Eles não querem derrotar Ophelia - continuou - eles só querem sobreviver sem se submeterem a alguma cidade ou pessoa novamente.
- Então podem ter um pouco mais de sucesso - afirmou Elyon.
As outras concordaram.
- Mas enfim... vocês vão ajudar? - Lefi perguntou.
- Deixem-nos ter uma conversa em particular - Miih falou, antes que qualquer uma dissesse algo.
Lefi concordou, e fez uma reverência sendo acompanhado por Libby e Alicia, se retirando da sala.
As sete Musas estavam sozinhas.
- E aí? - Sunny perguntou - quem apóia?
- Eu quero me vingar da Ophelia - Elyon murmurou mais para si mesma do que para as "companheiras" - eu treinei sem cansar durante os últimos anos para isso.
- Estou mudando de opinião - admitiu Miih - Ophelia está sendo um estorvo. Não aguento mais conseguir sentir a energia dela a todo instante, parece que cresce a
todo instante.
- O que Ophelia está esperando para atacar? - Sunny perguntou.
- Não está óbvio? Não sentiram? - Catherine indagou - ela está juntando um exército. Uma tropa de demônios que almejam voltar à tona depois de quase serem
sido esmagados por caçadores. Eu senti uma desses demônios desgraçados na água...
- Ela está certa - murmurou Loveh - tem cada vez mais aves voando, e isso se deve ao surgimento de alguma besta voadora...
- Então ela pretende nos derrotar primeiro - raciocinou Miih - a gente iria se ocupar com os demônios, aí ela aparece e aproveita o nosso cansaço para nos
destruir. É um plano bem simples, mas engenhoso... O que podemos fazer para contraatacar? Uma tropa de demônios está longe de cogitação, a essa hora ela já
convocou tudo. Mas é bem esperta essa garota...
- E estávamos tão distraídas, nem percebemos - lamenta Catherine.
Elyon respirava fundo, raciocinando em segredo. Sua mente funcionava feito uma máquina perfeita, feito matemática que é absolutamente detestável para gente
como eu, a pobre narradora que não lembra o que é passar em matemática, mas absolutamente adorável para Elyon. E para Miih também.
- Não adianta lamentar - Miih murmurou - fomos tolas, mas não daremos a Ophelia o conhecimento que "adivinhamos" tudo.
- Ok - começou Loveh - então aceitamos o pedido. Sabe, é melhor aceitarmos, destruirmos logo a Ophelia.
- Eu voto por aceitar - disse Catherine.
- Eu também - Sunny murmurou.
Miih se rendeu:
- Conte comigo.
- Eu quero vingar Olga - Elyon disse sombria.
- Eu também - Alice disse, mordendo o lábio inferior.
- Eu aceito - Louise foi a última a aceitar, resignada. Estava habituada demais ao conforto de viver perto do fogo.
- Então vamos lá - Loveh sorriu.
- Aceitaram. Aceitaram, oh meu Deus, adoradas Deusas, elas aceitaram! - festejou Lefi - as Musas aceitaram, eu não posso acreditar!!
Alicia e Libby sorriram diante da notícia. Agora tinham alguma esperança de acabarem vivas no fim da guerra.
Sim, por que uma guerra só é uma guerra se ambos os lados estiverem preparados. Agora que as fadas resolveram preparar algo especial, agora sim era uma guerra.
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