domingo, 4 de maio de 2008

Parte 26 - É estranho chorar - Homenagem à Renegada (O Último Capítulo. Emo. Portanto é o fim da saga emo mega-depressivo, oks?)

Clique aquiagora e deixe baixando. Quando começar a falar de Catherine, você dá 'play' e começa a ouvir, lendo. Oks? Obrigada. Ah, sim, é pra OUVIR a música. Você não precisa ter assistido a série em questão, eu também não assisti :P

Ophelia respirou fundo. Lala caiu simplesmente morta no chão, suspirando de tanto cansaço:
- Eu não aguento mais convocar bicho feio - disse.
Ophelia riu, e atirou umas maçãs:
- Coma-as.
- De novo? - Lala reclamou. Ultimamente era só maçã de todos os tipos possíveis - não temos carne no cardápio?
- Pare de reclamar - Ophelia sorriu - logo a situação vai melhorar.
- Com certeza -.-
E comeu as maçãs, resmungando - simplesmente porque estava entediada de tanta maçã.
- Quando você acha que vai ser possível começar a destruição?
Ophelia só olhava a mação, pensativa.
- Acho tão engraçado esse povo que destrói e diz que quer um "novo mundo". Não percebem que é um truque velho e manjado... Sabe, fazem rir. Eu quero construir um mundo novo também, quem não quer? Mas um mundo em que eu seja a deusa, em que somente eu seja considerada adorada... Imagina um mundo desses?
- E como ficariam os demônios? - perguntou Lala.
- Livres - Ophelia resmungou - é o único jeito, senão não me apoiariam.
- Que apocalipse, então - Lala comeu mais um pedaço - demônios soltos são o inferno. E não acho agradável esse mundo aí... não dá pra mudar um pouco?
- Nossa, Lala, como você é reclamona - Ophelia riu - com pena das suas companheiras? Ok, eu deixo poupar as suas companheiras, as fadinhas pululantes pra lá e pra cá... elas são tão doces, coitadas, não iriam aguentar conviver comigo.
- Você é tão cruel, Ophelia.

Há apenas alguns dias, Lala ficaria calada concordando com tudo que Ophelia diria. Mas esses dias que viajaram juntas, convocando tudo que era bicho perigoso, acabaram transformando as duas em grandes amigas, do tipo que uma daria o sangue pela outra. Então Lala se permitia brincar, criticar, brigar com Ophelia: sabia que apesar de Ophelia ser do tipo impulsiva, jamais prejudicaria Lala.
Sim, a confiança tinha crescido de um modo absurdo e anormal.
Lala suspirou, fechando os olhos. Iria descansar, finalmente...

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Estava quase amanhecendo, Catherine andando nas ruas. Havia uns bêbados aqui, outros ali. Eles murmuravam obscenidades, riam quando Catherine passava, as lágrimas secas, a expressão fechada, o vestido amassado.
As estrelas brilhavam, pálidas, as nuvens se fechando. Catherine parecia andar sempre serena, mas algo no seu jeito a fazia parecer uma drogada. A sua barriga já aparente, seu cansaço e algo que ninguém conseguia definir a faziam parecer uma perfeita princesa abandonada. Acontece que Raveneh ou Catherine não abandonou ninguém, simplesmente buscaram um motivo para se vingar.

Porque voltaram? Não fora covardia e Raveneh odiava admitir isso: preferia a mentira de que era melhor acabar com isso. Mas simplesmente não queria encerrar a vingança que Catherine começou? A irmã e a mãe já foram mortas, agora não seria a vez dos irmãos? E não seria melhor começar com Jorge? Mas era tão difícil admitir isso que Raveneh preferia morrer. E Catherine não deixava.

Era tão estranho, tão irreal. E estava tão frio, o ar sempre pesado e gélido, como se fosse um sonho. O vestido parecia pesar mil toneladas, os passos pareciam se arrastar, a barriga era algo incômodo. E Raveneh queria chorar, mas Catherine não deixava. Odiava isso, odiava negar algo a outra metade, mas como podia permitir que Raveneh simplesmente chorasse? As lágrimas lhe pareciam uma maneira odiosa de lamentar a situação, quando Catherine preferia simplesmente dar umas porradas em todos os irmãos. Mas Catherine sabia que não podia, não agora: tinha uma vida a zelar, uma vida que carregava dentro do ventre. E agora, antes da adolescência, tinha gente que não queria perdê-la. Raveneh era amada pelo Johnny, Rafitcha, Fer, Kibii, Umrae, Doceh, Ly, Maria e tantos outros amigos. Agora tinha gente que cuidava de Raveneh, que se preocupava e que a amava: como podia se atirar em um suicídio sem se preocupar com elas?

Lembrou-se de Renegada. Aí sim, Catherine se sentou no meio da rua, deixando Raveneh chorar. Maldição, era tão difícil. Lembrou-se da primeira vez que a encontrou: "eu me chamo Renegada". Lembrou-se quando cantavam juntas nas estradas, sempre rindo. Era a melhor amiga que tivera. Essa sensação chegava a ser odiosa...

In my hands
A legacy of memories
I can hear you say my name
I can almost see your smile


... simplesmente porque Catherine odiava sofrer por alguém. Lembrava-se, participara junto com Raveneh, daquele vulto lhe sorrindo antes de morrer. Aquele sorriso pedindo para cuidar de Arthur, o filho que tanto amava... será que seria capaz de ir pelo mesmo destino? Era suicídio correr atrás de Jorge agora!

Feel the warmth of your embrace
But there is nothing but silence now
Around the one I loved
Is this our farewell?


Agora não dava, definitivamente agora não dava. Mas era tanta sede, era tanta vontade... Raveneh chorou mais um pouco. Fechou os olhos, tentando se lembrar das tranças da amiga, dos seus olhares tristes e compreensivos. Nunca percebera, fora retardada demais: mas agora tudo fazia sentido: a apreensão de Renegada quando Raveneh resolvera se juntar a ela nas viagens, os momentos pensativos, as suspeitas que Maria tinha sobre a garota...

Sweet darling you worry too much, my child
See the sadness in your eyes
You are not alone in life
Although you might think that you are


Foi cedo demais, foi tarde demais. Foi como um soco no estômago. Depois de tudo, depois que fora obrigada a se confrontar com Raveneh, depois que fora obrigada a admitir que cometeria crimes hediondos em nome da paz de Raveneh... Catherine passou a se odiar quando percebeu que Raveneh não queria mais se vingar, não queria mais voltar... quem estava errada agora?

Never thought
This day would come so soon
We had no time to say goodbye
How can the world just carry on?


Renegada acreditara na vingança plena. Tanto acreditara que a morte fora o destino, mas Raveneh sabia que se não fosse a morte o fim, a vingança não seria feita. Raveneh não era uma fada das trevas, Catherine muito menos: não tinha nenhum mujiid para aparecer sete dias antes de morrer. Não sabia qual dia morreria, e não tinha ninguém para lhe dizer o "certo" e o "errado". Johnny só se preocupava com a sua segurança, todos os outros também. Era tão difícil...

I feel so lost when you are not by my side
But there's nothing but silence now
Around the one I loved
Is this our farewell?


Renegada sempre vivera sozinha, mesmo nos seus dias em que amou o Rei. Sempre estava sozinha, sempre, sempre. Mesmo quando tivera seu filho, ele lhe fora arrancado. Quando chorara sozinha todas as súplicas, o mundo parecia não se apiedar. Estava sozinha, e nisso Catherine se identificava tanto! Odiava-se tanto por sofrer a morte de alguém, mesmo sabendo que por mais que Renegada não respirasse mais, ainda assim ela estava ali. Não era espiríto, não era alma ou assombração: era simplesmente o sorriso, os risos, a mesma expressão triste e consoladora. Catherine se lembrava do que Renegada falava, se lembrava de como foram amigas por tão curto tempo e com tanta intensidade. Renegada quase não conversava com os outros, quase nunca conversavam entre elas. Era tão estranho uma amizade assim, em que palavras não costumam ser ditas. Mas Raveneh tinha isso, sabia o que era isso. Sabia o que era ser a única pessoa realmente confiável em toda a vida de alguém, e ainda assim não poder saber disso.

So sorry your world is tumbling down
I will watch you through these nights
Rest your head and go to sleep


- Por quê? - não se sabia se quem perguntava era Raveneh ou Catherine.
Mas Raveneh já chorara todas as lágrimas, Catherine não. Reprimira a si mesma por tanto tempo, se preocupara tanto em proteger Raveneh, criara uma proteção quase impossível de se remover em cima da outra face. Será que na verdade quem não podia aguentar era Catherine? Será que Raveneh sempre fora forte? Será que a doçura de Raveneh era somente característica dela, não um fruto de anos e anos sendo protegida?
Eram duas mulheres habitando o mesmo corpo...

Because my child, this not our farewell.
This is not our farewell.


- Johnny me acha fria - no meio das lágrimas, Catherine riu. Ela era fria, o que estava pensando, se prestando à uma estupidez dessas? Era quase como se Renegada estivesse ao seu lado, dando a mão para se levantar. Era como se Renegada estivesse ali, lhe dizendo para parar com tanta tolice, porque tinha um bebê e um homem, e todos lhe amavam. Um homem que a odiava não era nada, e Raveneh achava o fim do mundo. Será que era Raveneh que achava o fim do mundo, ou seria a Catherine? Raveneh não se lembrava do que Jorge lhe fazia, Catherine nunca permitira. Assim como Raveneh não conseguia se lembrar das coisas mais cruéis que a mãe fazia, e todos os momentos que o pai fora bom, Catherine vivera junto com Raveneh. Não por egoísmo, simplesmente porque Catherine queria respirar alguma coisa boa. Tonta, Raveneh se levantou.
Levante-se.
Catherine respirou, era tão estranho. Não sabia quais emoções ou pensamentos compartilhava com Raveneh.
Eu sou nada mais nada menos que Raveneh. Eu sou Raveneh.
Raveneh sorriu.
E eu sou Catherine também.
Pessoas tão diferentes, vidas tão diferentes em volta de uma mesma família... como podia?
Raveneh somente sorriu, sorriu para si mesma. E convenceu Catherine que agora não dava, não agora. Catherine aceitou, pela primeira vez se submeter a Raveneh, voltar.

E ambas deram meia volta e voltaram, apoiadas nas boas lembranças.

Música: Our Farewell - Within Temptation {sugerida por Umrae. Thanks, Umrae!}

2 comentários:

Clau disse...

luna,que triste!
com a música de fundo,ficou perfito a letra da música combinou perfeitamente com a história!
parabéns luna!
ficou simplesmente perfeito esse capítulo!

Anônimo disse...

Coitada da Renegada ;-;

Gostei desse epi :O