quinta-feira, 22 de maio de 2008

Parte 31 - A batalha entre Rafitcha e Jorge (um capítulo decisivo por uma escritora insegura)

- Aberta a sessão - disse o juiz, um homem de olhos pequenos e hálito que lembrava podridão.
- Acusada Raveneh Liptene, atualmente Raveneh Likara, de assassinato. A vítima chama-se Kathie Liptene, 52 anos no ano em que foi assassinada, no dia 12 de dezembro no ano da cerejeira, ingerindo sete gotas do remédio iijuppa, sendo que o máximo são quatro gotas e bla bla bla.
Raveneh suspirou.
- A senhorita se declara inocente ou culpada? - perguntou o juiz, lá no alto do pedestal, em sua pose arrogante.
- Inocente, é claro - riu Raveneh.
- Fique séria - repreendeu Rafitcha, ao que Raveneh resmungou qualquer coisa.
- Pois bem, começarei... - Jorge riu com aquele riso sarcástico e sinistro que todos odiavam - essa loirinha de olhos azuis, inocente, um poço de doçura, inocência e candura... essa garota matou a própria mãe a sangue frio!
- Ooooooh!
Jornalistas escreviam pausadamente: a notícia não era quente, e os jornalistas haviam acordado de mau humor.
- Este remédio é um composto derivado de uma bebida índigena e é extremamente nociva em doses altas. Bem, Kathie Liptene sofria de úlcera e enxaqueca, e esse remédio servia para esquecer todas as dores. Quatro gotas a cada seis horas é o ideal. Mas esta garota, psicopata, doida e totalmente cruel... esta garota se aproveitou da velhice e ofereceu sete gotas de uma vez. Três gotas a mais causaram doses absurdas e causou a morte de Kathie Liptene. Vocês vão argumentar com a estúpida idéia de que foi um acidente? Investigamos esse caso durante dois anos para concluir que foi um homicídio proposital, sabe.
Rafitcha engoliu em seco. Nunca se deparara com um caso tão difícil.

- Raveneh - sussurrou olhando Jorge discursar freneticamente em frente ao júri - você não tem escapatória. Sabe disso, certo?
- Então o que sugere que eu faça? - perguntou Raveneh preocupada, os lábios tremendo.
- Sem o argumento de acidente ou defesa legítima... - Rafitcha hesitou antes de continuar - me permita machucar seu orgulho e usar a sua dupla personalidade?
- Mas--
- Por favor.
Raveneh quase chorou. Não queria isso, não queria.
- Ou é o orgulho ou a vida - murmurou Rafitcha - por favor.
- Está bem - Catherine murmurou - eu ajudo Raveneh.
Catherine engoliu em seco, contendo as lágrimas.
- Obrigada... obrigada...

- Com a palavra, a defesa - disse o juiz.
- Não serei a mais exemplar advogada - começou Rafitcha. Estudara isso durante anos e anos a fio, e sabia perfeitamente que não é a melhor maneira de se defender alguém - nem usarei o argumento de acidente ou legítima defesa. Eu não sou tola. - Rafitcha estava ansiosa demais, e a ansiedade lhe embaraçava os neurônios - minha cliente sempre foi humilhada durante os dezessete anos que conviveu com a "mãe". Ela era maltratada, tida como a pior filha de todos, sendo ignorada e abusada. Vocês condenariam uma garota que não teve escapatória? Vocês inocentariam uma mulher perversa que só fez machucar uma criança durante dezessete anos? O que vocês fariam? Vocês continuariam sendo tão "humanos"? Humanos! - contorceu a cara de nojo. Via cada par de olhos, desprezíveis, infelizes, hipócritas.
- Não estamos julgando Kathie Liptene aqui - advertiu Jorge, ao que Rafitcha retrucou:
- Mas estou defendendo Raveneh Likara. Ou você prefere que eu fale sobre como você tentou infringir o Artigo 7º da Lei Protetora?
- Ah sim. E a sua amiguinha acabou com cinco homens. - replicou Jorge de imediato.
Bia resmungou:
- Foram só quatros e foi pouco :k
- Cala a boca - murmurou Amai, quase rindo.
Bia sorriu.
- Bia se defendeu - Rafitcha tentava respirar, não querendo parar pra pensar na enroscada que se metera - vocês foram lá querendo tomar Raveneh! Tentaram infringir uma lei deste país! Vocês ficam nessa enrolação e querem levar Raveneh para a morte porque - respirou fundo. Quer saber? Dane-se as dicas dos professores e todos os livros que lera. Se o julgamento virou circo, Rafitcha então iria ser a domadora de leões! - porque vocês ficam nesse preconceito idiota, nesse medo irracional de seres mágicos. Vocês acham que fadas são aberrações, e discriminam Raveneh só porque ela é filha bastarda de um casamento infeliz que gerou crianças idiotas, babacas e psicopatas!
- Bah! - cortou Jorge - ela matou minha mãe!
- E ajudou a salvar a minha vida, além de várias pessoas, quando foi espiã! - contra-argumentou Rafitcha - e você está levando pro lado pessoal! Porque uma espécie deve ser considerada inferior?
- Ahmeudeus - murmurou um dos jurados - ela vai usar o papo das espécies? ;__;
Raveneh sorriu. Agora era tudo uma grande brincadeira!
- Então você pretende julgar a vida inteira de Raveneh! - zombou Jorge.
- Claro! Se isso servir para inocentar Raveneh!
- Então acha que pode ganhar? Sua vadia fracassada!
- Protesto! - reclamou Rafitcha - está ofendendo e apelando pro pessoal!
- Negado. Continue, Jorge - disse o juiz adorando o barraco.
Rafitcha respirou fundo.
- Então, desmiolado estúpido - testou Rafitcha avaliando tudo.
- Protesto, Merítissimo!
- Concedido. Rafaela Brito, meça suas palavras ù.ú
- HAH! - Rafitcha nunca se sentiu tão revoltada na vida - o que você faz, Jorge, para ganhar seus casos? Suborna esses homens como? Com dinheiro? Com favores? Com o corpo? Com o quê, me responde?
Jorge ficou feito pimentão.
- Eu sou casado - disse muito firme.
- A carapuça serviu, Jorge? - riu Rafitcha ao ver que a maior parte dos jurados e o juiz estavam vermelhos como tomates maduros - eu sabia. Vocês são todos nojentos, serem tão corruptos... e vocês ainda querem condenar uma mulher casada, grávida, de respeito! Porquê? Por um assassinato! Eu não estou tentando minimizar o crime, mas vamos avaliar: imagine, Merítissimo... imagine se você fosse torturado dia a dia pela própria mãe e irmãos? Imagine se sussurrassem que você é imprestável todos os dias? Imaginem, vocês todos, em sofrerem tentativas de assassinato todos os dias? O que vocês fariam? Aceitariam?
- Ah. Qual é a prova? - Jorge recuperou a compostura.
- Posso chamar a ré, Merítissimo?
- Pedido aceito.
Raveneh se levantou trêmula, indo até o meio do tribunal.
- Fique tranquila, está bem? - murmurou Rafitcha - deixe isso com Catherine.
Raveneh se sentiu temerosa, mas algo dentro dela lhe dizia que tudo ia ficar bem. Bastava entregar a si mesma.
- Tá - disse Jorge - marcas de agressão? Oh, ela está viva e saudável, e nem ficou doida! Cadê os danos desse "abusos de um casamento infeliz que gerou crianças idiotas, babacas e psicopatas"? o.O
- Os traumas foram tão absurdos que Raveneh procurou uma saída desde pequena - começou Rafitcha de forma sombria - mas a fuga não foi se revoltar quando criança ou fugir de casa. Não tinha como e a família fazia praticamente uma lavagem cerebral, então Raveneh acabou por ter a personalidade dividida. Um personagem foi criado dentro de Raveneh. Um personagem feminino, mais madura, mais bonita, mais inteligente. Não por acaso, a personalidade era como uma Catherine melhorada. Para quem não sabe, Catherine foi a irmã de Raveneh, a mais cruel entre todas e a que infligiu mais dores à irmã. Essa divisão de personalidade só aparecia quando era maltratada, portanto Raveneh não tem lembranças da triste vida que viveu. Ao contrário de Catherine. E esse problema voltou, mas Raveneh fez terapia o que fez as duas personalidades quase se unirem. Elas já não são mais opostas.
- Tá. Ela sarou disso. Mas e aí? - fez Jorge.
- Mas a divisão ainda existe.
- Bom dia, Jorge - Catherine riu.
Seria muito fácil para Jorge dizer que era um teatro, uma farsa. Mas ao sentir o olhar penetrante de Raveneh, que na verdade era Catherine, soube os traumas que ajudou a causar. Apesar de não conseguir dizer que era tudo mentira, não se abalou: ele tinha um temperamento psicopata e o preconceito, a obsessão pelo poder, o vício em machucar as pessoas falavam mais alto.
- Sabe - todos sabiam que era outra voz, outra personalidade, outro olhar - eu fiquei muito triste quando mamãezinha morreu. Ela era tão boazinha, me mandando pro cantinho da disciplina e tentando me afogar, sabe...?
Catherine ironizara legal.
- Oks - Jorge disse - eu acredito na dupla personalidade, não precisa de médico pra isso. E daí? Continue!

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- E como anda? - uma mulher perguntou.
- Pelas barbas de Merlin! - esbravejou Crazy - estou trabalhando!
A mulher riu. Ela era bem sedutora, os cabelos negros e a roupa toda colada no corpo.
- Ora ora - sussurrou a mulher - eu não estou atrapalhando... só fui enviada para garantir que você não faça nenhuma besteira. Continua anti-social.
- Obviamente - respondeu Crazy cínico - agora cala a boca, que quero ver se Raveneh vai ser condenada ou inocentada.
- Opa! Você torce para quê...?
- Inocente, lógico - murmurou Crazy - mas eles vão sair vivos de qualquer jeito.
- Ora ora - a mulher sussurrou novamente com desdém - não parecem que são capazes de escapar.
- Aí que você se engana - riu Crazy - e depois eu vou ajuda-los ^^
- Oh, meu caridoso Crazy - a mulher sorriu - você sabe que eu te amo, né?
- Oh sim - Crazy resmungou.
A mulher piscou o olhar inocentemente.

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Estava perto de meio-dia, calor infernal (finalzinho de verão, lembrem-se!), flores coloridas e um bando de gente com sacos e sacos nas costas, fugindo da Rainha dos Demônios. Pombas.
O abrigo era bonito. Foi contruído pouco antes da primeira guerra de Ophelia, por pura magia (dizem que foi necessário cento e sete magos; cinquenta e nove fadas e oitenta elfos para construírem o abrigo em menos de um mês. Dizem também que vários morreram de exaustão) e era confortável, além de ter boa iluminação e etc.
Tinha espaço pra todo mundo.
- Aqui vai ficar a ala dos soldados - disse Umrae - os soldados ficam aqui. Todos que vão lutar ficam por aqui, é perto da entrada.
- Ai ai - murmurou Kibii - parei meu treinamento por isso ;_;
- Pelo menos não morre dormindo - retrucou Fer.
- Hmpf.
Nath e Yohana ofegavam.
- Aah - Nath murmurou - foi difícil, mas trouxemos o mais importante!
- Sim! - Yohana riu - ah, esse lugar é tão legal... nem vou voltar a cantar *-*
- Wow - riu Nath - mas você não tem que obedecer contrato, sei lá?
Yohana deu de ombros.
- Não - disse - eu sou completamente independente e a minha publicidade não se paga. Eu só sinto falta de Pinkê, mas acho que ele morreu ;_;
- Pinkê?
- Meu porquinho cor-de-rosa de estimação ;_;
- Ah - Nath fez - quem estava no seu camarim?
- Vê que estava cuidando das coisas - respondeu Yohana - será que ela pegou Pinkê? *.*
- Ah-Ah - suspirou.

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- Canalha - murmurou Johnny.
- Oh - Raveneh franziu as sobrancelhas.
- Houve algo, Raveneh? - perguntou Rafitcha preocupada.
- Não... - Raveneh bebeu mais um gole - o bebê só se mexeu...
Rafitcha sorriu.
- Bem, concluo a defesa - que defesa horrível. Seus pais a deserdariam se visse você defendendo uma cliente deste jeito! - e agora?
- E agora o júri vai decidir *o* - disse o juiz ansioso por ver mais uma execução. Fazia tempo que isso não acontecia, e o juiz é uma daquelas pessoas que sentem orgasmos ao ver sangue derramado sobre o chão. E sangue inocente, de preferência.

- Ah - a pontada veio novamente. Aquela sensação... oh meu deusohmeudeus, issonãopodeestaracontecendo!
- Raveneh?
Ela não respondeu, não sabia se ficava feliz ou triste.
- Contrações - respondeu Catherine - contrações... eu sinto...
- Oh-My-God - balbuciou Rafitcha - não pode ser... Merda, mas não deu nove meses...
- Não sei - Raveneh estava chorando. Ou seria Catherine? Não dava mais para diferenciar as duas, elas haviam se unido.
- O que houve, posso saber? - perguntou o juiz, muito antipático.
- Nada, Merítissimo - respondeu Rafitcha - a minha cliente precisa esperar nesse banco ou ela pode ficar lá?
- Pode ficar lá... já vai ser condenada mesmo... - o juiz crispou os lábios, demonstrando desprezo.
Raveneh se levantou com um pouco de dificuldade, os cabelos jogados em cima do rosto, a barriga absolutamente enoooorme.
Johnny não sabia o que fazer quando soube das contrações: devia gritar "mulher pariiiiiindo" bem alto? devia ficar calado? devia fazer o quê? maldita hora que não pedi conselhos pro meu pai ou qualquer um! ;_;

Passou-se segundos, minutos, horas. As contrações indo e voltando, o intervalo entre elas encurtando, Raveneh estava tonta, Johnny preocupado, todos tensos. Todos ansiosos pelo veredicto, todos odiando aquele lugar, os jurados sumidos, o juiz se abanando. Blu blu blu bla bla bla.
Ansiedade.
Nervosismo.
Dor.
Alegria. Ou não.

- Decidimos - diz um jurado.
- A ré queira se levantar - disse o juiz.
Raveneh se levanta com uma certa dificuldade, ofegando.
Um minuto de suspense.
- E aí? - o juiz perguntou.
O jurado sequer respirou fundo, somente respondeu:
- Culpada. Vai ser enforcada na próxima semana.

N.A.: nunca imaginei que escrever sobre um julgamento fosse tão chato ._. Nem explorei muito a questão da dupla personalidade no julgamento, mas acho que numa escala de 0 a 10, esse capítulo tá uns 6.9. Acho ;__;

Espero que vocês gostem x.x'

2 comentários:

Vanderson disse...

Ah, para com isso, ficou mais que perfeito... *o*

Mas esses juizes sao corruptos demais... Querem ver sangue, eh??
:K:K:K


O que serah que eu vou fazer? 8P




Ass.: Crazy.. xP

Anônimo disse...

"mulher pariiiiiindo"

*lol* *lol*

cap. muito bom Luna *-*