Rafitcha não alimentara esperanças. Mas o prazo era muito pouco. Como poderiam escapar em uma semana?
- Raveneh... - murmurou - desculpe.
Raveneh sorriu.
- Não se preocupe - disse - eu vou conseguir escapar.
- Eu posso tentar recorrer... - murmurou Rafitcha, tentando persuadir a amiga.
- Eu não vou cumprir a pena de qualquer jeito, vou? - cochichou Raveneh - então pronto.
Rafitcha se levantou, resignada. Ergueu a voz, revoltadissíma.
- Vocês vão matar uma mulher grávida?!
- Não - murmurou Jorge - removeremos o bebê amanhã.
GASP.
- Vocês vão abortar o bebê????! - exclamou Rafitcha escandalizada.
- Claro - Jorge zombou - mas é claro! O bebê vai ser educado na minha casa, não se preocupe.
- Mas nem pagando, eu deixo isso acontecer! - protestou Raveneh - vai tentando, vai!
- Ora ora.
Ninguém soube definir o que acontecera em seguida. Só que em uma questão de cinco minutos, um grupo enorme de soldados entraram, pegaram Raveneh sem nenhuma delicadeza, Bia tentou agir ao que Rafitcha impediu - ela tinha um plano B. E em cinco minutos, o grupo se viu livre. Menos Raveneh que foi jogada em uma prisão imunda, tentando proteger a barriga. Mas não chorou, não esperneou ou gritou. Somente ficou séria, alisando a barriga como se tentasse acalmar o bebê, a personalidade mudando o tempo todo.
Fique tranquila...
A cela era fria. Era fria demais.
Está tudo bem.
E a janela era minúscula, alta demais. O carcereiro parecia cínico e olhava Raveneh com maldade nos olhos.
Vai ficar tudo bem.
Engoliu o choro, começando a analisar a situação.
Era uma cela separada. Era uma cela em uma prisão comum. Estava sozinha na cela, embora houvesse outras celas e com pessoas dentro. Poucas pessoas: mulheres choramingando, homens apáticos, gente sem esperança. Meio-dia, uma hora, quem sabia? Raveneh se encostou no fundo da cela, tentando ignorar os múrmurios e a cela triste, cinzenta, escura, vazia, tentando ignorar as contrações.
- Não... - Rafitcha sussurrou, lágrimas nos olhos - não...
- Rafitcha... - murmurou Johnny - vai estar tudo bem... tudo bem...
- Ela vai parir sozinha... - Tatiih observou tentando manter a cabeça fria - sozinha! O que vão fazer com o bebê?
- Ela pode escapar sozinha - Johnny disse - Catherine consegue fazer isso, e Raveneh não vai resistir a isso. Mas com ela grávida, é outra história...
Todos engoliam o choro, o desespero, ficando com um tremendo nó na garganta. Tentavam raciocinar direito, mas estava difícil.
- Jorge disse que amanhã vão fazer uma cirurgia para remover o bebê, não é isso? - sussurrou Kitsune - e então?
- Como assim? - indagou Rafitcha ainda meio nervosa - não entendi aonde você quer chegar...
- Vai ter médicos, provavelmente, segurando Raveneh - continuou Kitsune - e o bebê vai vir...
- Ahhh... - entendeu Tatiih sorrindo - é isso! Você é genial, Kitsune!
- Só precisamos ficar aqui! - Kitsune riu - e a gente vai ter que saber atuar decentemente, é claro.
Rafitcha sorriu. Voltara a ter esperanças.
Oh oh como o mundo dá voltas
Ontem fui a caça, hoje o caçador
Oh oh o mundo realmente dá voltas, não é?
Mas oh, não se preocupe, minha flor
- Mas teremos que saber o horário... - murmurou Rafitcha - e alguém tem que ficar com Raveneh...
Amai observou os soldados cuidadosamente, o ambiente. Na sua mente se formava uma estratégia, cada pessoa com um papel, as mentiras para serem contadas, as máscaras que iriam ser postas, a adrenalina a todo minuto.
- Veja bem... eu pensei no seguinte - começou.
Todos se aproximaram, tentando parecer conflitantes e tristes para não despertar suspeitas.
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Ophelia ajustava a roupa novamente, meio que irritada.
Odiava decidir.
E odiava sentir fome.
- Ora, vamos! - resmungou Lala mais uma vez - o que quer? Decida de uma vez!
- Argh - Ophelia olhou para a carne que não parecia nada apetitosa (tenho certeza que você também não acharia nada apetitoso comer carne crua de uma anta ._.) e para as maçãs. Malditas maçãs. Porque estava metida em uma área que SÓ TINHA MAÇÃ? Ophelia pensou seriamente em virar emo durante uns dois minutos, mas logo escolheu a carne. Seu estômago desenvolva rejeição absoluta a qualquer coisa que envolvesse maçã. Até bala de maçã verde.
- Boa escolha - Lala sorriu - olha só, vamos assar essa carne, oks?
- Ah. Certo - Ophelia contorceu o nariz para a carne crua. Certo que ela já comera muita carne crua na vida, mas ela não achava atraente ._."
Lala acendeu o fogo, assou a carne, cortou-a em pedaços, resgatou algumas ervas e temperou a carne. Pronto. Feito.
- Toma, ó, menina enjoada - Lala ofereceu a carne - pronto, está assada e temperada.
Ophelia comeu o primeiro pedaço. Sorriu sutilmente.
- Você é uma excelente cozinheira, sabia, Lala? - disse com aquele sorriso sutil, meio orgulhoso.
Lala ficou lisongeada.
- Oh, sério?
- Não. Eu estou sentindo vontade de vomitar com isso aqui - Ophelia disse desfazendo o sorriso, ao que Lala quase chorou frustrada.
Mas na verdade a carne nem estava tão ruim, e dava pra engolir numa boa. Ophelia só estava provocando a amiga.
Três horas da tarde. Agora não estava mais tanto calor, somente aquele tipo de calor que as pessoas gostam, que conforta e aquece, mas sem queimar.
A floresta era confortável, o cheiro impregnado em cada árvore era bom de se sentir.
- Ophelia... - sussurrou Lala.
- Sim?
- Diz a história que a sua mãe era a que mais estimulava seus poderes - começou Lala timidamente - como sua mãe era?
- Uma babaca frustrada. - respondeu Ophelia. Lala reparou que a sua face se endurecera com a lembrança da mãe, mas não falou nada a respeito - ela sempre disse que eu deveria matar as Musas. Ela abusava dos meus poderes para ela ser a Rainha... nunca vou me esquecer da tortura que era conviver com ela...
- Mas diziam que você era muito apegada à sua mãe - observou Lala.
Ophelia reprimiu o riso, seus olhos tristes.
- Eu era - murmurou - eu a tratava como a mais bela das deusas, quando era só uma mulher mesquinha. De todos os irmãos que tive, não me lembro de nenhum, somente da mais velha. Eu bem queria saber o que houve com ela... era a que mais cuidava de mim.
- Ophelia... você realmente odeia as Musas? - perguntou Lala. Nunca conhecera Ophelia tão a fundo, coisa que muitos matariam para conhecer.
- Não - Ophelia sorriu - eu não quero mata-las. Lutar com elas é suicídio. Só o que eu quero é este mundo todo meu... esse império controlado por mim. Demônios, fadas, humanos, elfos... todos esses reinos por aí... todos eles serão meus. Eu serei a Rainha.
Lala sorriu.
- E você será a princesa de tudo isso, viu? - Ophelia olhou para o céu, todo azul. Final de verão - você vai estar ao meu lado quando eu dominar tudo.
Lala deixou de sorrir. Será que o plano de Ophelia realmente se concretizaria? Será que um dia continuaria sendo tão amiga de Ophelia? Como podia esquecer dos ferimentos causados na primeira luta? Porque Ophelia se esquecera da primeira luta? Porque havia tantas marcas carregadas na infância que perduram por toda a vida?
Lala fechou os olhos, tentando relembrar a infância.
Desde pequena fora treinada para a guerra, sabendo lutar e armar estratégias. Quando cresceu, não sabia fazer outra coisa do que se envolver com criminosos de guerra, trabalhar no submundo para o governo. Não lembrava de uma mãe cruel, de um pai ausente, de uma família que odiava. Tivera uma vida feliz, ao contrário de Ophelia.
Dormiu.
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Raveneh contava os minutos entre as contrações. A cada vinte minutos, vinha uma nova contração. Agora.
- Jorge! - chamou Rafitcha preocupada - Jorge!
Jorge se virou cínico.
- O que quer? - perguntou - apelar?
Rafitcha engoliu os xingamentos que queria soltar e somente perguntou friamente:
- Que horas vão fazer o parto de Raveneh? E o bebê? Nós queremos o bebê.
- O que isso lhe importa? - Jorge retrucou - Raveneh vai morrer, e nós ficaremos com o bebê.
- Dê uma segunda opinião - Rafitcha disse maldosamente - sabe, a espada da nossa querida Bia deseja ver um pouco de sangue...
Jorge se virou, vendo a lâmina beeeeem afiada da Bia e, claro, seu olhar muito maligno que só Bia sabia ter. Engoliu em seco e disse:
- Vamos fazer daqui a três horas - admitiu Jorge - vocês podem ficar em frente à sala, no quinto corredor logo ali. A gente entregará o bebê a vocês.
- Não ouse fazer diferente, está bem? - murmurou Rafitcha - no mínimo você vai ser capado.
Jorge gelou.
- Vamos - Rafitcha disse - agora!
Chegaram ao quinto corredor sem muita dificuldade. A sala estava vazia, e estava na cara que era uma sala de operação, a mesa repleta de facas, bisturis e afins, a cama com lençóis brancos, a fraca iluminação.
- Cadê os médicos? - indagou Tatiih - vamos precisar deles...
- Eu escuto murmúrios - disse Bia - tem roupas.
- Oba! - festejou Tatiih - tem três uniformes de médicos aqui. Quem os usará?
- Eu não posso - disse Rafitcha - vão me reconhecer facilmente. Nem Bia, pois ela é a nossa defesa.
- Johnny tem que ir pra acalmar Raveneh - lembrou Amai - tia, acho melhor você ir também.
Tatiih deu um uniforme a Johnny, outro à Kitsune. Era somente um jaleco, com uma máscara e touca.
- Sobrou um - murmurou Rafitcha - Tatiih, você fica com ele. Amai e Bia, venham comigo. A gente vai buscar Raveneh.
- Sim! - concordaram as duas.
Tatiih vestiu o jaleco.
Rafitcha, Amai e Bia saíram para o corredor novamente. Viram Jorge entrando no corredor, Rafitcha foi atrás dele.
- O que é agora? - indagou Jorge irritado.
- Podemos falar com Raveneh na cela? - perguntou Rafitcha tentando usar a expressão mais meiga que podia ter - por favor.
- Err... - Jorge hesitou. Ele era arrogante e astuto, mas não era páreo para Rafitcha em termos de esperteza. E como havia outras preocupações muito importantes (como favorecer cada jurado por ter votado na culpa de Raveneh), acabou deixando. E nem notou o sorriso de vitória no rosto de Rafitcha.
- Por aqui.
Raveneh já dormia, tentando esquecer as contrações a cada vinte minutos.
Acordou despertada por uma garota de cabelos negros, olhos amáveis.
- Raveneh! - cochichava Rafitcha - Raveneh!
- Ah - Raveneh murmurou com a voz sonoleta - oi. Hã.
Amai sorriu. Raveneh estava bem.
- Vão tirar seu bebê daqui a três horas - contou Amai - mas fique tranquila.
- Como? - sussurrou Raveneh sem conseguir gritar. Nem queria.
- Vamos ajudar você a fugir daqui, entendeu? Mas não se debata na hora de ir, estamos lá - sussurrou Bia - por favor.
Raveneh concordou, tonta. Não tinha idéia do plano, só sabia que queria dormir e só dormir. Para todo o sempre, com certeza.
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- Mamãe! Mamãe! - exclamou um garoto de dez anos, talvez, de cabelos loiros - mamãe!
- Wow - Maria sorriu - meu anjo, se divertiu?
- Aqui é um lugar maravilhoso, mãe! - disse o garotinho, contente - mil vezes melhor que aquela escola chata!
- Ora, querido - Maria riu - "aquela escola chata" é o lugar onde você é educado!
- Hmpf - o garoto reprimiu um sorriso de desdém.
Maria sorriu. Estavam dentro de um abrigo subterrâneo, ia ficar doente por falta de sol provavelmente. Abraçou o filho mais uma vez, bem forte, temendo um dia perdê-lo. Não vou perde-lo pensava não o perderei, não por causa de Ophelia, não vou perder o meu filho nessa guerra...
Seus lábios tremeram de medo. Lembrou da reunião, da decisão de pôr a vida da Majestade das Fadas em risco. Pensou nas vidas que se perderiam, pensou nos dados que soubera da primeira guerra.
Deitou-se na cama, exausta. Estava ansiosa demais, e ao mesmo tempo que esperava que Ophelia viesse e acabar logo com essa ansiedade toda, torcia por que ela prolongasse ao máximo os ataques.
Um comentário:
Ophelia má, caçoando da pobre Lala! =P
Viciei na história... =D
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