- FER! - Kibii subiu nas árvores, tentando respirar direito. Não deixe o medo tomar conta de você, Kibii. Não deixe o medo vir... - UMRAE! MARIA! DOCEH!
Umrae acordou, escutando os berros. Calçou as botas, pegou uma arma que nem viu direito, mergulhada na escuridão. Andou sorrateiramente, continuou escutando os gritos. Seria a única? Provavelmente não, tinha certeza que os outros ouviram e ainda se perguntavam de quem era a voz.
- Kibii! - essa exclamação foi dita por Fer, que se lembrava que a amiga tinha ido tomar banho. À noite! Aquela louca! Mas o que seria? Se fossem somente arruaceiros, não era esse escândalo todo o_o"
Também saiu pra fora, encontrando Umrae já indo em direção à floresta.
- Umrae! - gritou.
- Xii! - Umrae sussurrou - fique em silêncio. É um demônio.
- Como pode saber? - Fer murmurou, assustada - eu só... eu só sei que Kibii está em perigo por causa de algo grande...
Mal disse "grande", Umrae deu praticamente um pulo pra frente, Fer mal podia distinguir a silhueta tamanha era a escuridão.
- Umrae! - Fer disse, como se fosse um grito sussurrado - droga, até eu sinto... está por aqui. Está andando...
- Fer! - era uma voz exasperada que vinha de cima.
- Kibii! - Umrae exclamou - o que houve? E porque está só com a capa?
- Não posso explicar - Kibii disse, ofegante - subam!
De um salto, Fer e Umrae estavam ao lado de Kibii, no alto, sem fazer um único barulho.
- Consegui despistá-la subindo nas árvores - Kibii disse. O medo não estava mais presente no seu espírito - mas ela está vindo, sente meu cheiro. É um demônio de três metros de altura e quatros braços de meio metro, eu diria. A pele dela é negra, então se confunde com a escuridão e é um ser da água, pelo que percebi. Eu não posso acabar com ela sozinha.
- Então...? - Umrae começou, mas Kibii continuou, esta tentando respirar:
- Ela não é muito rápida e cai facilmente em truques - ofegou - e reparei que ela tem a visão limitada. E aparentemente come carne de gente como nós. Imagino que deva ser um jaken, pela sua habilidade em manipular mentalmente, causando dores psicológicas e medo sem motivo. Veja, ela está se aproximando. O plano é o seguinte: estou com a katana, o arco ficou perto do rio. A katana não tá boa, pouco afiada. Bem, Fer, pegue seus punhais. Umrae, por favor, use a sua cimitarra.
- Ah. A cimitarra... - Umrae reparou pela primeira vez que a arma que trouxera fora a cimitarra.
Fer, vá pra lá. Umrae, fique naquela árvore. Voltarei pro rio, para pegar o arco e as flechas e ficarei ali - Kibii continuou. Aparentemente havia traçado todo um plano perfeito de ataque de modo que Umrae e Fer nem se preocuparam em planejar caso algo desse errado.
- O demônio está vindo - Umrae reparou - e vem por aqui, em direção às Campinas.
- É agora! - Kibii murmurou - a distraiam, eu volto.
Kibii sumiu, e em um piscar de olhos, estava saltando de galho em galho, os cabelos voando ao vento, os pés tocando os galhos com tanta leveza que era como se tivesse voando.
- Vá! - Umrae sussurrou. Não era tão boa com a cimitarra como era com a besta, mas ainda assim era boa e conhecia algumas técnicas. Sorte que trouxera um frasco de venenos, na pressa de não sair desarmada. Rasgou um pedaço do seu vestido, embebeu o pedaço no veneno e passou na lâmina da espada. Fer estava se afastando, cuidadosamente, a roupa preta se misturando à escuridão.
- Onde está, garotinha? Aaah, sua carne era tão gostosa... comerei a carne dos seus amiguinhos, tolinha! Aaah, que pena que perdi, parecia tão gostosa!...
Fer conseguiu ver Kibii voltando, mirando com seu arco. Olhou pra Umrae: era um olhar de compreensão: paramos o demônio agora.
Foi como mágica: Umrae desceu das árvores, cortando o corpo do demônio por trás, não provocando mais que um arranhão. Mas o veneno, apesar de fraco, causava sonolência e fazia a visão piorar. Umrae sorriu, dando o sinal para Fer manejar seus punhais, cortando todos os dedos de todos os seus braços, o sangue roxo empapando o chão.
- O que está acontecendo? A carne dessas duas também parece deliciosa *-* hmmm...
Mal terminou de falar, abriu a boca, mostrando a enorme língua, fina e pegajosa, caçando Umrae. A pegou no pé, como uma cobra se enrosca na comida, querendo quebrar seus ossos.
- Umrae! - Fer gritou. Manejou o punhal mais forte, visando cortar a língua. Porém a língua era de tal carne que não se cortava com uma lâmina comum, Fer entrou em desespero. Umrae ofegou, vendo que teria o pé quebrado.
Kibii mordeu o lábio inferior, mirando cuidadosamente a língua. Aquilo não estava nos planos, pois tinha somente duas flechas boas e planejava usar as duas no corpo do demônio, uma na cabeça e outra no tronco. Mas agora usaria uma na língua, com grande chance de falhar, visto que a língua era um corpo fino, esguio e que se mexia o tempo todo.
- Ai... mais um pouco e o pé de Umrae é quebrado... E quando for - Kibii ofegava. Umrae se defendia, tentando cortar a língua com a cimitarra, porém continuava não dando certo. A língua se mexia o tempo todo: pros lados, pra cima, pra baixo. Então volta e meia Umrae ficava pendurada de cabeça pra baixo ou era jogada para as árvores, tentando causar dores o suficiente para desmaiar.
- Fique parada, por favor... - Kibii suplicava - fique parada um minutinho só...
Fer respirou descompassadamente. De novo ofegava se a língua não pode ser cortada... o que pode ser cortado e causar dor a ponto que a língua fique parada?
De um salto, ficou em pé, se apoiando em um dos braços agora sem dedos, já que o demônio não conseguia se regenerar. Ergueu os dois punhais, as mãos tremendo e a mente delirando. Quando seus olhos brilharam e sua boca sorriu ZAZ as duas lâminas frias e cruéis cortaram o braço, causando tamanha dor que o demônio parou de mexer a língua, embora não soltasse Umrae.
- Perfeito, Fer! - Kibii sorriu, mirando cuidadosamente na cabeça. ZUM.
A flecha veio, saiu entre as árvores e transpassou a cabeça do demônio com tamanha perfeição que não houve nenhuma margem de erro: o demônio ficou paralisado na hora. Umrae respirou aliviada: ser jogada o tempo todo nas árvores fora um ato cruel e com certeza seu pé estava quebrado, tamanha a dor que sentia. Pegou a cimitarra e tentou cortar a língua, mas continuava dura. Droga. Porque me deixei pegar?
- Umrae - Kibii disse, com um sorriso - Fer. Obrigada.
- Mas você que deu o golpe final! - exclamou Fer.
- Você que conseguiu fazer ela parar um pouco - Kibii disse - e Umrae acabou por quase sacrificar a própria vida para não permitir que o demônio soubesse de mim. Ele está só desacordado, aparentemente ela só morre caso o coração seja ferido. Que bom que estão vivas.
Umrae sorriu, e tentou se levantar. Droga, meu pé realmente está quebrado.
- Venha - Kibii disse - vou precisar de você e Fer para ajudarem a transpassar o coração.
As três andaram (bem, Umrae estava mancando) até o demônio, caído sobre o chão. Kibii pegou a flecha que havia atirado na cabeça, transpassando-a no tronco do demônio, o sangue jorrando do outro lado.
Umrae se ajoelhou, cortando todo o tronco com a cimitarra, tarefa ajudada por Fer que retalhou junto com ela, até mostrar a carne por dentro: o coração que não conseguia pulsar mais, os pulmões, o estômago.
- Agora sim - Umrae sorriu. Ela e Fer retalharam os pulmões e o coração que já estavam perfurados. Pronto, um demônio a menos.
Agora Umrae estava sentada no chão, pensando em como conseguiria cortar a carne da língua, esta parecendo uma corrente a prendendo ao demônio. Respirou profundamente, pensando no que usaria. A língua parecia feita de ferro...
Andou mais um pouco, com dificuldade por causa do peso.
Quando a língua começa? será que por dentro era tudo como se fosse ferro? Ou será que em alguma parte era frágil? Será que o interior da língua era frágil, macio feito carne? Provavelmente... Umrae sabia (e não sabia como podia saber) que era só fachada: o seu interior era macio, podendo ser facilmente retalhado. O rosto do demônio não fora retalhado, somente seu corpo: portanto os olhos fechados, a boca entreaberta e o ar sereno permanecia. Com grande facilidade, cortou o rosto ao meio, mostrando o começo da língua propriamente dita: como Umrae pensava, era áspera, mas também mole, macia.
- Kibii. Fer. - disse, quase em um sussurro - acordem Maria, se é que já não está acordada, e alertem-na. Não se preocupem comigo, encontrei um modo de me livrar disso. Chamem Nath também... ai, acho que quebrei a perna .-.
- Não pode ser - Kibii disse - acho que só torceu... Mas de qualquer modo, não quer realmente ajuda?
Umrae sorriu com simpatia:
- Não, não precisa. Eu já sei como acabar com isso... só traga a Maria e Nath...
Kibii e Fer hesitaram em deixar a amiga sozinha, mas acabaram por concordar depois de Umrae ter passado um olhar repreendor.
- E agora - Umrae suspirou enquanto as duas amigas se distanciavam - vamos ver isso.
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- Essa é a Amai e essa é a Kitsune - Rafitcha murmurou. Havia saído e encontrado as duas, agora, amigas escondidas. Sorrira e dissera que agora dava para entrarem e pra não ligarem pra bagunça (imagine, um corpo com a cabeça rachada e uns quatro homens desacordados mergulhados no sangue não era nada!).
- Prazer - Raveneh cumprimentou, tentando se animar. Mas o cheiro de sangue a enjoava, e estava bastante abatida.
- Vou levá-la pra fora, tomar um ar fresco - Johnny disse, preocupado - vocês vão ficar aqui?
- Não - Bia murmurou - eu vou pra fora. Não suporto esse cheiro, embora esteja acostumada.
- Vamos pra fora também - Tatiih disse - tomar um pouco de ar... assim a gente conversa melhor.
- Sim - Amai concordou - e o que faremos com isso? - apontou os corpos desacordados.
- Depois veremos - Bia disse - eles só acordarão daqui a umas quatro horas, e já estaremos de volta. Tenho medo de que eles procurem vingança.
- É só matá-los - Rafitcha murmurou, mal percebendo o que dissera. Quando percebeu, nem ficou surpresa: desde que fora jogada na água, já deixara de ter piedade há muito tempo.
Todos assentiram e simplesmente trancaram o quarto, não permitindo que ninguém entrasse. Sim, ninguém foi ajudar os feridos nem esconderam o corpo. Ninguém estava com cabeça pra isso e simplesmente resolveram ser cruéis.
Raveneh saiu da pensão, segurando a barriga, quase caindo em choro. Johnny a apoiou, e preferiu ficar longe do restante do grupo, ajudando Raveneh.
- Que horrível! - lamentou-se Raveneh - horrível, nunca vi tamanha... carnificina...
- Bia te defendeu, querida - Johnny sussurrou, segurando Raveneh, de modo que ela ficou virada para a calçada.
- Eu sei - Raveneh respondeu - eu sei, eu sei, eu sei... é horrível, tanto... tanto sangue... Eu nunca vi tanto sangue... Nunca...
- Nunca? - para Johnny ia soava estranho, visto que Raveneh deixara a própria irmã morrer de um aborto mal-feito, matara a própria mãe e fora sequestrada pelos nortistas (e Johnny nem queria saber o que aconteceu no trajeto que Raveneh fizera desde que abandonara a terra que vivera até encontrar Renegada).
- Nunca!... - as lágrimas marcaram a face de Raveneh, salgadas e doloridas - Catherine, Catherine, porque me faz suportar isso? Por favor, não me deixe ver isso, por favor, não me abandone agora... - agora a voz de Raveneh era como um sussurro, como se estivesse orando devagar, as lágrimas jorrando sem parar.
Johnny abraçou Raveneh por trás, quase apavorado.
- Não peça por Catherine! Enfren--
- Tarde demais.
A voz era mais rouca que o normal, o olhar diferente.
- Sinto muito, Johnny... mas eu não aguentei, não pude ver Raveneh sofrer tanto... - murmurou Catherine, com a sua característica falta de emoção.
terça-feira, 29 de abril de 2008
sábado, 26 de abril de 2008
Parte 23 - Sangue: Um Passo Para a Destruição.
- Então vai ser daqui a pouco tempo - disse o homem - não deixe escapar a oportunidade.
- Sim, senhor - Crazy sorriu - e a respeito de Ophelia?
- O chefe diz que não importa, vai seguir em frente - o outro disse - mas você sabe que Ophelia sempre odiou os humanos. Uns humanos a menos não fará a mínima falta para ela, e estamos longe do seu campo de atuação.
- Você que pensa... - Crazy riu, zombando - ela é uma bruxa poderosa e pode governar em todas as terras que pensar. Bem, você é um tolo mestiço, sabe nada a respeito disso...
O outro se indignou, e somente disse secamente:
- Vou-me. Olha o jeito que falas com um superior seu!
- Superior... sei. - Crazy sorriu, e deu as costas, andando lentamente.
O homem se mordeu de raiva, e somente resmungou para si.
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- Vai tomar banho de noite, Kibi-chan? - perguntou Fer, intrigada.
- Sim - respondeu Kibii - eu treinei muito hoje e deixei a higiene de lado.
Fer sorriu e disse:
- Está bem então. Boa noite, Kibi-chan.
- Boa noite, Fer.
Kibii adentrou a floresta, encontrando rapidamente o rio em quinze minutos: o rio seguia até o mar, e no meio, havia uma cachoeira bonita, onde as pessoas tomavam banho. Era final de verão, apenas alguns dias para o outono. A brisa sobrava fresca, a noite estrelada, tudo absolutamente escuro. Mas Kibii não tinha medo.
Tirou a roupa, e entrou no rio.
A água está uma delícia.
Andou mais ainda, sentindo a água lhe molhar o corpo.
Definitivamente.
A água chegou a molhar sua boca, mal alcançando seu nariz. Kibii permaneceu assim por uns instantes quase adormecida. Mergulhou de vez, molhando os cabelos negros, voltou a superfície. Ficou assim por uns dez minutos, brincando de mergulhar e subir, mergulhar e subir, nadando por toda a pequena área. Até sentir algo arranhando suas pernas, como se fossem pares de mãos tentando pegá-la.
Subiu a superfície, nervosa. Isso nunca tinha acontecido, e não havia plantas lá embaixo que causasse essa sensação. E era noite, como poderia ver? Resolveu ficar junto à terra, e começou a nadar de volta para a terra, onde suas roupas estavam. A mesma sensação: como se fossem mãos tentando pegar seus pés. Bateu os pés com violência, evitando pisar no chão.
Merda. O que é isso? e mais uma vez mergulhou com violência, tentando manter os olhos abertos dentro do rio.
Logo alcançou a terra, e foi obrigada a pisar para conseguir firmeza e sair do rio. Foi seu maior erro: finalmente o par de mãos a agarrou, caindo pra trás.
Tentou voltar a superfície, mas as mãos ficaram maiores e foram capazes de retê-la debaixo d'água.
- Adoro garotinhas como você...
Kibii se debateu, desesperada. A noite parecia tão estranha, tão triste debaixo d'água... era estranho, aquelas mãos lhe prendendo, e que estranho!, parecia que estava sendo presa por cordas... Tentou olhar o que a prendia, não conseguiu tamanha a escuridão.
- Não tentes fugir, me ofende!
Quem fala? Quem consegue falar debaixo d'água?
Tentou se debater mais uma vez, mas a força dos braços aumentou e ela se sentiu ainda mais sufocada, não conseguindo mais respirar. Estava sendo afogada.
Quem poderia fazer isso comigo? apesar de tudo, Kibii conseguia raciocinar mesmo com todo o desespero. Fechou os olhos, tentando ignorar a sensação de estar sendo presa e o fato de não conseguir respirar, devido a toda a água.
Parece aquelas histórias de demônios... demônios? Demônios? era como se sua mente desse um estalo, os olhos se abriram, a boca abrindo de surpresa Ophelia já está agindo! Como fomos tão burros? Preparando-nos tanto para a guerra, achando que Ophelia iria atacar abertamente... claro que não!
Ela não seria tão estúpida! Mas agora, como avisar? Já estou morrendo? Como avisar?
Forçou o rosto para cima, tentando se livrar das mãos: agora não debatia mais, somente empurrava o corpo para trás, como uma cobra tenta se livrar da sua pele. As mãos fraquejaram, inseguras, foi a deixa de Kibii: ela deu um empurrão para trás com toda a força, as mãos acabaram por se soltar, a água invadindo as narinas. O desespero diminuiu, levantou os braços, se apoiou na terra e imediatamente se sentou no meio da grama, ofegante.
- Ah. Ah. Ah.
Viu ondas surgirem onde estavam, e na água, um par de mãos negras surgiram, como se alguém estivesse se afogando. Kibii com medo, deu pra trás: não ia ter tempo de colocar a roupa toda, colocou só a capa negra que cobria todo o seu corpo. Definitivamente não podia ficar nua, ia pegar um baita resfriado e ia ficar vulnerável. Colocou a bolsa no ombro direito, a katana na mão esquerda. Deu uns passos pra trás, tentando enxergar as duas mãos que subiram à superfície. Mas estava escuro, estava frio...
Deu as costas, sentiu passos.
- Fugindo de mim? Me ofendeu!
Tremendo de medo, se virou e apesar da escuridão, conseguiu distinguir a silhueta feminina, repleta de curvas generosas, dois pares de mãos abraçando o corpo negro de mulher. Os cabelos eram enormes, lisos e as pontas estavam mergulhadas no rio (detalhe: ela estava de pé, no chão). Seus olhos eram amarelos, brilhantes. E Kibii pôde sentir seu sorriso frio, sua beleza absolutamente fascinante a crueldade contida em cada centímetro naquele pele negra como a noite.
- Que monstro é esse? - Kibii não estava acostumada com monstros fora do normal, só com uns gigantes. E a idéia de um demônio em forma de mulher com quatro braços existir lhe era totalmente nova. Recuou, assustada.
- Oh, querida, agora vê a minha face? - o demônio sorriu mais abertamente, mostrando os caninos afiados - sabe, os demônios me chamam de "A Moça dos Quatro Braços". Mas os humanos não me conhecem, até porque todos os que me viram acabaram por morrer, sabe... E nem deixo pista dos mortos... ^^
- É louca - Kibii murmurou, muito³ assustada. Lutara com tudo que era tipo e sabia que qualquer dia iria lutar com um demônio, mas nunca realmente parara pra pensar no que significaria.
Por que demônios não são como seres humanos, simples para lutar: eles costumam ter uma anatomia mais complexa, com diversas armadilhas no próprio corpo. Cada demônio tem uma arma diferente e costumam saber usá-la com maestria. E sem contar com o reflexo, a força, a destreza de um demônio que costuma humilhar um humano. Por isso é muito²² raro um humano lutar com um demônio: geralmente quem faz isso são os que tem sangue mágico, portanto possuem além de força bruta para lutarem justamente com eles.
E Kibii era uma elfa, mestre na arte das flechas. Porém o medo atrapalha e nos faz esquecer tudo o que aprendemos... e Kibii estava com medo.
Pra onde eu vou? Se eu for pro oeste, irei parar no mar. Se for pro leste, as vidas das pessoas inocentes estarão em risco. Mas assim eu poderia ter ajuda de Ly, Fer, Umrae... merda, ela está andando!
E se fosse pro sul, iria continuar na floresta. E não dava pra ir pro norte, o bicho estava lá.
Campinas é a única saída... mas os inocentes...
Bem, se gritasse... alguém poderia perceber que era ela. Se mandasse um sinal qualquer, qualquer coisa...
Continuou a andar pra trás, a tal da demônia sorrindo e andando devagar, como se quisesse apreciar cada segundo daquela tortura.
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- Artigo 7º da Lei Protetora? - Jorge riu - que besteira é essa?
Rafitcha respirou profundamente antes de responder, com a maior calma do mundo:
- "A ré que conter uma vida no ventre não pode ser presa, mesmo se for julgada culpada. Deve-se esperar até o nascimento da criança, e ela deve conviver com a
criança durante sete meses na prisão especial. Somente ao fim deste período, o bebê poderá ser separado da mãe e a ré culpada poderá cumprir a pena, contando-se a partir desse dia".
Todos ficaram em silêncio, parados, aguardando a reação de Jorge ao escutar o artigo citado com perfeição.
- Onde? - Jorge disse, mas sem o seu sorriso zombeteiro - me mostre.
- Código Penal, nesse mesmo livro preto que carregas - Rafitcha respondeu com segurança, o sorriso tomando conta da sua face.
Jorge ficou uns quinze segundos calado, cada segundo pulsante e agoniante, ah!, quanto tempo demorará pra tudo ter um fim! Raveneh com medo de perder o bebê, Johnny com medo de perder a amada, Tatiih temendo perder a vida e ser dada como desaparecida como supostamente acontecera com o irmão, Bia tentando se controlar para não enfiar a espada em Jorge e não causar mais problemas. Somente Rafitcha não tinha medo, somente estava leve, tão leve como o vento por ter desafiado, ter respondido, por estar certa.
Amai e Kitsune escutavam tudo, sem deixar escapar um som. Elas preferiam não se exporem, não agora. Somente na hora certa.
- Então vá embora, Jorge - Raveneh cortou o silêncio - está incomodando a mim, ao meu marido e aos meus amigos, além de incomodar ao meu bebê que ainda nem nasceu. Não tens apoio na lei para me prender. Vá embora.
- Jamais. Você tem sangue sujo, quem liga pra você? - Jorge respondeu, tentando recuperar sua compostura.
- Acontece que os que tem sangue sujo - Raveneh respondeu - são mais poderosos que você.
Jorge ficou calado, não sabendo o que responder.
Deu as costas, todos acharam que ele havia desistido. Amai e Kitsune se esconderam rapidamente quando Jorge passou pelo corredor, descendo a escadaria, olhando para a frente.
- Uuuuuf! - suspirou Raveneh, aliviada.
Todos olharam um para o outro aliviado, como se a tortura tivesse terminado. Somente Bia desconfiou:
- Ele desistiu depressa demais.
Rafitcha sentou-se na cama, procurando por Amai e Kitsune. Correra tão depressa... será que elas se perderam na hora de segui-la ou preferiram ficar em frente à casa? Embora esteja cercada de atenções e perguntas sobre o desaparecimento, não respondeu a nada, não disse nada: somente se preocupou com Amai e Kitsune. Será que preferiam se esconder, aguardando a hora de agir? Ou será que ficaram no barco, ou se perderam na pensão?
- Por que sumiu?
- Como voltou?
- Viu alguém?
Rafitcha ficava calada, bastante tonta e exausta.
BLAM.
- Fiquem atrás! - Bia gritou.
Eu não aguento mais perder
Eu não aguento mais andar pra trás
Bia ficou a frente, segurando a enorme espada. Desconfiou, Jorge desistira rápido demais. Agora podia escutar os homens subindo as escadas bruscamente, provavelmente com ordens de matar qualquer que resistisse à "prisão preventiva". Escutou-se berros de Jorge:
- Matem a todos! Mas mantenham Raveneh viva!
- Eu sabia! - Johnny gritou, tentando proteger Raveneh com seu corpo - esse papo de "julgamento justo"... Merda, Raveneh, que tipo de vida que você viveu?
Raveneh corou.
Por que você insiste em me perturbar?
O que você vai ganhar com isso?
Por que deseja tanto se vingar de algo que não fiz?
- Raveneh, agora não tem mais saída. São cinco! - Jorge gritou - acha que uma mulher grávida conseguirá vencer cinco homens!
- Esqueceu que quem luta aqui - disse Bia - sou eu. Todos protegem Raveneh da melhor forma que souber, e todos dão a vida por ela. E a minha forma de protegê-la, senhor, é com a espada.
- Uma mulher portando uma espada? Que ridículo! - zombou um dos homens enormes, a barba por fazer - aposto que mal consegue cortar um cachorro com ele.
ZUM.
Bia girara a espada de cima para baixo, como se fosse cortar um pedaço de madeira. Mas mirava no homem que acabara de dizer tal besteira, e sua cabeça se partiu em dois, a expressão ainda presunçosa. O sangue sujou todo o chão, os pedacinhos de cérebro no chão. Rafitcha e Tatiih quase vomitaram, Raveneh virou a cabeça pro lado tentando controlar o enjôo, Johnny abraçando Raveneh. Mas Bia estava impassível como se cortar cabeças humanas ao meio fosse um passatempo tipo jogar xadrez.
- Eu sou caçadora de demônios e tenho sangue de fada, e tenho o sangue puro - Bia disse - o próximo que duvidar das minhas habilidades terá o mesmo destino, ou até pior. Agora, Jorge, volte e espere o julgamento de forma justa, sem perturbar a nossa paz.
- Você matou um dos nossos! - Jorge protestou - homens, matem-na! Como pôde pensar em matar e deixar por assim?
Os quatro homens restantes foram à frente, brandindo suas espadas, mas estavam hesitantes: eles eram soldados e treinados para avaliar a força do oponente, classificar a força do oponente em "ridículo", "um pouco fácil", "dá pra se divertir", "forte", "risco de morrer", "muito perigoso", extremamente poderoso, 1% de
chance de sobreviver" e o mais raro "FUJA!". Definitivamente a força de Bia estaria classificada em "FUJA!". Mas eram ordens, e eles foram a frente, rezando antes e se despedindo mentalmente de todos os parentes para o fim evidente.
- Estúpidos - Bia murmurou, bradindo a espada.
Bem, Bia classificaria seus oponentes em um grau abaixo de "ridículo".
POW.
Em um golpe, ela abatera todos. Como a lâmina era de dois gumes, e não queria causar mais problemas (porque o fato de ter partido a cabeça de um cara já ia ser usado o tempo todo), feriu pouco. Cortou o primeiro no abdomên, o segundo nas pernas. Decepou os pés do terceiro e o braço esquerdo do quarto. Agora estavam todos guinchando, esparramando sangue, chorando, chamando por mamãe.
Está vendo o que você fez?
Estava tudo bem, mas você não podia descansar
Agora o seu mundo acabou, e eu tento salvar o meu
Não podia ter ficado quieto?
- E agora - Bia estava no meio de todo o sangue, os cabelos na cara e o suor na pele de tanto brandir a espada com força desnecessária, a voz fria e rouca - e agora, vai voltar e esperar o julgamento?
Jorge iria desafiar mais uma vez, mas ao olhar os homens choramingando com ferimentos por toda a parte e a espada, cujo sangue descia lentamente pelo fio, desistiu. Engoliu em seco.
- Até semana que vem, Raveneh.
Raveneh não respondeu, os lábios tremendo.
Jorge deu as costas, pouco se importanto com os homens agonizando.
- E agora, como é que vai ser? - Johnny perguntou - agora não é somente Raveneh que se arrisca a perder a vida... Bia, você também está em perigo.
- Sim, senhor - Crazy sorriu - e a respeito de Ophelia?
- O chefe diz que não importa, vai seguir em frente - o outro disse - mas você sabe que Ophelia sempre odiou os humanos. Uns humanos a menos não fará a mínima falta para ela, e estamos longe do seu campo de atuação.
- Você que pensa... - Crazy riu, zombando - ela é uma bruxa poderosa e pode governar em todas as terras que pensar. Bem, você é um tolo mestiço, sabe nada a respeito disso...
O outro se indignou, e somente disse secamente:
- Vou-me. Olha o jeito que falas com um superior seu!
- Superior... sei. - Crazy sorriu, e deu as costas, andando lentamente.
O homem se mordeu de raiva, e somente resmungou para si.
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- Vai tomar banho de noite, Kibi-chan? - perguntou Fer, intrigada.
- Sim - respondeu Kibii - eu treinei muito hoje e deixei a higiene de lado.
Fer sorriu e disse:
- Está bem então. Boa noite, Kibi-chan.
- Boa noite, Fer.
Kibii adentrou a floresta, encontrando rapidamente o rio em quinze minutos: o rio seguia até o mar, e no meio, havia uma cachoeira bonita, onde as pessoas tomavam banho. Era final de verão, apenas alguns dias para o outono. A brisa sobrava fresca, a noite estrelada, tudo absolutamente escuro. Mas Kibii não tinha medo.
Tirou a roupa, e entrou no rio.
A água está uma delícia.
Andou mais ainda, sentindo a água lhe molhar o corpo.
Definitivamente.
A água chegou a molhar sua boca, mal alcançando seu nariz. Kibii permaneceu assim por uns instantes quase adormecida. Mergulhou de vez, molhando os cabelos negros, voltou a superfície. Ficou assim por uns dez minutos, brincando de mergulhar e subir, mergulhar e subir, nadando por toda a pequena área. Até sentir algo arranhando suas pernas, como se fossem pares de mãos tentando pegá-la.
Subiu a superfície, nervosa. Isso nunca tinha acontecido, e não havia plantas lá embaixo que causasse essa sensação. E era noite, como poderia ver? Resolveu ficar junto à terra, e começou a nadar de volta para a terra, onde suas roupas estavam. A mesma sensação: como se fossem mãos tentando pegar seus pés. Bateu os pés com violência, evitando pisar no chão.
Merda. O que é isso? e mais uma vez mergulhou com violência, tentando manter os olhos abertos dentro do rio.
Logo alcançou a terra, e foi obrigada a pisar para conseguir firmeza e sair do rio. Foi seu maior erro: finalmente o par de mãos a agarrou, caindo pra trás.
Tentou voltar a superfície, mas as mãos ficaram maiores e foram capazes de retê-la debaixo d'água.
- Adoro garotinhas como você...
Kibii se debateu, desesperada. A noite parecia tão estranha, tão triste debaixo d'água... era estranho, aquelas mãos lhe prendendo, e que estranho!, parecia que estava sendo presa por cordas... Tentou olhar o que a prendia, não conseguiu tamanha a escuridão.
- Não tentes fugir, me ofende!
Quem fala? Quem consegue falar debaixo d'água?
Tentou se debater mais uma vez, mas a força dos braços aumentou e ela se sentiu ainda mais sufocada, não conseguindo mais respirar. Estava sendo afogada.
Quem poderia fazer isso comigo? apesar de tudo, Kibii conseguia raciocinar mesmo com todo o desespero. Fechou os olhos, tentando ignorar a sensação de estar sendo presa e o fato de não conseguir respirar, devido a toda a água.
Parece aquelas histórias de demônios... demônios? Demônios? era como se sua mente desse um estalo, os olhos se abriram, a boca abrindo de surpresa Ophelia já está agindo! Como fomos tão burros? Preparando-nos tanto para a guerra, achando que Ophelia iria atacar abertamente... claro que não!
Ela não seria tão estúpida! Mas agora, como avisar? Já estou morrendo? Como avisar?
Forçou o rosto para cima, tentando se livrar das mãos: agora não debatia mais, somente empurrava o corpo para trás, como uma cobra tenta se livrar da sua pele. As mãos fraquejaram, inseguras, foi a deixa de Kibii: ela deu um empurrão para trás com toda a força, as mãos acabaram por se soltar, a água invadindo as narinas. O desespero diminuiu, levantou os braços, se apoiou na terra e imediatamente se sentou no meio da grama, ofegante.
- Ah. Ah. Ah.
Viu ondas surgirem onde estavam, e na água, um par de mãos negras surgiram, como se alguém estivesse se afogando. Kibii com medo, deu pra trás: não ia ter tempo de colocar a roupa toda, colocou só a capa negra que cobria todo o seu corpo. Definitivamente não podia ficar nua, ia pegar um baita resfriado e ia ficar vulnerável. Colocou a bolsa no ombro direito, a katana na mão esquerda. Deu uns passos pra trás, tentando enxergar as duas mãos que subiram à superfície. Mas estava escuro, estava frio...
Deu as costas, sentiu passos.
- Fugindo de mim? Me ofendeu!
Tremendo de medo, se virou e apesar da escuridão, conseguiu distinguir a silhueta feminina, repleta de curvas generosas, dois pares de mãos abraçando o corpo negro de mulher. Os cabelos eram enormes, lisos e as pontas estavam mergulhadas no rio (detalhe: ela estava de pé, no chão). Seus olhos eram amarelos, brilhantes. E Kibii pôde sentir seu sorriso frio, sua beleza absolutamente fascinante a crueldade contida em cada centímetro naquele pele negra como a noite.
- Que monstro é esse? - Kibii não estava acostumada com monstros fora do normal, só com uns gigantes. E a idéia de um demônio em forma de mulher com quatro braços existir lhe era totalmente nova. Recuou, assustada.
- Oh, querida, agora vê a minha face? - o demônio sorriu mais abertamente, mostrando os caninos afiados - sabe, os demônios me chamam de "A Moça dos Quatro Braços". Mas os humanos não me conhecem, até porque todos os que me viram acabaram por morrer, sabe... E nem deixo pista dos mortos... ^^
- É louca - Kibii murmurou, muito³ assustada. Lutara com tudo que era tipo e sabia que qualquer dia iria lutar com um demônio, mas nunca realmente parara pra pensar no que significaria.
Por que demônios não são como seres humanos, simples para lutar: eles costumam ter uma anatomia mais complexa, com diversas armadilhas no próprio corpo. Cada demônio tem uma arma diferente e costumam saber usá-la com maestria. E sem contar com o reflexo, a força, a destreza de um demônio que costuma humilhar um humano. Por isso é muito²² raro um humano lutar com um demônio: geralmente quem faz isso são os que tem sangue mágico, portanto possuem além de força bruta para lutarem justamente com eles.
E Kibii era uma elfa, mestre na arte das flechas. Porém o medo atrapalha e nos faz esquecer tudo o que aprendemos... e Kibii estava com medo.
Pra onde eu vou? Se eu for pro oeste, irei parar no mar. Se for pro leste, as vidas das pessoas inocentes estarão em risco. Mas assim eu poderia ter ajuda de Ly, Fer, Umrae... merda, ela está andando!
E se fosse pro sul, iria continuar na floresta. E não dava pra ir pro norte, o bicho estava lá.
Campinas é a única saída... mas os inocentes...
Bem, se gritasse... alguém poderia perceber que era ela. Se mandasse um sinal qualquer, qualquer coisa...
Continuou a andar pra trás, a tal da demônia sorrindo e andando devagar, como se quisesse apreciar cada segundo daquela tortura.
----------------------------------
- Artigo 7º da Lei Protetora? - Jorge riu - que besteira é essa?
Rafitcha respirou profundamente antes de responder, com a maior calma do mundo:
- "A ré que conter uma vida no ventre não pode ser presa, mesmo se for julgada culpada. Deve-se esperar até o nascimento da criança, e ela deve conviver com a
criança durante sete meses na prisão especial. Somente ao fim deste período, o bebê poderá ser separado da mãe e a ré culpada poderá cumprir a pena, contando-se a partir desse dia".
Todos ficaram em silêncio, parados, aguardando a reação de Jorge ao escutar o artigo citado com perfeição.
- Onde? - Jorge disse, mas sem o seu sorriso zombeteiro - me mostre.
- Código Penal, nesse mesmo livro preto que carregas - Rafitcha respondeu com segurança, o sorriso tomando conta da sua face.
Jorge ficou uns quinze segundos calado, cada segundo pulsante e agoniante, ah!, quanto tempo demorará pra tudo ter um fim! Raveneh com medo de perder o bebê, Johnny com medo de perder a amada, Tatiih temendo perder a vida e ser dada como desaparecida como supostamente acontecera com o irmão, Bia tentando se controlar para não enfiar a espada em Jorge e não causar mais problemas. Somente Rafitcha não tinha medo, somente estava leve, tão leve como o vento por ter desafiado, ter respondido, por estar certa.
Amai e Kitsune escutavam tudo, sem deixar escapar um som. Elas preferiam não se exporem, não agora. Somente na hora certa.
- Então vá embora, Jorge - Raveneh cortou o silêncio - está incomodando a mim, ao meu marido e aos meus amigos, além de incomodar ao meu bebê que ainda nem nasceu. Não tens apoio na lei para me prender. Vá embora.
- Jamais. Você tem sangue sujo, quem liga pra você? - Jorge respondeu, tentando recuperar sua compostura.
- Acontece que os que tem sangue sujo - Raveneh respondeu - são mais poderosos que você.
Jorge ficou calado, não sabendo o que responder.
Deu as costas, todos acharam que ele havia desistido. Amai e Kitsune se esconderam rapidamente quando Jorge passou pelo corredor, descendo a escadaria, olhando para a frente.
- Uuuuuf! - suspirou Raveneh, aliviada.
Todos olharam um para o outro aliviado, como se a tortura tivesse terminado. Somente Bia desconfiou:
- Ele desistiu depressa demais.
Rafitcha sentou-se na cama, procurando por Amai e Kitsune. Correra tão depressa... será que elas se perderam na hora de segui-la ou preferiram ficar em frente à casa? Embora esteja cercada de atenções e perguntas sobre o desaparecimento, não respondeu a nada, não disse nada: somente se preocupou com Amai e Kitsune. Será que preferiam se esconder, aguardando a hora de agir? Ou será que ficaram no barco, ou se perderam na pensão?
- Por que sumiu?
- Como voltou?
- Viu alguém?
Rafitcha ficava calada, bastante tonta e exausta.
BLAM.
- Fiquem atrás! - Bia gritou.
Eu não aguento mais perder
Eu não aguento mais andar pra trás
Bia ficou a frente, segurando a enorme espada. Desconfiou, Jorge desistira rápido demais. Agora podia escutar os homens subindo as escadas bruscamente, provavelmente com ordens de matar qualquer que resistisse à "prisão preventiva". Escutou-se berros de Jorge:
- Matem a todos! Mas mantenham Raveneh viva!
- Eu sabia! - Johnny gritou, tentando proteger Raveneh com seu corpo - esse papo de "julgamento justo"... Merda, Raveneh, que tipo de vida que você viveu?
Raveneh corou.
Por que você insiste em me perturbar?
O que você vai ganhar com isso?
Por que deseja tanto se vingar de algo que não fiz?
- Raveneh, agora não tem mais saída. São cinco! - Jorge gritou - acha que uma mulher grávida conseguirá vencer cinco homens!
- Esqueceu que quem luta aqui - disse Bia - sou eu. Todos protegem Raveneh da melhor forma que souber, e todos dão a vida por ela. E a minha forma de protegê-la, senhor, é com a espada.
- Uma mulher portando uma espada? Que ridículo! - zombou um dos homens enormes, a barba por fazer - aposto que mal consegue cortar um cachorro com ele.
ZUM.
Bia girara a espada de cima para baixo, como se fosse cortar um pedaço de madeira. Mas mirava no homem que acabara de dizer tal besteira, e sua cabeça se partiu em dois, a expressão ainda presunçosa. O sangue sujou todo o chão, os pedacinhos de cérebro no chão. Rafitcha e Tatiih quase vomitaram, Raveneh virou a cabeça pro lado tentando controlar o enjôo, Johnny abraçando Raveneh. Mas Bia estava impassível como se cortar cabeças humanas ao meio fosse um passatempo tipo jogar xadrez.
- Eu sou caçadora de demônios e tenho sangue de fada, e tenho o sangue puro - Bia disse - o próximo que duvidar das minhas habilidades terá o mesmo destino, ou até pior. Agora, Jorge, volte e espere o julgamento de forma justa, sem perturbar a nossa paz.
- Você matou um dos nossos! - Jorge protestou - homens, matem-na! Como pôde pensar em matar e deixar por assim?
Os quatro homens restantes foram à frente, brandindo suas espadas, mas estavam hesitantes: eles eram soldados e treinados para avaliar a força do oponente, classificar a força do oponente em "ridículo", "um pouco fácil", "dá pra se divertir", "forte", "risco de morrer", "muito perigoso", extremamente poderoso, 1% de
chance de sobreviver" e o mais raro "FUJA!". Definitivamente a força de Bia estaria classificada em "FUJA!". Mas eram ordens, e eles foram a frente, rezando antes e se despedindo mentalmente de todos os parentes para o fim evidente.
- Estúpidos - Bia murmurou, bradindo a espada.
Bem, Bia classificaria seus oponentes em um grau abaixo de "ridículo".
POW.
Em um golpe, ela abatera todos. Como a lâmina era de dois gumes, e não queria causar mais problemas (porque o fato de ter partido a cabeça de um cara já ia ser usado o tempo todo), feriu pouco. Cortou o primeiro no abdomên, o segundo nas pernas. Decepou os pés do terceiro e o braço esquerdo do quarto. Agora estavam todos guinchando, esparramando sangue, chorando, chamando por mamãe.
Está vendo o que você fez?
Estava tudo bem, mas você não podia descansar
Agora o seu mundo acabou, e eu tento salvar o meu
Não podia ter ficado quieto?
- E agora - Bia estava no meio de todo o sangue, os cabelos na cara e o suor na pele de tanto brandir a espada com força desnecessária, a voz fria e rouca - e agora, vai voltar e esperar o julgamento?
Jorge iria desafiar mais uma vez, mas ao olhar os homens choramingando com ferimentos por toda a parte e a espada, cujo sangue descia lentamente pelo fio, desistiu. Engoliu em seco.
- Até semana que vem, Raveneh.
Raveneh não respondeu, os lábios tremendo.
Jorge deu as costas, pouco se importanto com os homens agonizando.
- E agora, como é que vai ser? - Johnny perguntou - agora não é somente Raveneh que se arrisca a perder a vida... Bia, você também está em perigo.
Parte 23 - Sangue: Um Passo Para a Destruição.
- Então vai ser daqui a pouco tempo - disse o homem - não deixe escapar a oportunidade.
- Sim, senhor - Crazy sorriu - e a respeito de Ophelia?
- O chefe diz que não importa, vai seguir em frente - o outro disse - mas você sabe que Ophelia sempre odiou os humanos. Uns humanos a menos não fará a
mínima falta para ela, e estamos longe do seu campo de atuação.
- Você que pensa... - Crazy riu, zombando - ela é uma bruxa poderosa e pode governar em todas as terras que pensar. Bem, você é um tolo mestiço, sabe nada a
respeito disso...
O outro se indignou, e somente disse secamente:
- Vou-me. Olha o jeito que falas com um superior seu!
- Superior... sei. - Crazy sorriu, e deu as costas, andando lentamente.
O homem se mordeu de raiva, e somente resmungou para si.
----------------------------------
- Vai tomar banho de noite, Kibi-chan? - perguntou Fer, intrigada.
- Sim - respondeu Kibii - eu treinei muito hoje e deixei a higiene de lado.
Fer sorriu e disse:
- Está bem então. Boa noite, Kibi-chan.
- Boa noite, Fer.
Kibii adentrou a floresta, encontrando rapidamente o rio em quinze minutos: o rio seguia até o mar, e no meio, havia uma cachoeira bonita, onde as pessoas
tomavam banho. Era final de verão, apenas alguns dias para o outono. A brisa sobrava fresca, a noite estrelada, tudo absolutamente escuro. Mas Kibii não tinha
medo.
Tirou a roupa, e entrou no rio.
A água está uma delícia.
Andou mais ainda, sentindo a água lhe molhar o corpo.
Definitivamente.
A água chegou a molhar sua boca, mal alcançando seu nariz. Kibii permaneceu assim por uns instantes quase adormecida. Mergulhou de vez, molhando os
cabelos negros, voltou a superfície. Ficou assim por uns dez minutos, brincando de mergulhar e subir, mergulhar e subir, nadando por toda a pequena área. Até
sentir algo arranhando suas pernas, como se fossem pares de mãos tentando pegá-la.
Subiu a superfície, nervosa. Isso nunca tinha acontecido, e não havia plantas lá embaixo que causasse essa sensação. E era noite, como poderia ver? Resolveu
ficar junto à terra, e começou a nadar de volta para a terra, onde suas roupas estavam. A mesma sensação: como se fossem mãos tentando pegar seus pés. Bateu
os pés com violência, evitando pisar no chão.
Merda. O que é isso? e mais uma vez mergulhou com violência, tentando manter os olhos abertos dentro do rio.
Logo alcançou a terra, e foi obrigada a pisar para conseguir firmeza e sair do rio. Foi seu maior erro: finalmente o par de mãos a agarrou, caindo pra trás.
Tentou voltar a superfície, mas as mãos ficaram maiores e foram capazes de retê-la debaixo d'água.
- Adoro garotinhas como você...
Kibii se debateu, desesperada. A noite parecia tão estranha, tão triste debaixo d'água... era estranho, aquelas mãos lhe prendendo, e que estranho!, parecia que
estava sendo presa por cordas... Tentou olhar o que a prendia, não conseguiu tamanha a escuridão.
- Não tentes fugir, me ofende!
Quem fala? Quem consegue falar debaixo d'água?
Tentou se debater mais uma vez, mas a força dos braços aumentou e ela se sentiu ainda mais sufocada, não conseguindo mais respirar. Estava sendo afogada.
Quem poderia fazer isso comigo? apesar de tudo, Kibii conseguia raciocinar mesmo com todo o desespero. Fechou os olhos, tentando ignorar a
sensação de estar sendo presa e o fato de não conseguir respirar, devido a toda a água.
Parece aquelas histórias de demônios... demônios? Demônios? era como se sua mente desse um estalo, os olhos se abriram, a boca abrindo de
surpresa Ophelia já está agindo! Como fomos tão burros? Preparando-nos tanto para a guerra, achando que Ophelia iria atacar abertamente... claro que não!
Ela não seria tão estúpida! Mas agora, como avisar? Já estou morrendo? Como avisar?
Forçou o rosto para cima, tentando se livrar das mãos: agora não debatia mais, somente empurrava o corpo para trás, como uma cobra tenta se livrar da sua
pele. As mãos fraquejaram, inseguras, foi a deixa de Kibii: ela deu um empurrão para trás com toda a força, as mãos acabaram por se soltar, a água invadindo as
narinas. O desespero diminuiu, levantou os braços, se apoiou na terra e imediatamente se sentou no meio da grama, ofegante.
- Ah. Ah. Ah.
Viu ondas surgirem onde estavam, e na água, um par de mãos negras surgiram, como se alguém estivesse se afogando. Kibii com medo, deu pra trás: não ia ter
tempo de colocar a roupa toda, colocou só a capa negra que cobria todo o seu corpo. Definitivamente não podia ficar nua, ia pegar um baita resfriado e ia ficar
vulnerável. Colocou a bolsa no ombro direito, a katana na mão esquerda. Deu uns passos pra trás, tentando enxergar as duas mãos que subiram à superfície. Mas
estava escuro, estava frio...
Deu as costas, sentiu passos.
- Fugindo de mim? Me ofendeu!
Tremendo de medo, se virou e apesar da escuridão, conseguiu distinguir a silhueta feminina, repleta de curvas generosas, dois pares de mãos abraçando o corpo
negro de mulher. Os cabelos eram enormes, lisos e as pontas estavam mergulhadas no rio (detalhe: ela estava de pé, no chão). Seus olhos eram amarelos,
brilhantes. E Kibii pôde sentir seu sorriso frio, sua beleza absolutamente fascinante a crueldade contida em cada centímetro naquele pele negra como a noite.
- Que monstro é esse? - Kibii não estava acostumada com monstros fora do normal, só com uns gigantes. E a idéia de um demônio em forma de mulher com quatro
braços existir lhe era totalmente nova. Recuou, assustada.
- Oh, querida, agora vê a minha face? - o demônio sorriu mais abertamente, mostrando os caninos afiados - sabe, os demônios me chamam de "A Moça dos Quatro
Braços". Mas os humanos não me conhecem, até porque todos os que me viram acabaram por morrer, sabe... E nem deixo pista dos mortos... ^^
- É louca - Kibii murmurou, muito³ assustada. Lutara com tudo que era tipo e sabia que qualquer dia iria lutar com um demônio, mas nunca realmente parara pra
pensar no que significaria.
Por que demônios não são como seres humanos, simples para lutar: eles costumam ter uma anatomia mais complexa, com diversas armadilhas no próprio corpo.
Cada demônio tem uma arma diferente e costumam saber usá-la com maestria. E sem contar com o reflexo, a força, a destreza de um demônio que costuma
humilhar um humano. Por isso é muito²² raro um humano lutar com um demônio: geralmente quem faz isso são os que tem sangue mágico, portanto possuem
além de força bruta para lutarem justamente com eles.
E Kibii era uma elfa, mestre na arte das flechas. Porém o medo atrapalha e nos faz esquecer tudo o que aprendemos... e Kibii estava com medo.
Pra onde eu vou? Se eu for pro oeste, irei parar no mar. Se for pro leste, as vidas das pessoas inocentes estarão em risco. Mas assim eu poderia ter ajuda de
Ly, Fer, Umrae... merda, ela está andando!
E se fosse pro sul, iria continuar na floresta. E não dava pra ir pro norte, o bicho estava lá.
Campinas é a única saída... mas os inocentes...
Bem, se gritasse... alguém poderia perceber que era ela. Se mandasse um sinal qualquer, qualquer coisa...
Continuou a andar pra trás, a tal da demônia sorrindo e andando devagar, como se quisesse apreciar cada segundo daquela tortura.
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- Artigo 7º da Lei Protetora? - Jorge riu - que besteira é essa?
Rafitcha respirou profundamente antes de responder, com a maior calma do mundo:
- "A ré que conter uma vida no ventre não pode ser presa, mesmo se for julgada culpada. Deve-se esperar até o nascimento da criança, e ela deve conviver com a
criança durante sete meses na prisão especial. Somente ao fim deste período, o bebê poderá ser separado da mãe e a ré culpada poderá cumprir a pena,
contando-se a partir desse dia".
Todos ficaram em silêncio, parados, aguardando a reação de Jorge ao escutar o artigo citado com perfeição.
- Onde? - Jorge disse, mas sem o seu sorriso zombeteiro - me mostre.
- Código Penal, nesse mesmo livro preto que carregas - Rafitcha respondeu com segurança, o sorriso tomando conta da sua face.
Jorge ficou uns quinze segundos calado, cada segundo pulsante e agoniante, ah!, quanto tempo demorará pra tudo ter um fim! Raveneh com medo de perder o
bebê, Johnny com medo de perder a amada, Tatiih temendo perder a vida e ser dada como desaparecida como supostamente acontecera com o irmão, Bia
tentando se controlar para não enfiar a espada em Jorge e não causar mais problemas. Somente Rafitcha não tinha medo, somente estava leve, tão leve como o
vento por ter desafiado, ter respondido, por estar certa.
Amai e Kitsune escutavam tudo, sem deixar escapar um som. Elas preferiam não se exporem, não agora. Somente na hora certa.
- Então vá embora, Jorge - Raveneh cortou o silêncio - está incomodando a mim, ao meu marido e aos meus amigos, além de incomodar ao meu bebê que ainda
nem nasceu. Não tens apoio na lei para me prender. Vá embora.
- Jamais. Você tem sangue sujo, quem liga pra você? - Jorge respondeu, tentando recuperar sua compostura.
- Acontece que os que tem sangue sujo - Raveneh respondeu - são mais poderosos que você.
Jorge ficou calado, não sabendo o que responder.
Deu as costas, todos acharam que ele havia desistido. Amai e Kitsune se esconderam rapidamente quando Jorge passou pelo corredor, descendo a escadaria,
olhando para a frente.
- Uuuuuf! - suspirou Raveneh, aliviada.
Todos olharam um para o outro aliviado, como se a tortura tivesse terminado. Somente Bia desconfiou:
- Ele desistiu depressa demais.
Rafitcha sentou-se na cama, procurando por Amai e Kitsune. Correra tão depressa... será que elas se perderam na hora de segui-la ou preferiram ficar em frente à
casa? Embora esteja cercada de atenções e perguntas sobre o desaparecimento, não respondeu a nada, não disse nada: somente se preocupou com Amai e
Kitsune. Será que preferiam se esconder, aguardando a hora de agir? Ou será que ficaram no barco, ou se perderam na pensão?
- Por que sumiu?
- Como voltou?
- Viu alguém?
Rafitcha ficava calada, bastante tonta e exausta.
BLAM.
- Fiquem atrás! - Bia gritou.
Eu não aguento mais perder
Eu não aguento mais andar pra trás
Bia ficou a frente, segurando a enorme espada. Desconfiou, Jorge desistira rápido demais. Agora podia escutar os homens subindo as escadas bruscamente,
provavelmente com ordens de matar qualquer que resistisse à "prisão preventiva". Escutou-se berros de Jorge:
- Matem a todos! Mas mantenham Raveneh viva!
- Eu sabia! - Johnny gritou, tentando proteger Raveneh com seu corpo - esse papo de "julgamento justo"... Merda, Raveneh, que tipo de vida que você viveu?
Raveneh corou.
Por que você insiste em me perturbar?
O que você vai ganhar com isso?
Por que deseja tanto se vingar de algo que não fiz?
- Raveneh, agora não tem mais saída. São cinco! - Jorge gritou - acha que uma mulher grávida conseguirá vencer cinco homens!
- Esqueceu que quem luta aqui - disse Bia - sou eu. Todos protegem Raveneh da melhor forma que souber, e todos dão a vida por ela. E a minha forma de
protegê-la, senhor, é com a espada.
- Uma mulher portando uma espada? Que ridículo! - zombou um dos homens enormes, a barba por fazer - aposto que mal consegue cortar um cachorro com ele.
ZUM.
Bia girara a espada de cima para baixo, como se fosse cortar um pedaço de madeira. Mas mirava no homem que acabara de dizer tal besteira, e sua cabeça se
partiu em dois, a expressão ainda presunçosa. O sangue sujou todo o chão, os pedacinhos de cérebro no chão. Rafitcha e Tatiih quase vomitaram, Raveneh virou
a cabeça pro lado tentando controlar o enjôo, Johnny abraçando Raveneh. Mas Bia estava impassível como se cortar cabeças humanas ao meio fosse um
passatempo tipo jogar xadrez.
- Eu sou caçadora de demônios e tenho sangue de fada, e tenho o sangue puro - Bia disse - o próximo que duvidar das minhas habilidades terá o mesmo destino,
ou até pior. Agora, Jorge, volte e espere o julgamento de forma justa, sem perturbar a nossa paz.
- Você matou um dos nossos! - Jorge protestou - homens, matem-na! Como pôde pensar em matar e deixar por assim?
Os quatro homens restantes foram à frente, brandindo suas espadas, mas estavam hesitantes: eles eram soldados e treinados para avaliar a força do oponente,
classificar a força do oponente em "ridículo", "um pouco fácil", "dá pra se divertir", "forte", "risco de morrer", "muito perigoso", extremamente poderoso, 1% de
chance de sobreviver" e o mais raro "FUJA!". Definitivamente a força de Bia estaria classificada em "FUJA!". Mas eram ordens, e eles foram a frente, rezando antes
e se despedindo mentalmente de todos os parentes para o fim evidente.
- Estúpidos - Bia murmurou, bradindo a espada.
Bem, Bia classificaria seus oponentes em um grau abaixo de "ridículo".
POW.
Em um golpe, ela abatera todos. Como a lâmina era de dois gumes, e não queria causar mais problemas (porque o fato de ter partido a cabeça de um cara já ia ser
usado o tempo todo), feriu pouco. Cortou o primeiro no abdomên, o segundo nas pernas. Decepou os pés do terceiro e o braço esquerdo do quarto. Agora
estavam todos guinchando, esparramando sangue, chorando, chamando por mamãe.
Está vendo o que você fez?
Estava tudo bem, mas você não podia descansar
Agora o seu mundo acabou, e eu tento salvar o meu
Não podia ter ficado quieto?
- E agora - Bia estava no meio de todo o sangue, os cabelos na cara e o suor na pele de tanto brandir a espada com força desnecessária, a voz fria e rouca - e agora,
vai voltar e esperar o julgamento?
Jorge iria desafiar mais uma vez, mas ao olhar os homens choramingando com ferimentos por toda a parte e a espada, cujo sangue descia lentamente pelo fio,
desistiu. Engoliu em seco.
- Até semana que vem, Raveneh.
Raveneh não respondeu, os lábios tremendo.
Jorge deu as costas, pouco se importanto com os homens agonizando.
- E agora, como é que vai ser? - Johnny perguntou - agora não é somente Raveneh que se arrisca a perder a vida... Bia, você também está em perigo.
- Sim, senhor - Crazy sorriu - e a respeito de Ophelia?
- O chefe diz que não importa, vai seguir em frente - o outro disse - mas você sabe que Ophelia sempre odiou os humanos. Uns humanos a menos não fará a
mínima falta para ela, e estamos longe do seu campo de atuação.
- Você que pensa... - Crazy riu, zombando - ela é uma bruxa poderosa e pode governar em todas as terras que pensar. Bem, você é um tolo mestiço, sabe nada a
respeito disso...
O outro se indignou, e somente disse secamente:
- Vou-me. Olha o jeito que falas com um superior seu!
- Superior... sei. - Crazy sorriu, e deu as costas, andando lentamente.
O homem se mordeu de raiva, e somente resmungou para si.
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- Vai tomar banho de noite, Kibi-chan? - perguntou Fer, intrigada.
- Sim - respondeu Kibii - eu treinei muito hoje e deixei a higiene de lado.
Fer sorriu e disse:
- Está bem então. Boa noite, Kibi-chan.
- Boa noite, Fer.
Kibii adentrou a floresta, encontrando rapidamente o rio em quinze minutos: o rio seguia até o mar, e no meio, havia uma cachoeira bonita, onde as pessoas
tomavam banho. Era final de verão, apenas alguns dias para o outono. A brisa sobrava fresca, a noite estrelada, tudo absolutamente escuro. Mas Kibii não tinha
medo.
Tirou a roupa, e entrou no rio.
A água está uma delícia.
Andou mais ainda, sentindo a água lhe molhar o corpo.
Definitivamente.
A água chegou a molhar sua boca, mal alcançando seu nariz. Kibii permaneceu assim por uns instantes quase adormecida. Mergulhou de vez, molhando os
cabelos negros, voltou a superfície. Ficou assim por uns dez minutos, brincando de mergulhar e subir, mergulhar e subir, nadando por toda a pequena área. Até
sentir algo arranhando suas pernas, como se fossem pares de mãos tentando pegá-la.
Subiu a superfície, nervosa. Isso nunca tinha acontecido, e não havia plantas lá embaixo que causasse essa sensação. E era noite, como poderia ver? Resolveu
ficar junto à terra, e começou a nadar de volta para a terra, onde suas roupas estavam. A mesma sensação: como se fossem mãos tentando pegar seus pés. Bateu
os pés com violência, evitando pisar no chão.
Merda. O que é isso? e mais uma vez mergulhou com violência, tentando manter os olhos abertos dentro do rio.
Logo alcançou a terra, e foi obrigada a pisar para conseguir firmeza e sair do rio. Foi seu maior erro: finalmente o par de mãos a agarrou, caindo pra trás.
Tentou voltar a superfície, mas as mãos ficaram maiores e foram capazes de retê-la debaixo d'água.
- Adoro garotinhas como você...
Kibii se debateu, desesperada. A noite parecia tão estranha, tão triste debaixo d'água... era estranho, aquelas mãos lhe prendendo, e que estranho!, parecia que
estava sendo presa por cordas... Tentou olhar o que a prendia, não conseguiu tamanha a escuridão.
- Não tentes fugir, me ofende!
Quem fala? Quem consegue falar debaixo d'água?
Tentou se debater mais uma vez, mas a força dos braços aumentou e ela se sentiu ainda mais sufocada, não conseguindo mais respirar. Estava sendo afogada.
Quem poderia fazer isso comigo? apesar de tudo, Kibii conseguia raciocinar mesmo com todo o desespero. Fechou os olhos, tentando ignorar a
sensação de estar sendo presa e o fato de não conseguir respirar, devido a toda a água.
Parece aquelas histórias de demônios... demônios? Demônios? era como se sua mente desse um estalo, os olhos se abriram, a boca abrindo de
surpresa Ophelia já está agindo! Como fomos tão burros? Preparando-nos tanto para a guerra, achando que Ophelia iria atacar abertamente... claro que não!
Ela não seria tão estúpida! Mas agora, como avisar? Já estou morrendo? Como avisar?
Forçou o rosto para cima, tentando se livrar das mãos: agora não debatia mais, somente empurrava o corpo para trás, como uma cobra tenta se livrar da sua
pele. As mãos fraquejaram, inseguras, foi a deixa de Kibii: ela deu um empurrão para trás com toda a força, as mãos acabaram por se soltar, a água invadindo as
narinas. O desespero diminuiu, levantou os braços, se apoiou na terra e imediatamente se sentou no meio da grama, ofegante.
- Ah. Ah. Ah.
Viu ondas surgirem onde estavam, e na água, um par de mãos negras surgiram, como se alguém estivesse se afogando. Kibii com medo, deu pra trás: não ia ter
tempo de colocar a roupa toda, colocou só a capa negra que cobria todo o seu corpo. Definitivamente não podia ficar nua, ia pegar um baita resfriado e ia ficar
vulnerável. Colocou a bolsa no ombro direito, a katana na mão esquerda. Deu uns passos pra trás, tentando enxergar as duas mãos que subiram à superfície. Mas
estava escuro, estava frio...
Deu as costas, sentiu passos.
- Fugindo de mim? Me ofendeu!
Tremendo de medo, se virou e apesar da escuridão, conseguiu distinguir a silhueta feminina, repleta de curvas generosas, dois pares de mãos abraçando o corpo
negro de mulher. Os cabelos eram enormes, lisos e as pontas estavam mergulhadas no rio (detalhe: ela estava de pé, no chão). Seus olhos eram amarelos,
brilhantes. E Kibii pôde sentir seu sorriso frio, sua beleza absolutamente fascinante a crueldade contida em cada centímetro naquele pele negra como a noite.
- Que monstro é esse? - Kibii não estava acostumada com monstros fora do normal, só com uns gigantes. E a idéia de um demônio em forma de mulher com quatro
braços existir lhe era totalmente nova. Recuou, assustada.
- Oh, querida, agora vê a minha face? - o demônio sorriu mais abertamente, mostrando os caninos afiados - sabe, os demônios me chamam de "A Moça dos Quatro
Braços". Mas os humanos não me conhecem, até porque todos os que me viram acabaram por morrer, sabe... E nem deixo pista dos mortos... ^^
- É louca - Kibii murmurou, muito³ assustada. Lutara com tudo que era tipo e sabia que qualquer dia iria lutar com um demônio, mas nunca realmente parara pra
pensar no que significaria.
Por que demônios não são como seres humanos, simples para lutar: eles costumam ter uma anatomia mais complexa, com diversas armadilhas no próprio corpo.
Cada demônio tem uma arma diferente e costumam saber usá-la com maestria. E sem contar com o reflexo, a força, a destreza de um demônio que costuma
humilhar um humano. Por isso é muito²² raro um humano lutar com um demônio: geralmente quem faz isso são os que tem sangue mágico, portanto possuem
além de força bruta para lutarem justamente com eles.
E Kibii era uma elfa, mestre na arte das flechas. Porém o medo atrapalha e nos faz esquecer tudo o que aprendemos... e Kibii estava com medo.
Pra onde eu vou? Se eu for pro oeste, irei parar no mar. Se for pro leste, as vidas das pessoas inocentes estarão em risco. Mas assim eu poderia ter ajuda de
Ly, Fer, Umrae... merda, ela está andando!
E se fosse pro sul, iria continuar na floresta. E não dava pra ir pro norte, o bicho estava lá.
Campinas é a única saída... mas os inocentes...
Bem, se gritasse... alguém poderia perceber que era ela. Se mandasse um sinal qualquer, qualquer coisa...
Continuou a andar pra trás, a tal da demônia sorrindo e andando devagar, como se quisesse apreciar cada segundo daquela tortura.
----------------------------------
- Artigo 7º da Lei Protetora? - Jorge riu - que besteira é essa?
Rafitcha respirou profundamente antes de responder, com a maior calma do mundo:
- "A ré que conter uma vida no ventre não pode ser presa, mesmo se for julgada culpada. Deve-se esperar até o nascimento da criança, e ela deve conviver com a
criança durante sete meses na prisão especial. Somente ao fim deste período, o bebê poderá ser separado da mãe e a ré culpada poderá cumprir a pena,
contando-se a partir desse dia".
Todos ficaram em silêncio, parados, aguardando a reação de Jorge ao escutar o artigo citado com perfeição.
- Onde? - Jorge disse, mas sem o seu sorriso zombeteiro - me mostre.
- Código Penal, nesse mesmo livro preto que carregas - Rafitcha respondeu com segurança, o sorriso tomando conta da sua face.
Jorge ficou uns quinze segundos calado, cada segundo pulsante e agoniante, ah!, quanto tempo demorará pra tudo ter um fim! Raveneh com medo de perder o
bebê, Johnny com medo de perder a amada, Tatiih temendo perder a vida e ser dada como desaparecida como supostamente acontecera com o irmão, Bia
tentando se controlar para não enfiar a espada em Jorge e não causar mais problemas. Somente Rafitcha não tinha medo, somente estava leve, tão leve como o
vento por ter desafiado, ter respondido, por estar certa.
Amai e Kitsune escutavam tudo, sem deixar escapar um som. Elas preferiam não se exporem, não agora. Somente na hora certa.
- Então vá embora, Jorge - Raveneh cortou o silêncio - está incomodando a mim, ao meu marido e aos meus amigos, além de incomodar ao meu bebê que ainda
nem nasceu. Não tens apoio na lei para me prender. Vá embora.
- Jamais. Você tem sangue sujo, quem liga pra você? - Jorge respondeu, tentando recuperar sua compostura.
- Acontece que os que tem sangue sujo - Raveneh respondeu - são mais poderosos que você.
Jorge ficou calado, não sabendo o que responder.
Deu as costas, todos acharam que ele havia desistido. Amai e Kitsune se esconderam rapidamente quando Jorge passou pelo corredor, descendo a escadaria,
olhando para a frente.
- Uuuuuf! - suspirou Raveneh, aliviada.
Todos olharam um para o outro aliviado, como se a tortura tivesse terminado. Somente Bia desconfiou:
- Ele desistiu depressa demais.
Rafitcha sentou-se na cama, procurando por Amai e Kitsune. Correra tão depressa... será que elas se perderam na hora de segui-la ou preferiram ficar em frente à
casa? Embora esteja cercada de atenções e perguntas sobre o desaparecimento, não respondeu a nada, não disse nada: somente se preocupou com Amai e
Kitsune. Será que preferiam se esconder, aguardando a hora de agir? Ou será que ficaram no barco, ou se perderam na pensão?
- Por que sumiu?
- Como voltou?
- Viu alguém?
Rafitcha ficava calada, bastante tonta e exausta.
BLAM.
- Fiquem atrás! - Bia gritou.
Eu não aguento mais perder
Eu não aguento mais andar pra trás
Bia ficou a frente, segurando a enorme espada. Desconfiou, Jorge desistira rápido demais. Agora podia escutar os homens subindo as escadas bruscamente,
provavelmente com ordens de matar qualquer que resistisse à "prisão preventiva". Escutou-se berros de Jorge:
- Matem a todos! Mas mantenham Raveneh viva!
- Eu sabia! - Johnny gritou, tentando proteger Raveneh com seu corpo - esse papo de "julgamento justo"... Merda, Raveneh, que tipo de vida que você viveu?
Raveneh corou.
Por que você insiste em me perturbar?
O que você vai ganhar com isso?
Por que deseja tanto se vingar de algo que não fiz?
- Raveneh, agora não tem mais saída. São cinco! - Jorge gritou - acha que uma mulher grávida conseguirá vencer cinco homens!
- Esqueceu que quem luta aqui - disse Bia - sou eu. Todos protegem Raveneh da melhor forma que souber, e todos dão a vida por ela. E a minha forma de
protegê-la, senhor, é com a espada.
- Uma mulher portando uma espada? Que ridículo! - zombou um dos homens enormes, a barba por fazer - aposto que mal consegue cortar um cachorro com ele.
ZUM.
Bia girara a espada de cima para baixo, como se fosse cortar um pedaço de madeira. Mas mirava no homem que acabara de dizer tal besteira, e sua cabeça se
partiu em dois, a expressão ainda presunçosa. O sangue sujou todo o chão, os pedacinhos de cérebro no chão. Rafitcha e Tatiih quase vomitaram, Raveneh virou
a cabeça pro lado tentando controlar o enjôo, Johnny abraçando Raveneh. Mas Bia estava impassível como se cortar cabeças humanas ao meio fosse um
passatempo tipo jogar xadrez.
- Eu sou caçadora de demônios e tenho sangue de fada, e tenho o sangue puro - Bia disse - o próximo que duvidar das minhas habilidades terá o mesmo destino,
ou até pior. Agora, Jorge, volte e espere o julgamento de forma justa, sem perturbar a nossa paz.
- Você matou um dos nossos! - Jorge protestou - homens, matem-na! Como pôde pensar em matar e deixar por assim?
Os quatro homens restantes foram à frente, brandindo suas espadas, mas estavam hesitantes: eles eram soldados e treinados para avaliar a força do oponente,
classificar a força do oponente em "ridículo", "um pouco fácil", "dá pra se divertir", "forte", "risco de morrer", "muito perigoso", extremamente poderoso, 1% de
chance de sobreviver" e o mais raro "FUJA!". Definitivamente a força de Bia estaria classificada em "FUJA!". Mas eram ordens, e eles foram a frente, rezando antes
e se despedindo mentalmente de todos os parentes para o fim evidente.
- Estúpidos - Bia murmurou, bradindo a espada.
Bem, Bia classificaria seus oponentes em um grau abaixo de "ridículo".
POW.
Em um golpe, ela abatera todos. Como a lâmina era de dois gumes, e não queria causar mais problemas (porque o fato de ter partido a cabeça de um cara já ia ser
usado o tempo todo), feriu pouco. Cortou o primeiro no abdomên, o segundo nas pernas. Decepou os pés do terceiro e o braço esquerdo do quarto. Agora
estavam todos guinchando, esparramando sangue, chorando, chamando por mamãe.
Está vendo o que você fez?
Estava tudo bem, mas você não podia descansar
Agora o seu mundo acabou, e eu tento salvar o meu
Não podia ter ficado quieto?
- E agora - Bia estava no meio de todo o sangue, os cabelos na cara e o suor na pele de tanto brandir a espada com força desnecessária, a voz fria e rouca - e agora,
vai voltar e esperar o julgamento?
Jorge iria desafiar mais uma vez, mas ao olhar os homens choramingando com ferimentos por toda a parte e a espada, cujo sangue descia lentamente pelo fio,
desistiu. Engoliu em seco.
- Até semana que vem, Raveneh.
Raveneh não respondeu, os lábios tremendo.
Jorge deu as costas, pouco se importanto com os homens agonizando.
- E agora, como é que vai ser? - Johnny perguntou - agora não é somente Raveneh que se arrisca a perder a vida... Bia, você também está em perigo.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Extra.01 - Mais especial que nunca!
Todos os anos se faz uma festa comemorando o aniversário das Campinas, desde que Heppaceneoh acabou aceitando (depois de muita luta) se separar das Campinas. É um lugar jovem, de apenas algumas décadas.
- Umrae, pagou a provisão de comes especiais? Ly, você armou os detalhes para o espetáculo, né? - Maria dizia, nervosa, correndo pra um lado e outro, há uma semana da festa - Kibii, pare de estragar essas árvores com suas flechas! Fer, você também! Tatiih, ainda não terminou a colcha de retalhos? Raveneh, a provisão de batatas tá boa? Johnny, chame Rafitcha que eu quero falar com ela a respeito da decoração!
Era muita festa e nervosismo, e os preparativos começavam um mês antes, no final do inverno, quando a neve se desfazia.
Raveneh era casada com Johnny há apenas um ano, e ela estava feliz: convivia com as pessoas que amava, vivia em um lugar lindo e gostava de trabalhar.
Continuou a cortar as batatas apressada, apesar de estar distante da grande festa há uma semana.
Acontece que a festa é somente o grand finale, porque a grande festa está nas preparações: as mães deixam os filhos brincar até noite, toda a região fica iluminada
de noite com luzes coloridas, as pessoas dançam mais e dormem mais tarde pois ficam conversando em volta da fogueira, meninas ficam ensaiando passos de dança e espetáculos teatrais, garotos se vestem melhor e se sentem mais encorajados para convidarem meninas a dançar, as noites são sempre estreladas, tudo é mais colorido.
- Crianças! - Raveneh chamou, sorridente - querem doces? - mostrou uma cesta repleta de chocolates em forma de morangos, laranjas, abacaxis e outra frutas.
Riu.
Uma semana faltando para o grand finale.
- Quanto tempo que as Campinas existe, Maria? - perguntou Raveneh, olhando para o céu estrelado.
- Fará 50 anos agora - respondeu Maria, com visível orgulho na sua voz - lindo o céu, né?
- Sim, perfeito.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
A grande noite, na lua cheia da primavera. As crianças correm de um lado pro outro, mascaradas. Adolescentes sorriem, tímidos.
- Morangos em calda de chocolate *-* - fez Raveneh ao ver a mesa repleta de coisas absolutamente deliciosas que faria um faquir encher a boca d'água: morangos mergulhados em caldas de chocolate, pães de todos os tipos, bolos enormes decorados com cerejas, licores de todos os sabores, a carne a fartar perfeitamente suculenta, milho verde em todo o canto, sorvetes decorados com confeitos, caldo de carne com batatas.
Johnny sorriu:
- Quer ver o espetáculo?
- Sim - Raveneh sorriu - agora são as crianças menores, não é? Um musical...
Johnny concordou, a levando pela mão, até um espaço aberto, ainda meio vazio. Mas em quinze minutos, o lugar encheu e as luzes ao redor se apagaram, somente deixando as acesas no palco, montado há duas semanas.
Uma garotinha de aproximadamente cinco anos entrou, vestida com alguma coisa que lembraria um quimono, de tecido vermelho com bordados dourados, em forma de flores. Seu cabelo preto estava amarrado em um charmoso coque, mostrando seu rosto perfeitamente oval:
- Boa noite. Essa é uma peça representando a independência das Campinas - disse em uma voz infantil, sorrindo. Se afastou, e puxou as cordas, o que fez as cortinas se abrirem.
Sete crianças enfileiradas, todas vestidas de preto e usavam máscaras horrorosas, parecendo as faces de um lobo insano e cruel. Elas andaram de um lado pra outro, fazendo barulhos altos, como se tivessem rindo irritadamente.
Olu-Olu
A história aqui começa
O cântigo começou, as crianças dançando de forma inocente e esforçada, todos apreciando aquele puro espetáculo, relembrando as origens das Campinas.
Oh-Oh
Antes tudo isso era um só
Livving, Campinas e Heppaceneoh
Mas as pessoas não queriam mais isso
Nesse passo as crianças se deixaram ficar no canto, enquanto sete crianças entraram vestidos de branco e máscaras em forma de bonitos lobos da neve. Todas as quatorze crianças começaram a cantarolar juntas:
Era fome, seca, guerra, destruição
As pessoas não tinham mais o chão
E a esperança, aonde ela foi? Aonde ela foi?
E elas desejaram que tudo acabaram!
Mas veio a revolta separatista!
Para separar todo o reino em três!
Todos se concentravam naquilo, como se fosse a coisa que sustentava suas vidas. As crianças continuaram cantando, a lua continuou no céu, as pessoas felizes. Mas logo o espetáculo terminou, e outros vieram. E todos assistiram felizes, se fartando da comida e da alegria.
As horas se arrastaram, a lua começou a descer, as pessoas começaram a sentir sono.
- Foi bom - Umrae murmurou.
- Sim... - Tatiih concordou, já morta de tanto trabalho no final.
Dormiram em paz, dormindo sobre a terra que permanecia independente há 50 anos.
Homenagem especial ao Helpá *-*
- Umrae, pagou a provisão de comes especiais? Ly, você armou os detalhes para o espetáculo, né? - Maria dizia, nervosa, correndo pra um lado e outro, há uma semana da festa - Kibii, pare de estragar essas árvores com suas flechas! Fer, você também! Tatiih, ainda não terminou a colcha de retalhos? Raveneh, a provisão de batatas tá boa? Johnny, chame Rafitcha que eu quero falar com ela a respeito da decoração!
Era muita festa e nervosismo, e os preparativos começavam um mês antes, no final do inverno, quando a neve se desfazia.
Raveneh era casada com Johnny há apenas um ano, e ela estava feliz: convivia com as pessoas que amava, vivia em um lugar lindo e gostava de trabalhar.
Continuou a cortar as batatas apressada, apesar de estar distante da grande festa há uma semana.
Acontece que a festa é somente o grand finale, porque a grande festa está nas preparações: as mães deixam os filhos brincar até noite, toda a região fica iluminada
de noite com luzes coloridas, as pessoas dançam mais e dormem mais tarde pois ficam conversando em volta da fogueira, meninas ficam ensaiando passos de dança e espetáculos teatrais, garotos se vestem melhor e se sentem mais encorajados para convidarem meninas a dançar, as noites são sempre estreladas, tudo é mais colorido.
- Crianças! - Raveneh chamou, sorridente - querem doces? - mostrou uma cesta repleta de chocolates em forma de morangos, laranjas, abacaxis e outra frutas.
Riu.
Uma semana faltando para o grand finale.
- Quanto tempo que as Campinas existe, Maria? - perguntou Raveneh, olhando para o céu estrelado.
- Fará 50 anos agora - respondeu Maria, com visível orgulho na sua voz - lindo o céu, né?
- Sim, perfeito.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
A grande noite, na lua cheia da primavera. As crianças correm de um lado pro outro, mascaradas. Adolescentes sorriem, tímidos.
- Morangos em calda de chocolate *-* - fez Raveneh ao ver a mesa repleta de coisas absolutamente deliciosas que faria um faquir encher a boca d'água: morangos mergulhados em caldas de chocolate, pães de todos os tipos, bolos enormes decorados com cerejas, licores de todos os sabores, a carne a fartar perfeitamente suculenta, milho verde em todo o canto, sorvetes decorados com confeitos, caldo de carne com batatas.
Johnny sorriu:
- Quer ver o espetáculo?
- Sim - Raveneh sorriu - agora são as crianças menores, não é? Um musical...
Johnny concordou, a levando pela mão, até um espaço aberto, ainda meio vazio. Mas em quinze minutos, o lugar encheu e as luzes ao redor se apagaram, somente deixando as acesas no palco, montado há duas semanas.
Uma garotinha de aproximadamente cinco anos entrou, vestida com alguma coisa que lembraria um quimono, de tecido vermelho com bordados dourados, em forma de flores. Seu cabelo preto estava amarrado em um charmoso coque, mostrando seu rosto perfeitamente oval:
- Boa noite. Essa é uma peça representando a independência das Campinas - disse em uma voz infantil, sorrindo. Se afastou, e puxou as cordas, o que fez as cortinas se abrirem.
Sete crianças enfileiradas, todas vestidas de preto e usavam máscaras horrorosas, parecendo as faces de um lobo insano e cruel. Elas andaram de um lado pra outro, fazendo barulhos altos, como se tivessem rindo irritadamente.
Olu-Olu
A história aqui começa
O cântigo começou, as crianças dançando de forma inocente e esforçada, todos apreciando aquele puro espetáculo, relembrando as origens das Campinas.
Oh-Oh
Antes tudo isso era um só
Livving, Campinas e Heppaceneoh
Mas as pessoas não queriam mais isso
Nesse passo as crianças se deixaram ficar no canto, enquanto sete crianças entraram vestidos de branco e máscaras em forma de bonitos lobos da neve. Todas as quatorze crianças começaram a cantarolar juntas:
Era fome, seca, guerra, destruição
As pessoas não tinham mais o chão
E a esperança, aonde ela foi? Aonde ela foi?
E elas desejaram que tudo acabaram!
Mas veio a revolta separatista!
Para separar todo o reino em três!
Todos se concentravam naquilo, como se fosse a coisa que sustentava suas vidas. As crianças continuaram cantando, a lua continuou no céu, as pessoas felizes. Mas logo o espetáculo terminou, e outros vieram. E todos assistiram felizes, se fartando da comida e da alegria.
As horas se arrastaram, a lua começou a descer, as pessoas começaram a sentir sono.
- Foi bom - Umrae murmurou.
- Sim... - Tatiih concordou, já morta de tanto trabalho no final.
Dormiram em paz, dormindo sobre a terra que permanecia independente há 50 anos.
Homenagem especial ao Helpá *-*
terça-feira, 22 de abril de 2008
Parte 22 - Barco.
Raveneh decidira voltar para a pensão, pensando que talvez tenha acontecido algo com Rafitcha e ela decidira voltar à pensão para se proteger. Tal qual foi a sua decepção vendo que realmente a amiga desaparecera!...
- Onde Rafitcha estaria? – suspirou Raveneh preocupada – Johnny, tem alguma idéia?
- Não faço a mínima idéia! – Johnny disse, triste – a última vez que ela sumiu, o Rei resolvera bani-la das Campinas, injustamente...
- Sim... – Raveneh roeu as unhas – e já estou praticamente com oito meses... Queria voltar logo para as Campinas e ter o meu bebê lá...
- Então você teria que ser inocentada. Por que a gente veio pra cá, mesmo? – Tatiih perguntou, mais para si mesma do que para os outros.
- Porque ficamos com medo de Ophelia – Johnny respondeu, meio amargurado.
- Deve estar pra explodir uma guerra – Bia murmurou – sim, uma guerra deve estar para explodir.
- Bem...
Raveneh se deixou largar na cama, triste.
Quer deixar de ficar aí um pouco, Raveneh? perguntou uma voz lá dentro, uma voz conhecida. Me deixe, Catherine. Eu consigo Raveneh disse para si mesma.
- Alguém aí fora quer falar com você – uma mulher disse, abrindo a porta sem bater. Ao contrário do outro, ela falava sem nenhum sotaque.
- Crazy? – Raveneh perguntou, lembrando-se do outro.
- Ele diz que é parente – a mulher acrescentou, sem nenhuma expressão no seu rosto.
- Deixe-o entrar – Johnny consentiu, curioso.
A mulher fez uma reverência, e logo voltou, trazendo um homem ao lado. Ele sorriu, cinicamente.
- Jorge!
----------------------------------
- Parece uma boa área pra viver – murmurou Thá.
- Sim – Kibii disse, admirando seu dedo mais uma vez – é lindo.
- Você é uma arqueira? – perguntou Thá, observando a parede repleta de flechas diferentes, o tesouro de Kibii.
- Sim – Kibii respondeu distraidamente. Retirou um anel do seu dedo, guardando-o na pequena bolsa de couro: iria nadar no pequeno rio na floresta, não queria perder o anel que valia mais do que todas aquelas flechas.
- Onde aprendeu? - Thá insistiu.
Kibii pegou uma muda de roupas, parou pra pensar. Onde mesmo que eu aprendi? Mas ignorou os pensamentos que sempre a faziam se perder no passado, e somente sorriu:
- Por aí.
Thá fez uma breve reverência, pediu licença e se retirou para procurar o Vinicius.
----------------------------------
- O que está fazendo aqui? - perguntou Raveneh - o julgamento só será daqui a uma semana!
- Prisão preventiva foi decretada - disse Jorge com aquele seu ar de zombaria tentando se disfarçar de seriedade - portanto...
- Não vou! - protestou Raveneh - estou grávida, a lei não garante a minha proteção?
- Não brinca? Acontece que você é bastarda e estranha e de sangue sujo - disse Jorge - tem que vir conosco.
- Não! - Bia se intrometeu a frente, com seu aspecto frio como sempre - podem dá ré.
Jorge riu, as bochechas mais vermelhas que o costume:
- O que pode fazer com essa espada enorme? - disse com a voz de escárnio - tentar me cortar ao meio?
Bia não se deixou afligir por um estúpido: ela lutara com perigosos hirikis que comiam seres humanos e adorariam servir uma Bia a milanesa, vai partir pra cima de um humano boboca? Jamais!
Era estranho: o Jorge na frente de Bia, que estava na frente de Raveneh, esta sendo abraçada por Johnny e Tatiih sentada na cama, no canto do quarto, temendo a disputa.
----------------------------------
- A Pensão Yurii... - Amai sorriu - veja, o nosso barco.
Como a noite já caíra, Rafitcha não conseguia ver o barco de madeira em que subira. Mas a água agora era negra, refletindo a lua. Que lindo pensava esse lugar é bonito, pena que seja hospedado por tantos humanos estúpidos.
- Como são as Campinas? - perguntou Kitsune - eu escutei tantas lendas de lá...
- É lindo - Rafitcha disse - é como se... é como se a felicidade reinasse todos os dias, é tão bonito! Lá tem uma plantação de morangos! E Raveneh convenceu todo mundo a aumentar a plantação de batatas... e logo depois das Campinas, tem um imenso bosque que mais parece uma floresta... E logo depois, a praia, coisa mais linda. Uma amiga minha tem um navio, enorme e forte.
- Parece fantástico - Amai disse com aquele seu sorriso eterno, ao que Kitsune concordou:
- Sim. Quem sabe a gente não se muda pra lá quando Amai concluir os estudos dela?
- Tia... no verão eu já não preciso mais estudar. E estamos no outono, quase inverno... ou seja, começo de ano ;_;.
- É... - Kitsune abaixou o olhar, somente remando - mas eu queria que você fizesse o segundo grau...
- Esse reino não vai durar muito - Amai disse - melhor fugir. Veja, a corrupção está corroendo tudo e as pessoas estão com medo.
- Mas não tem fome nem seca - Kitsune ponderou - as pessoas demorarão mais para perceber.
- Sim... por isso será mais demorado - Amai concordou - mas deixa pra lá. A nossa missão agora é levar Rafitcha em segurança... A Pensão Yurii é bem perto do rio, e já estamos perto dessa margem.
- Aquela não é a pensão? - Kitsune perguntou, apontando para um casarão apagado com apenas um lampião aceso: YURII.
Rafitcha riu, contente. Mas ao chegar mais perto, conseguiu ver uns soldados parados à porta do portão graças aos fracos lampiões acesos ao redor. Ah, não!
Kitsune e Amai remavam tranquilamente, mas Rafitcha roubou um remo da tia e outro da sua sobrinha e começou a remar desesperadamente, como se fosse tirar o pai da forca.
- Merda! - exclamou, logo ela que não soltava um palavrão sequer - mil vezes merda! Raveneh está grávida, seus filhos da...
Logo o barco alcançou a margem, e Rafitcha pouco ligou em prender o barco ou qualquer coisa assim: só queria chegar à pensão rapidamente. Correu. A noite era fria, gélida. Porque a todo momento a pensão parecia ainda mais distante? A terra era macia demais, acaso a rua não era pavimentada?
Mas não era hora de pensar nisso.
Viu-se diante da pensão, duas janelas com as luzes acesas e a trupe de soldados na porta: dez soldados, Rafitcha poderia dizer: todos grandalhões, expressões sérias como se soubessem o que é morrer e renascer, os uniformes esverdeados, os olhares cinzentos. Mergulhou no meio do grupo, nenhum soldado se opôs. A porta estava aberta, viu o senhor que deu as chaves do seu quarto quando chegou caído no chão. Revirou-o. Não estava morto, só atordoado. Alguém batera na sua face, talvez tenha se opusedo a entrada de Jorge. Subiu as escadas desenfreamente, sem escutar o que um soldado dizia pra outro:
- Devíamos deixá-la entrar, chefe?
- Vai dar na mesma: todos comendo terra...
Abriu a porta. E aquela cena estranha com Jorge todo arrogante e a Bia com seu olhar desafiador.
- O que pensa, Jorge - Rafitcha começou a dizer, ofegante - que está fazendo, ao ferir o artigo 7º da Lei Protetora?
----------------------------------
- Vamos atrás dela! - exclamou Amai - ela pode estar em perigo!
Kitsune olhou para a pensão, olhou para o barco e tornou a olhar a pensão:
- Pouco me importa o barco! Vamos!
Correram desenfreadamente em direção à pensão, atravessando o grupo de soldados, e vendo o homem desmaiado no chão.
- Aonde é o quarto? - perguntou Amai, nervosa.
Kitsune olhou em volta. Mas tal como seu nome, era astuta e esperta: respirou profundamente, olhou para a escadaria e sorriu:
- Seguiremos - apontou para o chão: Rafitcha, quando saíra do barco, acabara molhando os sapatos e logo depois pisara em terra. E todo mundo sabe que isso resulta em uma lama que ninguém gosta de limpar.
Subiram a escadaria, e viraram a direita. A porta estava aberta, e podiam sentir o tensão de longe.
- Parece que vai ter algo interessante - Kitsune sorriu.
Amai somente tomou mais cuidado com os passos que dava:
- Sim... e nós seremos o elemento surpresa, Kitsune.
- Onde Rafitcha estaria? – suspirou Raveneh preocupada – Johnny, tem alguma idéia?
- Não faço a mínima idéia! – Johnny disse, triste – a última vez que ela sumiu, o Rei resolvera bani-la das Campinas, injustamente...
- Sim... – Raveneh roeu as unhas – e já estou praticamente com oito meses... Queria voltar logo para as Campinas e ter o meu bebê lá...
- Então você teria que ser inocentada. Por que a gente veio pra cá, mesmo? – Tatiih perguntou, mais para si mesma do que para os outros.
- Porque ficamos com medo de Ophelia – Johnny respondeu, meio amargurado.
- Deve estar pra explodir uma guerra – Bia murmurou – sim, uma guerra deve estar para explodir.
- Bem...
Raveneh se deixou largar na cama, triste.
Quer deixar de ficar aí um pouco, Raveneh? perguntou uma voz lá dentro, uma voz conhecida. Me deixe, Catherine. Eu consigo Raveneh disse para si mesma.
- Alguém aí fora quer falar com você – uma mulher disse, abrindo a porta sem bater. Ao contrário do outro, ela falava sem nenhum sotaque.
- Crazy? – Raveneh perguntou, lembrando-se do outro.
- Ele diz que é parente – a mulher acrescentou, sem nenhuma expressão no seu rosto.
- Deixe-o entrar – Johnny consentiu, curioso.
A mulher fez uma reverência, e logo voltou, trazendo um homem ao lado. Ele sorriu, cinicamente.
- Jorge!
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- Parece uma boa área pra viver – murmurou Thá.
- Sim – Kibii disse, admirando seu dedo mais uma vez – é lindo.
- Você é uma arqueira? – perguntou Thá, observando a parede repleta de flechas diferentes, o tesouro de Kibii.
- Sim – Kibii respondeu distraidamente. Retirou um anel do seu dedo, guardando-o na pequena bolsa de couro: iria nadar no pequeno rio na floresta, não queria perder o anel que valia mais do que todas aquelas flechas.
- Onde aprendeu? - Thá insistiu.
Kibii pegou uma muda de roupas, parou pra pensar. Onde mesmo que eu aprendi? Mas ignorou os pensamentos que sempre a faziam se perder no passado, e somente sorriu:
- Por aí.
Thá fez uma breve reverência, pediu licença e se retirou para procurar o Vinicius.
----------------------------------
- O que está fazendo aqui? - perguntou Raveneh - o julgamento só será daqui a uma semana!
- Prisão preventiva foi decretada - disse Jorge com aquele seu ar de zombaria tentando se disfarçar de seriedade - portanto...
- Não vou! - protestou Raveneh - estou grávida, a lei não garante a minha proteção?
- Não brinca? Acontece que você é bastarda e estranha e de sangue sujo - disse Jorge - tem que vir conosco.
- Não! - Bia se intrometeu a frente, com seu aspecto frio como sempre - podem dá ré.
Jorge riu, as bochechas mais vermelhas que o costume:
- O que pode fazer com essa espada enorme? - disse com a voz de escárnio - tentar me cortar ao meio?
Bia não se deixou afligir por um estúpido: ela lutara com perigosos hirikis que comiam seres humanos e adorariam servir uma Bia a milanesa, vai partir pra cima de um humano boboca? Jamais!
Era estranho: o Jorge na frente de Bia, que estava na frente de Raveneh, esta sendo abraçada por Johnny e Tatiih sentada na cama, no canto do quarto, temendo a disputa.
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- A Pensão Yurii... - Amai sorriu - veja, o nosso barco.
Como a noite já caíra, Rafitcha não conseguia ver o barco de madeira em que subira. Mas a água agora era negra, refletindo a lua. Que lindo pensava esse lugar é bonito, pena que seja hospedado por tantos humanos estúpidos.
- Como são as Campinas? - perguntou Kitsune - eu escutei tantas lendas de lá...
- É lindo - Rafitcha disse - é como se... é como se a felicidade reinasse todos os dias, é tão bonito! Lá tem uma plantação de morangos! E Raveneh convenceu todo mundo a aumentar a plantação de batatas... e logo depois das Campinas, tem um imenso bosque que mais parece uma floresta... E logo depois, a praia, coisa mais linda. Uma amiga minha tem um navio, enorme e forte.
- Parece fantástico - Amai disse com aquele seu sorriso eterno, ao que Kitsune concordou:
- Sim. Quem sabe a gente não se muda pra lá quando Amai concluir os estudos dela?
- Tia... no verão eu já não preciso mais estudar. E estamos no outono, quase inverno... ou seja, começo de ano ;_;.
- É... - Kitsune abaixou o olhar, somente remando - mas eu queria que você fizesse o segundo grau...
- Esse reino não vai durar muito - Amai disse - melhor fugir. Veja, a corrupção está corroendo tudo e as pessoas estão com medo.
- Mas não tem fome nem seca - Kitsune ponderou - as pessoas demorarão mais para perceber.
- Sim... por isso será mais demorado - Amai concordou - mas deixa pra lá. A nossa missão agora é levar Rafitcha em segurança... A Pensão Yurii é bem perto do rio, e já estamos perto dessa margem.
- Aquela não é a pensão? - Kitsune perguntou, apontando para um casarão apagado com apenas um lampião aceso: YURII.
Rafitcha riu, contente. Mas ao chegar mais perto, conseguiu ver uns soldados parados à porta do portão graças aos fracos lampiões acesos ao redor. Ah, não!
Kitsune e Amai remavam tranquilamente, mas Rafitcha roubou um remo da tia e outro da sua sobrinha e começou a remar desesperadamente, como se fosse tirar o pai da forca.
- Merda! - exclamou, logo ela que não soltava um palavrão sequer - mil vezes merda! Raveneh está grávida, seus filhos da...
Logo o barco alcançou a margem, e Rafitcha pouco ligou em prender o barco ou qualquer coisa assim: só queria chegar à pensão rapidamente. Correu. A noite era fria, gélida. Porque a todo momento a pensão parecia ainda mais distante? A terra era macia demais, acaso a rua não era pavimentada?
Mas não era hora de pensar nisso.
Viu-se diante da pensão, duas janelas com as luzes acesas e a trupe de soldados na porta: dez soldados, Rafitcha poderia dizer: todos grandalhões, expressões sérias como se soubessem o que é morrer e renascer, os uniformes esverdeados, os olhares cinzentos. Mergulhou no meio do grupo, nenhum soldado se opôs. A porta estava aberta, viu o senhor que deu as chaves do seu quarto quando chegou caído no chão. Revirou-o. Não estava morto, só atordoado. Alguém batera na sua face, talvez tenha se opusedo a entrada de Jorge. Subiu as escadas desenfreamente, sem escutar o que um soldado dizia pra outro:
- Devíamos deixá-la entrar, chefe?
- Vai dar na mesma: todos comendo terra...
Abriu a porta. E aquela cena estranha com Jorge todo arrogante e a Bia com seu olhar desafiador.
- O que pensa, Jorge - Rafitcha começou a dizer, ofegante - que está fazendo, ao ferir o artigo 7º da Lei Protetora?
----------------------------------
- Vamos atrás dela! - exclamou Amai - ela pode estar em perigo!
Kitsune olhou para a pensão, olhou para o barco e tornou a olhar a pensão:
- Pouco me importa o barco! Vamos!
Correram desenfreadamente em direção à pensão, atravessando o grupo de soldados, e vendo o homem desmaiado no chão.
- Aonde é o quarto? - perguntou Amai, nervosa.
Kitsune olhou em volta. Mas tal como seu nome, era astuta e esperta: respirou profundamente, olhou para a escadaria e sorriu:
- Seguiremos - apontou para o chão: Rafitcha, quando saíra do barco, acabara molhando os sapatos e logo depois pisara em terra. E todo mundo sabe que isso resulta em uma lama que ninguém gosta de limpar.
Subiram a escadaria, e viraram a direita. A porta estava aberta, e podiam sentir o tensão de longe.
- Parece que vai ter algo interessante - Kitsune sorriu.
Amai somente tomou mais cuidado com os passos que dava:
- Sim... e nós seremos o elemento surpresa, Kitsune.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Parte 21 – A Raposa e O Doce (em japonês o_o)
- Rafitcha está demorando – Raveneh murmurou, preocupada.
- Mas ela só saiu faz uns cinco, seis minutos – disse Tatiih – e a mulher nem terminou os sorvetes... Deve estar voltando...
Raveneh mordeu o lábio inferior. Sabia que acontecera alguma coisa, mesmo que o tempo não fosse demais: como observara Tatiih, Rafitcha estava dentro do tempo dela. Mas Raveneh sentia que ela demorava, que acontecera algo de ruim. A barriga pesou por um instante.
- Ai. Ai, Jorge, o que fez agora?
----------------------------------
Rafitcha não se deixaria abalar por tão pouco, embora a correnteza a impedisse de pensar direito. Debateu-se, estranhando estar tão vazio, já que ninguém reparara em alguém se debatendo no rio. Foi jogada para trás, a cada tentativa de parar em algum lugar. A cada rocha ou tronco que via, tentava se segurar, sem sucesso.
Maldição pensava louca da vida. Já eram umas quatro da tarde, o sol começou a descer e o frio estava começando a penetrar no corpo de Rafitcha.
O rio era fundo, e seus pés não alcançavam o chão. O vestido ficou pesado, e começou a mexer os pés violentamente, sempre se arrastando para a esquerda, a margem oposta a que estava.
Conseguiu se segurar em um galho, a água passando pelo seu corpo furiosamente. Ofegou. Com muito sacrifício, se apoiou na terra, seu cabelo fazendo pingar a água.
- Ah – gemia – ah.
Reparou que a distância entre uma margem e outra era descomunal. Deve ser o Rio de Ouro que Raveneh falou, quando víamos para cá... o rio que mata a sede com sua água e a fome com seus peixes por todo o país... Tentou respirar mais um pouco, a água formando a lama com terra. Esse lado é triste reparou Rafitcha. Sim, de fato: a margem direita era imponente, com uma bela arquitetura e ruas pavimentadas. Mas essa margem era suja, de terra batida pra todo canto e a feira era em um estado tão deplorável que sinceramente Rafitcha não compreendeu como alguém podia comer algo que viesse dessa feira.
- Não morreu ainda? – era a mesma voz que ouvira antes de cair n’água. Recuou, assim poderia lutar um pouco antes de cair no rio novamente.
Afastou o cabelo do rosto, os lábios tremendo de frio, o vestido sujo de lama, gravetos presos no cabelo. Eu não devo estar muito apresentável... mas não é hora de pensar nisso...
- Mas logo acabará seu sofrimento – o tal homem riu. Rafitcha recuou mais uma vez, a energia lhe faltando. Não costumava chorar, mas estava com vontade agora. Mas não ia ser agora que demonstraria tal fraqueza. Mordeu o lábio inferior, não percebendo que as pessoas pararam para observar a cena que se desenrolava entre a moça suja e molhada e o cara forte com cara de mau.
- Quem é você? – Rafitcha tentou ganhar tempo.
- Não te interessa – o homem disse – só interessa que você atrapalha os negócios do chefe.
Rafitcha deu mais um passo pra trás, tentando pensar rapidamente: quem seria ameaçado por ela? Quem acharia que Rafitcha prejudicaria? Quem? Não conhecia ninguém naquele país!
Jorge
- Você não vai conseguir.
- Veremos.
Ele chegou mais perto, sem Rafitcha revidar: pois ela tinha um plano. Reparou que sua face era grotesca, com uma cicatriz avermelhada atravessando o olho direito, o nariz grande e aparentemente quebrado, a boca se contorcendo, os olhos pequenos e de alguma cor que Rafitcha não conseguira definir.
Girou o corpo, ficando de costas para o rio. O homem riu, percebendo que poderia acuar Rafitcha novamente e depois joga-la no rio.
Mas Rafitcha era mais esperta.
- Quem manda em você? – perguntou.
- Isso não te interessa, mocinha – o homem respondeu.
A garota respirou fundo. Não estava dando certo, teria que ousar. Nem que fosse preciso matar o cara depois.
- Então Jorge pagou quanto a você? – deixou a pergunta no ar, categórica, como uma afirmação. Pagaria pra ver.
- Ah, um bom dinheiro! – o homem respondeu, aos risos. Mas logo seu riso se desfez e uma expressão confusa apareceu – err-- do que está falando?
Rafitcha sorriu, vitoriosa:
- Há-há.
Na hora H, em que o homem se atirou para a frente, ela deu um passo para a direita. O homem foi parar direto no rio...
Porém ele não era idiota, e puxou Rafitcha para o rio, pegando na ponta do vestido dela, o que a faz cair.
Merda! e olha que Rafitcha tem uma mente muito limpa! Estranhamente a correnteza deve estar mais fraca, e o sol começou a descer. Estava ficando frio.
Se segurou nos galhos, se debatendo para não ser afogada pelo homem que persistia em pé Maldita parte rasa!
- Morra!
- Nem morta! – gritou Rafitcha, não sacando a ironia na frase.
As pessoas começaram a se amontoar na beira do rio, sem saber se deixavam os dois se matarem ou se separavam os dois. Mas quem iria mergulhar no rio, arriscando morrer afogado?
- Ah – ofegou Rafitcha quando finalmente conseguiu jogar o homem pra trás, fazendo ele cair na parte funda – ah-ah.
A água batia no seu corpo, gelada. Seus cabelos estavam absolutamente desarrumados, o vestido colando na pele. Tentou respirar mais uma vez, concluindo com alívio que o homem fora levado pela correnteza e simplesmente resolveu não ir contra a corrente.
- Quer ajuda, mocinha? – perguntou uma mulher, dando a mão.
Rafitcha sorriu.
----------------------------------
- Ela está demorando demais – Raveneh murmurou – vamos até lá.
- Está bem – disse Johnny.
De fato a demora era absurda: transcorrera uma hora e nada da amiga voltar!
Raveneh encontrou a cabana que vendia sorvetes, logo em frente ao rio. A mulher estava começando a fechar a simples barraca, e logo Raveneh percebeu que Rafitcha não estava por ali.
- Johnny – começou, a respiração falhando – Rafitcha sabe nadar?
- Um pouco – Johnny respondeu – por quê? Peraí... você está achando que ela caiu nesse rio? Mas... como?
- Ela é um perigo para Jorge – pode não parecer, mas Raveneh raciocina rápido e sabia desde o começo o que significava a vinda dela e o que Jorge realmente queria. E agora se lamentava por não ter avisado os amigos – ele percebeu que ela podia vencer. Ai, céus, e agora? Rafitcha não conhece essa cidade, e as pessoas daqui são traiçoeiras... Será que ela está bem?
- Perguntemos para a mulher – Tatiih disse, apontando para a mulher na barraca – ei, você...
- Sim? – a mulher sorriu, mostrando sua falta de dentes.
- Você viu uma moça de cabelos castanhos e... ela estava usando um vestido azul-escuro...?
- Uma moça de olhos castanhos? – a mulher ficou com a expressão pensativa – que pediu o quê?
- Manga, chocolate, morango...
- Sim – interrompeu a mulher – ela veio aqui, pediu. Fui fazer, voltei, ela já não estava mais aqui. Achei que tinha cansado de esperar, mas só demorei uns dez minutos...
- AiMeuDeus – Raveneh quase chorou – AiMeuDeus, e agora?
----------------------------------
- O-Obrigada... – Rafitcha suspirou – obrigada...
Seus lábios tremiam por causa do frio que sentia, apesar de estar embrulhada em uma manta, enquanto o vestido secava.
- Não tem de quê – disse a mulher. Ela era alta, as feições amáveis – qual seu nome?
- R-Rafitcha – respondeu, se contendo pra não chorar de alívio e preocupação. Não conhecia nada daquele país, como voltaria para a pensão? Como diria aos amigos que estava bem agora?
- Eu me chamo Kitsune – disse a mulher – eu moro com a minha sobrinha, Amai. Ela vai chegar logo.
- Kitsune e Amai... – Rafitcha sorriu – parecem nomes orientais.
- Sim, e são – respondeu Kitsune, com um ar de tristeza – nós viemos do Oriente, até todos os meus irmãos e pais morrerem em uma terrível tragédia. Mas pude salvar Amai, na época, com oito anos de idade. E aí passamos a viajar, e começamos a morar aqui.
- Eu tenho a impressão de que vocês não são humanas... – Rafitcha soltou, mas logo se calou, constrangida. Perguntar sobre a origem de alguém é meio como um tabu naquele país, fato que Raveneh a prevenia constantemente.
Kitsune sorriu:
- De fato, nós não somos completamente humanas – meus avós paternos eram humanos puros, mas a minha avó materna acabou se apaixonando por um meio-elfo. Ou seja, tem alguma magia élfica no nosso sangue. Mas somos consideradas humanas por aqui. Minhas orelhas sequer são pontudas!
- Interessante – Rafitcha não falou mais nada. Era o suficiente e não queria invadir a privacidade da mulher que a acolhera.
Escutou a porta bater.
- Tia! – era uma voz de garota.
- Estou aqui! – Kitsune disse. E virando-se para Rafitcha, disse: - Amai chegou. Ela é um doce de garota, você verá.
A garota chegou à sala, onde viu Kitsune e Rafitcha, sentadas, uma de frente a outra. A garota franziu os olhos, visivelmente intrigada.
- Amai, essa é a Rafitcha. Rafitcha, essa é a Amai – apresentou Kitsune.
Rafitcha reparou que Amai tinha as feições amáveis, até mais do que a tia. Seus olhos tinham um verde espantoso, um verde muito vivo com os cabelos ruivos e ondulados arrumados em um rabo-de-cavalo. A sua roupa era de estudante: a saia pregueada, azul-marinho, a camiseta branca com um casaco simples e azul-marinho. A meia-calça branca, os sapatos de boneca pretos.
- Prazer, Rafitcha – Amai disse – vejo que conheceu a minha tia. Bem, de onde você é?
- Campinas – Rafitcha respondeu – err...
- Já ouvi falar – Amai sorriu – dizem que é um lugar fantástico. Então porque está aqui, em um reino tão simples e triste?
Rafitcha hesitou antes de contar. Será que faria bem contar a verdade?
- Bem, eu vim porque uma amiga minha vai ser julgada - de qualquer modo, nada disso é segredo - e eu sou a advogada dela.
Kitsune se intrigou:
- Então por isso que tentaram lhe matar?
Ela é perpiscaz... Rafitcha ficou calada. Mas quem cala, consente e Amai perguntou:
- Quem acusou a sua amiga?
- Jorge.
- Jorge? Jorge Liptene? Aquele cujo pai era da oposição, a mãe...
- Jorge Liptene? Não sabia que o sobrenome dele era esse... mas se bem me lembro, era o nome de solteira dela.
- Ele teve nove ou dez irmãos – Amai disse – uma das filhas de um dos irmãos dele estuda no mesmo colégio que eu. Ela se chama Mary Jane e odeia o tio, diz que é muito arrogante e não mede esforços para subir ao topo da Justiça nesse país...
- Essa Mary Jane sabe algo a respeito – Rafitcha respirou fundo – a respeito de uma garota que se chama Raveneh?
- Ela já mencionou umas duas vezes, e ambas nas últimas semanas. É contra ela que esse Jorge está movendo um processo, não é? – Amai respondeu com outra pergunta – vejo que essa Raveneh fez algo que a desagradou... um crime?
- Matar a própria mãe.
Amai somente sorriu. Como eu pensava.
- E ela é realmente culpada? – Kitsune perguntou, a voz repleta de preocupação.
- Sim. – dessa vez foi a vez de Rafitcha sorrir – mas ninguém vai falar isso no tribunal, certo?
Kitsune acabou por concordar.
- Você está hospedada onde?
- Pensão Yurii – Rafitcha respondeu – do outro lado do rio.
- Te levaremos até lá – Amai disse – seus amigos devem estar preocupados.
Só aí que Rafitcha percebeu que já era noite e as estrelas já brilhavam, perfeitamente visíveis. Será que meus amigos voltaram para a pensão ou ficaram me procurando na beira do rio?
Mordeu o lábio inferior de preocupação. E consentiu que Kitsune e Amai a levassem para a Pensão Yurii, do outro lado do rio.
Por algum motivo estranho, não consegui postar o desenho correspondente. Mas caso queira ver, é só clicar aqui.
- Mas ela só saiu faz uns cinco, seis minutos – disse Tatiih – e a mulher nem terminou os sorvetes... Deve estar voltando...
Raveneh mordeu o lábio inferior. Sabia que acontecera alguma coisa, mesmo que o tempo não fosse demais: como observara Tatiih, Rafitcha estava dentro do tempo dela. Mas Raveneh sentia que ela demorava, que acontecera algo de ruim. A barriga pesou por um instante.
- Ai. Ai, Jorge, o que fez agora?
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Rafitcha não se deixaria abalar por tão pouco, embora a correnteza a impedisse de pensar direito. Debateu-se, estranhando estar tão vazio, já que ninguém reparara em alguém se debatendo no rio. Foi jogada para trás, a cada tentativa de parar em algum lugar. A cada rocha ou tronco que via, tentava se segurar, sem sucesso.
Maldição pensava louca da vida. Já eram umas quatro da tarde, o sol começou a descer e o frio estava começando a penetrar no corpo de Rafitcha.
O rio era fundo, e seus pés não alcançavam o chão. O vestido ficou pesado, e começou a mexer os pés violentamente, sempre se arrastando para a esquerda, a margem oposta a que estava.
Conseguiu se segurar em um galho, a água passando pelo seu corpo furiosamente. Ofegou. Com muito sacrifício, se apoiou na terra, seu cabelo fazendo pingar a água.
- Ah – gemia – ah.
Reparou que a distância entre uma margem e outra era descomunal. Deve ser o Rio de Ouro que Raveneh falou, quando víamos para cá... o rio que mata a sede com sua água e a fome com seus peixes por todo o país... Tentou respirar mais um pouco, a água formando a lama com terra. Esse lado é triste reparou Rafitcha. Sim, de fato: a margem direita era imponente, com uma bela arquitetura e ruas pavimentadas. Mas essa margem era suja, de terra batida pra todo canto e a feira era em um estado tão deplorável que sinceramente Rafitcha não compreendeu como alguém podia comer algo que viesse dessa feira.
- Não morreu ainda? – era a mesma voz que ouvira antes de cair n’água. Recuou, assim poderia lutar um pouco antes de cair no rio novamente.
Afastou o cabelo do rosto, os lábios tremendo de frio, o vestido sujo de lama, gravetos presos no cabelo. Eu não devo estar muito apresentável... mas não é hora de pensar nisso...
- Mas logo acabará seu sofrimento – o tal homem riu. Rafitcha recuou mais uma vez, a energia lhe faltando. Não costumava chorar, mas estava com vontade agora. Mas não ia ser agora que demonstraria tal fraqueza. Mordeu o lábio inferior, não percebendo que as pessoas pararam para observar a cena que se desenrolava entre a moça suja e molhada e o cara forte com cara de mau.
- Quem é você? – Rafitcha tentou ganhar tempo.
- Não te interessa – o homem disse – só interessa que você atrapalha os negócios do chefe.
Rafitcha deu mais um passo pra trás, tentando pensar rapidamente: quem seria ameaçado por ela? Quem acharia que Rafitcha prejudicaria? Quem? Não conhecia ninguém naquele país!
Jorge
- Você não vai conseguir.
- Veremos.
Ele chegou mais perto, sem Rafitcha revidar: pois ela tinha um plano. Reparou que sua face era grotesca, com uma cicatriz avermelhada atravessando o olho direito, o nariz grande e aparentemente quebrado, a boca se contorcendo, os olhos pequenos e de alguma cor que Rafitcha não conseguira definir.
Girou o corpo, ficando de costas para o rio. O homem riu, percebendo que poderia acuar Rafitcha novamente e depois joga-la no rio.
Mas Rafitcha era mais esperta.
- Quem manda em você? – perguntou.
- Isso não te interessa, mocinha – o homem respondeu.
A garota respirou fundo. Não estava dando certo, teria que ousar. Nem que fosse preciso matar o cara depois.
- Então Jorge pagou quanto a você? – deixou a pergunta no ar, categórica, como uma afirmação. Pagaria pra ver.
- Ah, um bom dinheiro! – o homem respondeu, aos risos. Mas logo seu riso se desfez e uma expressão confusa apareceu – err-- do que está falando?
Rafitcha sorriu, vitoriosa:
- Há-há.
Na hora H, em que o homem se atirou para a frente, ela deu um passo para a direita. O homem foi parar direto no rio...
Porém ele não era idiota, e puxou Rafitcha para o rio, pegando na ponta do vestido dela, o que a faz cair.
Merda! e olha que Rafitcha tem uma mente muito limpa! Estranhamente a correnteza deve estar mais fraca, e o sol começou a descer. Estava ficando frio.
Se segurou nos galhos, se debatendo para não ser afogada pelo homem que persistia em pé Maldita parte rasa!
- Morra!
- Nem morta! – gritou Rafitcha, não sacando a ironia na frase.
As pessoas começaram a se amontoar na beira do rio, sem saber se deixavam os dois se matarem ou se separavam os dois. Mas quem iria mergulhar no rio, arriscando morrer afogado?
- Ah – ofegou Rafitcha quando finalmente conseguiu jogar o homem pra trás, fazendo ele cair na parte funda – ah-ah.
A água batia no seu corpo, gelada. Seus cabelos estavam absolutamente desarrumados, o vestido colando na pele. Tentou respirar mais uma vez, concluindo com alívio que o homem fora levado pela correnteza e simplesmente resolveu não ir contra a corrente.
- Quer ajuda, mocinha? – perguntou uma mulher, dando a mão.
Rafitcha sorriu.
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- Ela está demorando demais – Raveneh murmurou – vamos até lá.
- Está bem – disse Johnny.
De fato a demora era absurda: transcorrera uma hora e nada da amiga voltar!
Raveneh encontrou a cabana que vendia sorvetes, logo em frente ao rio. A mulher estava começando a fechar a simples barraca, e logo Raveneh percebeu que Rafitcha não estava por ali.
- Johnny – começou, a respiração falhando – Rafitcha sabe nadar?
- Um pouco – Johnny respondeu – por quê? Peraí... você está achando que ela caiu nesse rio? Mas... como?
- Ela é um perigo para Jorge – pode não parecer, mas Raveneh raciocina rápido e sabia desde o começo o que significava a vinda dela e o que Jorge realmente queria. E agora se lamentava por não ter avisado os amigos – ele percebeu que ela podia vencer. Ai, céus, e agora? Rafitcha não conhece essa cidade, e as pessoas daqui são traiçoeiras... Será que ela está bem?
- Perguntemos para a mulher – Tatiih disse, apontando para a mulher na barraca – ei, você...
- Sim? – a mulher sorriu, mostrando sua falta de dentes.
- Você viu uma moça de cabelos castanhos e... ela estava usando um vestido azul-escuro...?
- Uma moça de olhos castanhos? – a mulher ficou com a expressão pensativa – que pediu o quê?
- Manga, chocolate, morango...
- Sim – interrompeu a mulher – ela veio aqui, pediu. Fui fazer, voltei, ela já não estava mais aqui. Achei que tinha cansado de esperar, mas só demorei uns dez minutos...
- AiMeuDeus – Raveneh quase chorou – AiMeuDeus, e agora?
----------------------------------
- O-Obrigada... – Rafitcha suspirou – obrigada...
Seus lábios tremiam por causa do frio que sentia, apesar de estar embrulhada em uma manta, enquanto o vestido secava.
- Não tem de quê – disse a mulher. Ela era alta, as feições amáveis – qual seu nome?
- R-Rafitcha – respondeu, se contendo pra não chorar de alívio e preocupação. Não conhecia nada daquele país, como voltaria para a pensão? Como diria aos amigos que estava bem agora?
- Eu me chamo Kitsune – disse a mulher – eu moro com a minha sobrinha, Amai. Ela vai chegar logo.
- Kitsune e Amai... – Rafitcha sorriu – parecem nomes orientais.
- Sim, e são – respondeu Kitsune, com um ar de tristeza – nós viemos do Oriente, até todos os meus irmãos e pais morrerem em uma terrível tragédia. Mas pude salvar Amai, na época, com oito anos de idade. E aí passamos a viajar, e começamos a morar aqui.
- Eu tenho a impressão de que vocês não são humanas... – Rafitcha soltou, mas logo se calou, constrangida. Perguntar sobre a origem de alguém é meio como um tabu naquele país, fato que Raveneh a prevenia constantemente.
Kitsune sorriu:
- De fato, nós não somos completamente humanas – meus avós paternos eram humanos puros, mas a minha avó materna acabou se apaixonando por um meio-elfo. Ou seja, tem alguma magia élfica no nosso sangue. Mas somos consideradas humanas por aqui. Minhas orelhas sequer são pontudas!
- Interessante – Rafitcha não falou mais nada. Era o suficiente e não queria invadir a privacidade da mulher que a acolhera.
Escutou a porta bater.
- Tia! – era uma voz de garota.
- Estou aqui! – Kitsune disse. E virando-se para Rafitcha, disse: - Amai chegou. Ela é um doce de garota, você verá.
A garota chegou à sala, onde viu Kitsune e Rafitcha, sentadas, uma de frente a outra. A garota franziu os olhos, visivelmente intrigada.
- Amai, essa é a Rafitcha. Rafitcha, essa é a Amai – apresentou Kitsune.
Rafitcha reparou que Amai tinha as feições amáveis, até mais do que a tia. Seus olhos tinham um verde espantoso, um verde muito vivo com os cabelos ruivos e ondulados arrumados em um rabo-de-cavalo. A sua roupa era de estudante: a saia pregueada, azul-marinho, a camiseta branca com um casaco simples e azul-marinho. A meia-calça branca, os sapatos de boneca pretos.
- Prazer, Rafitcha – Amai disse – vejo que conheceu a minha tia. Bem, de onde você é?
- Campinas – Rafitcha respondeu – err...
- Já ouvi falar – Amai sorriu – dizem que é um lugar fantástico. Então porque está aqui, em um reino tão simples e triste?
Rafitcha hesitou antes de contar. Será que faria bem contar a verdade?
- Bem, eu vim porque uma amiga minha vai ser julgada - de qualquer modo, nada disso é segredo - e eu sou a advogada dela.
Kitsune se intrigou:
- Então por isso que tentaram lhe matar?
Ela é perpiscaz... Rafitcha ficou calada. Mas quem cala, consente e Amai perguntou:
- Quem acusou a sua amiga?
- Jorge.
- Jorge? Jorge Liptene? Aquele cujo pai era da oposição, a mãe...
- Jorge Liptene? Não sabia que o sobrenome dele era esse... mas se bem me lembro, era o nome de solteira dela.
- Ele teve nove ou dez irmãos – Amai disse – uma das filhas de um dos irmãos dele estuda no mesmo colégio que eu. Ela se chama Mary Jane e odeia o tio, diz que é muito arrogante e não mede esforços para subir ao topo da Justiça nesse país...
- Essa Mary Jane sabe algo a respeito – Rafitcha respirou fundo – a respeito de uma garota que se chama Raveneh?
- Ela já mencionou umas duas vezes, e ambas nas últimas semanas. É contra ela que esse Jorge está movendo um processo, não é? – Amai respondeu com outra pergunta – vejo que essa Raveneh fez algo que a desagradou... um crime?
- Matar a própria mãe.
Amai somente sorriu. Como eu pensava.
- E ela é realmente culpada? – Kitsune perguntou, a voz repleta de preocupação.
- Sim. – dessa vez foi a vez de Rafitcha sorrir – mas ninguém vai falar isso no tribunal, certo?
Kitsune acabou por concordar.
- Você está hospedada onde?
- Pensão Yurii – Rafitcha respondeu – do outro lado do rio.
- Te levaremos até lá – Amai disse – seus amigos devem estar preocupados.
Só aí que Rafitcha percebeu que já era noite e as estrelas já brilhavam, perfeitamente visíveis. Será que meus amigos voltaram para a pensão ou ficaram me procurando na beira do rio?
Mordeu o lábio inferior de preocupação. E consentiu que Kitsune e Amai a levassem para a Pensão Yurii, do outro lado do rio.
Por algum motivo estranho, não consegui postar o desenho correspondente. Mas caso queira ver, é só clicar aqui.
domingo, 13 de abril de 2008
Parte 20 – Êxodo e Desespero
Eu, quem narra a história, poderia passar episódios e episódios narrando a semana que se seguiu. Acontece que esta semana não teve nada de interessante. O pessoal das Campinas treinaram arduamente para a futura batalha, Maria vivia preocupada. Raveneh e seus amigos passavam os dias enrolando na feira da cidade, esperando o dia do julgamento e contando os dias para o parto. Siih ficava conversando com Dahes, cada vez mais um apreciando a companhia do outro. Lefi, atarefado, cuidando de tudo como se Ophelia não existisse. E quanto a Ophelia, ela percorreu todo o reino das Fadas com Lala (isso aí que você leu) convocando demônios. Sim, porque Ophelia sabia voar e levava Lala junto ('uma incompetente que mal consegue se manter no ar!'). De modo que em uma semana, demônios começaram a se mexer e Siih sentiu. E começou a armar estratégias. Pedira a Lefi que chamassem todas os caçadores de demônios do país inteiro, e o encontro acontecera há dois dias. Foi simples e prático: pouca gente veio e escutou sobre Ophelia e os demônios. Foram alertados para estarem sempre prevenidos porque o número de demônios aumentaria mais do que nunca, e Siih (através de Lefi) pediu para avisar os colegas da profissão.
Ophelia estava no sul do Mundo das Fadas, muito distante das Campinas. Era onde se concentrava a maioria dos demônios, pois estes preferiam o calor. Lala já nem aguentava mais o ritmo intenso de viagem, do norte ao sul, leste ao oeste e depois ao sul, aonde se demoravam agora.
- O que essa garota tá querendo? - zombou um Jaken, aparentando preguiça.
- Não sei - respondeu um Ollimpi - mas devo dizer que ela me entusiasma! Salve a Ophelia!
- SALVE! - rugiram todos.
Eram grandes, médios e até tinha uns pequenos. Alguns tinham duas, três cabeças. Outros com corpo de serpentes, algumas com corpo de aranhas enormes. Tinham os demônios que simplesmente pareciam amebas gigantes, cujas presas eram do tamanho de um elefante. Olhos grandes, maldosos. Outros que eram cegos, também. Tinham os que alcançavam o tamanho de um prédio muito alto de Nova York, e estavam somente sentados.
E todos eles estavam ali, reunidos, com suas expressões assustadoras e terríveis. Até mesmo as Musas sentiriam medo daquela reunião.
Mas Ophelia estava tranquila. E Lala também, pois sentia que podia contar com a "mestra" para ser protegida.
- Bem - murmurou Ophelia. Ela não ria histericamente nem era tirana como a maioria dos vilões. Ela estava somente séria, e não dava para saber se ela gostava ou desgostava daquela história toda. - em uma noite qualquer, uma cobra de fogo subirá aos céus e ficará durante alguns segundos. Quando isso acontecer, poderão sair das sombras e fazer o que lhe convierem. Só não esqueçam: crianças e mulheres serão poupados. Quem matar uma criança ou uma mulher, principalmente as donzelas e as grávidas, será morto. O resto... façam o que quiser.
Ophelia deu as costas para os monstros, em sua maior parte, furiosos pela proibição. Mas ou era se esconder nas sombras e se alimentando de pouca carne ou se juntar e fazerem a arruaça pelo mundo, deixando poupar uns seres frageis.
Lala a acompanhou, com um leve sorriso. Aqueles monstros rugindo lá embaixo não pareciam exatamente uma boa visão do mundo que viria, mas tinha certeza que ao terminar tudo, Ophelia não deixaria tudo destruído. Ela mesma admitira que odiava um sistema ditadorial em que grande parte era escrava. O mundo seria melhor sob o governo de Ophelia.
----------------------------------
- Que admirável esse rio, Raveneh! – exclamou Rafitcha, admirada com a beleza do bairro.
- Sim, ele é um dos rios mais bonitos que eu já vi – murmurou Raveneh – embora eu tenha visto poucos.
- Ah, qual é! – exclamou Tatiih – você viajou a pé daqui para as Campinas! Como pode ter visto poucos rios? Tem tanto rio nessa região!
- Eu fugi, Tatiih – Raveneh disse – eu fugi desesperadamente, sem ver para onde estava indo. Só respirei de verdade quando encontrei a Renegada.
Renegada. Se ela não tivesse se matado, como estaria ela? Viva? Cuidando de Arthur ou ainda lutando para escapar das chantagens do ex-amante? Como estaria? Será que estaria feliz? Ou...
- Raveneh, quer um sorvete? – indagou Johnny, a interrompendo dos seus devaneios.
- Ah. – Raveneh não respondeu, somente olhou para o rio. Se andasse mais um pouco, chegaria a área onde passava os feriados com a família. Também era onde quase se afogava, por culpa da própria mãe. Durante dezesseis anos, tentara se convencer de que sua família era boa: achava que seus irmãos a adoravam, que Catherine era somente uma irmã chata, a mãe somente meio relapsa. Realmente foi preciso que Gika, a psicóloga que cuidou do seu caso, Johnny e Catherine lhe mostrassem a verdade? Precisara criar uma segunda personalidade para agüentar os seus problemas? Já havia alguns meses que Catherine se conformara em se esconder, pacificamente. Não lutara com Raveneh, afinal Catherine era a metade de Raveneh. Um pedaço de mulher.
- E aí, quer um sorvete? – perguntou Rafitcha – estou indo comprar! Tatiih pediu um de morango, eu quero um de chocolate e Johnny quer um de manga. Bia não quer tomar sorvete, ela gostou dessas bebidas tradicionais ^^” Mas... e você?
- Eu? Ah, eu quero um de chocolate com limão... – disse Raveneh vagamente, perdida nas próprias lembranças.
Rafitcha concordou, e disse que voltaria logo.
Ela foi até a beira do rio, onde a casa que vendia sorvetes ficava.
- Bom dia, senhora! – disse a mulher, com todos os dentes faltando – que deseja?
- Manga, chocolate, morango, chocolate com limão. Um pote de cada sabor...
A velha sorriu:
- Ah, claro! É pra já!
Rafitcha sorriu e se virou para o rio: a vegetação era magnífica, a grama verde, flores minúsculas e perfeitamente amarelas, a água cristalina correndo veloz. Sorriu. A cidade não era tão ruim assim, era até boa pra viver. Mas se permitissem os seres mágicos, ficaria melhor... pensou que o motivo que Raveneh odiava aquela cidade era simplesmente porque a cidade foi o cenário da sua infância desgraçada.
O céu era perfeito. Deslumbrante, perfeitamente azul. Parecia um dia bonito em um bairro nobre. Andou um pouco mais para a frente, admirada com as profundezas das águas. Sentou-se bem na beirada, esperando a mulher terminar de servir os sorvetes.
- Que bonito. – suspirava, admirada.
Sorria.
- Lindo, né, dona – uma voz masculina disse, em tom de zombaria.
Rafitcha levantou a cabeça, assustada. Era um homem grande, de olhos grandes. Quem seria? O que queria?
- Sabe, esse rio é lindo – disse o homem – e a correnteza é forte. Ninguém suspeitará se você simplesmente cair nele... mesmo os que sabem nadar não podem ir contra o Rio Yani...
Rafitcha abriu a boca em espanto, antes de perceber que simplesmente fora chutada e caíra no rio. Sentiu a água doce invadi-lhe a boca, sentiu as vestes se molharem e o desespero surgir. Tentou voltar a superfície, mas a água lhe empurrou, levando seu corpo.
Acenou com os braços, mas sem sucesso. Começou a se desesperar e lhe faltar ar.
----------------------------------
- Querido! – suspirou Maria – ah, olá, Alex!
Era um grande grupo de pessoas que chegaram de uma “carruagem”. Várias pessoas saíram, meio perdidas, meio felizes.
- Querido! – Maria suspirou de novo – como está?
- Ele é um ótimo aluno – uma moça alta, de cabelos castanhos e expressão amável disse – tem sorte de ter um filho como ele, Maria.
- Claudia! – exclamou Maria contente – obrigada por cuidar do meu filho!
A moça sorriu, abraçando Maria. Claudia era uma jovem de uns dezoito anos, com os olhos verdes bondosos e um corpo esbelto, perfeito para uma dançarina: sim, de fato, ela ensinava música aos garotos e balé às garotas na escola interna que foi fechada por alguns tempos, até baixar a poeira sobre Ophelia.
- Tem mais gente que o normal esse ano – comentou Maria – sempre temos imigrantes, mas esse ano superou... tudo isso por causa de Ophelia?
- Sim, tudo isso por causa de Ophelia e os boatos de que ela estaria convocando os monstros para dominarem as colônias das fadas – respondeu Claudia – e como a escola fica bem numa área em risco... você deve imaginar o pânico da diretoria e dos pais.
- Sim, claro! – Maria sorriu – mas agora meu filho está junto comigo, e ele vai ficar seguro. Sempre temos o navio da Capitã, caso precisemos de abrigo ^^”
Claudia sorriu.
Alex, Thá, Lynda estavam ali: pegaram carona com os imigrantes que acharam que ia encontrar segurança nas Campinas. Mas infelizmente estavam errados. Muito errados.
Nota da Autora: sim, de novo sem aquela parte legal porque não escrevi o cap 21 ^^" Me perdoem xD Só uma curiosidade: no Word, até aqui, deu 68 páginas :O
Ophelia estava no sul do Mundo das Fadas, muito distante das Campinas. Era onde se concentrava a maioria dos demônios, pois estes preferiam o calor. Lala já nem aguentava mais o ritmo intenso de viagem, do norte ao sul, leste ao oeste e depois ao sul, aonde se demoravam agora.
- O que essa garota tá querendo? - zombou um Jaken, aparentando preguiça.
- Não sei - respondeu um Ollimpi - mas devo dizer que ela me entusiasma! Salve a Ophelia!
- SALVE! - rugiram todos.
Eram grandes, médios e até tinha uns pequenos. Alguns tinham duas, três cabeças. Outros com corpo de serpentes, algumas com corpo de aranhas enormes. Tinham os demônios que simplesmente pareciam amebas gigantes, cujas presas eram do tamanho de um elefante. Olhos grandes, maldosos. Outros que eram cegos, também. Tinham os que alcançavam o tamanho de um prédio muito alto de Nova York, e estavam somente sentados.
E todos eles estavam ali, reunidos, com suas expressões assustadoras e terríveis. Até mesmo as Musas sentiriam medo daquela reunião.
Mas Ophelia estava tranquila. E Lala também, pois sentia que podia contar com a "mestra" para ser protegida.
- Bem - murmurou Ophelia. Ela não ria histericamente nem era tirana como a maioria dos vilões. Ela estava somente séria, e não dava para saber se ela gostava ou desgostava daquela história toda. - em uma noite qualquer, uma cobra de fogo subirá aos céus e ficará durante alguns segundos. Quando isso acontecer, poderão sair das sombras e fazer o que lhe convierem. Só não esqueçam: crianças e mulheres serão poupados. Quem matar uma criança ou uma mulher, principalmente as donzelas e as grávidas, será morto. O resto... façam o que quiser.
Ophelia deu as costas para os monstros, em sua maior parte, furiosos pela proibição. Mas ou era se esconder nas sombras e se alimentando de pouca carne ou se juntar e fazerem a arruaça pelo mundo, deixando poupar uns seres frageis.
Lala a acompanhou, com um leve sorriso. Aqueles monstros rugindo lá embaixo não pareciam exatamente uma boa visão do mundo que viria, mas tinha certeza que ao terminar tudo, Ophelia não deixaria tudo destruído. Ela mesma admitira que odiava um sistema ditadorial em que grande parte era escrava. O mundo seria melhor sob o governo de Ophelia.
----------------------------------
- Que admirável esse rio, Raveneh! – exclamou Rafitcha, admirada com a beleza do bairro.
- Sim, ele é um dos rios mais bonitos que eu já vi – murmurou Raveneh – embora eu tenha visto poucos.
- Ah, qual é! – exclamou Tatiih – você viajou a pé daqui para as Campinas! Como pode ter visto poucos rios? Tem tanto rio nessa região!
- Eu fugi, Tatiih – Raveneh disse – eu fugi desesperadamente, sem ver para onde estava indo. Só respirei de verdade quando encontrei a Renegada.
Renegada. Se ela não tivesse se matado, como estaria ela? Viva? Cuidando de Arthur ou ainda lutando para escapar das chantagens do ex-amante? Como estaria? Será que estaria feliz? Ou...
- Raveneh, quer um sorvete? – indagou Johnny, a interrompendo dos seus devaneios.
- Ah. – Raveneh não respondeu, somente olhou para o rio. Se andasse mais um pouco, chegaria a área onde passava os feriados com a família. Também era onde quase se afogava, por culpa da própria mãe. Durante dezesseis anos, tentara se convencer de que sua família era boa: achava que seus irmãos a adoravam, que Catherine era somente uma irmã chata, a mãe somente meio relapsa. Realmente foi preciso que Gika, a psicóloga que cuidou do seu caso, Johnny e Catherine lhe mostrassem a verdade? Precisara criar uma segunda personalidade para agüentar os seus problemas? Já havia alguns meses que Catherine se conformara em se esconder, pacificamente. Não lutara com Raveneh, afinal Catherine era a metade de Raveneh. Um pedaço de mulher.
- E aí, quer um sorvete? – perguntou Rafitcha – estou indo comprar! Tatiih pediu um de morango, eu quero um de chocolate e Johnny quer um de manga. Bia não quer tomar sorvete, ela gostou dessas bebidas tradicionais ^^” Mas... e você?
- Eu? Ah, eu quero um de chocolate com limão... – disse Raveneh vagamente, perdida nas próprias lembranças.
Rafitcha concordou, e disse que voltaria logo.
Ela foi até a beira do rio, onde a casa que vendia sorvetes ficava.
- Bom dia, senhora! – disse a mulher, com todos os dentes faltando – que deseja?
- Manga, chocolate, morango, chocolate com limão. Um pote de cada sabor...
A velha sorriu:
- Ah, claro! É pra já!
Rafitcha sorriu e se virou para o rio: a vegetação era magnífica, a grama verde, flores minúsculas e perfeitamente amarelas, a água cristalina correndo veloz. Sorriu. A cidade não era tão ruim assim, era até boa pra viver. Mas se permitissem os seres mágicos, ficaria melhor... pensou que o motivo que Raveneh odiava aquela cidade era simplesmente porque a cidade foi o cenário da sua infância desgraçada.
O céu era perfeito. Deslumbrante, perfeitamente azul. Parecia um dia bonito em um bairro nobre. Andou um pouco mais para a frente, admirada com as profundezas das águas. Sentou-se bem na beirada, esperando a mulher terminar de servir os sorvetes.
- Que bonito. – suspirava, admirada.
Sorria.
- Lindo, né, dona – uma voz masculina disse, em tom de zombaria.
Rafitcha levantou a cabeça, assustada. Era um homem grande, de olhos grandes. Quem seria? O que queria?
- Sabe, esse rio é lindo – disse o homem – e a correnteza é forte. Ninguém suspeitará se você simplesmente cair nele... mesmo os que sabem nadar não podem ir contra o Rio Yani...
Rafitcha abriu a boca em espanto, antes de perceber que simplesmente fora chutada e caíra no rio. Sentiu a água doce invadi-lhe a boca, sentiu as vestes se molharem e o desespero surgir. Tentou voltar a superfície, mas a água lhe empurrou, levando seu corpo.
Acenou com os braços, mas sem sucesso. Começou a se desesperar e lhe faltar ar.
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- Querido! – suspirou Maria – ah, olá, Alex!
Era um grande grupo de pessoas que chegaram de uma “carruagem”. Várias pessoas saíram, meio perdidas, meio felizes.
- Querido! – Maria suspirou de novo – como está?
- Ele é um ótimo aluno – uma moça alta, de cabelos castanhos e expressão amável disse – tem sorte de ter um filho como ele, Maria.
- Claudia! – exclamou Maria contente – obrigada por cuidar do meu filho!
A moça sorriu, abraçando Maria. Claudia era uma jovem de uns dezoito anos, com os olhos verdes bondosos e um corpo esbelto, perfeito para uma dançarina: sim, de fato, ela ensinava música aos garotos e balé às garotas na escola interna que foi fechada por alguns tempos, até baixar a poeira sobre Ophelia.
- Tem mais gente que o normal esse ano – comentou Maria – sempre temos imigrantes, mas esse ano superou... tudo isso por causa de Ophelia?
- Sim, tudo isso por causa de Ophelia e os boatos de que ela estaria convocando os monstros para dominarem as colônias das fadas – respondeu Claudia – e como a escola fica bem numa área em risco... você deve imaginar o pânico da diretoria e dos pais.
- Sim, claro! – Maria sorriu – mas agora meu filho está junto comigo, e ele vai ficar seguro. Sempre temos o navio da Capitã, caso precisemos de abrigo ^^”
Claudia sorriu.
Alex, Thá, Lynda estavam ali: pegaram carona com os imigrantes que acharam que ia encontrar segurança nas Campinas. Mas infelizmente estavam errados. Muito errados.
Nota da Autora: sim, de novo sem aquela parte legal porque não escrevi o cap 21 ^^" Me perdoem xD Só uma curiosidade: no Word, até aqui, deu 68 páginas :O
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Parte 19 - A Estratégia.
- Acorde - Ophelia sussurrou - acorde.
Lala se levantou rapidamente. Tentavam evitar a vila de Cherllaux e Lala não imaginava qual era o destino da viagem. Ophelia já estava vestida e de pé. Seu rosto era estranho: as feições no momento eram sérias, como as de uma mulher madura. Mas Lala sabia que muitas vezes quando Ophelia sorria, parecia uma criança que se tem vontade de apertar as suas bochechas e quando estava irada, daria medo até mesmo no Drácula.
- Pra onde vamos agora? - Lala perguntou.
Ophelia não sorriu, somente moveu a cabeça para a esquerda e respondeu:
- Já estamos chegando. Ele mora por aqui. Dormiu bem?
- Tirando uma pedra que ficou me espetando nas costas, tudo be--
Ophelia já andava para a frente, impassível.
- Hey! - Lala exclamou - Hey! Me espere!
- Cale a boca e me siga discretamente.
- Às vezes - começou Ophelia quase cochichando, enquanto seguiam pelos bosques - mesmo o mais poderoso dos seres tem que se curvar aos inferiores. Pois um superior não é nada, caso não exista aqueles que a apóiem. Afinal ninguém é tão superior que possa superar a força de milhares inferiores.
Não demorou muito e Lala percebeu que Ophelia falava de si mesma.
- Esse foi o meu erro. Achei que eu e minha mãe bastávamos. Achei que éramos mais poderosas que todas as outras juntas. Minha mãe foi uma tola, minha irmã mais ainda tentando conter nós duas - suspirou - mas agora será diferente. Meu objetivo é o mesmo de anos e anos atrás, mas agora usarei táticas diferentes. Não quero que nem mesmo humanos me odeiem, mas vidas serão sacrificadas. Talvez a gente possa começar em Heppaceneoh, pertinho do Mundo das Fadas. Eu poderia começar em algumas colônias élficas no sul, mas as fadas iriam se unir e derrotarem quando avançarmos. Melhor acabar com o ponto vital de tudo de uma vez só.
- É uma boa tática - Lala sussurrou, mais para si do que para Ophelia ouvir.
- Sim... - Ophelia sorriu suavemente - mas preciso de aliados. E é atrás deles que estamos aqui... veja, chegamos.
Era uma caverna enorme, escondida pelas árvores. A caverna tinha uma boca escura e meio pequena, mas dava para as duas pessoas entrarem numa boa.
- Este é um demônio jaken, e este come fadas e absorve a sua energia.
Lala não falou nada.
- Venha. Lupi... Lupi...
GRRR...
Dentro da caverna, era um breu absurdo. Não se enxergava um palmo diante do nariz, e o cheiro chegava a ser irritante: lembrava algum laboratório repleto de compostos fedorentos misturados. O piso era estranho, feito de pedras moles. Lala queria sair logo dali, mas dava para perceber que Ophelia não deixaria.
Ophelia.
Como era escuro, não enxergava a mestra. Mas sabia que ela estava ali: treinara um pouquinho e conseguia se guiar pela energia que Ophelia emanava, fracamente.
GRRR...
Finalmente conseguiram ver algo. Era um par de olhos felinos, amarelos, maldosos. Quando Lala se aproximou, percebeu uma penugem castanha em volta dos olhos, com presas fenomenais. A luz aumentou, e viram que era um grande felino. Seu pêlo era maravilhoso, sedoso e castanho. Suas patas eram enormes, com as unhas pontiagudas.
- Ophelia - rosnou a fera.
Ophelia sorriu, com aquele seu rosto de criança.
- Oh, meu doce Lupi - suspirou - vejo que viveu dormindo por aqui, comendo uma fadinha de vez em quando. Veja, trouxe carne. Vai querer?
Lala abriu a boca, assustada. Ophelia a havia trago como comida?
- Não seja tola, Ophelia - Lupi respondeu, interrompendo os pensamentos desenfreados da Lala - sua escrava não me serviria. Sei bem o que você faria se eu tentasse algo com ela.
- Oh! Vejo que não esqueceu de como se trata as minhas amigas - Ophelia deu seu sorriso dissimulado - mas vive escondido, comendo carnes fracas e desavisadas... medo de ser descoberto? Bem, mas quase não existe caçadores de demônios...
- Medo dessas criaturas? Hah! Desde que a Lia se foi, ninguém entre os caçadores de demônios é páreo para mim... Eu, Lupi, A Besta de Cherllaux! Que ofensa, menina!
- Pois dou-lhe uma razão para não ter medo - Ophelia ignorou o discurso - veja bem, você é tão inimigo das fadas quanto eu. Mas... você podia acabar com Cherllaux, sem problemas, não é?
A criatura rugiu.
- Claro que sim! Desconfia da minha força? Quer provar dela?
Ophelia não sorriu, somente disse:
- Então jure lealdade a mim. Convoque as criaturas semelhantes a ti e diga para todas se mexerem, porque eu vim. Comigo, nada poderá fazer mal a vocês.
- Jura por quem? - Lupi zombou - que vai nos proteger?
- Pela Deusa Lilith dos Demônios.
Não demorou cinco segundos, a grande fera ficou ajoelhada (bem, da melhor forma que poderia ler. Tente imaginar um grande leão ajoelhado), com um sorriso disfarçado no semblante. Se Ophelia jurava pela própria Lilith que foi a primeira esposa de Adão, a rebelada de Deus e gerou os demônios...
----------------------------------
- Então, Crazy, está tudo ok? - alguém disse.
Crazy ergueu a cabeça, sacudindo a juba.
- Claro, chefe. Está tudo nos conformes, perfeitamente preparado.
- É bom mesmo. Sabe que caso haja um erro sequer, eu e você seremos enforcados e darão a nossa carne para os cachorros!
- Sim, chefe. Está tudo ok.
- Bem, estou indo nessa - disse o outro - vê se consegue se disfarçar direito! Com esse povinho mágico que chegou agora, você não foi descoberto?
- Quem sabe, mas eles serão meus aliados.
- Ah! Não seja tolo e não confie em qualquer um! Aliás, volte logo. Se está tudo bem, só preciso voltar no dia.
- Sim. Adeus.
- Adeus.
E logo o outro viu o Crazy se afastar, sacudindo a enorme cauda. E quando já estava muito, muito longe, viu a enorme criatura felina se desfazer e no seu lugar surgir um homem.
----------------------------------
- O que está acontecendo? - Loveh odiava essa incerteza que vinha com as notícias que os ventos traziam.
- Não sei. Não parece algo familiar? Essa sensação, esse cheiro... parece que tem algo a espreita... - Miih lembrava, o seu rosto não demonstrando nenhuma emoção.
- Na época dos demônios! Mas demônios se esconderam e os atuais caçadores de demônios mais se preocupam em achá-los... Como...?
Não deu cinco segundos, as duas assumiram um olhar de compreensão. Estavam assustadas.
- O-Ophelia? Mas então o plano dela não é só se vingar? - os lábios de Loveh tremiam.
- Continua sendo, provavelmente - Miih disse - mas ela quer algo mais elaborado. Ela já não é mais uma criança e pensa por si própria. E a mãe dela era bastante imatura...
- Aiai... - Loveh se indignou - e ela sozinha não achou que era páreo e resolveu convocar os demônios?
- Não, ela simplesmente resolveu atacar a todos com a mesma eficiência. Afinal ela pode ser a mais poderosa, mas não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo - lembrou - e não pode se dar ao luxo de deixar os outros se defenderem.
- Ai. E em quanto tempo ela conseguirá reunir, convencer e unificar uma estratégia com todos os demônios?
- Calculo que dentro de dez dias, ela consiga convencer. E mais uns três dias e ela informa o dia e a hora do ataque.
- E não vamos fazer nada? - Loveh suspirou - então veremos esse mundo destruído.
- Sim... veremos esse mundo destruído. Mas o que há pra fazer?
----------------------------------
Siih não conseguia respirar direito. Estava meio tonta e tentava falar. Sabia que Lefi estava governando o reino, e sem querer ofender o irmão, achava-o incapaz de assumir uma responsabilidade tão grande, ainda mais numa situação tão tensa. Mas não tinha forças para se levantar, então só lhe restava torcer que o irmão fosse capaz de tomar conta de tudo.
- Está tudo bem, Majestade? - Dahes cuidava dela como se fosse a própria mãe. Sim, nos primeiros momentos, Dahes estava de cara fechada e odiava cuidar da Rainha. Mas agora achava moleza: só tinha que cuidar para que a Rainha não se sentisse mal-cuidada.
- Sim... - Siih ofegou - d-dói...
Sim, doía. A cabeça pesava como chumbo, e o corpo parecia estar ardendo.
- Quer um chá, Vossa Majestade? - perguntava Dahes - água? Que chame Alicia ou Libby? Que chame Lefi? Que chame os sacerdotes para se confessar?
Siih riu.
- Ah, seu tolo! Não vou morrer! - se sentou com dificuldade, mas aí começou a respirar melhor - fique tranquilo. Não morrerei...
Dahes estava ao seu lado, sua expressão estava estranhamente simpática. Na mesa, água e chá, além de toalhas e toalhas brancas e um sino pequeno e branco. Sorriu, ao ver que a Rainha conseguira se sentar.
- Ora, ora - Siih suspirou - o que acontecerá caso Ophelia destrua essa cidade?
De repente diante de Siih, havia uma maquete. Não uma maquete pesada, feita de pedra ou então essas de escolas que é feito com isopor. Talvez você já tenha visto filmes sobre o futuro, em que aparecem imagens holográficas. Tipo Star Wars, quando aquela princesa Léia manda a mensagem de socorro. Então, era uma maquete do Mundo das Fadas, com todas as suas árvores, seus rios, suas casas e suas pessoas. Uma por uma.
- Essa é Ophelia... veja, Dahes - disse Siih mostrando uma bonequinha minuscula caminhando.
- Então você pode saber onde eles estão? - Dahes se surpreendeu - em tempo real? =o
- Não, é só uma simulação - murmurou Siih - só posso dizer que Ophelia está por aqui - mostrou um pequeno bosque rodeando uma vila - pois consigo sentir a sua energia. Mas é só. E a energia dela está tão fraca... se dissimulando, com certeza. Bem... se ela vier pra cá - fez o bonequinho andar até a grande cidade - e destruir tudo... - soprou nas casas tal como o Lobo Mau fez com a casa dos três porquinhos no conto de fadas. - então tudo vai cair. Essa Era vai terminar. E vai começar outra. Talvez seja boa ou ruim, não conheço Ophelia e não sei como seria seu governo. Mas eu não vou deixar! Entendeu, Dahes?
- Perfeitamente, Majestade, perfeitamente! E o senhor Lefih vai evitar isso! Com a ajuda das suas leais servas, Alicia e Libby!
- Eu que vou evitar. Lefi não vai conseguir deter Ophelia. Não conseguiu me deter, e eu não posso sozinha com Ophelia. Preciso de ajuda. Chame Lefi aqui. AGORA!
- Sim! Sim!
Dahes saiu correndo porta afora, enquanto Siih refletia. Não queria pedir ajuda das Musas, embora fosse a única solução possível. Mas tinha outros caminhos, outros atalhos. O fato de Ophelia ser imbatível em uma guerra não quer dizer que não possa ser vencida... até porque não precisa necessariamente lutar com Ophelia...
Existem outros meios...
Nota da Autora: não, hoje não "E no próximo capítulo" porque não escrevi ainda. Só quero avisar que como a escola tá exigindo muito de mim, meu tempo para atualizar o blog ficou escasso. Tentarei sempre, claro! Mas por favor não fiquem achando que abandonei vocês, oks? Afinal quando não estou on, não é culpa minha :D
Lala se levantou rapidamente. Tentavam evitar a vila de Cherllaux e Lala não imaginava qual era o destino da viagem. Ophelia já estava vestida e de pé. Seu rosto era estranho: as feições no momento eram sérias, como as de uma mulher madura. Mas Lala sabia que muitas vezes quando Ophelia sorria, parecia uma criança que se tem vontade de apertar as suas bochechas e quando estava irada, daria medo até mesmo no Drácula.
- Pra onde vamos agora? - Lala perguntou.
Ophelia não sorriu, somente moveu a cabeça para a esquerda e respondeu:
- Já estamos chegando. Ele mora por aqui. Dormiu bem?
- Tirando uma pedra que ficou me espetando nas costas, tudo be--
Ophelia já andava para a frente, impassível.
- Hey! - Lala exclamou - Hey! Me espere!
- Cale a boca e me siga discretamente.
- Às vezes - começou Ophelia quase cochichando, enquanto seguiam pelos bosques - mesmo o mais poderoso dos seres tem que se curvar aos inferiores. Pois um superior não é nada, caso não exista aqueles que a apóiem. Afinal ninguém é tão superior que possa superar a força de milhares inferiores.
Não demorou muito e Lala percebeu que Ophelia falava de si mesma.
- Esse foi o meu erro. Achei que eu e minha mãe bastávamos. Achei que éramos mais poderosas que todas as outras juntas. Minha mãe foi uma tola, minha irmã mais ainda tentando conter nós duas - suspirou - mas agora será diferente. Meu objetivo é o mesmo de anos e anos atrás, mas agora usarei táticas diferentes. Não quero que nem mesmo humanos me odeiem, mas vidas serão sacrificadas. Talvez a gente possa começar em Heppaceneoh, pertinho do Mundo das Fadas. Eu poderia começar em algumas colônias élficas no sul, mas as fadas iriam se unir e derrotarem quando avançarmos. Melhor acabar com o ponto vital de tudo de uma vez só.
- É uma boa tática - Lala sussurrou, mais para si do que para Ophelia ouvir.
- Sim... - Ophelia sorriu suavemente - mas preciso de aliados. E é atrás deles que estamos aqui... veja, chegamos.
Era uma caverna enorme, escondida pelas árvores. A caverna tinha uma boca escura e meio pequena, mas dava para as duas pessoas entrarem numa boa.
- Este é um demônio jaken, e este come fadas e absorve a sua energia.
Lala não falou nada.
- Venha. Lupi... Lupi...
GRRR...
Dentro da caverna, era um breu absurdo. Não se enxergava um palmo diante do nariz, e o cheiro chegava a ser irritante: lembrava algum laboratório repleto de compostos fedorentos misturados. O piso era estranho, feito de pedras moles. Lala queria sair logo dali, mas dava para perceber que Ophelia não deixaria.
Ophelia.
Como era escuro, não enxergava a mestra. Mas sabia que ela estava ali: treinara um pouquinho e conseguia se guiar pela energia que Ophelia emanava, fracamente.
GRRR...
Finalmente conseguiram ver algo. Era um par de olhos felinos, amarelos, maldosos. Quando Lala se aproximou, percebeu uma penugem castanha em volta dos olhos, com presas fenomenais. A luz aumentou, e viram que era um grande felino. Seu pêlo era maravilhoso, sedoso e castanho. Suas patas eram enormes, com as unhas pontiagudas.
- Ophelia - rosnou a fera.
Ophelia sorriu, com aquele seu rosto de criança.
- Oh, meu doce Lupi - suspirou - vejo que viveu dormindo por aqui, comendo uma fadinha de vez em quando. Veja, trouxe carne. Vai querer?
Lala abriu a boca, assustada. Ophelia a havia trago como comida?
- Não seja tola, Ophelia - Lupi respondeu, interrompendo os pensamentos desenfreados da Lala - sua escrava não me serviria. Sei bem o que você faria se eu tentasse algo com ela.
- Oh! Vejo que não esqueceu de como se trata as minhas amigas - Ophelia deu seu sorriso dissimulado - mas vive escondido, comendo carnes fracas e desavisadas... medo de ser descoberto? Bem, mas quase não existe caçadores de demônios...
- Medo dessas criaturas? Hah! Desde que a Lia se foi, ninguém entre os caçadores de demônios é páreo para mim... Eu, Lupi, A Besta de Cherllaux! Que ofensa, menina!
- Pois dou-lhe uma razão para não ter medo - Ophelia ignorou o discurso - veja bem, você é tão inimigo das fadas quanto eu. Mas... você podia acabar com Cherllaux, sem problemas, não é?
A criatura rugiu.
- Claro que sim! Desconfia da minha força? Quer provar dela?
Ophelia não sorriu, somente disse:
- Então jure lealdade a mim. Convoque as criaturas semelhantes a ti e diga para todas se mexerem, porque eu vim. Comigo, nada poderá fazer mal a vocês.
- Jura por quem? - Lupi zombou - que vai nos proteger?
- Pela Deusa Lilith dos Demônios.
Não demorou cinco segundos, a grande fera ficou ajoelhada (bem, da melhor forma que poderia ler. Tente imaginar um grande leão ajoelhado), com um sorriso disfarçado no semblante. Se Ophelia jurava pela própria Lilith que foi a primeira esposa de Adão, a rebelada de Deus e gerou os demônios...
----------------------------------
- Então, Crazy, está tudo ok? - alguém disse.
Crazy ergueu a cabeça, sacudindo a juba.
- Claro, chefe. Está tudo nos conformes, perfeitamente preparado.
- É bom mesmo. Sabe que caso haja um erro sequer, eu e você seremos enforcados e darão a nossa carne para os cachorros!
- Sim, chefe. Está tudo ok.
- Bem, estou indo nessa - disse o outro - vê se consegue se disfarçar direito! Com esse povinho mágico que chegou agora, você não foi descoberto?
- Quem sabe, mas eles serão meus aliados.
- Ah! Não seja tolo e não confie em qualquer um! Aliás, volte logo. Se está tudo bem, só preciso voltar no dia.
- Sim. Adeus.
- Adeus.
E logo o outro viu o Crazy se afastar, sacudindo a enorme cauda. E quando já estava muito, muito longe, viu a enorme criatura felina se desfazer e no seu lugar surgir um homem.
----------------------------------
- O que está acontecendo? - Loveh odiava essa incerteza que vinha com as notícias que os ventos traziam.
- Não sei. Não parece algo familiar? Essa sensação, esse cheiro... parece que tem algo a espreita... - Miih lembrava, o seu rosto não demonstrando nenhuma emoção.
- Na época dos demônios! Mas demônios se esconderam e os atuais caçadores de demônios mais se preocupam em achá-los... Como...?
Não deu cinco segundos, as duas assumiram um olhar de compreensão. Estavam assustadas.
- O-Ophelia? Mas então o plano dela não é só se vingar? - os lábios de Loveh tremiam.
- Continua sendo, provavelmente - Miih disse - mas ela quer algo mais elaborado. Ela já não é mais uma criança e pensa por si própria. E a mãe dela era bastante imatura...
- Aiai... - Loveh se indignou - e ela sozinha não achou que era páreo e resolveu convocar os demônios?
- Não, ela simplesmente resolveu atacar a todos com a mesma eficiência. Afinal ela pode ser a mais poderosa, mas não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo - lembrou - e não pode se dar ao luxo de deixar os outros se defenderem.
- Ai. E em quanto tempo ela conseguirá reunir, convencer e unificar uma estratégia com todos os demônios?
- Calculo que dentro de dez dias, ela consiga convencer. E mais uns três dias e ela informa o dia e a hora do ataque.
- E não vamos fazer nada? - Loveh suspirou - então veremos esse mundo destruído.
- Sim... veremos esse mundo destruído. Mas o que há pra fazer?
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Siih não conseguia respirar direito. Estava meio tonta e tentava falar. Sabia que Lefi estava governando o reino, e sem querer ofender o irmão, achava-o incapaz de assumir uma responsabilidade tão grande, ainda mais numa situação tão tensa. Mas não tinha forças para se levantar, então só lhe restava torcer que o irmão fosse capaz de tomar conta de tudo.
- Está tudo bem, Majestade? - Dahes cuidava dela como se fosse a própria mãe. Sim, nos primeiros momentos, Dahes estava de cara fechada e odiava cuidar da Rainha. Mas agora achava moleza: só tinha que cuidar para que a Rainha não se sentisse mal-cuidada.
- Sim... - Siih ofegou - d-dói...
Sim, doía. A cabeça pesava como chumbo, e o corpo parecia estar ardendo.
- Quer um chá, Vossa Majestade? - perguntava Dahes - água? Que chame Alicia ou Libby? Que chame Lefi? Que chame os sacerdotes para se confessar?
Siih riu.
- Ah, seu tolo! Não vou morrer! - se sentou com dificuldade, mas aí começou a respirar melhor - fique tranquilo. Não morrerei...
Dahes estava ao seu lado, sua expressão estava estranhamente simpática. Na mesa, água e chá, além de toalhas e toalhas brancas e um sino pequeno e branco. Sorriu, ao ver que a Rainha conseguira se sentar.
- Ora, ora - Siih suspirou - o que acontecerá caso Ophelia destrua essa cidade?
De repente diante de Siih, havia uma maquete. Não uma maquete pesada, feita de pedra ou então essas de escolas que é feito com isopor. Talvez você já tenha visto filmes sobre o futuro, em que aparecem imagens holográficas. Tipo Star Wars, quando aquela princesa Léia manda a mensagem de socorro. Então, era uma maquete do Mundo das Fadas, com todas as suas árvores, seus rios, suas casas e suas pessoas. Uma por uma.
- Essa é Ophelia... veja, Dahes - disse Siih mostrando uma bonequinha minuscula caminhando.
- Então você pode saber onde eles estão? - Dahes se surpreendeu - em tempo real? =o
- Não, é só uma simulação - murmurou Siih - só posso dizer que Ophelia está por aqui - mostrou um pequeno bosque rodeando uma vila - pois consigo sentir a sua energia. Mas é só. E a energia dela está tão fraca... se dissimulando, com certeza. Bem... se ela vier pra cá - fez o bonequinho andar até a grande cidade - e destruir tudo... - soprou nas casas tal como o Lobo Mau fez com a casa dos três porquinhos no conto de fadas. - então tudo vai cair. Essa Era vai terminar. E vai começar outra. Talvez seja boa ou ruim, não conheço Ophelia e não sei como seria seu governo. Mas eu não vou deixar! Entendeu, Dahes?
- Perfeitamente, Majestade, perfeitamente! E o senhor Lefih vai evitar isso! Com a ajuda das suas leais servas, Alicia e Libby!
- Eu que vou evitar. Lefi não vai conseguir deter Ophelia. Não conseguiu me deter, e eu não posso sozinha com Ophelia. Preciso de ajuda. Chame Lefi aqui. AGORA!
- Sim! Sim!
Dahes saiu correndo porta afora, enquanto Siih refletia. Não queria pedir ajuda das Musas, embora fosse a única solução possível. Mas tinha outros caminhos, outros atalhos. O fato de Ophelia ser imbatível em uma guerra não quer dizer que não possa ser vencida... até porque não precisa necessariamente lutar com Ophelia...
Existem outros meios...
Nota da Autora: não, hoje não "E no próximo capítulo" porque não escrevi ainda. Só quero avisar que como a escola tá exigindo muito de mim, meu tempo para atualizar o blog ficou escasso. Tentarei sempre, claro! Mas por favor não fiquem achando que abandonei vocês, oks? Afinal quando não estou on, não é culpa minha :D
sábado, 5 de abril de 2008
Parte 18 - Hiriki, Jaken, Ollimpi '-'
- Ah, como estou cansada! - suspirou Raveneh.
- Sim... - Johnny concordou - e ainda temos um funcionário do governo.
- Hã?
Johnny apontou para um homenzinho baixo, barrigudo com um largo bigode loiro:
- Desculpeeee-me senhorrrra - disse o homem no seu sotaque arrastado típico daquele país - tem uuuum homeeeeem que querrr falarrr com votchê... o que digooo?
Era o homem que cuidava da recepção da pequena e simpática pensão. Raveneh, sem pestanejar, respondeu:
- Diga a ele vir para cá.
Era o mesmo rapaz que estava ao lado de Jorge, na pequena recepção, o jovem dos olhos acolhedores e o manto azul-escuro. Será que ele viera trazer as informações do julgamento?
- Eu me chamo Crazy - disse o jovem, sem a menor cerimônica.
- Crazy? - Raveneh achou o nome estranho.
Crazy sorriu.
Bia não falou nada, mas jurava pela sua armadura e pela tia Lia (que esteja bem!) que aquele ser não era um humano comum. Podia até sentir um pouco da energia dele! Que diabos ele estava fazendo ali, em um reino que proibia seres mágicos?
----------------------------------
Umrae estava trancada em sua cabana, entre frascos de vidro com líquidos espumando e ervas sagradas. Estava meio confusa. Na sua frente, um aquário repleto de cobras venenosas como cascavéis e corais. Atrás de si, uma pequena horta repleta de cogumelos estranhos. Ao lado, uma escrivaninha repleta de baldes, frascos e outras coisas para fermentar, misturar, destilar e outras coisas mais.
Vestida com uma espécie de jaleco, todo branco, amarrou os cabelos mais uma vez, mostrando suas orelhas levemente pontudas.
- Um, dois, três cogumelos - cantarolava coletando alguns dos cogumelos estranhamente coloridos - quatro, cinco, seis.
Seis cogumelos pequenos, coloridos. Uns quatro eram vermelhos com bolas pequenas e brancas, famosas nos contos de fada. Os outros dois cogumelos eram ainda menores, com a parte inferior esguia e o topo pequeno e branco.
- Oh, será que vão enloquecer o suficiente?
- Oh, será que vai ser recebido nos braços da loucura?
Umrae macerou todos os cogumelos cuidadosamente (se você não sabe o que é macerar, bem, pesquisa na Wikipedia porque eu também não entendi a explicação xD) e em seguida fermentou. A coloração ficou azul.
- Será que Tatiih saberá usar isso direito? - perguntou-se a fabricante de venenos, alucinogénos e soníferos.
Com cuidado, armazenou o veneno em frascos adequados, etiquetou-os e guardou na estante.
Quando tempo levará até precisarmos destes venenos? - se perguntou.
----------------------------------
Ophelia estava um pouco mais a frente, tentando se distanciar de Cherllaux, andando na floresta ao redor da pequena vila. Mandou que Lala se escondesse ao másimo ("mas acho que isso não é muito trabalho, com uma aura tão fraca quanto a sua") e andasse discretamente na mata ("você é tão fraca, somente alguém com um ouvido astuto a perceberia").
- Você vai simplesmente invadir o castelo das fadas e destruir tudo para depois reconstruir?
Ophelia parou, hesitante. Dava para ver que ela morria de vontade de fazer isso, mas respirou fundo e somente disse pacientemente:
- O que sabe sobre os demônios, Lala?
- Err.... eles aindam existem? - Lala estranhou - não foram todos mortos?
- E as fábulas ainda existem - suspirou Ophelia impaciente - vou lhe contar uma verdade e nunca, jamais se esqueça disso: os demônios nunca foram mortos. Somente os mais fracos e estúpidos, e estes foram mortos pelos caçadores de demônios que ganhavam a vida com isso. Os verdadeiros demônios, os mais poderosos são muitos e estão adormecidos, quietos. Alguns foram adormecidos como eu, outros preferiram ser discretos e viver nas sombras. Não querem viver arriscando suas vidas, pois as Musas já não gostam dos demônios.
- Ah. - decerto a história era muito interessante.
Demônios é simplesmente uma classificação comum para seres que não são fadas, elfos, anões, centauros, enfim não são droga nenhuma. Nascem toda hora, normalmente são absolutamente estranhos e rejeitados pela sociedade. Alguns são verdadeiros monstros como pessoas-aranhas que vivem nos mares, comendo carne humana. Outros são mais simples, somente com algumas diferenças. Podem nascer de qualquer forma que se imaginar.
Mas os demônios mais conhecidos estão classificados nas seguintes categorias: hirika; jaken e ollombi. Hirika é a categoria mais perigosa: mesmo as Musas preferem evitá-los. São demônios estranhos, normalmente com corpos descomunalmente grandes e um apetite insaciável em carne humana. Geralmente nasceram de um outro demônio ou foram enfeitiçados. Estão nessa categoria os dragões canibais e ciclopes violentos. Aí vem os jaken, menores em geral. Somente uns poucos comem carne humana. São conhecidos por terem grandes poderes mágicos para compensar em uma luta com um hirika. Medusas e sereias perversas são dessa categoria. Já os ollombi sao os mais fracos: são derrotados facilmente em uma luta com um eficiente caçador de demônio, inferior a todas as formas de demônios que existem, e se tem casos de herbívoros que vivem em florestas ajudando os outros (esses sobreviveram ao Grande Massacre Demoníaco com muita habilidade). Alguns podem se assemelhar bastante a um ser humano.
Há muitos anos, as fadas estavam vivendo em conflitos com os demônios em geral. Especialmente com os jaken, pois estes não apreciam carne humana mas adoram fadas e seres mágicos: é como se estivessem se alimentando de magia. Os caçadores de demônios eliminavam uns dez por dia, mas era uma calamidade: a cada um morto, nascia vinte. Até que começou uma campanha para matar todos os demônios, não importa o que houvesse. Aumentou os preços das matanças para mais gente ser caçador de demônio, criou uma associação repleta de guerreiros especializados em matar demônios. Foram anos e anos seguidos de campanhas e campanhas, de castração cruel de vários machos e esterilização de várias fêmeas, mas tanto sangue derramado que muitos dos demônios preferiram se esconder. Uma das Musas viveu nessa época, e era uma caçadora de demônios chamada Lia. Ela era anormalmente poderosa e até mesmo um hirika temia a sua espada. Mas um hiriki deu fim a vida dela de forma trágica, encerrando a sua fabulosa carreira.
Enfim, voltando a história, Ophelia parou.
- Vamos acampar aqui, hoje.
Lala não falou nada, somente olhou em volta procurando onde ia pegar a lenha.
- Traga qualquer bicho ou frutas - disse Ophelia - e eu te conto mais sobre os demônios.
Não deu cinco minutos: como Lala não achou nenhum animal em volta (animais são muito sensíveis a poderes mágicos, e decerto, haviam se escondido), acabou achando três árvores frutíferas: uma macieira com seus galhos finos, com maçãs absurdas de tão grandes e vermelhas. Catou umas dez e voltou para a área de acampamento, onde Ophelia aquecia a lenha.
- Maçãs. Que tal? - perguntou Lala. Não sabia porquê, mas não conseguia sentir medo da menina que lhe perfurara o abdomên por puro sadismo. Agora a garota lhe interessava: gostava de escutar suas histórias e adorava quando Ophelia resolvia ensinar algo a ela. Apesar da primeira luta ser tão brutal e marcante, agora era como se elas fossem amigas onde uma ajudava o tempo todo e a outra se resignava em ser ajudada.
- Bleh - fez Ophelia - essa floresta só tem macieira. Pelo menos vamos assá-las!
Talvez você ache estranho, mas muitas pessoas gostam de maçãs assadas, principalmente com mel.
- Precisamos de dinheiro, Ophelia - observou Lala - você precisa de mais roupas, e também de alguma comida.
- Eu nunca me preocupo com comida - disse Ophelia - duas maçãs dessas são o suficiente para quatro ou cinco dias. Só como mais porque gosto.
- Percebo.
- Bem, o fogo está suficiente. Coloque os pedaços das maçãs nesses espetos--
Lala estranhou:
- Como? As maçãs estão inteiras, sequer as cortei!...
Reparou que as metades das maçãs já estavam no espetinho, em um segundo.
- Você precisa aprender a conviver comigo, Lala - Ophelia murmurou com um sorriso - está tão difícil se acostumar comigo?
Lala constatou, surpresa e chocada, que a Ophelia simplesmente pegara as maçãs, as partira em partes exatamente iguais e voltara ao seu lugar, tudo isso em menos de um segundo, em um piscar de olhos: Lala não percebera um vento ou borrão sequer.
Mordeu o lábio inferior. Eu tenho que me acostumar com isso.
Eu tenho que me acostumar com Ophelia.
Mas como se Ophelia é um monstro disfarçado de doçura?
----------------------------------
- Fiquem tranquilos - disse Crazy - eu só vou anotar todos os nomes componentes do seu grupo, senhorita, e lhe informar a data, a hora e o local do seu julgamento. Sou o responsável pela sua segurança e bem-estar aqui na sua velha terra natal, não é?
- Bem-estar! - protestou Raveneh - estou grávida e preferia mil vezes estar em casa, e você me fala de bem-estar! Por quanto eles te pagaram para essa farsa de "bem-estar"? Segurança? Eles querem é me ver morta!
- Não se altere, Raveneh - Crazy murmurou, sem alterar sua expressão - a sua energia está crescendo em um nível muito rápido. Isso é perigoso, você sabe.
O grupo ficou em silêncio, Bia de olhos arregalados e Raveneh surpresa.
- Mas como você--
- Isso não interessa agora, senhorita - Crazy deu um leve sorriso - bem, será julgada às três horas da tarde daqui a exatamente duas semanas, contando a partir de amanhã. No Fórum. A senhorita se lembra de onde é? Continua no mesmo local onde ficava há uns quatro anos atrás, não é isso?
- Mais ou menos isso... - Raveneh sussurrou.
- Bem, se você for punida... tem duas saídas: ou ficar trancafiada na cela até morrer ou ser enforcada - Crazy continuava - torça para caso for punida, que seja com a cela. E que seus amigos estejam aqui e roubem o seu bebê para não o levarem a um orfanato ou coisa pior. Se você for enforcada, será enforcada grávida. Ou seja, duas vidas se desfazem no mesmo instante, sob a corda.
- Ela não vai ser punida - Rafinha disse - e de qualquer modo, mesmo se eu perdesse seja por incompetência minha ou por suborno dos jurados... mesmo se eu perdesse, Raveneh não cumpriria a punição dela.
- Então vocês fugiriam? - Crazy achava a idéia divertida e adorável.
- Sim - Johnny admitiu - só viemos aqui por um contratempo na nossa terra. Como precisavámos de um abrigo e Raveneh queria acabar logo com isso...
- Ah - Crazy mordeu o lábio inferior - bem, eu dei meu recado. Quem sabe nem precisem ser foragidos... até mais.
E saiu pela porta afora.
----------------------------------
- Eu senti algo - murmurou Elyon, sentindo frio - eu senti algo.
O mar estava absolutamente normal, as estrelas nos seus lugares, a lua perfeitamente iluminada lá em cima, as árvores com seus galhos como se abraçassem o céu. Tudo estava na mais absoluta normalidade.
Elyon não se convenceu.
- Eu senti algo. Mas o quê?
E lá dentro do mar, nas profundezas dos oceanos, onde não existe mais uma vida...
... alguém suspirou.
E no próximo capítulo...
- Já estamos chegando. Ele mora por aqui. Dormiu bem?
- Tirando uma pedra que ficou me espetando nas costas, tudo be--
Ophelia já andava para a frente, impassível.
- Hey! - Lala exclamou - Hey! Me espere!
- Cale a boca e me siga discretamente.
- Sim... - Johnny concordou - e ainda temos um funcionário do governo.
- Hã?
Johnny apontou para um homenzinho baixo, barrigudo com um largo bigode loiro:
- Desculpeeee-me senhorrrra - disse o homem no seu sotaque arrastado típico daquele país - tem uuuum homeeeeem que querrr falarrr com votchê... o que digooo?
Era o homem que cuidava da recepção da pequena e simpática pensão. Raveneh, sem pestanejar, respondeu:
- Diga a ele vir para cá.
Era o mesmo rapaz que estava ao lado de Jorge, na pequena recepção, o jovem dos olhos acolhedores e o manto azul-escuro. Será que ele viera trazer as informações do julgamento?
- Eu me chamo Crazy - disse o jovem, sem a menor cerimônica.
- Crazy? - Raveneh achou o nome estranho.
Crazy sorriu.
Bia não falou nada, mas jurava pela sua armadura e pela tia Lia (que esteja bem!) que aquele ser não era um humano comum. Podia até sentir um pouco da energia dele! Que diabos ele estava fazendo ali, em um reino que proibia seres mágicos?
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Umrae estava trancada em sua cabana, entre frascos de vidro com líquidos espumando e ervas sagradas. Estava meio confusa. Na sua frente, um aquário repleto de cobras venenosas como cascavéis e corais. Atrás de si, uma pequena horta repleta de cogumelos estranhos. Ao lado, uma escrivaninha repleta de baldes, frascos e outras coisas para fermentar, misturar, destilar e outras coisas mais.
Vestida com uma espécie de jaleco, todo branco, amarrou os cabelos mais uma vez, mostrando suas orelhas levemente pontudas.
- Um, dois, três cogumelos - cantarolava coletando alguns dos cogumelos estranhamente coloridos - quatro, cinco, seis.
Seis cogumelos pequenos, coloridos. Uns quatro eram vermelhos com bolas pequenas e brancas, famosas nos contos de fada. Os outros dois cogumelos eram ainda menores, com a parte inferior esguia e o topo pequeno e branco.
- Oh, será que vão enloquecer o suficiente?
- Oh, será que vai ser recebido nos braços da loucura?
Umrae macerou todos os cogumelos cuidadosamente (se você não sabe o que é macerar, bem, pesquisa na Wikipedia porque eu também não entendi a explicação xD) e em seguida fermentou. A coloração ficou azul.
- Será que Tatiih saberá usar isso direito? - perguntou-se a fabricante de venenos, alucinogénos e soníferos.
Com cuidado, armazenou o veneno em frascos adequados, etiquetou-os e guardou na estante.
Quando tempo levará até precisarmos destes venenos? - se perguntou.
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Ophelia estava um pouco mais a frente, tentando se distanciar de Cherllaux, andando na floresta ao redor da pequena vila. Mandou que Lala se escondesse ao másimo ("mas acho que isso não é muito trabalho, com uma aura tão fraca quanto a sua") e andasse discretamente na mata ("você é tão fraca, somente alguém com um ouvido astuto a perceberia").
- Você vai simplesmente invadir o castelo das fadas e destruir tudo para depois reconstruir?
Ophelia parou, hesitante. Dava para ver que ela morria de vontade de fazer isso, mas respirou fundo e somente disse pacientemente:
- O que sabe sobre os demônios, Lala?
- Err.... eles aindam existem? - Lala estranhou - não foram todos mortos?
- E as fábulas ainda existem - suspirou Ophelia impaciente - vou lhe contar uma verdade e nunca, jamais se esqueça disso: os demônios nunca foram mortos. Somente os mais fracos e estúpidos, e estes foram mortos pelos caçadores de demônios que ganhavam a vida com isso. Os verdadeiros demônios, os mais poderosos são muitos e estão adormecidos, quietos. Alguns foram adormecidos como eu, outros preferiram ser discretos e viver nas sombras. Não querem viver arriscando suas vidas, pois as Musas já não gostam dos demônios.
- Ah. - decerto a história era muito interessante.
Demônios é simplesmente uma classificação comum para seres que não são fadas, elfos, anões, centauros, enfim não são droga nenhuma. Nascem toda hora, normalmente são absolutamente estranhos e rejeitados pela sociedade. Alguns são verdadeiros monstros como pessoas-aranhas que vivem nos mares, comendo carne humana. Outros são mais simples, somente com algumas diferenças. Podem nascer de qualquer forma que se imaginar.
Mas os demônios mais conhecidos estão classificados nas seguintes categorias: hirika; jaken e ollombi. Hirika é a categoria mais perigosa: mesmo as Musas preferem evitá-los. São demônios estranhos, normalmente com corpos descomunalmente grandes e um apetite insaciável em carne humana. Geralmente nasceram de um outro demônio ou foram enfeitiçados. Estão nessa categoria os dragões canibais e ciclopes violentos. Aí vem os jaken, menores em geral. Somente uns poucos comem carne humana. São conhecidos por terem grandes poderes mágicos para compensar em uma luta com um hirika. Medusas e sereias perversas são dessa categoria. Já os ollombi sao os mais fracos: são derrotados facilmente em uma luta com um eficiente caçador de demônio, inferior a todas as formas de demônios que existem, e se tem casos de herbívoros que vivem em florestas ajudando os outros (esses sobreviveram ao Grande Massacre Demoníaco com muita habilidade). Alguns podem se assemelhar bastante a um ser humano.
Há muitos anos, as fadas estavam vivendo em conflitos com os demônios em geral. Especialmente com os jaken, pois estes não apreciam carne humana mas adoram fadas e seres mágicos: é como se estivessem se alimentando de magia. Os caçadores de demônios eliminavam uns dez por dia, mas era uma calamidade: a cada um morto, nascia vinte. Até que começou uma campanha para matar todos os demônios, não importa o que houvesse. Aumentou os preços das matanças para mais gente ser caçador de demônio, criou uma associação repleta de guerreiros especializados em matar demônios. Foram anos e anos seguidos de campanhas e campanhas, de castração cruel de vários machos e esterilização de várias fêmeas, mas tanto sangue derramado que muitos dos demônios preferiram se esconder. Uma das Musas viveu nessa época, e era uma caçadora de demônios chamada Lia. Ela era anormalmente poderosa e até mesmo um hirika temia a sua espada. Mas um hiriki deu fim a vida dela de forma trágica, encerrando a sua fabulosa carreira.
Enfim, voltando a história, Ophelia parou.
- Vamos acampar aqui, hoje.
Lala não falou nada, somente olhou em volta procurando onde ia pegar a lenha.
- Traga qualquer bicho ou frutas - disse Ophelia - e eu te conto mais sobre os demônios.
Não deu cinco minutos: como Lala não achou nenhum animal em volta (animais são muito sensíveis a poderes mágicos, e decerto, haviam se escondido), acabou achando três árvores frutíferas: uma macieira com seus galhos finos, com maçãs absurdas de tão grandes e vermelhas. Catou umas dez e voltou para a área de acampamento, onde Ophelia aquecia a lenha.
- Maçãs. Que tal? - perguntou Lala. Não sabia porquê, mas não conseguia sentir medo da menina que lhe perfurara o abdomên por puro sadismo. Agora a garota lhe interessava: gostava de escutar suas histórias e adorava quando Ophelia resolvia ensinar algo a ela. Apesar da primeira luta ser tão brutal e marcante, agora era como se elas fossem amigas onde uma ajudava o tempo todo e a outra se resignava em ser ajudada.
- Bleh - fez Ophelia - essa floresta só tem macieira. Pelo menos vamos assá-las!
Talvez você ache estranho, mas muitas pessoas gostam de maçãs assadas, principalmente com mel.
- Precisamos de dinheiro, Ophelia - observou Lala - você precisa de mais roupas, e também de alguma comida.
- Eu nunca me preocupo com comida - disse Ophelia - duas maçãs dessas são o suficiente para quatro ou cinco dias. Só como mais porque gosto.
- Percebo.
- Bem, o fogo está suficiente. Coloque os pedaços das maçãs nesses espetos--
Lala estranhou:
- Como? As maçãs estão inteiras, sequer as cortei!...
Reparou que as metades das maçãs já estavam no espetinho, em um segundo.
- Você precisa aprender a conviver comigo, Lala - Ophelia murmurou com um sorriso - está tão difícil se acostumar comigo?
Lala constatou, surpresa e chocada, que a Ophelia simplesmente pegara as maçãs, as partira em partes exatamente iguais e voltara ao seu lugar, tudo isso em menos de um segundo, em um piscar de olhos: Lala não percebera um vento ou borrão sequer.
Mordeu o lábio inferior. Eu tenho que me acostumar com isso.
Eu tenho que me acostumar com Ophelia.
Mas como se Ophelia é um monstro disfarçado de doçura?
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- Fiquem tranquilos - disse Crazy - eu só vou anotar todos os nomes componentes do seu grupo, senhorita, e lhe informar a data, a hora e o local do seu julgamento. Sou o responsável pela sua segurança e bem-estar aqui na sua velha terra natal, não é?
- Bem-estar! - protestou Raveneh - estou grávida e preferia mil vezes estar em casa, e você me fala de bem-estar! Por quanto eles te pagaram para essa farsa de "bem-estar"? Segurança? Eles querem é me ver morta!
- Não se altere, Raveneh - Crazy murmurou, sem alterar sua expressão - a sua energia está crescendo em um nível muito rápido. Isso é perigoso, você sabe.
O grupo ficou em silêncio, Bia de olhos arregalados e Raveneh surpresa.
- Mas como você--
- Isso não interessa agora, senhorita - Crazy deu um leve sorriso - bem, será julgada às três horas da tarde daqui a exatamente duas semanas, contando a partir de amanhã. No Fórum. A senhorita se lembra de onde é? Continua no mesmo local onde ficava há uns quatro anos atrás, não é isso?
- Mais ou menos isso... - Raveneh sussurrou.
- Bem, se você for punida... tem duas saídas: ou ficar trancafiada na cela até morrer ou ser enforcada - Crazy continuava - torça para caso for punida, que seja com a cela. E que seus amigos estejam aqui e roubem o seu bebê para não o levarem a um orfanato ou coisa pior. Se você for enforcada, será enforcada grávida. Ou seja, duas vidas se desfazem no mesmo instante, sob a corda.
- Ela não vai ser punida - Rafinha disse - e de qualquer modo, mesmo se eu perdesse seja por incompetência minha ou por suborno dos jurados... mesmo se eu perdesse, Raveneh não cumpriria a punição dela.
- Então vocês fugiriam? - Crazy achava a idéia divertida e adorável.
- Sim - Johnny admitiu - só viemos aqui por um contratempo na nossa terra. Como precisavámos de um abrigo e Raveneh queria acabar logo com isso...
- Ah - Crazy mordeu o lábio inferior - bem, eu dei meu recado. Quem sabe nem precisem ser foragidos... até mais.
E saiu pela porta afora.
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- Eu senti algo - murmurou Elyon, sentindo frio - eu senti algo.
O mar estava absolutamente normal, as estrelas nos seus lugares, a lua perfeitamente iluminada lá em cima, as árvores com seus galhos como se abraçassem o céu. Tudo estava na mais absoluta normalidade.
Elyon não se convenceu.
- Eu senti algo. Mas o quê?
E lá dentro do mar, nas profundezas dos oceanos, onde não existe mais uma vida...
... alguém suspirou.
E no próximo capítulo...
- Já estamos chegando. Ele mora por aqui. Dormiu bem?
- Tirando uma pedra que ficou me espetando nas costas, tudo be--
Ophelia já andava para a frente, impassível.
- Hey! - Lala exclamou - Hey! Me espere!
- Cale a boca e me siga discretamente.
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