Renegada riscava as paredes, resmungando. Era madrugada, de sábado pra domingo, e definitivamente estava de saco cheio daquela história.
Contava os dias, e sabia que faltavam três dias inteiros até a manhã do seu julgamento. Será que Raveneh viria? Será que alguém das Campinas viria? Maria, com certeza, viria, afinal ela era representante. Mas pensava se não havia decepcionado algum deles com a sua prisão como espiã do Rei.
Eu estava sob chantagem. pensou Renegada furiosamente mas ainda assim vou ser julgada. Afinal fui eu quem aproximei o Rei das Campinas e permiti que Raveneh quase fosse sequestrada..
Rosnou.
Queria que o julgamento viesse logo, e tinha quase certeza que sairia inocente.
Pensou em Arthur. Como ele estaria? Será que poderia tomar-lo para criar depois do julgamento? Talvez não... Fora privada de poder criar seu filho desde que o Rei tomara. Maldito Calvin.
Estava escuro.
- Olá, Mycil.
Renegada sem se virar, reconheceu a voz.
- Finalmente você veio - disse ela, sem olhar para trás.
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- Siih! - exclamou Lefi - está bem?
- Oh sim! - murmurou Siih - eu me sinto bem mais leve! Somente... somente uma dor de cabeça!
Lefi sorriu.
- O médico veio mais uma vez? - perguntou Siih - nossa, já são quatro da manhã! Já estamos em domingo...
- Siih, você já não está mais com febre - disse Lefi contente - creio que poderá comparecer no julgamento do Rei Calvin Mo de Heppaceneoh!
- Você é o melhor irmão do mundo, Lefi! - exclamou Siih - estou me sentindo bem, só um pouco cansada! Poderia pedir a Vê para preparar aquele chá dela? E a Gika para ficar aqui, comigo? Ela sabe cantarolar umas músicas muito boas, que me fazem relaxar.
- Sim! - assentiu Lefi.
Saiu do quarto, a fim de chamar Gika e Vê.
Siih sorria. O céu lhe parecia feliz, se sentia bem mais leve agora que tinha abdicado dos seus poderes.
Siih estava feliz.
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- Senhorita, vai pagar agora ou depois? - perguntou a recepcionista da Pousada Meiji.
- Agora - ela respondeu, entregando um saco de moedas de ouro. Devo ficar até a quinta, creio.
- Sim, senhorita! - assentiu a recepcionista deslumbrada com as moedas.
Ela subiu as escadas pausadamente, sem olhar pra trás.
Chegou ao seu quarto, porém não se deitou na cama nem pediu água. Seu corpo não pedia isso. Pedia somente minutos de paz, sem humanos normais para perturbar.
Lembrou-se da última pessoa que tentara barrar seu caminho. Hmpf. pensou com zombaria Gente como eu proibida de atravessar certas estradas. Bem, tiveram o que mereceram.
Treinou mais uns golpes com a sua afiada espada.
Era um domingo claro, com um sol feliz.
Olhou pela janela, vislumbrando o castelo. Onde eu estarei quarta-feira.
Não sabia como entraria no julgamento, mas sabia que ia estar lá e aguentar o que desse. Precisava estar lá. Por sua família, se fosse. Mas não podia permitir que Mycil enfrentasse aquele julgamento sozinha.
E precisava conhecer o filho de Mycil.
Um.
A espada cortou a colcha da cama.
Dois.
A espada cortou a cortina.
Três.
A espada cortou a pintura retratando o Tratado entre a Rainha e o Rei.
- Se for inocentado, Vossa Majestade de Heppaceneoh - ela disse - sinto dizer que cairá nas minhas mãos.
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