quinta-feira, 27 de março de 2008

Parte 15 - Perfurada

- Quer viajar, Vinicius? - Thá perguntou, batendo a massa.
- Hã? - fez Vinicius pasmo - viajar? Pra.. pra onde?
- Pra capital - perguntou Thá.
- Mas é onde Ophelia vai! - Vinicius gritou, se levantando bruscamente da mesa - é louca de se meter com ela?
- Ela está perto demais! - Thá lembrou - e depois da capital, podemos nos mudar para a região oposta onde faz mais calor. Não está entediado com esse frio eterno?
- Eu gosto do frio. - Vinicius resmungou, cabisbaixo.
- Tá, eu sei que gosta - Thá afirmou - mas com Ophelia por perto, Cherllaux vai ser destruída. Entendeu?
- Sim.
- Então temos que sair daqui se temos amor as nossas vidas, entendeu?
- Sim.
- Então porque a resistência?
- Ok, vamos!
Thá sorriu.
- É assim que eu gosto, meu aprendiz!

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Era loucura. Lala sabia muito vagamente de quem era a garota coberta com o seu manto, mas sabia que era melhor fugir. Deu um passo para trás, colocando a mão no punho da espada que segurava.
Reparou que Ophelia não portava armas. Com certeza pensou ela já é uma arma com aquelas mãos.
- Bela katana - reparou Ophelia - forjada pelos orientais? Uma boa e linda espada, com certeza... mas não é forte o suficiente para mim... - mas a última frase não foi dita em voz alta.
Sorriu.
Lala não viu mais nada depois disso. Só viu o sorriso e um borrão marrom. Pulou para trás sem hesitar, tentando fugir do tal borrão marrom que a perseguia ferozmente. Corria para trás, tentando cortar o borrão com a sua "boa e linda espada", mas sem sucesso. Até conseguir subir em uma árvore, e o borrão simplesmente parou.
- Deu para perceber que você consegue fugir bem. Não é uma idiota - elogiou Ophelia, mostrando os seus dentes, em um charmoso sorriso.
Lala constatou com assombro e pavor que o tal borrão era o seu braço esquerdo que se esticava e a perseguia por mais que ela fugisse e fizesse ziguezague entre as árvores. Parecia elástico! Um elástico duro, que ela não conseguia cortar.
- Mas eu fui muito fraca - Ophelia disse com aquele seu semblante belo e tranquilo - oh sim, eu fui fraquissima. Nem 10% da minha força usual eu coloquei! Será que estou ficando fraca? Vamos testar...
Aquilo já estava virando uma coisa desgraçada... era só uma aposta besta, mas Lala já começava a se arrepender...
E mal tinha começado.
Um novo borrão marrom passou a perseguir Lala, mais rápido, mais cruel! Corre, corre, Lala, senão o bicho vai te pegar...
Correu enlouquecidamente pela floresta, não sabendo o que fazer para se esconder do borrão. Precisava fugir... se tivesses asas...
- Ah, tá muito sem graça! - suspirou Ophelia que logo deu um outro dos seus sorrisos - ah! que idéia brilhante!
E esticou o outro braço, e claro veio o segundo borrão tão rápido quanto o primeiro. Lala se viu encurralada: atrás de si, havia um braço. Na sua frente, surgira outro braço. E os dois braços estavam esticados e as unhas haviam se transformado em garras. Parou subitamente.
E a desgraçada estava de costas, na clareira, tranquilamente sentada no chão, observando seus braços se mexerem.
- Continua sem graça! - exclamou se fazendo de indignada - ah, céus! Estou usando duas mãos com garras, mas continua entediante. Porque será...?
Ophelia fechou os olhos, sem sorrir. Mas não deu um segundo, seus olhos se abriram e demonstrou felicidade:
- Claro! Como não pensei nisso? Não se tem graça de se lutar com uma pessoa se você se esforça pra não machucá-la...
GWAAAAAAA - o grito agudo de Lala irrompeu pela floresta. As garras haviam se unido de repente, e claro, encontraram o corpo de Lala no meio: cortaram o abdômem sem pena, fazendo o sangue jorrar do corpo como a água jorra da fonte. Lala tinha certeza que aquelas malignas garras haviam feito um buraco no seu corpo.
- Ah. Ah. Ah.
- Isso está começando a ficar mais interessante - murmurou Ophelia - mas odeio ficar sem mãos para outras coisas.
Lala reparou com horror que dois novos braços humanos começavam a surgir dos ombros. Primeiro foram os dedos que irromperam a carne como agulhas, depois as mãos surgiram inteiras, se contorcendo. Em seguida vieram os punhos, os antebraços. Os cotovelos apareceram de imediato, e logo terminou-se, com os braços completos como se tivesse nascido com eles.
As garras se remexeram, Lala ofegou.
- S-sua bruxa... - conseguiu dizer. Fechou os olhos, era muita força para falar.
Ophelia sorriu.
- Acho que foi o bastante. Não quero que você morra, sabe.
Soltou as garras, deixando Lala cair no chão, sangrando. Os braços se recolheram, voltaram a forma humana e sumiram.
- Ah-... - Lala tentava se recuperar, mas sem chance. Seu abdomên fora perfurado, o estômago praticamente foi rasgado ao meio e o sangue saía em grandes quantidades - m-maldita... maldita...
- Ah, não consegue regenerar seu estômago? Que fracassada! Já vi que será uma escrava fraca! - suspirou Ophelia, indignada.
Lala ofegou, rangendo os dentes. Pousou a mão na katana, que miraculosamente não escapara das suas mãos nem quando foi perfurada e a moveu rapidamente, como um raio, para as pernas de Ophelia. A katana foi parar exatamente no tornozelo, fazendo um pequeno corte.
- Yeah! - exclamou Lala contente ao ver que conseguira ferir Ophelia. Mas esta simplesmente olhou para os pés, retirou a katana com cuidado e olhou o corte onde jorrava pouco sangue.
- É só isso que sabe fazer? - indagou - mas és uma fracassada mesmo!
Lala sabia que não era impressão quando ela deu as costas e seu tornozelo não apresentava nenhum corte. Seria imaginação? A katana com um pouco de sangue mostrava que não. Ela se curou sozinha, tão rápido assim? Céus, a menina era mais poderosa do que ela pensava...
Conseguiu se sentar, fazendo força. Só um pouco, um pouquinho que seja... Seus vasos sanguíneos começaram a se unir e o sangue já não mais jorrava. Concentrou-se mais ainda, seu estômago fez força para se unir também.
Aquilo era cansativo. Aquilo doía. Como Ophelia podia fazer isso tão naturalmente? Claro, era um pequeno corte... mínimo. Mas era regeneração completa, sem uma cicatriz sequer!
- Ah--
Não soube quanto tempo passou naquilo. Só soube que já era noite quando acordou e viu sua barriga intacta, como se nunca tivesse sido perfurada. Sua roupa estava rasgada, é claro. Mas estava tudo normal, tudo liso, sem cicatrizes. Suspirou aliviada. Estava viva.
- Venha - uma sombra lhe disse.
Ergueu o rosto, surpreso. Como assim?
- Você perdeu a aposta - disse Ophelia, escondida pelas sombras - vai me servir para o resto da vida. Esqueceu-se disso?
- Ah.
- Venha. Já é noite e precisamos avançar...
Lala se levantou e fazendo uma breve reverência, passou a seguir a sua mestra.



E no próximo capítulo...

- Essa cidade é dividida em vários bairros, mas existem os mais importantes, os médios e os mais distantes e estes são os piores. Eu morava em um médio, pois apesar de meu pai ser um "subversivo", minha mãe recebeu uma boa herança do meu avô e assim pode garantir uma casa boa... E bem, meu pai sempre trazia algum dinheiro das viagens dele...
- E esse bairro, Otipim - continuou - era onde eu morava. É perto do Fórum, o suficiente pra ir a pé e a pensão em que vamos ficar é uma de bom gosto e fica perto de uma lanchonete decente... é um bom lugar, tem verde.
- Menos mal - murmurou Rafitcha. O lugar lhe desagradava bastante...

Um comentário:

Umrae disse...

"Nem 10% da minha força usual eu coloquei!"

Meldelz, essa menina é o Freeza do DBZ disfarçado. Ela vai explodir o planeta!