sexta-feira, 21 de março de 2008

Parte 12 - A dor antes do prazer.

Todos se amontoaram na cabana, com medo pelo que viria. Raveneh estava abraçada com Johnny, os braços cobertos pela manta bege.
- Johnny - começou, hesitante.
- Sim, querida? - indagou Johnny, os olhos semi-cerrados.
- Pediram a minha extradição para eu ser julgada - contou Raveneh, os dedos tremendo - mas recusaram.
- Sério? - indagou Johnny - que bom que recusaram.
- Eu realmente não quero voltar para... para aquele lugar... - Raveneh disse - mas não é melhor eu ser julgada logo? E ainda mais com essa maluca da Ophelia aí... Queria ficar longe dela...
- E o bebê? - indagou Johnny.
Não parou para pensar no que significaria viajar para longe. Só pensava no bebê.
- Não sei - Raveneh soluçou. - só sei que preciso de um lugar seguro. Eu... eu senti aquela energia monstruosa. Eu senti a Ophelia, eu encarei seus olhos. Sua aparência é de uma criança, mas... ela é um monstro e não quero viver perto dela, Johnny.
- Então vamos até onde você nasceu - afirmou Johnny - e você vai ser julgada e inocentada. Viveremos lá, se for preciso.
- Abandonar as Campinas... - Raveneh enxugou os olhos - eu realmente não queria isso. Mas irei só para ser julgada... Só para isso. Voltarei não importa o que tenha acontecido.
- Então que seja - Johnny sorriu.
Entendia o medo da esposa. A Ophelia era louca, e queria a vingança de qualquer modo. E Raveneh sofreria desnecessariamente se tentasse escapar ao julgamento, pois seu meio-irmão faria questão de encher o saco quantas vezes for preciso. Raveneh não precisava sofrer mais do que já sofria e seria mais sensato passar pela prova do fogo rapidamente, e criar seu filho em paz.
Os dois adormeceram.

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Ophelia sorriu. Estava em um rio, numa floresta, nua, lavando sua roupa. Não adiantava, seu vestido não melhorava de aparência. Mas não se importava: estava feliz porque podia se mexer, sentia fome e frio como uma humana, estava viva. Já havia se alimentado, conseguira algum bicho pra comer.
Se perguntou porque seu corpo não crescera. Já devia estar no corpo de uma mulher, pois era uma criança quando adormecera.
Mordeu o lábio inferior, cerrando os dentes, concentrando. Ajoelhou-se, a água cobrindo todo o seu corpo, fazendo força. Estava pouco habituada a poderes mais sofisticados que destruir coisas. Sabia fazer tudo, mas estava enferrujada por causa de todo o tempo dormindo. Nem destruíra as coisas direito no show.
As pessoas se apavoram por tão pouco.

Droga.
Mergulhou o rosto na água, seus cabelos se encharcando. Era só sair daquele corpo...
Era só se libertar.
Um pouco só... um pouco mais de energia...
Ofegou. Sua face se contorceu, as veias do seu rosto e seus membros ficaram nítidas, suas pupilas diminuiram. Tremia.
Era dolorido. Não lembrava de como era dolorido. Será que já fizera isso alguma vez?
- Ophelia, seja a melhor.
Um pouco mais. Um pouco mais de poder...
- Nunca seja a segunda, seja sempre a primeira.

Seus dentes se transformaram em presas, seus órgãos se remexeram de tanta dor, sua cabeça parecia que ia explodir.
E agora...
Seus seios aumentaram. E como isso doía! Era toda a dor do crescimento acelerada e multiplicada: os seios pareciam explodir, cada pêlo que surgia era como se espetassem uma agulha em brasa, suas mãos e pés cresciam como se esticassem com aparelho de tortura, suas unhas adquiriam aparência uniforme e era como se arrancassem as unhas, seu rosto se tornava mais feminino e era como se alguém esculpisse sua face com violência, como se a carne fosse mera pedra ou argila.
Sentia a dor em cada célula do corpo. Seu coração batia apressado, seus dentes gemiam de dor ao se alinhar forçadamente, sua coluna vertebral e seus ossos empurravam com toda a força e isso doía. E a sua bacia crescia, e seu corpo ganhava curvas perfeitas e reclamava por fazer isso tão forçadamente.
Um pouco mais de energia...
Fechou os olhos.
Não doía por mudar de corpo. Doía por se libertar daquela prisão do corpo infantil. Mudar de corpo para Ophelia ou qualquer uma das Musas era como uma cobra mudar de pele: a coisa mais natural do mundo. Mas aquilo não era simplesmente transformar a aparência. Era se libertar daquele corpo infantil que lhe fora imposto, aquele corpo que limitava seus poderes. Era como uma barreira que só desabaria caso ela se dedicasse a isso.
E se para libertar, precisava doer a ponto de desejar morrer... Ophelia fazia.
Seu coração parou de bater um minuto.
Foi como se toda a dor se dissipasse um minuto, e Ophelia experimentou a sensação de morrer pela primeira vez. Quando fora forçada a dormir por Olga, era somente como se estivesse mergulhando em um sono profundo. Mas agora era como desespero e alívio misturados. Deixou-se entregar a estranha neblina que a envolvia, confortante e fria.
Mas foi só por um segundo. Um segundo em que experimentou o pavor de nunca mais respirar e o alívio de nunca mais sofrer.
Um segundo para abrir os olhos e se ver dentro de um rio, perto de uma cachoeira. Tocou os seios. Eram grandes o suficiente para encher um par de sutiãs. Alisou a cintura. Afinara-se. Olhou as próprias mãos e se surpreendeu com os dedos longos. Estava tudo em seu lugar.
Agora era uma mulher. Fechou os olhos, contente. A dor lhe parecia gratificante agora, como um sacrifício antes do prazer.
- É assim que se faz, Ophelia... parabéns.

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- Mas você vai aceitar ir para a sua terra, Raveneh? - indagou Maria pasma.
- Eu quero acabar com tudo logo, Maria - disse Raveneh - estou cansada de sofrer anos a fio. Tive dois anos de paz, e realmente não queria acabar com eles.
- Mas... - Maria parecia hesitante a permitir que Raveneh saísse daquelas terras de tanta paz - você vai com quem?
- Johnny vai me acompanhar, é claro! - Raveneh sorriu, contente por Maria se preocupar tanto - não irei sozinha.
- Acho melhor que mais alguém lhe acompanhe - murmurou Maria - e alguém que possa lhe defender. Johnny não vai poder lutar por você.
- Maria, por favor... não precisa... - Raveneh disse em um fio de voz, constrangida.
- Sim, você precisa. Acho que Rafitcha gostaria de lhe acompanhar, ouvi dizer que ela prestou algum curso na área jurídica quando era estudante. Alguém que saiba lutar...
- Maria... - Raveneh hesitou antes de continuar, permitindo que Maria continue.
- Umrae seria ótima, mas na situação que estamos precisamos de alguém que saiba fazer venenos. Ophelia vai vir e com força total. Hmmm...
- Ai... - Raveneh queria partir logo. Não que estivesse ansiosa pra sair dali, muito pelo contrário. Já podia imaginar os dias sem notícia, preocupada, nervosa. Mas queria acabar com aquele inferno logo.
- Ah, vou perguntar pra Bia se pode lhe acompanhar - disse Maria - talvez ela queira.
Raveneh resmungou e arranjou um lugar qualquer para sentar, enquanto Maria dava as costas e procurava a senhorita Premy. Logo voltou, acompanhada de Tatiih e Bia.
- Elas duas vão lhe acompanhar também - disse Maria - Bia aceitou e Tatiih queria lhe acompanhar.
Raveneh sorriu, agradecendo. Mais tarde, Rafitcha aceitara acompanhá-la. Agora tinha um grupo de amigos para defendê-la enquanto viajava para o inferno. Suspirou aliviada.



E no próximo capítulo...
- Ophelia está no meio dessa floresta, na cachoeira - foram as palavras que Vinicius conseguiu dizer.
Lynda franziu as sobrancelhas, intrigada.
- Eu não senti isso - disse - então Ophelia está suprimindo a sua energia?
- Eu não senti - Vinicius disse - eu a vi. Estava indo pescar alguns peixes e... bem, eu a vi do outro lado, tomando banho.
- Você viu a Ophelia? - Thá se supreendeu - e ela nem soube que estava ali?
- Ela levantou o r-rosto... - Vinicius tremia de medo - e me viu. Mas ela fez uma cara de asco, e me ignorou .___.
- Seu tolo - Thá disse, suspirando - vá pra casa e tome um chá. Céus, seu suor está frio.

4 comentários:

Umrae disse...

*Se tranca no tear e inicia a melodia que evoca centenas de pequeninas aranhas, que imediatamente começam a trabalhar no preparo dos venenos*

Não nos renderemos NUNCA!

Luna disse...

*lol*

Feijoa :) disse...

=B
Oi?
Ta eu prometo que vou ler a história mas nãO hoje xD
Vim aqui mais pra perguntar se posso linkar seu blog no meu? (www.feijoa.zip.net) =B
uhum boa páscoa
Bjo =*

Unknown disse...

Hey Luna! o/
*ansioso para aparecer*

Campinas Forever!! *-*



*esconde cara de "estou morrendo de medo da Ophelia* *lol*






*ansioso pelo proximo capitulo³*