Gerogie pousou no chaminé de alguma casa, na capital do reino das fadas.
Podia ver uma praça inteira de onde estava, e algumas ruas transversais. Seus olhos eram amendoados, de íris azuladas. Eram quase duas horas da tarde, e realmente foi um pouco exastivo cobrir a distância entre Grillindor e o Reino das Fadas em tão pouco tempo, mas com algumas horas de descanso, superaria o esforço facilmente.
Essa cidade está um lixo.
Vestia uma capa escura, e seus cabelos alcançavam a cintura, de fios lisos e finos, todos avermelhados.
Vejamos... se aqui é o Reino das Fadas, a capital destruída...
Encarou com frieza uma mulher a encarar de forma curiosa e assustada, mulher esta de vestes esfarrapadas.
... e se as Campinas ficam ao norte do Reino das Fadas, acessando facilmente pela escadaria da Praça dos Sete Anjos ou algo assim...
Imagino que seja nessa direção.
Saltou entre os telhados das casas, assustando as pessoas que as viam, e facilmente alcançou o chão das Campinas.
- Perfeito.
Tão fácil alcançar este pequeno lugar.
Avistou as casas de madeira, a maioria destruída.
Seria um ataque de demônios?
Também reparou nas plantações. Havia bastante, quase todas semi-destruídas.
Vivendo de batatas, basicamente.
Caminhou, devagar, reparando em cada detalhe como a localização geográfica, os arredores como a floresta.
Sinto cheiro de mar.
Ouviu dizer que tinha praia também. Isso significava que os dragões azuis poderiam se mergulhar na areia quente, e quem sabe, na floresta, os negros poderiam se esconder. Só não sabia se os vermelhos seriam exigidos...
Por onde as pessoas estão?
Ela avistou duas meninas saindo do celeiro, uma delas com uma cesta enorme.
- Hey.
Rafitcha se virou assustada.
- Oi.
Nesse instante, Gerogie trouxe a salvação.
- Eu me chamo Gerogie - ela se apresentou delicadamente, sendo atenciosamente observada por Rafitcha e Doceh - e procuro Umrae.
- A qual raça pertence? - perguntou Doceh, já com a mão no cinto, procurando um punhal - não parece ser uma fada ou da raça dos elfos.
Gerogie sorriu. Era estranho seu sorriso, quase como um sorriso psicopata e sádico. Mas Gerogie não era psicopata ou sádica, muito pelo contrário. Compreendia que era estranha a sua aparência humana, com os olhos tão amendoados e azuis, e os cabelos tão vermelhos e lisos. Parecia uma perfeita humana, é verdade. Mas havia alguma coisa que a diferenciava.
- Sou um dragão - Gerogie respondeu com delicadeza - e procuro Umrae.
- Oh sim - Rafitcha compreendeu - oh sim, entendo! Venha, estou indo para o abrigo agora.
Ela seguiu, contente, acompanhada de Doceh e Gerogie. Caminharam até a porta do abrigo, e logo Doceh ficou intrigada:
- Rafitcha, como tem certeza de que não é um demônio disfarçado? - perguntou, ao que Rafitcha disse:
- Não tenho.
E ela permitiu que Gerogie entrasse no abrigo.
- Quem é ela, Rafitcha? - perguntou Raveneh que estava na sala, dando banho em May - quem é esta mulher?
- Oh, céus - Gerogie observou o abrigo com desinteresse - dá para cortar a tensão com uma faca.
Pois ela sentia o cheiro da morte e medo pairando no ar.
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Ela fechou a porta e fechou os olhos também, encostando o corpo na porta e parando para pensar.
O que foi que eu senti?
Uma vaga sensação, algum poder exacerbado perto dali. Enquanto procurava em fazer análises matemáticas para Alicia por pura diversão, sentira algo. Claro, ela sentia coisas o tempo todo: havia demônios em todo o canto, e podia visualizar a energia de todos eles sem errar. Tinha muitas fadas também, e ela podia localizar toda energia que quisesse. Mas era algo maior do que a mera energia dos demônios. Era de uma musa.
Ou duas.
Alguém realmente poderoso...
Não se preocupou. Continuou encostada à porta da masmorra, por onde ainda pulsava os espíritos dos torturados antigos, por onde a magia era absurdamente forte. Mas para Ophelia, era claramente suportável. Continuou isolando toda magia que sentisse, toda aura que transbordasse de seres mágicos. Isolando as fadas da cidade, os demônios.
Até alcançar as maiores energias que já sentira.
Estão bem ativas.
Pôde concluir que eram duas energias e não uma, como achara no começo. E podia concluir com facilidade que elas lutavam.
E tem outras menores. De demônios, provavelmente.
Sorriu.
E uma por uma, elas se apagam.
Claro, elas eram boas em luta. Muito boas. Uma delas era de longe a melhor.
Provavelmente é Elyon. A outra...
Levantou-se, e andou pelos corredores da masmorra. Teria que aprisionar as duas também, provavelmente. Separaria as duas, prenderia as duas em correntes, e faria questão de lutar com elas sempre, castigá-las o máximo que podia. Castigar só pela ousadia de imaginarem se proclamando vencedores, apostando contra Ophelia.
Francamente.
Tem gente que não sabe quando parar.
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- Então - Umrae ofereceu chá para Gerogie, que recusou educadamente - a resposta de Bel seria?
- Ela aceitou - respondeu Gerogie
Umrae sorriu aliviada.
Estavam na sala de jantar, acompanhadas de Raveneh que catava os feijões, tranquila. Ela perguntara se seria incômodo que ela ficasse ali, ao que Umrae respondeu que não.
- Boa tarde - Rafitcha chegou, e passou a fazer companhia para as três, já que ela tinha que guardar os ovos.
Umrae ignorou-a, concentrando-se em Gerogie:
- Ela chegará quando? - perguntou, ao que Gerogie respondeu de forma preocupada:
- É com isso que ela está nervosa - piscou os olhos, de forma inocente - ela me mandou para saber que dia seria melhor e quantos dragões poderia mandar, e também as condições para poder esconder.
- Não dá para enviá-los todos como você, não é? - Umrae perguntou, bebendo um pouco de chá.
Gerogie negou com a cabeça e explicou:
- Eu sou um dragão vermelho, e existo há muitos e muitos anos. Calculo que somente quinze dragões verdadeiros vivam no ambiente criado por Bel, e nenhum de nós é subordinado a Bel. Vivemos lá porque é um bom lugar, e tem espaço para todos, além de comida e conforto. E como Bel é uma boa pessoa, então não nos incomodamos de fazer certos favores com ela como treinar calouros e ajudar a criar dragões mestiços.
- Entendo - Umrae bebeu mais um gole - então Bel cria dragões mestiços, aqueles domesticáveis.
- São inteligentes, mas como cachorrinhos. Eles possuem menos da metade de nossa força, velocidade e resistência. Mas como são bem menores que a gente, então eles são mais fáceis de se ocultar e voam tão bem como a gente. E bem, Bel treina-os de forma tão competente que é bem fácil formar um exército com eles, apenas em uma semana.
- Que bom. E ela quer o quê exatamente da gente? Prazo e local? - Umrae perguntou.
Gerogie sorriu:
- Exato. Ela não sabe quantos dragões mestiços seriam ideais e não sabe qual seria a melhor forma de ocultá-los, pois sabe que os dragões mestiços não tem forma humana. Ela quer a sua opinião quanto a isso.
- Bem - Umrae bebeu o último gole do chá e voltou a atenção para o papel em cima da mesa, onde rabiscava uma espécie de mapa - veja bem. Dragões vermelhos não seriam ideais, pois não temos vulcões ou qualquer espécie de ambiente quentissímo. Mas temos uma floresta onde tem alguns pântanos pequenos, e poderiam servir para ocultar dragões negros. E temos uma praia além. É pouco visitada, mas tem uma extensão boa o bastante para abrigar uns azuis, creio. Acho que ela poderia trazer dez dragões mestiços, seja negros e azuis. Embora calculo que seja melhor atacar Ophelia no mesmo dia que ela trará os dragões, porque Ophelia consegue ver aqui.
- Não tem feitiços ilusórios nas janelas do palácio? - perguntou Gerogie, ao que Umrae respondeu prontamente:
- Siih foi capturada antes que pudesse fazer isso - respirou pesadamente - ela, Alicia e Lefi. O preço que pagam por terem ajudado a libertarem Kibii. Ou seja, teremos que fazer na frente de Ophelia. Ou tem como cobrir dragões de algum feitiço invisível?
- Impossível - admitiu Gerogie - sabemos que a invisibilidade é algo como ressuscitar dos mortos: muito tentado, mas quase impossível. Podemos confundir Ophelia com os dragões, mas não torná-los invisíveis.
Todos ficaram em silêncio.
Umrae tentou calcular como poderia fazer com que Ophelia fosse atingida de surpresa.
- Hey - Umrae perguntou - as fadas podem sentir a energia dos dragões?
- Não - Gerogie respondeu - dragão é o único ser cuja energia é impossível de se mapear, mesmo por fadas excelentes em detecção mágica como Ophelia.
- Isso é bom.
Rabiscou mais alguns gráficos, como rotas de vôo e uma caricatura de Ophelia.
- Diga para Bel - Umrae fixou o olhar na caricatura de Ophelia - diga para ela trazer seu exército o mais rápido que puder, e dane-se se Ophelia ver tudo. Daremos proteção.
- Que dia exatamente?
- Você pode voltar a Grillindor que dia?
Gerogie respondeu:
- Preciso descansar por hoje, então partirei amanhã, alcançando Grillindor depois de amanhã ou mesmo durante a noite de amanhã.
- Então - Umrae afirmou - diga para Bel partir assim que você chegar lá, entende?
- Perfeitamente... - Gerogie sorriu amavelmente, com aquele ar tranquilo de sadismo - ...Umrae.
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- Uau.
O céu estava nublado, mesmo que fosse verão e três horas da tarde. Cherllaux nunca presenciara um dia verdadeiramente quente, pois suas nuvens estavam sempre nubladas, sua atmosfera sempre sombria e sempre, sempre tinha frio.
- Quanto matamos? - Catherine contou os corpos de demônios - Elyon, você não calculou catorze demônios? Temos somente treze aqui, e falta um hiriki de acordo com a sua análise.
- É verdade - Elyon observou as suas próprias vestes. A capa estava rasgada, sua manga esquerda se rasgara também depois que enfrentara um jaken particularmente insistente e ágil, mas as botas continuavam firmes, mas a blusa cobria seu peito, e a calça resistia. Avaliou a condição de Catherine. Embora suas calças e botas continuassem inteiras, a blusa cobria somente todo o tronco, pois ambas as mangas foram rasgadas quando um dos hirikis cortara seus braços de forma tão profunda que Catherine achou que iria perder seus braços.
- Ele está se escondendo bem.
Elyon se virou para uma das casas, tentando perceber de onde viria a sutil energia.
- É um monstro - Catherine sussurrou - ou é um monstrou ou é fraco demais.
- Aposto na primeira hipótese - Elyon arrombou a porta de uma casa, mas não entrou. Não, a energia não vinha dali.
- Devia levá-las para Ophelia?
Elyon se virou, procurando a voz. Era feminina, quase sensual. E vinha...
- Devia sim. Duas Musas... com certeza, será que a carne é boa?
Catherine arrombou outra porta, sem entrar na casa. Procurava a voz desesperadamente.
- Coitadas. Me procuram tanto...
Ela estava na última casa, e apareceu no final da rua principal.
Sim, era uma hiriki de respeito. Um demônio feminino, um monstro acima de tudo.
A distância foi encurtando e Elyon duvidou que poderia vencê-la da forma humana. Era dela aquela aura que a fez confundir, e achar que outros hirikis seriam poderosos. Achava, agora, que os hirikis que ela matara era somente uns jakens mais evoluídos.
- Belo demônio - elogiou Catherine, olhando para cima.
Sim, pois o demônio não estava em sua forma humana. Era enorme, tão enorme que fazia sombra sobre a cidade inteira. Uma enorme cobra, um corpo imenso, todo escamoso, de coloração esverdeada, quase como várias esmeraldas pela pele. No final da cauda, o busto dela. Os seios eram roliços, os braços eram estranhos, tão negros e com dedos tão grandes, e o pescoço tão feminino, o rosto de mulher. Seus olhos eram grandes, de pupilas como fendas, e sua boca era pequena até, de dentes brancos e pareciam até humanos, pois não tinha presas. Não havia nenhum cabelo, nem mesmo sobrancelhas ou cabelos. Somente tufos de cílios em seus olhos.
Sua cauda de serpente arrastava todas as casas, transformando todas elas em ruínas. Era tão alta como um arranha-céu de Nova York, e sua energia era praticamente imperceptível. Mesmo que Elyon pudesse senti-la com maior clareza, o fato de ela emanar pouca energia era insistente.
- Monstro - Elyon sussurrou - que monstro.
A criatura sorriu, seus braços alcançando o chão.
- Meu nome é Katie - se apresentou educadamente - e acho muitissímo interessar levar vocês para Ophelia em troca de benefícios.
Sua cauda de serpente se moveu tão rapidamente, à direita de Elyon, ela sentindo todo aquele absurdo vento com um minuscúlo movimento de Katie.
Elyon ficou paralisada.
Se esse demônio fosse uma fada...
Mas segurou a espada firme, em sua mão.
Se esse demônio fosse uma fada...
Esqueceu o medo, movendo-se acima da cauda.
Se esse demônio fosse uma fada...
Perfurou a espada na cauda, rasgando-a.
...com certeza, ela seria uma das Musas!
E a cauda foi rasgada.
Katie sorriu.
- Menina inteligente - disse - tentando me rasgar!
Bateu palmas, agraciada pela inteligência.
- Mas... acho que isso não é suficiente. O que pretende fazer?
Elyon continuou, ignorando a ironia de Katie. Continuou a rasgar, mas logo parou ao perceber que a cauda se regenerava a cada corte, a ferida se fechando rapidamente.
- CATHY! - gritou Elyon, parada no meio da cauda de serpente - fique longe e fique na sua forma original!
- Droga - Catherine recuou - droga.
Ela odiava se converter à forma original quando não estava no mar, rio, qualquer coisa do tipo.
- Acha - Katie disse, amavelmente - que vou permitir você rasgando minha preciosa cauda a torto e a direito?
Não teve muito tempo antes de Elyon perceber que a cauda não era a única arma: foi logo apunhalada por uma lança. Uma lança que se originava do próprio corpo, lançada pela cauda de supetão.
- Droga - Elyon ofegou, jogada no chão, a lança a perfurando bem no abdomên, à esquerda. Não atingira nenhum órgão vital, o que era bom, mas seria difícil lidar com Katie, pelo que percebia.
Ela pegou a própria lança, e com certa dificuldade, arrancou-a do próprio corpo. Apertou o ferimento, e sendo observada por Katie, tentou regenerar.
Por que Ophelia faz isso com tanta facilidade?
Concentrou-se em suas veias, suas artérias, sua epiderme e derme. Tinha que conseguir visualizar o local, as veias arrebentadas pela lança, a pele ferida, e tinha que direcionar sua magia para o local. Lentamente, de segundo em segundo, as artérias e veias foram se reconectando, os fiapos de órgãos arrancados se regeneraram, as células se multiplicaram e a pele foi fechando-se.
- Que delicadeza - Katie sorriu - tem uma boa capacidade para se regenerar. Mas está claro que exige muito de sua força, não é?
Elyon recuou ligeiramente quando Katie lançou mais lanças, todas elas bem afiadas.
Onde estará Catherine? Não consigo senti-la...
Tentou sentir, mas Katie não lhe dava tempo: atirava várias lanças, de forma desordenada e rápida, e ela tinha que escapar de todas elas. Recuava e recuava, e não tinha como escapar saltando de torres, simplesmente porque nenhuma casa era alta o suficiente. O único jeito era correr para escapar.
Impossível derrotá-la na forma humana.
Correu, tentando se concentrar em uma forma de lutar.
Ooops.
Sentira Catherine.
Se virou, percebendo que Katie não correra atrás dela. Ela permanecera impassível, um sorriso sutil.
- Parece que a brincadeira começa agora.
Katie não arredou pé de onde estava. Poderia perfeitamente brincar de lutar com Catherine dali, mesmo que o rio estivesse há uns bons metros. Mesmo que Catherine estivesse um monstro, Katie poderia lutar.
Em pé de igualdade.
Porque agora era monstro contra monstro.
Oh yeah, adorei os 9 comentários no capítulo anterior. Umrae, amei sua explicação sobre Faerün *-* Ok, vou hospedar as imagens em photobucket, tenho conta lá e sempre esqueço senha rs. Sorry não ter desenho nenhum hoje, é que os que eu queria pôr 'sumiram misteriosamente'. Quer apostar quanto que hoje, depois de ter postado isso, os desenhos aparecem? Enfim, é isso. Fato interessante: eu não tenho a mínima idéia de em que capítulo a história vai terminar. Eu sei mais ou menos como se vai dar o desenrolar das coisas, mas quanto tempo isso irá levar, eu não sei. Creio que terminarei lá pelos capítulos 90, 100, mas não tenho nada previsto. ^^
3 comentários:
Lunoska, com ou sem desenho: Está ótimo.
Imagino certinho os demônios como vc descreve. *-*
Mais um cáp lido, OML. *o*
;***
Bjo, Rata
^_^
Ai ai, é sempre bom ter metade do elenco me devendo favores (a Gerogie, por exemplo, me deve a vida dela, huahuahua, lembra?). Pena que não temos ambientes adequados a dragões vermelhos, assim o Kyahreth não poderia se juntar ao ataque. Talvez o Eilinthar se adapte (saudade dos meus bichinhos).
Me deu vontade de desenhar a Gerogie. Se ficar bom, eu mando depois.
Bjo
Só por causa disso, deu vontade de reler as bobagens que a gente escrevia na incubadora, então fui lá e reli. Lembram do ovo de galinha? E a Polly zoando que ia sair um mafagafo albino de dentro...
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