sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Parte 69 - Bel, Elyon, Raveneh e Ophelia.

Tic Tac.
Tic Tac.
- puta.
Tic Tac.
- foda-se, zidaly.
Tic Tac.

Havia acabado de dar meio-dia e Bel ainda estava irada. Controlara-se bastante, mas mesmo assim era complicado quando ela fora chamada pessoalmente pelo rei para uma "conversa particular". E tivera que colocar o nome de Zidaly à força, sob pena de não poder cumprir a missão. Nunca sentira tanta raiva de alguém na vida.
Não iria aparecer para almoçar com o rei.
Tinha nojo daquela horda hipócrita: rei, rainha, Zidaly.

Resolveu descontar a ira nos novatos que a aguardavam para o treinamento no dia.
- Comandante Bel! - cumprimentou Ratta - os novatos a aguardam no campo aberto!
- Ok - Bel resolveu lutar só com as calças, coturnos e camiseta branca, sem mangas. Sem nenhuma proteção para os braços ou pescoço.
Havia um grupo de dezessete rapazes e moças, todos ansiosos para uma luta com Bel.
Obviamente não lutariam todos com ela naquele dia, mesmo que ela tivesse pique. Ela costumava separar os novatos em grupos, e assim lutava com o grupo todo de uma vez.
Era preciso tal atitude: afinal como se cuidar de dragões se não pode nem lutar direito com uma pessoa?

- Bem, vejamos: dezessete pessoas - Bel começou. Amarrou seus cabelos em um coque bem-feito para não se desmanchar - lutarei com cinco pessoas hoje, cinco pessoas amanhã e seis pessoas depois. Tudo bem? Arrumem os grupos como quiserem. Tem cinco minutos para se prepararem.
Ela deu de costas, escolhendo a espada que utilizaria. Era regra: a espada não tinha fio de corte, mas ela não se preocupava. A turma ainda estava no começo do treinamento, e a parte mais pesada sempre ficava pro final. E caso a missão fosse bastante bem-sucedida, ela tinha esperança de cuidar do treinamento pessoalmente.
- Estamos aqui, Comandante Bel - um garoto cheio de espinhas se apresentou, seguido de quatro jovens: três homens e uma mocinha loira, de cabelos extraordinariamente compridos.
- Perfeito. O resto, mantenha-se afastado.

Bel observou a postura dos cinco oponentes. Não eram novatos de primeira viagem: era a turma que passara um ano em outro território, acostumando-se com teorias e tudo o mais. Sabiam tudo, e agora testavam as teorias aprendidas no ano anterior.
Dos cinco, três estão com a postura incorreta. A moça treme ao segurar a espada.
- John, endireite a coluna - Bel começou a corrigir - Hannah, pare de tremer. Chuck e Norris, não fiquem curvados. Vamos, ataquem-me!
Quem partiu primeiro foi o moço que Bel mandou endireitar a coluna: John. A espada banal foi defendida imediatamente por Bel, e logo a ofensiva foi marcada por Hannah e Chuck que agiram em conjunto, indo pelas laterais.
- Estratégia excelente - Bel gritou - mas é inútil se eu fizer isso...
Girou a espada em torno de si, repelindo as três espadas que a atacaram e deu um salto para cima:
- Kinomoto, o que acha que está fazendo?
Zigue-zague.
Hannah parece que tem medo.
Esquivou-se de um ataque de Chuck com facilidade, golpeou John pela coxa esquerda e se preocupou em evitar Norris. Logo deu sucessivas defesas, defendendo-se de Hannah e Kinomoto respectivamente.
- Um! - Bel gritava - Dois! Hannah, mais força! Kinomoto, mais técnica!
Não bloqueou o ataque de Kinomoto, fazendo-o se desequilibrar e cair de cara no chão, mas Hannah conseguiu se equilibrar. Norris lhe deu apoio, atacando Bel em todas as partes do corpo, sem se preocupar em medir as atitudes.
- Norris, eu não sou um Ollimpi de QI 5! - Bel gritou, exasperada - golpeie direito, caramba!
Bel venceu Norris, deixando-o no chão. Kinomoto se levantou, Chuck atacou pelas costas.
- Muito bom, Chuck - Bel se virou, golpeando Chuck de vez - mas foi muito lento!
Um.
Um e vinte e cinco.
Um e meio.
Um e setenta e cinco.
Dois.
Mais, mais um pouco.

A espada girou noventa graus, abatendo a espada de Hannah e a fazendo ficar tão surpresa que ela deixou a arma cair no chão.
Tin-tin.
E outro noventa graus e derrubou Kinomoto que tentava atacar suas coxas.
Defendeu-se de John, permitiu que Hannah pegasse a espada no chão para somente bater com a própria espada em seu pulso e jogar John em cima dela.
- Venci.
Bel sorriu, mostrando seus dentes.

Estavam todos acabados no chão, deprimidos por terem sido vencidos de forma tão fácil.
- Até amanhã para vocês - disse Bel, dando oizinho para o outro grupo de cinco pessoas que lutaria com ela no dia seguinte.

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- Oh.My.God. - Catherine deixou o queixo cair, pasma.
Elyon também fez a mesma coisa, somente observando a rua principal.
Estavam em Cherllaux.

Mas estava muito longe de uma vila normal.

Estava vazio. Metade das casas viraram uma pilha de restos de madeira. Havia sangue e mais sangue pelo chão, restos de pessoas assassinadas. Cherllaux virara ruína.
- O que houve por aqui? - Catherine parecia pasma, cutucando com o pé uma pilha de ossos humanos.
- Demônios - Elyon respondeu sem hesitar - os malditos demônios de Ophelia.
Podia se ver rastros deles em cada parte: o cheiro de sangue, pairando sobre a vila que um dia foi um lugar pacífico. O frio eterno, mesmo no mais quente dos verões, a névoa que nunca se dissipava pairando no ar, a atmosfera irreal de medo e terror, os restos humanos jogados no chão, as casas completamente destruídas, algumas poucas ainda de pé apresentando janelas quebradas e portas arrombadas.
- Eles acabaram com isso - Catherine comentou, preocupada - será que tem alguma coisa viva por aqui? Um humano?
- Não - Elyon disse observando um corpo de criança semi-devorado - veja, o ataque aconteceu há alguns poucos dias. Calculo uma semana. As pessoas já foram todas embora, e se ainda resta uma pessoa, será assassinada na hora.
- Meu Deus... - Catherine parecia não querer acreditar com aquela assombrosa visão.
Continuaram caminhando pela vila, analisando os estragos.

- Para trás! - Elyon gritou, empunhando a espada na mesma hora, empurrando a amiga.
Catherine perdeu o equilíbrio, caindo de costas:
- O que houve? - gritou, exasperada, ao passo que Elyon respondeu com um sussurro:
- Demônios. Demônios.
Não durou mais que um segundo a surpresa de Catherine: logo apareceu uma criatura por detrás dela, de olhos vis e rasgados com íris azuis e pupilas como fendas negras, a pele enrugada e tal criatura andava sobre duas pernas, embora vivesse de forma encurvada tal como um leão ou elefante. Era magro, e nas costas, podia se ver a sua coluna vertebral reluzente, e bastava se descer o olhar para se apavorar com a visão de seis dedos em cada pé, e seis unhas afiadas e resistentes para cada pé, cada uma medindo trinta centímetros, podendo rasgar uma criança com facilidade. Também Catherine se assustou quando viu que ambas as mãos do monstro pegaram em seu pescoço, e assim pôde sentir o aroma de moribundo, quase que insuportável e a textura rugosa dos dedos, dos doze dedos que apertavam seu pescoço, e as compridas unhas que se chocavam frequentemente. Ao perceber que estava presa junto ao peito do monstro, quase que desmaiou, mas resistiu.
- Maldito.
O monstro sorriu. Para Elyon, ele lembrava um morto em decomposição, embora não tivesse carne se soltando. Mas a cor marrom misturada ao cinzento, o sangue seco em cima das unhas e do rosto, as orelhas que eram iguais a de um humano, a boca rasgada tendo dentes e mais dentes, todos tortos e afiados, e sem nenhum cabelo, a careca decadente... tudo lhe parecia mórbido, antigo. E ainda assim assustador.
Lhe lembrava os tempos antigos que ela topava com demônios da mesma classe o tempo todo e assim destruía a todos.
- Maldito.
Elyon ficou na posição correta.
Como se fazia mesmo?
Tinha de lembrar, Catherine continuava fraca e ela não era boa mulher para as crises: sempre perdia a cabeça, embora soubesse lutar bem.
- Aqui vai.
Foi muito rápido e o monstro mal pôde sentir. Era simples a estratégia, era simples o modo, pois Elyon era uma das mais rápidas guerreiras que já andou sobre aquele mundo. Tudo o que o demônio sentiu foi um mero vento, consequência do deslocamento de Elyon. Afinal como podia prever que em um segundo, ela já dera o golpe final e estava atrás, esperando o sangue jorrar?
Ela cortou a cabeça, em um corte horizontal e certeiro.
- ?
O demônio mal conseguiu tentar entender. Pois logo o sangue se derramou como a lava de um vulcão, o corpo desabou e Catherine se desequilibrou, suja de sangue fedorento, quase que tentando entender os dois minutos de tensão e morte.
- Obrigada - agradeceu Catherine - eu fui tão covarde...
- Não se preocupe - Elyon sorriu - tem outros por aqui. Fique preparada.
Catherine mexeu a sua própria espada, como sempre, criada magicamente. Utilizava um grande esforço para poder ter a espada predileta, mas não se incomodava que a sua energia fosse sentida pelos outros demônios. Podia vencer todos, sem piedade.
- Ora, ora - riu um deles.
A zombaria fora acompanhada de risinhos sarcásticos.
- Catherine - Elyon começou - tem três na casa ali, ao seu lado tem mais quatro.
Catherine encarou a casa que Elyon apontou.
- Tem mais sete demônios nessa cidade. Ao total tem catorze monstros - Elyon parecia pensativa - dos catorze, quatro são hirikis e oito são jakens, e dois são ollimpi.
- Uau - Catherine sorriu.
Sabia que Elyon era a que melhor sabia das trevas, e assim ela era perita em cuidar de demônios. Elyon era uma caçadora de demônios quando fadas ainda era um povinho sem muita importância, sem muita magia. E assim ela assistia vilas inteiras serem destruídas por demônios, fadas tentarem dominar. Elyon era uma das mais antigas ali, quase como uma deusa da batalha.
- Catherine, cuidado com os hirikis - Elyon aconselhou - eles são poderosos. Não sei se dá para derrotá-los de forma humana.
- Ok.
Elyon foi em frente, tentando analisar cada energia.
Isolar a própria para avaliar o resto.
Podia sentir três corações demoníacos perto dela, pulsando de excitação, esperando um ataque, um ataque para acabar, ter carne. Podia até escutar o sangue passando pelos corpos dos demônios, a pulsação, o ranger de dentes. Ela arrombou a porta, e em um toque, fez a casa desabar.
Três monstros.
Um era idêntico ao que atacara Catherine de surpresa.
O segundo lembrava uma aranha, com oitos patas repletas de espinhos e quarenta e oito olhos em volta da cabeça e uma pequena boca com vários dentes.
O terceiro parecia uma ameba com braços fortes com fortes garras e um apetite voraz. Por todo o corpo de ameba, a pele era gelatinosa e havia vários buracos com dentes, lembrando bocas.
- Dois hirikis e um jaken... - Elyon calculou antes de receber a ameba em cima dela.
Enquanto isso Catherine se ocupava em arrebentar a outra casa e lutar com um jaken que Elyon mal pôde visualizar direito. Enviou a espada várias vezes contra a ameba, tentando dividi-la em várias partes, arrebentá-la. Mas nada funcionava: ela se dividia e era pior, pois os pedaços cortados agiam de forma independente e atacavam Elyon da mesma forma, e se inteiravam ao corpo.
Um ponto fraco. Tem que ter um ponto fraco...
Deslizou pelo chão, quase que ajoelhada, a espada lutando freneticamente com os braços da ameba.
- Uau, Zad - gritou a aranha - será que consegue vencer a fadinha?
- Ela está fácil - a ameba gritou, os braços sendo girados alucinadamente como duas espadas frenéticas e ansiosas por uma luta. Elyon encontrava alguma dificuldade, mas estava somente enferrujada.
- Olá, querida, ouvi dizer que você é a melhor caçadora de demônios.
Ela girou a espada em noventa graus para defender o braço esquerdo.
- Sim, eu sou. O que deseja?
Conseguiu se levantar e visualizar algum fluxo de energia. O monstro parecia não ter olhos, mas tinha bocas por todo o corpo, aguardando um pedaço de carne.
- Nada demais. Eu só quero uma luta.
A espada rompeu várias bocas ao meio, a ameba recuou sentindo um pouco de dor. E Elyon não hesitou: cortou o corpo, ignorando os braços que estavam paralisados, e quando os pedaços se dividiram completamente, ela cortou os braços. Em várias partes. De tamanhos variados. Massacrou vários pedaços. E com cuidado, ela fez questão de cortar todos os dentes e todas as bocas em vários golpes de espada.
- Você é boa! - gritou um dos jakens que lutava com Catherine - acabou com Zad! É uma caçadora de demônios?
Elyon deu um mero sorriso:
- Não. Eu sou Elyon, a Musa das Trevas.
Catherine sorriu, destruindo mais dois jakens.

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- KIBII! - Amai parecia entusiasmada, mas logo recebeu bronca de Nath por gritar tão alto em uma enfermaria.
Kibii a olhou com alguma espécie de confusão, mas não sorriu, embora estivesse contente. Estava feliz de estar com os amigos novamente, de ter saído daquele galpão. A dor que sentia parecia ter sido tapada de forma confusa, e ela ainda tinha dificuldades em se localizar no tempo e espaço. Mas de acordo com Nath, ela só poderia lutar com uma espada de forma normal dali a dois meses. Mas se tomasse todos os remédios, ter uma alimentação adequada e obedecer à Nath, ela poderia usar suas flechas em uma semana, por mais que tivesse ferimentos pelo corpo.
- Umrae, é bom criar algum plano que não exija muito de Kibii - começou Nath, em sua voz sempre severa - ela está muito debilitada, e haverá cicatrizes. O que mais me satisfaz é que Kibii é forte do ponto de vista psicológico, e assim a tortura foi mais física do que mental. Me alivia pensar que Kibii não teve traumas fortes decorrentes do período de sequestro, enquanto foi torturada sadicamente pela Ophelia.
- Sim - Umrae mordeu o lábio inferior - eu preciso saber do real estado de Kibii pelo corpo.
- Bem - Nath começou de forma cuidadosa como toda enfermeira faz - Ophelia fez setenta cortes leves e vinte e um cortes profundos. Nenhum desses cortes profundos atingiram os órgãos de forma a causar hemorragia. Uma coisa curiosa que notei é que todos os cortes eram tratados com sal, e Kibii não me relatou isso. Creio que era feito enquanto ela estava insconsciente, e assim a dor ficava alojada para quando ela acordava. Sentir a dor sem saber do que era devia ser muito mais angustiante. Ophelia também causou queimaduras nos pés dela, mas Siih cuidou bem disso e já tem uma pele nova, praticamente, isso não está me dando muito trabalho. Me preocupei com a possibilidade de Kibii morrer de hipotermia, porque é visível que ela estava pálida, visto que Ophelia costumava mergulhar em baldes de água gelada, visando causar o desequilíbrio mental.
Umrae não disse nada. Nath terminou seu relato de forma conclusiva, e nada acrescentou a mais, pois logo se levantou para verificar o braço de Fer e ajeitar Kibii para que ela pudesse comer algo.
Umrae voltou ao seu acervo de venenos, onde se dispôs a dar uma limpada nas armas do pessoal, enquanto planejava uma estratégia. Antes de tudo, tinha que pensar...

Raveneh arrumava a cozinha depois do almoço, a May dormindo depois de ser amamentada, e tendo que imaginar alguma coisa para comer no jantar.
Tem batata e podemos fazer macarrão... não será muito, mas deve bastar...
Ela terminou de lavar os pratos, se perguntando onde estavam as outras meninas. Com certeza Rafitcha estava recolhendo ovos do galinheiro (sim, ou você achava que as Campinas não tem criação de animais como galinhas e porcos? Sem chance!), e Tatiih lavava as próprias roupas, juntamente com Thá. Não se podia mais ir ao rio ou recolher frutas sozinha, fora uma das regras recém-instituidas por Maria, sendo apoiada por Umrae e Ly. E já que era assim, Doceh fora acompanhar Rafitcha, embora ela mesma não gostasse muito de ovos.
Como está, Raveneh?
Ela guardou todos os copos, primeiro os de vidro e depois guardou aqueles que eram de ferro. Com cuidado, manuseou talher por talher, separando os garfos das facas e das colheres.
Ainda bem que eu não apareci, né?
Olhou para o lado, onde May repousava em uma cadeira adaptada. Tranquilizou-se ao lembrar que Johnny estava com Ly, para cortar lenha lá fora. Estava tudo bem, e Johnny saberia se defender, caso precisasse. Pelo menos era o que achava, e ela não queria estar errada.
Ficarei adormecida, tá?
- Cale a boca, Catherine, e me deixe em paz.


Raveneh se sentou à mesa, passando as mãos pelos cabelos, ansiosa. Mesmo que não estivesse na linha de batalha, mesmo que nunca tivesse visto Ophelia, somente a tensão ajudava a atrapalhar. Catherine continuava imersa em sua personalidade, pronta para agir quando precisasse. Tinha a sensação que seus poderes só aumentava, e mesmo comer animais lhe incomodava porque sentia os sentimentos deles. Afinal sempre soube falar com animais, mas preferia bloquear esse poder dentro de si, senão nunca poderia comer carne. Mas agora crescia demais. Ela tinha a sensação de que seu poder se expandira depois do "julgamento", e quando dormia, os pesadelos agora vinham com uma espada. Sempre tinha uma espada no final e o branco absoluto depois. Ela estava com medo.

Ela vira o estado de Kibii quando Bia a trouxe nos braços, e ela viu a expressão resoluta de Umrae. Tinha Umrae como líder, mais do que a própria Maria, e sabia que ela era simplesmente uma das melhores guerreiras de Campinas, se não a melhor. Tinha uma mira excelente, concentração impecável, velocidade e força simplesmente invejáveis. Mas mesmo assim Umrae encontrava dificuldades em lidar com Lala e Ophelia. Como alguém poderia ficar calmo depois de saber essas coisas?
Como será uma luta entre Ophelia e uma daquelas Musas?
Raveneh levou Maytsuri até a sala, onde ela acordou choramingando. Continuava imersa em seus devaneios sobre Umrae, Ophelia e toda aquela situação quando percebeu que a filha fizera cocô.
- Oh, meu doce.
Calmamente, ocupou-se em dar banho na filha. Ela se divertia nadando na banheira, na água quentinha e nos pequenos feitiços que Raveneh criava como fazer aparecer borboletinhas coloridas que sumiam depois de dez segundos, fazendo Raveneh se desligar do mundo lá fora.
- Ah, minha querida - suspirou Raveneh enquanto fez aparecer uma margarida roxa para ela sumir em cinco segundos deixando um pó brilhante - será que vou ter que criá-la presa neste abrigo?

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- Eu chamei uma amiga - Ophelia sorriu - ela iria cuidar de Kibii, mas para a felicidade dela, em vez de uma elfa irritante, terá duas fadas e um mágico fracos. O nome dela é Ravèh. Sejam muito educados, viu?
Siih estava amarrada por correntes, assim como Alicia e Lefi.
Pendurados por correntes no teto, trajavam as mesmas vestes que trajavam ao estarem no salão, cercado de jakens mortos. Todos de vestes grosseiras, para empregados.
- Ela ainda não chegou - Ophelia murmurou, seus olhos tão amavelmente maléficos - então ficarei com vocês até ela chegar. Não se preocupem, Lala cuida de tudo. Afinal, vai que vocês conseguem fugir?
Siih rangeu os dentes, tentando avaliar as condições do lugar em que estavam aprisionados.
- Me perdoe, Siih - Ophelia entrelaçou os próprios dedos - nenhum poder seu vai ser capaz de libertar você. Este lugar, você deve ter percebido, é uma masmorra bem especial. É onde os seus antepassados aprisionavam aqueles que tinham um poder descomunal como hirikis e candidatas à Musa, então você é uma formiguinha perto dessa gente.
- Engano seu - Alicia retrucou, irritada - ela é muito poderosa.
- Oh sim - Ophelia fez uma cara de pensativa - Siih é muito poderosa para a classe dela. Digamos que dois anos atrás, ela tinha 100% de poder quando ainda era uma Fada Alta. Ela perdeu aproximadamente 40% quando abriu mão de ser uma Fada Alta e perdeu mais 20% quando entregou a coroa para mim. Ou seja, a ela só restam 40% do poder que tinha quando era rainha e Fada Alta. Destes 40%, calculo que 15% seja da família real, de altos poderes. Ou seja, ela é 15% mais poderosa do que as fadas normais. Então de acordo com você, realmente ela é mais poderosa. Creio que para Siih ser superada por fadas normais, precisaria de... - olhou para cima, como se visse contas e mais contas - umas trinta fadas normais como Libby para derrotá-la. Agora.
Ninguém disse nada, esquecidos momentaneamente de criticar Ophelia. Afinal, quando foi que alguém tinha ouvido uma análise matemática dos poderes mágicos das fadas? o.O
- Uma pena que ela não seja mais Fada Alta e Rainha. - Ophelia continuou - isso significaria que há dois anos atrás, Siih só poderia ser derrotada se confrontasse com umas cento e vinte fadas como aquela Libby. Agora vamos comparar comigo. Como não sou Fada Alta, e sim uma Musa, ou seja, uma fada com poder e resistência mais do que o normal, posso viver por milênios de anos ao passo que vocês podem viver somente uma centena, ou se for muito poderosa, por uns duzentos anos. Sabem que de todos os seres mágicos, as fadas é as que tem menor longevidade. Enfim. Digamos que uma Siih vale trinta Libby's. Quantas fadas iguais à Siih você acha que seriam o suficiente para me derrotar?
Alicia ficou calada. Aparentemente, Ophelia estava se valendo da própria matemática e sabia que Alicia era boa nessa matéria, a ponto de calcular a força de Ophelia, a força de Siih e medir, calcular, tirar porcentagem, comparar tudo.
- Se uma Musa normal tem um poder, em média, 780% maior do que as Fadas Altas... - começou com incerteza, lembrando de algum livro que ela lera enquanto era uma estudante jovem. Era um livro de um matemático que gostava de calcular tudo em porcentagem, e com certeza, ele lançou a moda de converter poderes em porcentagens.
- E se todas as sete Musas juntas não podem comigo - Ophelia fez questão de lembrar, encarando Alicia com atenção - então imagino que você deve ter calculado que precisa mais do que todo esse país para acabar comigo, não é?
- Não é preciso ir tão longe - murmurou Siih achando aquilo um saco - basta atacá-la enquanto estiver dormindo, e cortar sua cabeça.
- Esse é o problema - Ophelia se levantou - precisam mais do que acabar com a minha cabeça.
Ophelia deu um sorriso qualquer, abriu a porta e saiu da masmorra, provavelmente para fazer qualquer coisa.
- Desgraçada...
Lefi que se manteve calado somente absorveu as informações.
Mais do que acabar com a minha cabeça.
O que será que significava isso? Como se acabava com Ophelia?
Será que retalhá-la com dragões funcionava?

Lembrou-se de ler algum livro na sua infância em que falava de um certo mundo chamado Faerün, e lá todos desprezavam as fadas de cá, pois consideravam fracos demais em poder, de poderes mágicos tão míseros que chegavam a ser quase humanos. Mas os elfos reconheciam que Ophelia era poderosa. Mas só ela era considerada, "porque atingia um nível em que as fadas, fracas de mágica quase inexistente, mal podiam imaginar", de acordo com o escritor.
É porque não se dá para ver o ponto fraco de Ophelia...

Siiiiim, vocês viram um link disfarçado na luta de Bel! É um desenho meu... nem é tão bom como o de Polly, mas tá, eu sei desenhar algo além de amebas hehe. Gente, estou com mania de desenhar personagens, então se vocês não quiserem algo estranho, me mandem referências tipo personagens de anime/filme/novela com quem vocês sejam parecidos, seja aparência ou personalidade. E comentem, assim eu saberei se estou sendo boa ou se estou caindo na chatice xD

9 comentários:

. L disse...

Primeiro, eu adoreeei o desenho, ficou mto bom mesmo! *o* E já que vc tá com vontade de desenhar personalidades, pode desenhar a Ratta? *O*
Quanto ao cap., pra variar está mto boom! E eu ri muito com "Chuck e Norris", hahahahahaha!
Beijoos!!

Unknown disse...

O link pro desenho não tá pegando aqui :/

Umrae disse...

Eu também não consegui abrir o link.
Faerün não é só terra de elfos. Os primeiros habitantes de lá foram os dragões, que também são as criaturas mágicas de maior longevidade, ultrapassando vários milênios (e milênios de anos foi um pleonasmo terrível, lol). Em seguida surgiram os gigantes, mais umas raças sem importância das quais eu não me lembro, os elfos e anões (expectativa de vida de 500 e 300 anos, respectivamente), os extraplanares (demônios, diabos, seres celestiais, elementais, etc) e aberrações diversas e, por último, as raças de "vida curta" como os humanos, orcs e goblins. Obviamente, ninguém lá se entende, o que explica o atual estado da terra. Sem contar as coisas que acontecem quando um deus resolve matar outro, o que é bastante comum e destrói regiões inteiras como consequência (sem trema por causa da reforma).
O fato é que a Ophélia nunca conseguiria dominar Faerün (com trema porque é termo importado XD ), porque antes disso ela morreria acertada por alguma "bola de fogo perdida" de uma batalha entre seres mais importantes. E isso obviamente explica porque quem tem juízo já saiu de lá há muito tempo.
Anyway, capítulo hilário. Adoro as explicações matemáticas, me lembram Saga do Freeza de DBZ. Como sempre, continuo curiosíssima aguardando a continuação.
Bjão.

Umrae disse...

E escrevi um "porque" errado só por preguiça de reler...

. L disse...

A Umrae escreveu um livro, agora. xD
Mas ótimo texto. ._.'
Onde vcs arranjam essas coisas? O_O'
Ah, e o desenho tá abrindo aqui... õ_o'

Esperando ansiosa. *o*'

PollyQueiroz disse...

Chuck e Norris, não fiquem curvados. Vamos, ataquem-me!

euri disso!!

vou tentar ver esse link :K

PollyQueiroz disse...

amei o desenho *-*

tá melhor que eu heim

aliás, vc já viu minha carinha, porém sou a cara da Letícia Sabatella *lol*

Umrae disse...

Onde eu arranjo esas coisas? Anos de vício em D&D Forgotten Realms, HQs variados e anime.
Quiero ver el dibujo...
Luna, põe no photobucket, que pelo menos funciona em qualquer lugar.

Umrae disse...

Apenas mais um esclarecimento para a Rata:
Faerün é um dos mundos-padrão para quem joga RPG estilo dungeons and dragons. O primeiro mundo que criaram, quando o jogo foi lançado, era Grayhawk, que é um mundo mais simplificado. Depois veio a edição Forgotten Realms, que se passa no mundo fictício de Faerün, que é bem mais cheio de detalhes, raças, etc. Essa edição acabou fazendo mais sucesso e deu origem a um monte de romances e contos inspirados nos lugares e personagens do jogo.