- Siih - ela sussurrou, seu tom de voz saindo tão suave como névoa - Siih.
Estavam escondidas no corredor, Alicia quase desesperada tentando imaginar como conseguir uma ficha completa de todos os habitantes de Campinas. A escuridão ajudava Alicia, pois esta não gostava que alguém a visse do jeito que estava agora: fraca, abalada, querendo morrer. Um desejo quase suicida tomava seu corpo, a impedindo de pensar racionalmente. Ela sentia vergonha de sentir todo aquele medo, enquanto Siih parecia tão tranquila, era quase absurdo.
Sim, Siih parecia sempre segura de si. Fazia todos os trabalhos, e às vezes desafiava Ophelia e sempre tinha consequência. E só Alicia podia dizer o quanto estava difícil ter que realizar os trabalhos de Lefi, que estava confinado graças à insubordinação de Siih. Mas provavelmente ele nunca culparia a irmã por ter causado esse castigo, afinal ele bem sabia da crueldade ilimitada de Ophelia.
- Eu preciso da lista das pessoas de Campinas - sussurava Alicia - preciso dessa relação agora, ou ela... não sei o que ela fará comigo - quase chorou, mas conseguiu manter sua voz fria.
- Acalme-se - Siih murmurou - Acalme-se. Existe um relatório de todas essas coisas no meu antigo quarto, mas...
- Seu antigo quarto - Alicia mordeu o lábio inferior, impaciente - e hoje?
- Eu mudei os documentos... coloquei-os dentro de um baú, esses documentos que somente Majestades tem acesso... o baú está no pequeno quarto ao lado do meu antigo quarto. Esse lugar precisa de uma senha para entrar, e você tem que dizê-la...
- Qual é a senha? Me diga! - sussurrou Alicia exasperada.
- Não sei - Siih se apoiou na parede atrás de si, dando uma observada rápida no corredor - vá lá e bata três vezes na porta. Lá te perguntarão a senha, creio. Pois a senha muda a todo instante, sabe... tem que ser adivinhada...
- Era só o que me faltava - Alicia suspirou - tem que adivinhar senha! Bem, estou indo então!
O antigo quarto de Siih passara a ser de Ophelia, mas permanecia o mesmo, já que Ophelia não tinha interesse em decorar do seu próprio modo. E ao lado do quarto antigo de Siih, uma porta pequena figurava. Alicia não se lembrava de, algum dia, ter visto aquela porta aberta.
"Três vezes", foi isso que Siih disse, não foi?
Toc.
O corredor estava vazio.
Toc.
Alicia estava com medo.
Toc.
Alicia queria fugir. Imersa nesses três pensamentos, ela percebeu que a porta se abrira, dando espaço para uma sala minúscula, quadricular, onde só cabia uma pessoa em pé.
Entrou, duvidando que fosse aquela a sala onde se guardava os podres da família real. E realmente, logo após da porta se fechar sozinha atrás de si, uma voz feminina e antiga ecoou pelo aposento, fazendo ressurgir todos aqueles novos sentimentos de medo e desespero.
Você não possui o sangue real.
Ela tentou girar o corpo em volta de si, mas não conseguiu, a sala era minúscula!
Quem é você?
Alicia tentou responder, olhando para cima. Não via teto, somente escuridão. Uma negritude plena, profunda que a acalmou por alguns instantes.
Mas a voz persistiu, em tom de escárnio:
Quem é você? Você me dá nojo.
Alicia engoliu em seco, imaginando se somente Majestades podiam entrar naquele aposento. Tinha que ter pedido a Siih para que fosse buscar o documento, droga.
- Sou Alicia, criada de Siih - respondeu a garota - ela...
Você não é a nojenta da Ophelia?
Alicia quase sorriu, aliviada. Ah, então o sangue que era importante ali! De fato, a sala deve ter sido criada por um dos antepassados esnobes de Siih...
- Não - respondeu - ela me escravizou e... preciso de um documento e Siih me disse sobre esse lugar...
Não posso falar que o documento é para Ophelia, de modo algum...
Ela olhou para cima de novo, colocando as mãos na parede. A escuridão lhe pareceu mais ameaçadora do que tranquila.
Mas precisa de uma série de senhas para penetrar nos documentos... mas serei boazinha...
Alicia aguardou a próxima frase com impaciência.
Responda-se... qual é a cor da escuridão e onde termina o círculo?
Alicia mordeu o lábio inferior preocupada.
A cor da escuridão?
Onde termina o círculo?
O que aconteceria se ela errasse?
Não quis saber a resposta, então se preocupou em se concentrar e achar as duas respostas. A cor da escuridão... preto? Mas quando olhava para um céu escuro, sempre notava tons de roxo e azul... Olhou para cima, percebendo toda aquela... escuridão...
Preto.
Mas seria fácil demais, não? Não era "preto", pura e simplesmente. Sabia que essa adivinha não era somente para se concentrar na pergunta, mas relembrar alguns conceitos. História...
Voltou aos tempos da antiga professora que ensinava história para os alunos:
- Nesse tempo, a família real afundou em dívidas e as revoltas sociais somente cresciam. Há quase três mil anos, o palácio foi reformado e novas salas foram construídas de forma para que tudo fosse mergulhado em encanto, e assim a família real se esconder. Os demônios estavam incontroláveis, a Rainha Catherine de Jacques estava completamente arrasada, sem condições de mandar um exercíto eficiente devido aos seus problemas pessoais: ela havia acabado de perder os dois filhos na sangrenta Batalha de Kipure, como nós estudamos na aula passada, e precisava de um novo herdeiro, já que não tinha netos. Nesse palácio, em uma sala que ela mesma criou, ela teve a filha...
Tinha um pedaço faltando. Merda, tinha algo faltando nessa história. Foi somente um acaso que a fez relembrar esse dia, essa história que volta e meia é repetida na forma de uma música...
- Quando se fecha os olhos, o que se vê?
O nada, o nada, o nada, que cor é o nada?
Mas era a escuridão, não o nada.
- ...Mas logo depois de parir a criança, ela ficou cega. Cega de um tipo estranho, não o que vê o negro e sim aquele que só vê branco, branco leitoso à sua volta...
Essa era a parte que faltava.
Teria que arriscar tudo, mas tinha certeza que a voz era da Rainha Catherine de Jacques, cuja escuridão da vida se apresentou na falta absoluta de cores...
- A cor da escuridão... - começou a responder, temendo se estivesse errada - é branco. E o círculo...
Fechou os olhos antes de continuar.
- O círculo não tem fim nem começo.
A voz não apareceu mais. Somente a sala aumentou de tamanho, e vento varreu o corpo de Alicia. E ela se viu cercada em uma sala enorme, cheia de livros e mais livros. E no meio, um único baú aberto, de madeira, com vários papéis. Em todos os lados, pinturas de uma mesma mulher. Pomposa, cheia de truques e sorriso, os olhos muito azuis, os cabelos ruivos chegando à cintura. Delicada.
Alicia somente procurou os documentos necessários no baú, sem ligar para quem seria a mulher das pinturas. Estava puramente aliviada por ter respondido corretamente, e se preocupou com o tempo que já havia passado lá fora.
A sala era fria. Mas não desistiu da busca, procurando cada vez mais e mais, sem se cansar... números absurdos, confissões que poriam a família real no inferno, podres e mais podres. E um relatório sobre os habitantes das Campinas, feito há cinquenta anos atrás, mais ou menos. Havia vários nomes com tinta fresca, indicando novos moradores.
Umrae era um dos nomes que estavam escritos em tamanho maior, com tinta vermelha em vez da negra. Ao lado, uma anotação estava escrita: Perigosa.
Umrae, Kibii, Ly. Não conhecia essas pessoas, mas tinha boas perguntas para saber o motivo de tanta preocupação. O último nome, observou, era "Raveneh Kokiri".
E não havia mais nada.
Siih havia jogado a lista no baú quando assumiu o poder, logo depois de Raveneh ser a mais nova habitante de Campinas, calculou Alicia. "Raveneh Kokiri" - Perigosa.
"Perigosa"?
- De fato, a mãe de Siih era uma pessoa perigosa... - refletiu Alicia enquanto caminhava até a porta, os papéis na mão.
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Rafitcha nunca sentiu tanto medo. Tremia da cabeça aos pés, só imaginando um provável sequestro ou qualquer coisa do tipo, tremia que tremia. A sala era enorme, aquelas estatuetas lhe davam medo. E Amai tentando lhe acalmar o tempo todo, Bia idem, não ajudava em nada. O medo persistia em seu coração, a apreensão em saber da reação de Ophelia.
Talvez ela não faça nada...
Rafitcha deu um passo para a frente, na porta indicada pela voz. A bainha do vestido batia nos calcanhares, e as mangas compridas e escuras lhe incomodavam, devido a aspereza do tecido. Mas Maria achou melhor irem vestidos de forma simples, e não das melhores sedas, para que Ophelia não visse nada de bom em Campinas. Não que alguém tivesse entendido lá muito bem a explicação, mas resolveram não contrariar. Eram quase cinco horas da tarde, e a demora havia sido causada por causa da dificuldade de acharem bons lugares para protegerem Rafitcha.
Mas agora estava tudo bem.
Umrae poderia atingir qualquer um que estivesse fora do palácio, na frente, de onde estava com seus dardos. E Kibii estava do lado contrário, já mirando ameaçadora para a frente, para a porta, em especial. Ly estava na frente da porta, quase que escondido, embora não tivesse guardas. Ele sentia um pouco de medo caso Umrae ou Kibii errasse a mira, e o dardo ou a flecha o atingisse. Mas teve que confiar na habilidade das duas garotas e montava guarda ali.
Estava tudo bem.
- Ora, ora - Ophelia sorria.
À sua direita, Lala estava presente, com suas negras roupas, a afiada espada e a falta de sorriso. E, claro, o cabelo laranja que lhe era tão caracteristico. Siih estava à esquerda, e aos olhos de Rafitcha, estava abalada e fraca, tentando parecer extremamente corajosa.
- Você está com alguém para lutar? - observou Lala, seus olhos muito maldosos, apontando para Bia cuja espada estava segura nas costas - você veio armada?
- Não eu, especificamente - Rafitcha respondeu, tentando pôr na sua voz a mesma frieza que existia enquanto Lala falou - eu só trago a resposta de Campinas.
- E qual é? - Ophelia pareceu curiosa, embora o "não" fosse óbvio devido à Bia, com toda a sua posse de guerreira.
- Não vamos nos submeter a você - Rafitcha pareceu tremer, mas conseguiu se manter firme. Fechou as mãos em forma de punho, preocupada e receosa - nós nos recusamos a aceitar você como Rainha.
- Como imaginei - Ophelia sorriu - Lala, lute com essa aí de espada.
- Você não pode fazer isso! - gritou Amai, exasperada - não--
- Cala a boca, garota - Ophelia sussurrou - acha que eu sou idiota? Quantos tem aí fora para te proteger? Será que eles podem te proteger realmente...?
Rafitcha recuou, puxando Amai para si. Nunca se perdoaria se algo acontece à adolescente, e estava terrivelmente preocupada com os outros. Do que Ophelia estava falando realmente?
Demônios?
- Você guarda demônios nesse palácio? - Bia traduziu à dúvida principal.
Lala manteve-se no local, Ophelia sorriu ainda mais, mostrando os dentes brilhantes e brancos:
- Não se preocupem... eles estão escondidos fora do castelo, e quando percebem um estranho, eles gostam de apreciar a carne desse estranho para verem se é gostosa. Mas vocês são legais, não trouxeram ninguém, trouxeram?
Merda! Rafitcha pensou, sua mente dando mil voltas, é só blefe, não é? Não... é?
Bia avançou dois passos, pondo a mão no punho da espada. Olhava para Lala, as duas se confrontando com olhares.
- Lute com ela, Lala. E vença.
A voz de Ophelia ecoou pelo aposento, Rafitcha e Amai preferiram recuar, não sabendo bem o que fazer. As ordens de Maria foi para que elas não saissem sem Bia, e elas não queriam contrariar. Rafitcha podia se defender caso necessário, mas não era muito boa em lutas. Na verdade, sempre detestou lutar. A mesma coisa se dava com Amai.
Bia recuou, dando espaço para Lala.
As duas mostraram as espadas. Era triste comparar as duas espadas: enquanto a de Lala era fina e flexível, a de Bia era enorme e pesada. A única semelhança era no comprimento das espadas: ambas eram longas.
- Não é nada pessoal. Sinto muito - sussurrou Lala mexendo os pés, tentando confundir a adversária.
- Então vai perder - Bia moveu a espada para cima da cabeça - nunca se pode lutar impessoalmente - foi o que disse, antes de dar três passos exatamente iguais, e a espada quase atingir a cabeça de Lala.
4 comentários:
Tá, se Bia ganhar, Ophelia poderia matar ela... o.o
Mas se Lala ganhar vai ter que enfrentar o resto do pessoal que ficou na guarda...
Help? o.o
* Umrae no outro login*
Nada que uma dose de veneno paralisante drow na Lala não resolva. Afinal, não é nossa intenção matar antigos aliados que não tem culpa de nada. E quanto aos demônios, que venham, estávamos esperando mesmo. Se a Ophélia não percebeu ainda, não é porque somos os mocinhos que nós jogaríamos limpo.
*Risada maligna*
-Crazy-
*medo de Umrae* o_o'
GOGO Biaa *-*'
Mata a Lala, a Ophelia e
*lol*²
Otimamente Otimo, Luna o/
Crazy,
Tenha medo, tenha muito medo.
*Risada maligna mais longa ainda*
By the way, Luna, achei que você gostaria de saber que aparentemente achei uma solução para os problemas da história da minha personagem "original". Comentarei com você quando tiver melhores oportunidades.
Quanto à sua história, também gostaria de conversar depois, só umas dúvidas que eu tenho, coisas que eu andei especulando e tal.
Bjos
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