terça-feira, 26 de agosto de 2008

Parte 54 - Saídas Impossíveis.

O mapa cobria uma parede inteira do quarto de Ophelia, e tudo ali era desenhado: todas as extensões de todos os reinos de fada, todo o mundo conhecido, incluído a Terra Seca e as extensões do norte, onde moravam os bárbaros e no sul, onde viviam os povos mais estranhos e minúsculos. E uma parte do mapa estava completa de dardos vermelhos, onde Ophelia selecionava os derrotados. Os dardos verdes significava um reino em paz e um dardo azul, uma área desejada.

No Reino das Fadas, um dardo vermelho figurava. E no norte, na fronteira, a parte que simbolizava as Campinas era perfurada com um dardo azul. Um reluzente dardo azul, que logo, logo Ophelia tinha intenção de mudar a cor. Do azul para o vermelho.

----------------------------------

- Chegou.
- O que chegou?
- A carta.
- E o que diz a carta?
- Para jurarmos fidelidade à Vossa Majestade ou à Verdadeira Rainha...
- Tanto faz, é a mesma pessoa.
- Ophelia.
- Isso aí.
- O que a gente faz?
- Nos rendemos?
- Não!
- E o que fazemos?
- Estamos ferrados!
- Não, Ophelia não pode derrotar o abrigo!
- Não, Ophelia não pode enviar os demônios!
- Campinas não era livre de demônios?
- Não mais! Teve um que me atacou, sabe!
- Sim e eu torci o pé graças àquela bruxa.
- Então vamos fugir xD
- Cala a boca, Raven. Precisamos de algo!
- Essa bruxa... se ela pegar May, ela morre!
- Claro que sim! E você vai fazer como? Esfaqueá-la?
- Cala a boca, Johnny, me deixa pensar!
- O que ela vai fazer caso recusarmos a lealdade?
- Mandar demônios?
- É simplista demais e ela sabe que podemos vencê-los. O que sugere, Maria?
- Não sei, Umrae. Sinto muito, mas a idéia do que ela pode fazer... é assustadora.
- Ela pode sequestrar.
- Amai!
- Ora, tia, mas ela pode fazer isso! Pegar um de nós, fazer de refém!
- É bem capaz de ela fazer e conseguir!
- Então quem ela pegaria?
- Crianças. Sempre pegam crianças para se sequestrar.
- Concordo, Fer. Então... vamos proteger as crianças. Não a deixem sair do abrigo.
- Mas!...
- É o jeito, que podemos fazer?
- Okay!
- E...
- Temos que proteger todos a qualquer custo...
- A qualquer custo...
- Proteger todos...

E era por isso que às três horas da tarde, Raveneh se viu proibida de sair do abrigo. Ophelia tinha mandado a carta por volta de meio-dia, e ela estava bastante preocupada. Ter a May longe de si! Não queria isso, uma experiência bem traumática, na realidade. Então envolvia o bebê em mimos preocupados, cantigas envolvidas. Ela já não chorava mais fora de si desde que Rafitcha a fizera se calar, então não tinha muitos problemas para criar a doce menina.

Reparou que os olhos da menina era ligeiramente diferentes dos seus. Mesmo que fossem igualmente azuis e doces, ainda assim nos olhos de May, havia algo mais. Julgou que esse algo mais era de Johnny, o algo que fugia da inocência e eterna doçura. Algo mais relacionado a determinação e teimosia. E o sorriso de May era idêntico ao de Johnny. Sim, May puxara muito mais a Johnny do que a Raveneh e a mãe sentia até algo como ciúmes. Mas nem tanto, afinal o mais importante foram herdados: os olhos. Os olhos tão azuis, tão cristalinos, tão vivos!

- Raveneh, meu doce - sorriu Johnny - eu trouxe morangos.
- Johnny!... - a voz de Raveneh falhou - você está bem...
- Claro que estou. Por que achava que não estava? - perguntou Johnny, colocando um morango na boca de Raveneh que mordeu a fruta devagar.
- Eu tenho medo por você - Raveneh sussurrou, entre mordidas no morango.
- Por que? - Johnny deu um sorriso torto - achou que eu estava te traindo?
- Nem fala uma coisa dessas! - Raveneh resmungou, comendo o resto do morango - eu fiquei foi preocupada com a história de Ophelia... ela... ah!, Johnny!
O abraçou tão forte, o envolvendo em seus braços inseguros, deixando o bebê nos braços do marido. As lágrimas quentes molharam as bochechas da loira, que soluçava só de imaginar uma vida sem Johnny. Viciou-se rápido em seus abraços, em seu leve cheiro de terra molhada, talvez capim. Era quase como uma dependência. Quase? Raveneh era dependente de Johnny, em todos os sentidos! Ah, mas como Ophelia dava medo! Não queria mais repetir a provação de ficar isolada, sozinha, insegura, torturada...

----------------------------------

- Eu quero saber a população toda! - disse Ophelia, admirando o seu mapa, mais especificamente o dardo vermelho que ficava nas Campinas - eu quero saber de todo mundo! Crianças, idosos, quem luta, quem não luta, etc, etc, etc! Dê-me agora!
- Estou saindo, nem vem - Lala disse, fazendo um coque meio desajeitado - pede pra Alicia.
- Sua... - Ophelia rosnou, batendo os pés no chão estressada - volta aqui, Lala, eu não mandei você sair a lugar nenhum!
- Mandou! - Lala abriu a porta ao mesmo tempo que segurava a espada - eu vou ver com Gika, lembra-te? E procurar o segundo telepata da lista, ordens suas, Vossa Majestade - concluiu com zombaria.
- Sua... vá embora antes que eu te apanhe! - gritou Ophelia, furiosa.

Sim, naquele dia ela estava a beira de um ataque de fúria. Simplesmente irada porque Siih a confrontara mais uma vez, se recusando a polir seus sapatos. E depois um reino conseguiu vencer os demônios, de alguma forma misteriosa e desconhecida. E por isso, Ophelia, que viu a sua fama de insuperável ser superada, estava terrivelmente irada. E todos estavam pagando por isso.
O pobre Lefi se vira tendo que pagar pela insubordinação de Siih, com a comida cortada pela metade e a solidão imposta por vinte e quatro horas seguidas, confinado em uma solitária imunda, completamente enfeitiçada para parecer terrivelmente pequena.
- Alicia! ALICIA! - Ophelia gritava pelo corredor, seus olhos castanhos quase vermelhos de tanta raiva - ALICIA, SUA...
- Estou aqui! - Alicia apareceu, quase ofegante - o que foi? Primeiro me manda fazer um almoço com não sei quantos patos para--
- CALA A BOCA E ESQUECE ISSO! - Ophelia apertou a saia do seu vestido, todo azul, e suspirava, quase que ofegante - eu preciso de todos os habitantes das Campinas.
- As Campinas? Por quê? - Alicia indagou, mas foi um erro fatal: por pouco que não foi atingida por uma estátua de uma deusa. O mármore se espatifou atrás da garota, os pedaços de um corpo humano esculpido espalhados pelo chão.
- VEM AQUI E FIQUE CALADA! - Ophelia entrou no seu quarto novamente, sendo seguida por uma Alicia completamente desorientada.


- Está vendo? - disse Ophelia mostrando o mapa - ainda não me mandaram a resposta. Eu dei até a meia noite, mas eu duvido que a resposta será positiva - Ophelia olhou para Alicia, recuperando a sua compostura e todo o seu ar imponente - veja bem, eu preciso armar tudo primeiro.
- Você vai sequestrar o pessoal de Campinas? - se surpreendeu Alicia - não acredito!
- Claro que sim. Eu quero as Campinas e elas serão minhas. Eu serei a Rainha das Campinas, não é fascinante? - Ophelia sorriu, com aquela meiguice toda. Se Alicia não soubesse da história de Ophelia, duvidaria de que ela era uma pessoa maquiavélica.
- Você não pode simplesmente raptar pessoas! Campinas sempre foi um território aliado! - Alicia exasperou-se, gesticulando freneticamente.
- E eu não poderia simplesmente mandar demônios matar todo oponente do meu regime, não é? - Ophelia sussurrou, de forma tão maldosa e perversa que Alicia sentiu um arrepio pela espinha, de medo.
Ophelia deu um leve sorriso, seus olhos brilhando de forma muito viva. Quem poderia dizer que era uma menina tão malvada? Por que tinha de ser assim? Toda essa tortura, essa maldade, tão indizível! Por quê?...
- Está esperando o quê para buscar a relação completa de habitantes de Campinas? - perguntou Ophelia em um tom tão carregado de segundas intenções nada boas, que Alicia saiu correndo.

----------------------------------

- Então vai ser a Kibii? Mas eu acho perigoso ela ir sozinha! - Maria argumentou - eu sei que ela sabe se cuidar, mas precisamos de alguém mais! Pelo menos três pessoas irão!
- Mas... - Rafitcha suspirou - eu vou, pronto! E... Bia, Bia vem com a gente!
- Bia? Mas Bia é uma caçadora de demônios... - Maria sussurrou. Raveneh logo começou com as suas habituais perguntas:
- O que tem ser caçador de demônios?
- Muitos estão se escondendo de Ophelia... um caçador de demônio pode ajudar contra Ophelia, então a Ophelia está garantindo todos os caçadores... Bia pode escolher fugir ou se submeter à Ophelia...
- Então nós estamos a escondendo? - Raveneh concluiu, ninhando a filha entre seus braços - e...
- Exato - Bia disse. Seus cabelos negros caiam em cima dos olhos, lhe dando um aspecto bastante sinistro. E a expressão de Bia, sempre séria, combinava perfeitamente com todo o jeito da garota - Exato. Estou me escondendo de Ophelia aqui.
- Por que você não voltou? - perguntou Rafitcha - eu sempre quis saber e...
- Um caçador de demônios é independente - Bia respondeu - não precisa prestar contas a ninguém. Mas Ophelia está querendo mudar isso... ela quer unificar duas raças que se odeiam...
- Isso é uma coisa meio cretina - disse Fer, que estava de braços cruzados, o cabelo amarrado em um coque - vai dar confusão...
- Sim... - Maria concordou quase que entrando em devaneios - mas vamos lá. Então vai ser Kibii, Rafitcha e Bia?
- Bia não está se escondendo de Ophelia? - lembrou Johnny que não conseguia entender a situação completamente - e...
- Eu não sou barata para ficar me escondendo - alfinetou Bia - eu vou, porque eu quero ajudar pela hospitalidade. Não preciso me esconder como um rato.
- Preciso de dois ou três que dêem cobertura - sussurrou Maria - sabe, duvido que Ophelia simplesmente aceite... - juntou as palmas das mãos, e começou a formular uma estratégia - Rafitcha, você diz. Kibii e Bia, fiquem lado a lado. Ly, fique no portão para proteger o trio caso for preciso. Umrae, preciso de suas habilidades com a besta. Você ficará acima do muro lateral. Ah, droga, eu preciso de uma arqueira...
- Oi? - Kibii sorriu, acenando com a mão direita.
Maria sorriu. Aquilo tudo tinha que ser planejado para poucas horas adiante. Todas as pessoas, em lugares estratégicos. Mesmo que não fosse para atacar, mesmo que não houvesse garantia do ataque, Maria achou por bem prevenir.

E se Ophelia resolvesse tomar uma atitude imediata na não-submissão de Ophelia? Como se defenderiam? Céus, como poderiam fugir de Ophelia? Por que mesmo iriam dizer, pessoalmente, que não se submeteriam à Ophelia, a Verdadeira Rainha?

Um comentário:

. L disse...

Lutar pela Campina. o/