terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Parte 70 - Cabelos lisos e vermelhos.

Gerogie pousou no chaminé de alguma casa, na capital do reino das fadas.
Podia ver uma praça inteira de onde estava, e algumas ruas transversais. Seus olhos eram amendoados, de íris azuladas. Eram quase duas horas da tarde, e realmente foi um pouco exastivo cobrir a distância entre Grillindor e o Reino das Fadas em tão pouco tempo, mas com algumas horas de descanso, superaria o esforço facilmente.
Essa cidade está um lixo.
Vestia uma capa escura, e seus cabelos alcançavam a cintura, de fios lisos e finos, todos avermelhados.
Vejamos... se aqui é o Reino das Fadas, a capital destruída...
Encarou com frieza uma mulher a encarar de forma curiosa e assustada, mulher esta de vestes esfarrapadas.
... e se as Campinas ficam ao norte do Reino das Fadas, acessando facilmente pela escadaria da Praça dos Sete Anjos ou algo assim...
Imagino que seja nessa direção.

Saltou entre os telhados das casas, assustando as pessoas que as viam, e facilmente alcançou o chão das Campinas.
- Perfeito.
Tão fácil alcançar este pequeno lugar.
Avistou as casas de madeira, a maioria destruída.
Seria um ataque de demônios?
Também reparou nas plantações. Havia bastante, quase todas semi-destruídas.
Vivendo de batatas, basicamente.
Caminhou, devagar, reparando em cada detalhe como a localização geográfica, os arredores como a floresta.
Sinto cheiro de mar.
Ouviu dizer que tinha praia também. Isso significava que os dragões azuis poderiam se mergulhar na areia quente, e quem sabe, na floresta, os negros poderiam se esconder. Só não sabia se os vermelhos seriam exigidos...
Por onde as pessoas estão?
Ela avistou duas meninas saindo do celeiro, uma delas com uma cesta enorme.
- Hey.
Rafitcha se virou assustada.
- Oi.

Nesse instante, Gerogie trouxe a salvação.
- Eu me chamo Gerogie - ela se apresentou delicadamente, sendo atenciosamente observada por Rafitcha e Doceh - e procuro Umrae.
- A qual raça pertence? - perguntou Doceh, já com a mão no cinto, procurando um punhal - não parece ser uma fada ou da raça dos elfos.
Gerogie sorriu. Era estranho seu sorriso, quase como um sorriso psicopata e sádico. Mas Gerogie não era psicopata ou sádica, muito pelo contrário. Compreendia que era estranha a sua aparência humana, com os olhos tão amendoados e azuis, e os cabelos tão vermelhos e lisos. Parecia uma perfeita humana, é verdade. Mas havia alguma coisa que a diferenciava.
- Sou um dragão - Gerogie respondeu com delicadeza - e procuro Umrae.
- Oh sim - Rafitcha compreendeu - oh sim, entendo! Venha, estou indo para o abrigo agora.
Ela seguiu, contente, acompanhada de Doceh e Gerogie. Caminharam até a porta do abrigo, e logo Doceh ficou intrigada:
- Rafitcha, como tem certeza de que não é um demônio disfarçado? - perguntou, ao que Rafitcha disse:
- Não tenho.
E ela permitiu que Gerogie entrasse no abrigo.
- Quem é ela, Rafitcha? - perguntou Raveneh que estava na sala, dando banho em May - quem é esta mulher?
- Oh, céus - Gerogie observou o abrigo com desinteresse - dá para cortar a tensão com uma faca.
Pois ela sentia o cheiro da morte e medo pairando no ar.

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Ela fechou a porta e fechou os olhos também, encostando o corpo na porta e parando para pensar.
O que foi que eu senti?
Uma vaga sensação, algum poder exacerbado perto dali. Enquanto procurava em fazer análises matemáticas para Alicia por pura diversão, sentira algo. Claro, ela sentia coisas o tempo todo: havia demônios em todo o canto, e podia visualizar a energia de todos eles sem errar. Tinha muitas fadas também, e ela podia localizar toda energia que quisesse. Mas era algo maior do que a mera energia dos demônios. Era de uma musa.
Ou duas.
Alguém realmente poderoso...
Não se preocupou. Continuou encostada à porta da masmorra, por onde ainda pulsava os espíritos dos torturados antigos, por onde a magia era absurdamente forte. Mas para Ophelia, era claramente suportável. Continuou isolando toda magia que sentisse, toda aura que transbordasse de seres mágicos. Isolando as fadas da cidade, os demônios.
Até alcançar as maiores energias que já sentira.
Estão bem ativas.
Pôde concluir que eram duas energias e não uma, como achara no começo. E podia concluir com facilidade que elas lutavam.
E tem outras menores. De demônios, provavelmente.
Sorriu.
E uma por uma, elas se apagam.
Claro, elas eram boas em luta. Muito boas. Uma delas era de longe a melhor.
Provavelmente é Elyon. A outra...
Levantou-se, e andou pelos corredores da masmorra. Teria que aprisionar as duas também, provavelmente. Separaria as duas, prenderia as duas em correntes, e faria questão de lutar com elas sempre, castigá-las o máximo que podia. Castigar só pela ousadia de imaginarem se proclamando vencedores, apostando contra Ophelia.
Francamente.
Tem gente que não sabe quando parar.

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- Então - Umrae ofereceu chá para Gerogie, que recusou educadamente - a resposta de Bel seria?
- Ela aceitou - respondeu Gerogie
Umrae sorriu aliviada.

Estavam na sala de jantar, acompanhadas de Raveneh que catava os feijões, tranquila. Ela perguntara se seria incômodo que ela ficasse ali, ao que Umrae respondeu que não.
- Boa tarde - Rafitcha chegou, e passou a fazer companhia para as três, já que ela tinha que guardar os ovos.
Umrae ignorou-a, concentrando-se em Gerogie:
- Ela chegará quando? - perguntou, ao que Gerogie respondeu de forma preocupada:
- É com isso que ela está nervosa - piscou os olhos, de forma inocente - ela me mandou para saber que dia seria melhor e quantos dragões poderia mandar, e também as condições para poder esconder.
- Não dá para enviá-los todos como você, não é? - Umrae perguntou, bebendo um pouco de chá.
Gerogie negou com a cabeça e explicou:
- Eu sou um dragão vermelho, e existo há muitos e muitos anos. Calculo que somente quinze dragões verdadeiros vivam no ambiente criado por Bel, e nenhum de nós é subordinado a Bel. Vivemos lá porque é um bom lugar, e tem espaço para todos, além de comida e conforto. E como Bel é uma boa pessoa, então não nos incomodamos de fazer certos favores com ela como treinar calouros e ajudar a criar dragões mestiços.
- Entendo - Umrae bebeu mais um gole - então Bel cria dragões mestiços, aqueles domesticáveis.
- São inteligentes, mas como cachorrinhos. Eles possuem menos da metade de nossa força, velocidade e resistência. Mas como são bem menores que a gente, então eles são mais fáceis de se ocultar e voam tão bem como a gente. E bem, Bel treina-os de forma tão competente que é bem fácil formar um exército com eles, apenas em uma semana.
- Que bom. E ela quer o quê exatamente da gente? Prazo e local? - Umrae perguntou.
Gerogie sorriu:
- Exato. Ela não sabe quantos dragões mestiços seriam ideais e não sabe qual seria a melhor forma de ocultá-los, pois sabe que os dragões mestiços não tem forma humana. Ela quer a sua opinião quanto a isso.
- Bem - Umrae bebeu o último gole do chá e voltou a atenção para o papel em cima da mesa, onde rabiscava uma espécie de mapa - veja bem. Dragões vermelhos não seriam ideais, pois não temos vulcões ou qualquer espécie de ambiente quentissímo. Mas temos uma floresta onde tem alguns pântanos pequenos, e poderiam servir para ocultar dragões negros. E temos uma praia além. É pouco visitada, mas tem uma extensão boa o bastante para abrigar uns azuis, creio. Acho que ela poderia trazer dez dragões mestiços, seja negros e azuis. Embora calculo que seja melhor atacar Ophelia no mesmo dia que ela trará os dragões, porque Ophelia consegue ver aqui.
- Não tem feitiços ilusórios nas janelas do palácio? - perguntou Gerogie, ao que Umrae respondeu prontamente:
- Siih foi capturada antes que pudesse fazer isso - respirou pesadamente - ela, Alicia e Lefi. O preço que pagam por terem ajudado a libertarem Kibii. Ou seja, teremos que fazer na frente de Ophelia. Ou tem como cobrir dragões de algum feitiço invisível?
- Impossível - admitiu Gerogie - sabemos que a invisibilidade é algo como ressuscitar dos mortos: muito tentado, mas quase impossível. Podemos confundir Ophelia com os dragões, mas não torná-los invisíveis.
Todos ficaram em silêncio.

Umrae tentou calcular como poderia fazer com que Ophelia fosse atingida de surpresa.
- Hey - Umrae perguntou - as fadas podem sentir a energia dos dragões?
- Não - Gerogie respondeu - dragão é o único ser cuja energia é impossível de se mapear, mesmo por fadas excelentes em detecção mágica como Ophelia.
- Isso é bom.
Rabiscou mais alguns gráficos, como rotas de vôo e uma caricatura de Ophelia.
- Diga para Bel - Umrae fixou o olhar na caricatura de Ophelia - diga para ela trazer seu exército o mais rápido que puder, e dane-se se Ophelia ver tudo. Daremos proteção.
- Que dia exatamente?
- Você pode voltar a Grillindor que dia?
Gerogie respondeu:
- Preciso descansar por hoje, então partirei amanhã, alcançando Grillindor depois de amanhã ou mesmo durante a noite de amanhã.
- Então - Umrae afirmou - diga para Bel partir assim que você chegar lá, entende?
- Perfeitamente... - Gerogie sorriu amavelmente, com aquele ar tranquilo de sadismo - ...Umrae.

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- Uau.
O céu estava nublado, mesmo que fosse verão e três horas da tarde. Cherllaux nunca presenciara um dia verdadeiramente quente, pois suas nuvens estavam sempre nubladas, sua atmosfera sempre sombria e sempre, sempre tinha frio.
- Quanto matamos? - Catherine contou os corpos de demônios - Elyon, você não calculou catorze demônios? Temos somente treze aqui, e falta um hiriki de acordo com a sua análise.
- É verdade - Elyon observou as suas próprias vestes. A capa estava rasgada, sua manga esquerda se rasgara também depois que enfrentara um jaken particularmente insistente e ágil, mas as botas continuavam firmes, mas a blusa cobria seu peito, e a calça resistia. Avaliou a condição de Catherine. Embora suas calças e botas continuassem inteiras, a blusa cobria somente todo o tronco, pois ambas as mangas foram rasgadas quando um dos hirikis cortara seus braços de forma tão profunda que Catherine achou que iria perder seus braços.
- Ele está se escondendo bem.
Elyon se virou para uma das casas, tentando perceber de onde viria a sutil energia.
- É um monstro - Catherine sussurrou - ou é um monstrou ou é fraco demais.
- Aposto na primeira hipótese - Elyon arrombou a porta de uma casa, mas não entrou. Não, a energia não vinha dali.
- Devia levá-las para Ophelia?
Elyon se virou, procurando a voz. Era feminina, quase sensual. E vinha...
- Devia sim. Duas Musas... com certeza, será que a carne é boa?
Catherine arrombou outra porta, sem entrar na casa. Procurava a voz desesperadamente.
- Coitadas. Me procuram tanto...
Ela estava na última casa, e apareceu no final da rua principal.
Sim, era uma hiriki de respeito. Um demônio feminino, um monstro acima de tudo.

A distância foi encurtando e Elyon duvidou que poderia vencê-la da forma humana. Era dela aquela aura que a fez confundir, e achar que outros hirikis seriam poderosos. Achava, agora, que os hirikis que ela matara era somente uns jakens mais evoluídos.
- Belo demônio - elogiou Catherine, olhando para cima.
Sim, pois o demônio não estava em sua forma humana. Era enorme, tão enorme que fazia sombra sobre a cidade inteira. Uma enorme cobra, um corpo imenso, todo escamoso, de coloração esverdeada, quase como várias esmeraldas pela pele. No final da cauda, o busto dela. Os seios eram roliços, os braços eram estranhos, tão negros e com dedos tão grandes, e o pescoço tão feminino, o rosto de mulher. Seus olhos eram grandes, de pupilas como fendas, e sua boca era pequena até, de dentes brancos e pareciam até humanos, pois não tinha presas. Não havia nenhum cabelo, nem mesmo sobrancelhas ou cabelos. Somente tufos de cílios em seus olhos.
Sua cauda de serpente arrastava todas as casas, transformando todas elas em ruínas. Era tão alta como um arranha-céu de Nova York, e sua energia era praticamente imperceptível. Mesmo que Elyon pudesse senti-la com maior clareza, o fato de ela emanar pouca energia era insistente.
- Monstro - Elyon sussurrou - que monstro.
A criatura sorriu, seus braços alcançando o chão.
- Meu nome é Katie - se apresentou educadamente - e acho muitissímo interessar levar vocês para Ophelia em troca de benefícios.
Sua cauda de serpente se moveu tão rapidamente, à direita de Elyon, ela sentindo todo aquele absurdo vento com um minuscúlo movimento de Katie.

Elyon ficou paralisada.
Se esse demônio fosse uma fada...
Mas segurou a espada firme, em sua mão.
Se esse demônio fosse uma fada...
Esqueceu o medo, movendo-se acima da cauda.
Se esse demônio fosse uma fada...
Perfurou a espada na cauda, rasgando-a.
...com certeza, ela seria uma das Musas!

E a cauda foi rasgada.
Katie sorriu.
- Menina inteligente - disse - tentando me rasgar!
Bateu palmas, agraciada pela inteligência.
- Mas... acho que isso não é suficiente. O que pretende fazer?
Elyon continuou, ignorando a ironia de Katie. Continuou a rasgar, mas logo parou ao perceber que a cauda se regenerava a cada corte, a ferida se fechando rapidamente.
- CATHY! - gritou Elyon, parada no meio da cauda de serpente - fique longe e fique na sua forma original!
- Droga - Catherine recuou - droga.
Ela odiava se converter à forma original quando não estava no mar, rio, qualquer coisa do tipo.
- Acha - Katie disse, amavelmente - que vou permitir você rasgando minha preciosa cauda a torto e a direito?
Não teve muito tempo antes de Elyon perceber que a cauda não era a única arma: foi logo apunhalada por uma lança. Uma lança que se originava do próprio corpo, lançada pela cauda de supetão.
- Droga - Elyon ofegou, jogada no chão, a lança a perfurando bem no abdomên, à esquerda. Não atingira nenhum órgão vital, o que era bom, mas seria difícil lidar com Katie, pelo que percebia.
Ela pegou a própria lança, e com certa dificuldade, arrancou-a do próprio corpo. Apertou o ferimento, e sendo observada por Katie, tentou regenerar.
Por que Ophelia faz isso com tanta facilidade?
Concentrou-se em suas veias, suas artérias, sua epiderme e derme. Tinha que conseguir visualizar o local, as veias arrebentadas pela lança, a pele ferida, e tinha que direcionar sua magia para o local. Lentamente, de segundo em segundo, as artérias e veias foram se reconectando, os fiapos de órgãos arrancados se regeneraram, as células se multiplicaram e a pele foi fechando-se.
- Que delicadeza - Katie sorriu - tem uma boa capacidade para se regenerar. Mas está claro que exige muito de sua força, não é?
Elyon recuou ligeiramente quando Katie lançou mais lanças, todas elas bem afiadas.
Onde estará Catherine? Não consigo senti-la...
Tentou sentir, mas Katie não lhe dava tempo: atirava várias lanças, de forma desordenada e rápida, e ela tinha que escapar de todas elas. Recuava e recuava, e não tinha como escapar saltando de torres, simplesmente porque nenhuma casa era alta o suficiente. O único jeito era correr para escapar.
Impossível derrotá-la na forma humana.
Correu, tentando se concentrar em uma forma de lutar.
Ooops.
Sentira Catherine.

Se virou, percebendo que Katie não correra atrás dela. Ela permanecera impassível, um sorriso sutil.
- Parece que a brincadeira começa agora.
Katie não arredou pé de onde estava. Poderia perfeitamente brincar de lutar com Catherine dali, mesmo que o rio estivesse há uns bons metros. Mesmo que Catherine estivesse um monstro, Katie poderia lutar.
Em pé de igualdade.

Porque agora era monstro contra monstro.

Oh yeah, adorei os 9 comentários no capítulo anterior. Umrae, amei sua explicação sobre Faerün *-* Ok, vou hospedar as imagens em photobucket, tenho conta lá e sempre esqueço senha rs. Sorry não ter desenho nenhum hoje, é que os que eu queria pôr 'sumiram misteriosamente'. Quer apostar quanto que hoje, depois de ter postado isso, os desenhos aparecem? Enfim, é isso. Fato interessante: eu não tenho a mínima idéia de em que capítulo a história vai terminar. Eu sei mais ou menos como se vai dar o desenrolar das coisas, mas quanto tempo isso irá levar, eu não sei. Creio que terminarei lá pelos capítulos 90, 100, mas não tenho nada previsto. ^^

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Parte 69 - Bel, Elyon, Raveneh e Ophelia.

Tic Tac.
Tic Tac.
- puta.
Tic Tac.
- foda-se, zidaly.
Tic Tac.

Havia acabado de dar meio-dia e Bel ainda estava irada. Controlara-se bastante, mas mesmo assim era complicado quando ela fora chamada pessoalmente pelo rei para uma "conversa particular". E tivera que colocar o nome de Zidaly à força, sob pena de não poder cumprir a missão. Nunca sentira tanta raiva de alguém na vida.
Não iria aparecer para almoçar com o rei.
Tinha nojo daquela horda hipócrita: rei, rainha, Zidaly.

Resolveu descontar a ira nos novatos que a aguardavam para o treinamento no dia.
- Comandante Bel! - cumprimentou Ratta - os novatos a aguardam no campo aberto!
- Ok - Bel resolveu lutar só com as calças, coturnos e camiseta branca, sem mangas. Sem nenhuma proteção para os braços ou pescoço.
Havia um grupo de dezessete rapazes e moças, todos ansiosos para uma luta com Bel.
Obviamente não lutariam todos com ela naquele dia, mesmo que ela tivesse pique. Ela costumava separar os novatos em grupos, e assim lutava com o grupo todo de uma vez.
Era preciso tal atitude: afinal como se cuidar de dragões se não pode nem lutar direito com uma pessoa?

- Bem, vejamos: dezessete pessoas - Bel começou. Amarrou seus cabelos em um coque bem-feito para não se desmanchar - lutarei com cinco pessoas hoje, cinco pessoas amanhã e seis pessoas depois. Tudo bem? Arrumem os grupos como quiserem. Tem cinco minutos para se prepararem.
Ela deu de costas, escolhendo a espada que utilizaria. Era regra: a espada não tinha fio de corte, mas ela não se preocupava. A turma ainda estava no começo do treinamento, e a parte mais pesada sempre ficava pro final. E caso a missão fosse bastante bem-sucedida, ela tinha esperança de cuidar do treinamento pessoalmente.
- Estamos aqui, Comandante Bel - um garoto cheio de espinhas se apresentou, seguido de quatro jovens: três homens e uma mocinha loira, de cabelos extraordinariamente compridos.
- Perfeito. O resto, mantenha-se afastado.

Bel observou a postura dos cinco oponentes. Não eram novatos de primeira viagem: era a turma que passara um ano em outro território, acostumando-se com teorias e tudo o mais. Sabiam tudo, e agora testavam as teorias aprendidas no ano anterior.
Dos cinco, três estão com a postura incorreta. A moça treme ao segurar a espada.
- John, endireite a coluna - Bel começou a corrigir - Hannah, pare de tremer. Chuck e Norris, não fiquem curvados. Vamos, ataquem-me!
Quem partiu primeiro foi o moço que Bel mandou endireitar a coluna: John. A espada banal foi defendida imediatamente por Bel, e logo a ofensiva foi marcada por Hannah e Chuck que agiram em conjunto, indo pelas laterais.
- Estratégia excelente - Bel gritou - mas é inútil se eu fizer isso...
Girou a espada em torno de si, repelindo as três espadas que a atacaram e deu um salto para cima:
- Kinomoto, o que acha que está fazendo?
Zigue-zague.
Hannah parece que tem medo.
Esquivou-se de um ataque de Chuck com facilidade, golpeou John pela coxa esquerda e se preocupou em evitar Norris. Logo deu sucessivas defesas, defendendo-se de Hannah e Kinomoto respectivamente.
- Um! - Bel gritava - Dois! Hannah, mais força! Kinomoto, mais técnica!
Não bloqueou o ataque de Kinomoto, fazendo-o se desequilibrar e cair de cara no chão, mas Hannah conseguiu se equilibrar. Norris lhe deu apoio, atacando Bel em todas as partes do corpo, sem se preocupar em medir as atitudes.
- Norris, eu não sou um Ollimpi de QI 5! - Bel gritou, exasperada - golpeie direito, caramba!
Bel venceu Norris, deixando-o no chão. Kinomoto se levantou, Chuck atacou pelas costas.
- Muito bom, Chuck - Bel se virou, golpeando Chuck de vez - mas foi muito lento!
Um.
Um e vinte e cinco.
Um e meio.
Um e setenta e cinco.
Dois.
Mais, mais um pouco.

A espada girou noventa graus, abatendo a espada de Hannah e a fazendo ficar tão surpresa que ela deixou a arma cair no chão.
Tin-tin.
E outro noventa graus e derrubou Kinomoto que tentava atacar suas coxas.
Defendeu-se de John, permitiu que Hannah pegasse a espada no chão para somente bater com a própria espada em seu pulso e jogar John em cima dela.
- Venci.
Bel sorriu, mostrando seus dentes.

Estavam todos acabados no chão, deprimidos por terem sido vencidos de forma tão fácil.
- Até amanhã para vocês - disse Bel, dando oizinho para o outro grupo de cinco pessoas que lutaria com ela no dia seguinte.

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- Oh.My.God. - Catherine deixou o queixo cair, pasma.
Elyon também fez a mesma coisa, somente observando a rua principal.
Estavam em Cherllaux.

Mas estava muito longe de uma vila normal.

Estava vazio. Metade das casas viraram uma pilha de restos de madeira. Havia sangue e mais sangue pelo chão, restos de pessoas assassinadas. Cherllaux virara ruína.
- O que houve por aqui? - Catherine parecia pasma, cutucando com o pé uma pilha de ossos humanos.
- Demônios - Elyon respondeu sem hesitar - os malditos demônios de Ophelia.
Podia se ver rastros deles em cada parte: o cheiro de sangue, pairando sobre a vila que um dia foi um lugar pacífico. O frio eterno, mesmo no mais quente dos verões, a névoa que nunca se dissipava pairando no ar, a atmosfera irreal de medo e terror, os restos humanos jogados no chão, as casas completamente destruídas, algumas poucas ainda de pé apresentando janelas quebradas e portas arrombadas.
- Eles acabaram com isso - Catherine comentou, preocupada - será que tem alguma coisa viva por aqui? Um humano?
- Não - Elyon disse observando um corpo de criança semi-devorado - veja, o ataque aconteceu há alguns poucos dias. Calculo uma semana. As pessoas já foram todas embora, e se ainda resta uma pessoa, será assassinada na hora.
- Meu Deus... - Catherine parecia não querer acreditar com aquela assombrosa visão.
Continuaram caminhando pela vila, analisando os estragos.

- Para trás! - Elyon gritou, empunhando a espada na mesma hora, empurrando a amiga.
Catherine perdeu o equilíbrio, caindo de costas:
- O que houve? - gritou, exasperada, ao passo que Elyon respondeu com um sussurro:
- Demônios. Demônios.
Não durou mais que um segundo a surpresa de Catherine: logo apareceu uma criatura por detrás dela, de olhos vis e rasgados com íris azuis e pupilas como fendas negras, a pele enrugada e tal criatura andava sobre duas pernas, embora vivesse de forma encurvada tal como um leão ou elefante. Era magro, e nas costas, podia se ver a sua coluna vertebral reluzente, e bastava se descer o olhar para se apavorar com a visão de seis dedos em cada pé, e seis unhas afiadas e resistentes para cada pé, cada uma medindo trinta centímetros, podendo rasgar uma criança com facilidade. Também Catherine se assustou quando viu que ambas as mãos do monstro pegaram em seu pescoço, e assim pôde sentir o aroma de moribundo, quase que insuportável e a textura rugosa dos dedos, dos doze dedos que apertavam seu pescoço, e as compridas unhas que se chocavam frequentemente. Ao perceber que estava presa junto ao peito do monstro, quase que desmaiou, mas resistiu.
- Maldito.
O monstro sorriu. Para Elyon, ele lembrava um morto em decomposição, embora não tivesse carne se soltando. Mas a cor marrom misturada ao cinzento, o sangue seco em cima das unhas e do rosto, as orelhas que eram iguais a de um humano, a boca rasgada tendo dentes e mais dentes, todos tortos e afiados, e sem nenhum cabelo, a careca decadente... tudo lhe parecia mórbido, antigo. E ainda assim assustador.
Lhe lembrava os tempos antigos que ela topava com demônios da mesma classe o tempo todo e assim destruía a todos.
- Maldito.
Elyon ficou na posição correta.
Como se fazia mesmo?
Tinha de lembrar, Catherine continuava fraca e ela não era boa mulher para as crises: sempre perdia a cabeça, embora soubesse lutar bem.
- Aqui vai.
Foi muito rápido e o monstro mal pôde sentir. Era simples a estratégia, era simples o modo, pois Elyon era uma das mais rápidas guerreiras que já andou sobre aquele mundo. Tudo o que o demônio sentiu foi um mero vento, consequência do deslocamento de Elyon. Afinal como podia prever que em um segundo, ela já dera o golpe final e estava atrás, esperando o sangue jorrar?
Ela cortou a cabeça, em um corte horizontal e certeiro.
- ?
O demônio mal conseguiu tentar entender. Pois logo o sangue se derramou como a lava de um vulcão, o corpo desabou e Catherine se desequilibrou, suja de sangue fedorento, quase que tentando entender os dois minutos de tensão e morte.
- Obrigada - agradeceu Catherine - eu fui tão covarde...
- Não se preocupe - Elyon sorriu - tem outros por aqui. Fique preparada.
Catherine mexeu a sua própria espada, como sempre, criada magicamente. Utilizava um grande esforço para poder ter a espada predileta, mas não se incomodava que a sua energia fosse sentida pelos outros demônios. Podia vencer todos, sem piedade.
- Ora, ora - riu um deles.
A zombaria fora acompanhada de risinhos sarcásticos.
- Catherine - Elyon começou - tem três na casa ali, ao seu lado tem mais quatro.
Catherine encarou a casa que Elyon apontou.
- Tem mais sete demônios nessa cidade. Ao total tem catorze monstros - Elyon parecia pensativa - dos catorze, quatro são hirikis e oito são jakens, e dois são ollimpi.
- Uau - Catherine sorriu.
Sabia que Elyon era a que melhor sabia das trevas, e assim ela era perita em cuidar de demônios. Elyon era uma caçadora de demônios quando fadas ainda era um povinho sem muita importância, sem muita magia. E assim ela assistia vilas inteiras serem destruídas por demônios, fadas tentarem dominar. Elyon era uma das mais antigas ali, quase como uma deusa da batalha.
- Catherine, cuidado com os hirikis - Elyon aconselhou - eles são poderosos. Não sei se dá para derrotá-los de forma humana.
- Ok.
Elyon foi em frente, tentando analisar cada energia.
Isolar a própria para avaliar o resto.
Podia sentir três corações demoníacos perto dela, pulsando de excitação, esperando um ataque, um ataque para acabar, ter carne. Podia até escutar o sangue passando pelos corpos dos demônios, a pulsação, o ranger de dentes. Ela arrombou a porta, e em um toque, fez a casa desabar.
Três monstros.
Um era idêntico ao que atacara Catherine de surpresa.
O segundo lembrava uma aranha, com oitos patas repletas de espinhos e quarenta e oito olhos em volta da cabeça e uma pequena boca com vários dentes.
O terceiro parecia uma ameba com braços fortes com fortes garras e um apetite voraz. Por todo o corpo de ameba, a pele era gelatinosa e havia vários buracos com dentes, lembrando bocas.
- Dois hirikis e um jaken... - Elyon calculou antes de receber a ameba em cima dela.
Enquanto isso Catherine se ocupava em arrebentar a outra casa e lutar com um jaken que Elyon mal pôde visualizar direito. Enviou a espada várias vezes contra a ameba, tentando dividi-la em várias partes, arrebentá-la. Mas nada funcionava: ela se dividia e era pior, pois os pedaços cortados agiam de forma independente e atacavam Elyon da mesma forma, e se inteiravam ao corpo.
Um ponto fraco. Tem que ter um ponto fraco...
Deslizou pelo chão, quase que ajoelhada, a espada lutando freneticamente com os braços da ameba.
- Uau, Zad - gritou a aranha - será que consegue vencer a fadinha?
- Ela está fácil - a ameba gritou, os braços sendo girados alucinadamente como duas espadas frenéticas e ansiosas por uma luta. Elyon encontrava alguma dificuldade, mas estava somente enferrujada.
- Olá, querida, ouvi dizer que você é a melhor caçadora de demônios.
Ela girou a espada em noventa graus para defender o braço esquerdo.
- Sim, eu sou. O que deseja?
Conseguiu se levantar e visualizar algum fluxo de energia. O monstro parecia não ter olhos, mas tinha bocas por todo o corpo, aguardando um pedaço de carne.
- Nada demais. Eu só quero uma luta.
A espada rompeu várias bocas ao meio, a ameba recuou sentindo um pouco de dor. E Elyon não hesitou: cortou o corpo, ignorando os braços que estavam paralisados, e quando os pedaços se dividiram completamente, ela cortou os braços. Em várias partes. De tamanhos variados. Massacrou vários pedaços. E com cuidado, ela fez questão de cortar todos os dentes e todas as bocas em vários golpes de espada.
- Você é boa! - gritou um dos jakens que lutava com Catherine - acabou com Zad! É uma caçadora de demônios?
Elyon deu um mero sorriso:
- Não. Eu sou Elyon, a Musa das Trevas.
Catherine sorriu, destruindo mais dois jakens.

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- KIBII! - Amai parecia entusiasmada, mas logo recebeu bronca de Nath por gritar tão alto em uma enfermaria.
Kibii a olhou com alguma espécie de confusão, mas não sorriu, embora estivesse contente. Estava feliz de estar com os amigos novamente, de ter saído daquele galpão. A dor que sentia parecia ter sido tapada de forma confusa, e ela ainda tinha dificuldades em se localizar no tempo e espaço. Mas de acordo com Nath, ela só poderia lutar com uma espada de forma normal dali a dois meses. Mas se tomasse todos os remédios, ter uma alimentação adequada e obedecer à Nath, ela poderia usar suas flechas em uma semana, por mais que tivesse ferimentos pelo corpo.
- Umrae, é bom criar algum plano que não exija muito de Kibii - começou Nath, em sua voz sempre severa - ela está muito debilitada, e haverá cicatrizes. O que mais me satisfaz é que Kibii é forte do ponto de vista psicológico, e assim a tortura foi mais física do que mental. Me alivia pensar que Kibii não teve traumas fortes decorrentes do período de sequestro, enquanto foi torturada sadicamente pela Ophelia.
- Sim - Umrae mordeu o lábio inferior - eu preciso saber do real estado de Kibii pelo corpo.
- Bem - Nath começou de forma cuidadosa como toda enfermeira faz - Ophelia fez setenta cortes leves e vinte e um cortes profundos. Nenhum desses cortes profundos atingiram os órgãos de forma a causar hemorragia. Uma coisa curiosa que notei é que todos os cortes eram tratados com sal, e Kibii não me relatou isso. Creio que era feito enquanto ela estava insconsciente, e assim a dor ficava alojada para quando ela acordava. Sentir a dor sem saber do que era devia ser muito mais angustiante. Ophelia também causou queimaduras nos pés dela, mas Siih cuidou bem disso e já tem uma pele nova, praticamente, isso não está me dando muito trabalho. Me preocupei com a possibilidade de Kibii morrer de hipotermia, porque é visível que ela estava pálida, visto que Ophelia costumava mergulhar em baldes de água gelada, visando causar o desequilíbrio mental.
Umrae não disse nada. Nath terminou seu relato de forma conclusiva, e nada acrescentou a mais, pois logo se levantou para verificar o braço de Fer e ajeitar Kibii para que ela pudesse comer algo.
Umrae voltou ao seu acervo de venenos, onde se dispôs a dar uma limpada nas armas do pessoal, enquanto planejava uma estratégia. Antes de tudo, tinha que pensar...

Raveneh arrumava a cozinha depois do almoço, a May dormindo depois de ser amamentada, e tendo que imaginar alguma coisa para comer no jantar.
Tem batata e podemos fazer macarrão... não será muito, mas deve bastar...
Ela terminou de lavar os pratos, se perguntando onde estavam as outras meninas. Com certeza Rafitcha estava recolhendo ovos do galinheiro (sim, ou você achava que as Campinas não tem criação de animais como galinhas e porcos? Sem chance!), e Tatiih lavava as próprias roupas, juntamente com Thá. Não se podia mais ir ao rio ou recolher frutas sozinha, fora uma das regras recém-instituidas por Maria, sendo apoiada por Umrae e Ly. E já que era assim, Doceh fora acompanhar Rafitcha, embora ela mesma não gostasse muito de ovos.
Como está, Raveneh?
Ela guardou todos os copos, primeiro os de vidro e depois guardou aqueles que eram de ferro. Com cuidado, manuseou talher por talher, separando os garfos das facas e das colheres.
Ainda bem que eu não apareci, né?
Olhou para o lado, onde May repousava em uma cadeira adaptada. Tranquilizou-se ao lembrar que Johnny estava com Ly, para cortar lenha lá fora. Estava tudo bem, e Johnny saberia se defender, caso precisasse. Pelo menos era o que achava, e ela não queria estar errada.
Ficarei adormecida, tá?
- Cale a boca, Catherine, e me deixe em paz.


Raveneh se sentou à mesa, passando as mãos pelos cabelos, ansiosa. Mesmo que não estivesse na linha de batalha, mesmo que nunca tivesse visto Ophelia, somente a tensão ajudava a atrapalhar. Catherine continuava imersa em sua personalidade, pronta para agir quando precisasse. Tinha a sensação que seus poderes só aumentava, e mesmo comer animais lhe incomodava porque sentia os sentimentos deles. Afinal sempre soube falar com animais, mas preferia bloquear esse poder dentro de si, senão nunca poderia comer carne. Mas agora crescia demais. Ela tinha a sensação de que seu poder se expandira depois do "julgamento", e quando dormia, os pesadelos agora vinham com uma espada. Sempre tinha uma espada no final e o branco absoluto depois. Ela estava com medo.

Ela vira o estado de Kibii quando Bia a trouxe nos braços, e ela viu a expressão resoluta de Umrae. Tinha Umrae como líder, mais do que a própria Maria, e sabia que ela era simplesmente uma das melhores guerreiras de Campinas, se não a melhor. Tinha uma mira excelente, concentração impecável, velocidade e força simplesmente invejáveis. Mas mesmo assim Umrae encontrava dificuldades em lidar com Lala e Ophelia. Como alguém poderia ficar calmo depois de saber essas coisas?
Como será uma luta entre Ophelia e uma daquelas Musas?
Raveneh levou Maytsuri até a sala, onde ela acordou choramingando. Continuava imersa em seus devaneios sobre Umrae, Ophelia e toda aquela situação quando percebeu que a filha fizera cocô.
- Oh, meu doce.
Calmamente, ocupou-se em dar banho na filha. Ela se divertia nadando na banheira, na água quentinha e nos pequenos feitiços que Raveneh criava como fazer aparecer borboletinhas coloridas que sumiam depois de dez segundos, fazendo Raveneh se desligar do mundo lá fora.
- Ah, minha querida - suspirou Raveneh enquanto fez aparecer uma margarida roxa para ela sumir em cinco segundos deixando um pó brilhante - será que vou ter que criá-la presa neste abrigo?

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- Eu chamei uma amiga - Ophelia sorriu - ela iria cuidar de Kibii, mas para a felicidade dela, em vez de uma elfa irritante, terá duas fadas e um mágico fracos. O nome dela é Ravèh. Sejam muito educados, viu?
Siih estava amarrada por correntes, assim como Alicia e Lefi.
Pendurados por correntes no teto, trajavam as mesmas vestes que trajavam ao estarem no salão, cercado de jakens mortos. Todos de vestes grosseiras, para empregados.
- Ela ainda não chegou - Ophelia murmurou, seus olhos tão amavelmente maléficos - então ficarei com vocês até ela chegar. Não se preocupem, Lala cuida de tudo. Afinal, vai que vocês conseguem fugir?
Siih rangeu os dentes, tentando avaliar as condições do lugar em que estavam aprisionados.
- Me perdoe, Siih - Ophelia entrelaçou os próprios dedos - nenhum poder seu vai ser capaz de libertar você. Este lugar, você deve ter percebido, é uma masmorra bem especial. É onde os seus antepassados aprisionavam aqueles que tinham um poder descomunal como hirikis e candidatas à Musa, então você é uma formiguinha perto dessa gente.
- Engano seu - Alicia retrucou, irritada - ela é muito poderosa.
- Oh sim - Ophelia fez uma cara de pensativa - Siih é muito poderosa para a classe dela. Digamos que dois anos atrás, ela tinha 100% de poder quando ainda era uma Fada Alta. Ela perdeu aproximadamente 40% quando abriu mão de ser uma Fada Alta e perdeu mais 20% quando entregou a coroa para mim. Ou seja, a ela só restam 40% do poder que tinha quando era rainha e Fada Alta. Destes 40%, calculo que 15% seja da família real, de altos poderes. Ou seja, ela é 15% mais poderosa do que as fadas normais. Então de acordo com você, realmente ela é mais poderosa. Creio que para Siih ser superada por fadas normais, precisaria de... - olhou para cima, como se visse contas e mais contas - umas trinta fadas normais como Libby para derrotá-la. Agora.
Ninguém disse nada, esquecidos momentaneamente de criticar Ophelia. Afinal, quando foi que alguém tinha ouvido uma análise matemática dos poderes mágicos das fadas? o.O
- Uma pena que ela não seja mais Fada Alta e Rainha. - Ophelia continuou - isso significaria que há dois anos atrás, Siih só poderia ser derrotada se confrontasse com umas cento e vinte fadas como aquela Libby. Agora vamos comparar comigo. Como não sou Fada Alta, e sim uma Musa, ou seja, uma fada com poder e resistência mais do que o normal, posso viver por milênios de anos ao passo que vocês podem viver somente uma centena, ou se for muito poderosa, por uns duzentos anos. Sabem que de todos os seres mágicos, as fadas é as que tem menor longevidade. Enfim. Digamos que uma Siih vale trinta Libby's. Quantas fadas iguais à Siih você acha que seriam o suficiente para me derrotar?
Alicia ficou calada. Aparentemente, Ophelia estava se valendo da própria matemática e sabia que Alicia era boa nessa matéria, a ponto de calcular a força de Ophelia, a força de Siih e medir, calcular, tirar porcentagem, comparar tudo.
- Se uma Musa normal tem um poder, em média, 780% maior do que as Fadas Altas... - começou com incerteza, lembrando de algum livro que ela lera enquanto era uma estudante jovem. Era um livro de um matemático que gostava de calcular tudo em porcentagem, e com certeza, ele lançou a moda de converter poderes em porcentagens.
- E se todas as sete Musas juntas não podem comigo - Ophelia fez questão de lembrar, encarando Alicia com atenção - então imagino que você deve ter calculado que precisa mais do que todo esse país para acabar comigo, não é?
- Não é preciso ir tão longe - murmurou Siih achando aquilo um saco - basta atacá-la enquanto estiver dormindo, e cortar sua cabeça.
- Esse é o problema - Ophelia se levantou - precisam mais do que acabar com a minha cabeça.
Ophelia deu um sorriso qualquer, abriu a porta e saiu da masmorra, provavelmente para fazer qualquer coisa.
- Desgraçada...
Lefi que se manteve calado somente absorveu as informações.
Mais do que acabar com a minha cabeça.
O que será que significava isso? Como se acabava com Ophelia?
Será que retalhá-la com dragões funcionava?

Lembrou-se de ler algum livro na sua infância em que falava de um certo mundo chamado Faerün, e lá todos desprezavam as fadas de cá, pois consideravam fracos demais em poder, de poderes mágicos tão míseros que chegavam a ser quase humanos. Mas os elfos reconheciam que Ophelia era poderosa. Mas só ela era considerada, "porque atingia um nível em que as fadas, fracas de mágica quase inexistente, mal podiam imaginar", de acordo com o escritor.
É porque não se dá para ver o ponto fraco de Ophelia...

Siiiiim, vocês viram um link disfarçado na luta de Bel! É um desenho meu... nem é tão bom como o de Polly, mas tá, eu sei desenhar algo além de amebas hehe. Gente, estou com mania de desenhar personagens, então se vocês não quiserem algo estranho, me mandem referências tipo personagens de anime/filme/novela com quem vocês sejam parecidos, seja aparência ou personalidade. E comentem, assim eu saberei se estou sendo boa ou se estou caindo na chatice xD

domingo, 11 de janeiro de 2009

Parte 68 - Sorriso na cara e vamos lá.

Siih foi entregue, seu braço dolorido.
Mas ela já podia pressentir as dores da tortura. Assim como Lefi, e Alicia que gelou.
Bia recuou: ela não queria voltar a lutar, estava cuidando de Kibii! Umrae deu um passo para a frente, a Bi lhe deu cobertura, estando apenas três passos atrás dela.
- Que idiotice vocês cometem - murmurou Lala - tentando resgatar a Kibii. São tão idiotas!
Desembainhou a espada.
- Você primeiro? - perguntou, encarando Umrae.
- Sim - Umrae estava armada de sua cimitarra, assim como se usava da besta. Dava para perceber que Lala não era fã de lutas à distância, muito pelo contrário: queria uma luta cuja única arma fosse algum tipo de espada.
Katana contra cimitarra.

Um passo para trás, na diagonal, vindo de Lala.
Pé direito para a frente, pé esquerdo para trás, cimitarra apontada para o alto, vindo de Umrae.
- Bia - sussurrou Umrae, observando a postura de Lala.
- Sim?
- Fuja com Kibii - Umrae orientou - Bi deverá ficar para me dar suporte. Lefi te mostrará o caminho.
Lala respirou profundamente por um segundo antes de Umrae gritar:
- AGORA!
E ela vir com tudo.

Lala direcionou o primeiro golpe para o braço direito de Umrae, ato imediatamente defendido por Umrae que fez a cimitarra escorregar para a garganta de Lala. Ambas recuaram, se encarando, poucos décimos de segundos para o próximo golpe. Cimitarra contra a coxa direita de Lala, esta recuou, a katana deslizando pela lâmina da curva cimitarra. Umrae levantou a cimitarra, colocando o braço esquerdo contra o tronco, evitando qualquer golpe. Então a garota de cabelos laranja, amiga e braço-direito de Ophelia, pousou a katana no chão antes de se lançar o dado decisivo. Ou não.
Ela vai querer a minha cabeça ou vai querer que eu seja aprisionada?
Era a única dúvida que Umrae tinha.
- Com medo, Umrae? - perguntou Lala, com a sua mesma expressão, tão serena.
- Nenhum - respondeu.
Um sorriso de Lala, um suspiro ofegante de Siih.
Um golpe.
Um segundo.

E a katana quase que quase encontrou a garganta de Umrae.
- !
- Sinto muito - Bi encarava Lala com uma certa raiva - não posso deixar a senhorita assassinar Umrae.
A espada de Bi se encontrava diante de Umrae, como uma barreira para a katana de Lala. Uma barreira que poderia cortar a garganta de Umrae, bastando um pouco mais de força por parte de Lala.
E ela percebeu isso.

Umrae recuou, pondo a sua própria cimitarra contra as espadas de Bi e da Lala, e outro golpe se fez deslizar para o abdomên de Lala, imediatamente repelido.
- Acho que é o suficiente - Bi colocou a sua espada na bainha - mande lembranças à Ophelia.
- Não, eu quero continuar - Lala deu um passo para a frente, a katana aterrisando no braço esquerdo de Bi. Mas sequer fez um arranhão, pois Bi desviou do golpe.
- Mate-a logo, Umrae - Bi encarou Lala com desprezo, desembainhando a espada.
A espada de Bi foi rápida, Umrae foi ainda mais.
Ambas miraram no abdomên, e enquanto Lala evitou o golpe de Bi com perfeição, se utilizando da katana, Umrae aproveitou a pequena brecha para romper a carne do abdomên. Perfeito.

Ela é boa demais...
Umrae percebeu que o sangue tingiu as calças de Lala que recuava. Podia perceber que Lala tinha uma dificuldade maior em lidar com ela: Umrae era da raça dos elfos, com um tipo de energia impossível de ser analisado por uma fada. E para Lala era mais fácil prever os movimentos de Bi, pois ela era humana mestiça com algum sangue de fadas. Mas ainda assim Lala não demonstrava as dificuldades que sentia.
Era como se ela brincasse de lutar: com sorriso na cara e vamos lá.

Umrae prosseguiu, mas seus golpes atingiam o metal da katana: um, dois, três. Zigue-zague, horizontal, diagonal. Lala defende, recua, Umrae avança, mas logo repele a diagonal inferior na parte esquerda de Lala.
Os metais se chocavam de forma absurda, quase aleatória.
- Que droga - Siih parecia choramingar - que merda...
- Pare com isso - Alicia tinha um tom absurdamente severo - a culpa disso é sua, sabe disso!
Siih não respondeu. Se ela fosse mais competente...

- Você não é ruim - admitiu Lala, rompendo o minuto de golpes sucessivos e mal-sucedidos.
Ela direcionou a katana para o lado, desviando do golpe que a atingiria no ombro direito.
- Você também não - Umrae parou de dar golpes.
Calculava que Bia já estava longe, fora dos limites do palácio.
- Vai ficar para o café da manhã? - Lala perguntou, o sorriso quase tão angelical como o de Ophelia - veja, o sol já está raiando.
De fato: o cristal das paredes era ainda mais nítido, mais brilhante e vivo com a luz amanhecida do sol. Umrae achou melhor parar com a luta: percebia que não se podia matar Lala, só se arrancasse a cabeça dela. Coisa impossível, devido à defesa brilhante que Ophelia tanto fez para ensinar à Lala. E funcionou: Lala era indestrutível. A não ser por Ophelia ou outra Musa.
- Não, obrigada - respondeu Umrae, quase gentilmente - obrigada pela luta e pela recepção cortês, mas devo partir.
- Oh - Lala sorriu.
Umrae deu de costas, ordenando que Bi fizesse o mesmo. As duas partiram do palácio por uma das janelas, mesmo que a altura seja de aproximadamente doze metros de altura. Mas elas fizeram vários saltos seguidos de uma janela para outra até alcançarem o chão com naturalidade, mas Lala não ligou. Não queria mesmo continuar a luta, pressentindo que perderia terrivelmente.
- Suas idiotas! - resmungou para Alicia e Siih - querem morrer de uma vez?
As duas se encolheram contra a parede.
Lala voltou para o quarto, fazendo pouco caso do evento. Mas sabia que quando Ophelia acordasse, Alicia, Siih e Lefi seriam tão castigados que desejariam nunca terem nascido. Mas esse tipo de coisa era para Ophelia. Por que ela, Lala, deveria se preocupar com isso?

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Sete da manhã.
- Bom dia, Comandante Bel - o rei cumprimentou, à mesa.
A realeza de Grillindor era quase militar, tanto que é costume generais, capitães e comandantes fazerem suas refeições no Salão de Honra, onde há uma enorme mesa de madeira redonda, juntamente com os membros da realeza. E assim discutem os assuntos, desde importantes assuntos como política à amenidades como bailes. Então Bel que vivia quase ao lado, por exemplo, fazia suas refeições no palácio. Assim como Crazy, Zidaly, Lucien. O rei era um homem caprichoso, cheio de pompa e bom humor. Assim como sua esposa, considerada por muitos uma esposa devotada, mãe devotada e amante devotada.
- Bom dia, Majestade - Bel devolveu o cumprimento de forma respeitosa.
Ela estava com calças verde-exército e uma blusa branca, sem mangas. Era a base do uniforme elaborado, e ninguém ali tinha problemas com braços de fora. Amarrara os cabelos em um rabo-de-cavalo, e comia rápido, pois naquele dia os novatos lutariam com ela, como parte do treinamento.
Que pena que terei que partir. Queria muito participar mais...
Mas tudo bem. O Capitão Kip era um bom capitão e como não fora convocado para as Campinas, então ficaria para inspecionar o treinamento dos novatos.
- Que tal a geléia? - perguntou a rainha, de forma muito respeitosa - foi feita com morangos frescos!
- Excelente - elogiou Crazy, encarando Zidaly do lado oposto da mesa.
Bel dirigiu o olhar para o General Lucien, com a sua estúpida esposa. Todos sabiam que Lucien já pedira aposentadoria para se dedicar à esposa e aos filhos que nunca apareciam para o café da manhã, e Bel achava que Lucien era um estúpido idiota que não sabia a diferença entre um dragão vermelho e um dragão azul.
- Como vai a missão, Bel? - perguntou o rei, em um tom falsamente amável.
- Espero enviar daqui a quatro dias - Bel respondeu - mandei um dragão para lá, essas coisas. Espero que ele volte logo para eu poder mandar o meu exército.
- Enviará quem? - o rei indagou novamente.
- Somente dez pessoas, contando comigo - respondeu Bel - não enviarei muitas pessoas, não tenho necessidade. Das dez pessoas, nove estudam dragões e a restante sabe montar as melhores estratégias de guerra que já vi. Basta para mim.
- Entendo - o rei parecia animado - quem são as pessoas?
Bel parou de comer as torradas para contar nos dedos:
- Eu, Crazy, Ratta, Polly, Giovanna, Luka, Toronto, Ti-Yi, Pauline, Harumi. É isso.
- Ah - o rei sorriu amavelmente - deixará o Capitão Kip cuidando dos novatos?
- Exato - Bel sorriu também.
E comeu as duas torradas que faltavam, e bebeu o último gole do café com leite.
- Peço licença - Bel se levantou - tenho afazeres. Obrigada.
Zidaly deu mais uma mordida em seu pão com geléia, já acrescentado o próprio nome à lista.

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- BIA! BI! UMRAE! - gritou Nath, pasma - oh, KIBII!
Ela abriu a porta da enfermaria quase que correndo, ajeitando um leito qualquer, onde Bia colocou Kibii de forma cuidadosa.
- Oh, ela está viva! - Nath parecia feliz, mesmo com todos os machucados - embora... nossa!
O grupo recém-chegado foi recebido com grande entusiasmo por todos que estavam acordados como Maria e Doceh.
- Como Kibii está? - perguntou Maria, na enfermaria, dando uma olhada no estado de Kibii - está viva? Está, não está?
- Sim - Nath respondeu - agora me dêem licença, chispem daqui!
E todas foram postas para fora da enfermaria para que Nath pudesse cuidar de Kibii em paz, sem falatório.

- Como foi? - Raveneh pôs a mesa para o café da manhã, parecendo preocupada - Rafitcha, me passe o café, por favor.
- Digamos que Siih, Lefi e Alicia estão ferrados - Umrae respondeu, sentando-se à mesa.
Doceh colocou a cesta com vários pães na mesa, parecendo hesitante:
- Vão morrer?
- Se tiverem sorte, não - Bia respondeu com calma - eles são gentis, embora...
- Siih foi uma incompetente em não ter conseguido enfeitiçar Lala - alfinetou Umrae - tive que lutar com ela para ganhar tempo.
- E como ela é? - Raveneh perguntou, sentando-se à mesa também - Lala é quão boa na luta?
- Excelente - Umrae disse - tive a impressão de que ela não lutava a sério hoje, assim como eu. Mas ela possui bons reflexos, e o maior trunfo dela é ter alta capacidade de regeneração. Eu só a feri uma vez, e no segundo seguinte, reparei que não havia nem cicatriz.
- Isso era horrível - Rafitcha disse, lembrando-se da luta que presenciara - parecia um monstro.
- Aposto que Ophelia é pior - observou Doceh.
Tatiih e Amai entraram na sala, parecendo que não haviam conseguido dormir.
- Bom dia, meninas - Raveneh cumprimentou - venham, tem pão, geléia. E... suco de laranja. É, é isso.
- Obrigada - Tatiih agradeceu com a voz preguiçosa, enquanto Amai parecia esperançosa:
- Cadê Kibii?
- Está na enfermaria, Nath está cuidando dela - respondeu Umrae sem olhá-la.
Amai sorriu.
Então estava tudo bem.

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Dez horas da manhã.
Por ora, havia exatamente trinta e dois jakens que policiavam o exterior do palácio, e todos haviam sido derrotados por Umrae. E todos os trinta e dois jakens estavam no grande salão, onde Ophelia se sentava no trono. Ela queria entender tamanha incompetência.
- Foram todos atordoados e permitiram que três mulheres entrassem no palácio e saíssem com uma sequestrada - Ophelia parecia se conter com tanta raiva que sentia. Lala estava ao seu lado, fitando todos os trinta e dois jakens com um olhar indiferente.
- Mas, Majestade Ophelia, Senhora dos Demônios, Rainha Verdadeira - balbuciava um dos jakens - perdoe, foi...
- Não quero saber. Lala, por favor.
- Sim, Ophelia.
Lala ficou em frente à Ophelia, encarando os jakens nos olhos.
Foi rápido demais.

A katana rompeu o ar em questão de décimos de segundo.
E logo o sangue jorrou como água, empapando o chão. O primeiro caiu no chão, a cabeça rolando.
Foram vários gritos, mas Lala não deu tempo: os pés corriam pelo salão, o braço se movimentava sem ser visto, os saltos eram certeiros, a katana rompia as gargantas de forma apressada, ligeira e forte.

Ao final de sessenta segundos, Lala acabara com vinte e quatro jakens. Os oito que restaram se escondiam pelo salão, apavorados com as cabeças dos companheiros rolando pelo chão, os corpos peludos e brancos sujos de sangue e com a figura no meio, a garota de cabelos laranja cuja katana queria mais e mais, sua expressão quase risonha. Seus olhos cor-de-mel pareciam sinceros e indiferentes, mas ainda havia algo de anjo nela.
- Muito bem, minha querida - Ophelia sorriu - descanse um pouco.
Ela mesma fez questão de matar os oito restantes.

Seus dedos se transformaram em longas garras, medindo muitos e muitos metros. Permaneceu no trono, sua expressão angelical e sem sujar o vestido, e com suas garras, mirou em todos os oito jakens que mal conseguiam se esconder atrás das cortinas, por exemplo. Não tiveram suas cabeças cortadas, mas certamente devem ter sentido muita dor em ter uma garra enfiada no cérebro e rasgados ao meio.
E o sangue sujou as cortinas.
- Quanta coisa para limpar - resmungou Ophelia - eles são tão imundos.
- Agora cuidará de quem? - Lala perguntou, mesmo já sabendo a resposta.
E ela veio, em um tom adocicado:
- Chame Siih, Alicia e Lefi.

Eram dez e quinze da manhã quando o trio se encontrava ajoelhado, diante de Ophelia, em cima de todo o sangue e rodeado por todos os cadáveres de jakens.
- Céus, isso me dá nojo - murmurou Siih reparando que no campo de visão dela, se encontrava uma cabeça de jaken a encarando, os olhos ainda trêmulos de medo.
Ophelia bateu palmas de forma inocente, como se parabenizasse os três. Disse, naquele tom tão amável e infantil:
- Eu não esperava que vocês fossem leais a mim, sinceramente, claro! Vocês me odeiam, como poderia esperar outra coisa?
Ela mordeu o dedo indicador de leve como se ainda pensasse no que iria falar:
- Mas como eu mando em vocês - continuou - não deveriam então simplesmente permitir que Kibii seja resgatada pelas amiguinhas, sabe? Por isso deverão ser castigados.
Ophelia sorriu.
Ninguém iria imaginar a punição que Ophelia maquinava para eles.

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- Já consigo!
Elyon parecia ficar feliz quando entraram em uma estrada com árvores por todo o lado:
- Estamos perto da capital! - exclamou.
Parecia entusiasmada.
Já Catherine não conseguia sorrir. Estava angustiada por estar vivendo sem água há muitos dias, e sentia que até mesmo seus poderes estavam diminuindo gradativamente, a cada minuto sem água.
- Catherine - Elyon começou - estamos a uns quilômetros da capital, e sei que perto daqui há um rio, lago, algo assim! Você ficará bem!
- De fato... - Catherine olhou para o lado - tem uma floresta por aqui, não é... hey, tem uma vila...
- Calculo que seja a Cherllaux - murmurou Elyon - a floresta não me é estranha.
De fato, estavam em uma floresta que era perto da capital.

Andaram por mais algum tempo, até conseguirem encontrar um rio.
- Veja! Água! - festejou Elyon - Catherine, você ficará bem!
Catherine sorriu, se banhando na água.
- Que curioso - ela murmurou, enquanto nadava devagar - você também sente, Elyon?
- O quê? - ela havia colocado as calças acima do joelho, para mergulhar os pés no rio - ah... realmente, esse lugar parece meio mágico.
- Como se alguém tivesse passado por aqui - Catherine mergulhou completamente, seus cabelos se molhando completamente. Logo retornou e continuou: - acho que alguma fada muito poderosa passou por aqui perto.
Elyon sorriu. Retirou toda a roupa, o que era uma atitude muito imprudente considerando a situação do reino, mas mesmo assim foi tomar banho assim como Catherine. Precisava de um pouco de água e descanso.
- Elyon - Catherine se recostou em uma pedra no rio - o que acha que Ophelia fará conosco?
- Matará? - Elyon sorriu.
- Você se importa se ela matar a gente - Catherine parecia fitar o céu, quase que coberto pelas copas das árvores - hein, Elyon?
- Não - Elyon molhou os cabelos - quero somente feri-la, vingar Olga de alguma forma. Não me importo em morrer enquanto tentar fazer isso... enquanto eu não conseguir vingar Olga, ela não me deixará em paz...
- Ela? - Catherine parecia intrigada.
A lembrança de Olga lhe era demasiada dolorosa.

- Ophelia não pode me vencer, pode? - gritou Olga exasperada, enquanto Miih era irredutível:
- Ophelia é um monstro.
Ninguém discordava, afinal todos tinham tido a sua amostra do poder que Ophelia tinha.
- Temos que vencê-la - Elyon mordeu o lábio inferior - temos que vencê-la de qualquer jeito.
- Droga, mas acho que isso será impossível sem um sacrifício de alguém - Olga quase chorava.
E no final das contas...


- Eu preciso vingar - Elyon abraçou os próprios joelhos - passei esses anos de forma despreocupada, sem se preocupar em me vingar. Mas eu podia sentir que ela me vigiava, que ela estava conspirando para que eu não vivesse mais em paz.
- Besteira - Catherine duvidou - os mortos não falam conosco.
- Eu sei - Elyon se deixou desabar na água, preocupada - eu sei.

Uma coisinha: Umrae, PARABÉNS pelo novo emprego! Tenho certeza que ele será melhor, e espero que seja feliz *-* Só isso, :D

sábado, 10 de janeiro de 2009

Parte 67 - Somente uma enrolação para algo importante.

Elyon parecia perdida. Queria chegar logo ao palácio, assassinar Ophelia com suas mãos, dedos frágeis em torno do pescoço dela, aparentemente tão delicado... Catherine parecia concordar, porém não com tanto fervor como Elyon.
Atravessavam as árvores com interesse e um quase desespero, temendo perder-se entre as trilhas delineadas pela própria natureza, sem obedecer a nenhuma regra ou convenção social.

- Elyon - Catherine olhou para cima, seu rosto ficando cada vez mais ressecado - Elyon, nos perdemos.
A amiga a encarou com tristeza. Reparou que os cabelos, que formavam tamanho orgulho para Catherine, estavam opacos, que seu rosto já não tinha mais os traços tão delicados e que mesmo seus olhos pareciam mudados.
Ela sofre por estar longe do mar.
- Não tem algum rio por perto? - perguntou Elyon tentando enxergar através das árvores, Catherine a observa.
Sabia a resposta. Nada de rio. Nada de água.
Sobretudo, nada do caminho certo.

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A sala, espaçosa, estava mais cheia do que nunca. Todos haviam se acomodado de qualquer jeito, com cobertores e travesseiros, querendo dormir um junto ao outro, com medo do dia seguinte. Umrae era uma das poucas pessoas que não se acomodavam debaixo de algo, usando o uniforme de trabalho. Parecia séria, quase como se não respirasse.
- São quase duas da manhã - murmurou Raveneh, ninando May com tanta tranquilidade que parecia irreal que minutos antes ela quase tivesse uma crise de identidade.
- Eu quero que três pessoas me acompanhem ao palácio, assim que o sol raiar - Umrae começou, fitando a todos de forma tão séria, quase como se exigisse. O dourado dos seus olhos refletia a luz das velas bruxuleantes no aposento, e as pessoas pareciam ora sonolentas ora despertadas.
- Resgatar Kibii? - supôs Rafitcha em um tom reflexivo, quase que hesitante.
Umrae confirmou.
Logo ela enumerou as condições de quem a acompanharia: pessoas que tivessem filhos não iriam, os que tivessem alguém que amassem só se esse alguém concordasse, os que não souberem lutar sequer podiam pensar em se candidatar, e a condição principal: alguém que conhecesse Kibii e que se dedicasse de corpo e alma para trazê-la de volta, inteira e, quem sabe, sã.
Para Umrae, lutar bem e ser uma pessoa solitária não servia.
Tinha que conhecer Kibii, sentir falta dela, amá-la inteiramente, como aquela amiga dedicada e distante.

Ly quis ir, mas Doceh se recusou a ficar sozinha e enfrentar de novo a solidão, aquele medo avassalador e constante, tão torturador. Se Ly fosse, Doceh iria também. E se Doceh quisesse ir, Ly queria acompanhá-la de qualquer jeito.
Ficaram em um impasse, pois Umrae queria levar somente duas pessoas consigo, e Fer não poderia ir devido ao braço quebrado. Assim ficou em dúvida, e assim a Capitã Bi foi, armada de espadas antigas. Também chamou Bia.
- Não quero participar disso - pediu Bia, ao ouvir seu nome anunciado.
Umrae a olhou de cima, mas Bia insistiu:
- Não sou boa o suficiente.
Maria quase que abre a boca para dizer algo, mas Bia tenta pela terceira vez:
- Eu fracassei da primeira vez.
Todos já a encaravam com mistos sentimentos, como se sentissem pena ou qualquer coisa do tipo. Amai sentiu a culpa se remexer em seu estômago, a culpa de ser sido trocada por Kibii, aquele remorso de quem devia estar sendo torturada não era a Kibii, mas sim, ela, a Amai. Só não fez questão de ir junto porque não sabia lutar direito, e indo junto, poderia arriscar a vida dos outros.
Umrae fixou o olhar em Bia, como se ela falasse algo ridículo.
- Neste lugar, Bia, há uma hierarquia por mais que não pareça - sua voz estava extremamente séria - a hierarquia é o seguinte: Maria, e aí segue-se eu. E a respeito do caso Ophelia, eu estou no comando absoluto, se sobressaindo à Maria. Portanto, Bia, quem manda aqui sou eu e isso significa que você faz o que eu quiser. Se eu quiser que você dançe, você dança. Se eu quiser que você cozinhe, você cozinha. E se eu quiser que você se junte a nós para resgatar Kibii, então você se junta a nós para resgatar Kibii sem dar um pio contestando a mim. Entendeu? É assim que as coisas funcionam por aqui. Se entendeu mesmo, diga "sim, capitã Umrae".
Todos se calaram, a espera de alguma contrariedade de Bia. Mas não veio.
- Sim, capitã Umrae.
Foi tudo o que Bia disse. Forçada a lutar, mesmo acreditando que seria um fracasso. Mal esperava ela que na verdade Umrae a impulsionara para construir um de seus sorrisos mais sinceros da sua vida.

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Três e cinco da manhã.
Passos silenciosos e abafados.
Um quarto meio pequeno onde duas meninas dividiam espaço.
Só elas, e os pesadelos com algo envolvendo fornos, sangue no chão e alguma criança choramingando. As paredes mal-pintadas, cordas penduradas do teto dispostas por Ophelia, "para se acabarem quando quiserem".
Uma vela acesa, uma garota que perdeu a realeza acordada de repente.
- Droga, Lefi, estava tentando dormir!
- Tentando? - Lefi alfinetou com rancor - você estava que nem Alicia!
Alicia estava suando frio, e se contorcia em meio ao sono. Parecia estar tendo pesadelos.
Siih se sentou, de forma furtiva e rápida como se acostumara com a presença de Ophelia pela casa. Observou suas mãos, tocou a própria face, e reparou que, de fato, suava frio e sua pele ainda estava molhada de tanto suor.
- Estou com medo - Siih reparou, se lembrando de muito pouco do que sonhara - estou com medo, não quero mais dormir.
- Você precisa - murmurou Lefi, já preocupado - mas preciso de sua ajuda agora.
- O que é? - Siih parecia totalmente acordada, seus cabelos desalinhados.
- Kibii.
Siih saiu de seu colchão (pois Ophelia se recusara a fornecer camas para os empregados) e acordou Alicia com delicadeza, tentando fazê-la despertar do pesadelo.
Foi imediato, assim como ocorrera com Alicia: ela abrir os olhos e ficar aliviada.
E ela sorriu, sabendo que nunca mais conseguiria fechar os olhos e dormir em paz. Não quando ainda tinha o corpo de Gika na sua frente.
- Explique-nos - pediu Siih para o irmão - o que há com Kibii?
- Somente um plano e quero que vocês ajudem - Lefi sorriu.
E ele explicou.


Estava fazendo um calor dos infernos.
Umrae, Bi e Bia.
A camisa branca de Umrae se destacava na escuridão: ela não fazia esforço nenhum para se ocultar. O resgate de Kibii não exigiria nada de mais: somente astúcia, certa habilidade com a espada e bastante cara de pau para fugir debaixo do nariz de Ophelia. Bi deu um sorriso, sua face bronzeada, embora ela continuasse calada como Bia: vivia demais em seu navio, e assim acabava por se manter alheia aos acontecimentos de Campinas. Mas ainda assim vivia ali, mesmo que calada e distante, estava presente nas ações de guerra e de paz.
- O que faremos em relação aos jakens? - perguntou Bia, a quem os jakens eram estúpidos: enormes, todos de pelagem branca e macia, fileiras de dentes pontiagudos e sujos que eram mostrados de forma escandalosa e eles andavam para lá e para cá, armados de garras enormes e olhares abobados. Bia sabia que esse tipo de jaken era um que vivia nos territórios do norte, e eram o terror das vilas, embora sejam o tipo de demônio ordinário, desprezados até mesmo por outros demônios.
- Adormeceremos-os - Umrae respondeu. Ela quase sorriu, mas seus olhos dourados brilharam de antecipação - não os mate. Machuquem. Façam sangrar. Mas não, não matem.
- Por quê? - foi a pergunta da Capitã Bia, intrigada.
- Bem, quero ter o gosto de saber que serão assassinados pela própria Ophelia - foi a resposta de Umrae.
E as duas companheiras compreenderam imediatamente.

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Ainda estava escuro demais para Grillindor.
Mesmo assim, Bel não dormia.
Estava calor, mas os verões em Grillindor nunca eram completamente desagradáveis, embora o começo fosse particularmente chato, já que tinham que mudar todos os lençóis, abrir as cortinas e a enjoar da comida mais facilmente.
Ela, ao contrário dos seus subordinados, tinha um quarto só para ela nos dormitórios da base militar. Ela tinha uma casa de verão, pra onde ia quando tinha vários dias de folga, mas por hoje, seu quarto na base militar era bom o suficiente com a sua cama enorme coberta de sedas vermelhas, velas em todo o canto em castiçais prateados, cortinas leves de linho, um guarda-roupas cuja metade era ocupada pelos usuais uniformes e a outra metade pelas finas roupas que gostava de usar nas horas vagas. Ao contrário de todos os outros militares, ela era rebuscada, de um gosto completamente único e elegante, e chamava a atenção pela exótica beleza que possuía, com todos seus trabalhados vestidos e sapatos de salto completamente coloridos, o que chamava a atenção. A esposa do rei, uma rainha de personalidade conservadora, a encara sempre com certa incredulidade e incerteza, achando-a muito saidinha, e tal opinião se repete por todas as meninas da alta sociedade. Embora os homens a adorassem, com seus sorrisos encantadores e suas inteligentes tiradas, Bel nunca teve um namorado a quem amasse. Há quem diga que um dia, ela amou alguém quando era mais jovem, mas não se sabe de nada.
Só o que se sabe era simplesmente que a Bel era a Comandante mais elegante que Grillindor já vira.

E essa Comandante tão elegante simplesmente estava suspirando, tentando ficar irada com Zidaly, em vez de complexada.
Ela estava sentada na cama, ainda com seu vestido de mangas longas e azul-marinho, tentando ignorar o calor crescente pela madrugada. Não conseguia esquecer as palavras, os trejeitos de Zidaly, tão cuidadosos e medidos como uma cobra que daria o bote.
- Acho melhor tomar cuidado com quem tira.
Foi assim que ela disse? Com essas palavras? Com aquele tom quase que sibilando as palavras de forma venenosa? Foi com aquele olhar, praticamente assassino e frio? Ela realmente havia dito isso? Ela seria tão longe, a ponto de subornar o rei de maneiras obscuras só para ser escalada à mesma missão em que Crazy estava? Se Zidaly entrasse na lista, Crazy iria ficar furioso com Bel!
O que ela faria? Como Zidaly faria com que entrasse na lista de recrutados para Campinas?
Ah!, se ela ousasse saber mais sobre aqueles que não lhe interessava particularmente!...

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- O que quer?
A pergunta parecia idiota.
- Você sabe.
Recolocou as roupas, sozinha, sem necessidade de uma segunda pessoa. Mas ele sorriu e confirmou:
- Farei, então.
Abriu a porta e olhou para trás:
- Bem, querido, vá logo, senão sua querida mulherzinha, a toda real majestade, te pega. E aí...
- Eu sei - ele a fuzilou com os olhos - farei com que Bel te coloque na lista, não se preocupe.
Zidaly sorriu, se despedindo com um aceno despreocupado.

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- Droga, Lefi! - resmungou Umrae - não poderia ter ficado de tocaia?
Ela já estava dentro do palácio, seus olhos dourados fitando os corredores com frieza. Reclamava de a porta estar trancada, pois na opinião (sempre corretissíma, claro, quem se atreveria a discordar de Umrae?) dela, Lefi tinha que ter ficado de vigia a noite inteira, afinal ela e suas companheiras não poderiam ficar meia hora esperando alguém abrir a porta, para não fazer barulho, como fizeram.
Umrae ainda resmungou que quando ela era mais jovem, dos tempos de Faerün, ela não ficava meia hora esperando. O problema é que ela tinha a impressão de que ficou preguiçosa com os anos tranquilos em Campinas, e também não sabia os pontos fracos do castelo muito bem. Só pisara nele uma vez, anteriormente. Afinal sempre foi Maria quem ia as reuniões, ela mesma nunca tinha paciência e detestava as fadas. Sem contar que, de acordo com as fadas, Umrae era considerada subversiva simplesmente porque boicotava muitos produtos produzidos pelas fadas - retirando os guloseimas, que ela admitia serem bons.
- Me perdoe, chefe Umrae - Lefi disse com uma muito bem disfarçada irritação - atrasei-me pois a minha querida irmã precisou de ajuda para algumas coisas.
- Como o quê? - Bia perguntou, quase como se duvidasse de Siih.
- Encantando Ophelia e Lala - foi a resposta simples e crua de Lefi. Mas satisfez Umrae como toda resposta simples e bem dada. Afinal foi o que Umrae pensou em mandar Siih fazer, e ela gostava quando suas ordens eram obedecidas, mesmo que não fossem ditas.
Capitã Bi deu um passo para a frente, sua espada bem ajustada no seu cinto. Amarrara os cabelos, ajustou o cinto de armas e deu um sorriso:
- Vamos? Falta pouco.
Umrae não sorriu, nem Bia. Mas também deram um passo para a frente, prontas para percorrerem mil corredores, se fosse preciso.
- Venham - Lefi foi quem guiou as três garotas.
Para Bia, os corredores lhe eram estranhamente impessoais, de paredes cristalinas e incômodas. As janelas, todas fechadas, só deixavam passar poucas frestas e mesmo lá fora não tinha nenhuma luz realmente relevante. Eram imensos, e tantas vezes subiram ou desceram que Capitã Bi chegou a desconfiar que era uma armação ou algo do tipo. Mas logo alcançaram um pequeno corredor, onde no final, havia uma porta.
- Aqui.

A porta estava entreaberta, e sem cuidado nenhum, Umrae invadiu o aposento, encontrando Alicia debruçada em cima de Kibii, tentando acordá-la.
- Kibii, por favor, eles já chegaram - choramingava Alicia, dando pequenos tapas no rosto de Kibii.
- Meu Deus - Fer se sentiu baqueada - o que fizeram com ela?
Alicia se virou para ela, as lágrimas correndo com suavidade:
- Ophelia é um monstro. Um monstro.
- Vamos - Umrae se endireitou ao lado de Kibii, dando uma olhada.
De fato, Kibii era como um bonequinho de vodu pertencente a alguém muito vingativo: todos os seus dedos apresentavam furos, estava mais branca do que o normal, seu coração já não batia direito, e entre as costelas, vários cortes de forma trabalhada, feitos para doer e não matar. As queimaduras também existiam, principalmente nos pés, mas elas se minimizaram pelos cuidados que Siih teve.
- Você está completamente acabada - murmurou Umrae - Kibii, sou eu, Umrae.
Kibii se remexeu, mas continuou imersa em seu torpor causado pela mimatta.
- Você deu mimatta pra ela? - foi a pergunta feita em um tom estranhamente gentil, por Umrae. E Alicia respondeu delicadamente, temendo cada ousadia fora do contexto:
- Siih deu uma, junto com a comida. Ela pegou a mais forte, porque ela queria diminuir a dor de Kibii.
Umrae crispou os lábios.
- Dar mimatta para uma pessoa nessa situação é de doer, francamente! - parecia indignada - olha o tamanho da garrafa! E é de batata e malte, 80% de álcool, no mínimo! Esse tipo de bebida só piora a ressaca e a cicatrização dos ferimentos! Siih não sabia disso?
Alicia fez um gesto negativo com a cabeça, receosa.
Queria que aquilo acabasse logo.

Quem carregou Kibii foi a Bia: esta a carregou nos ombros, tentando tomar cuidado.
- Onde está Ophelia? - perguntou Umrae, na frente de Bia, enquanto todos andavam tranquilamente pelos corredores. Pareciam relaxados, como se a tarefa fosse extraordinariamente fácil. Não é que Umrae subestimava a força de Ophelia. É que ela tinha vontade de ver Ophelia louca por resgatarem na sua vista.
- Dormindo - Lefi respondeu - Siih fez um encanto para que Ophelia e Lala ficassem mais apagadas. Espero que tenha surtido efeito.
- É bom mesmo - Umrae respondeu, quase que de forma cínica - Siih seria uma péssima rainha se não conseguisse nem mesmo fazer um encantamento de sono, ela que era tão poderosa a ponto de manipular pessoas, não é mesmo?
- Ora, cale a boca - resmungou Lefi. Ele detestava quando Umrae fazia qualquer crítica à Siih.
Estavam em um dos corredores, uma das saídas mais utilizadas por aqueles que usavam os melhores quartos. De paredes cristalinas, Bia ia na frente, quase como se tivesse pressa. Kibii não se mexia, mergulhada num torpor que a bebida causara. Umrae sentia que por mais que fosse errado que fosse dar bebida pra alguém ferido, agradecia intimamente à Siih por isso: eliminava a dor e a consciência por algumas horas, e assim facilitava todo tipo de trabalho.
O castelo parecia estranhamente silencioso.

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Siih estava debruçada em cima de Lala, tentando enfeitiçá-la.
Já eram cinco da manhã, e mesmo que transcorresse tudo bem com Ophelia, estava achando dificuldade. Havia algo que não batia muito bem...
- Ora, ora.

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- Que tolice.
Umrae se virou, escutando barulhos de passos.
- Alguém está acordado? - perguntou Alicia, achando que era algum Glomb insone.
Mas os passos eram leves demais, como se a pessoa tomasse cuidado. E havia outro barulho de passos: fortes, barulhentos, rastejantes.
- Onde você disse que Siih estava? - Umrae perguntou. Era a terceira vez que perguntava por onde Siih andava, mas agora Lefi não conseguia ter certeza da resposta:
- Ela disse que ia encantar Ophelia e Lala e...
- ... e infelizmente eu estava acordada, e bloqueei os encantamentos - Lala respondeu. Trazia Siih pelo braço, o sorriso cínico pintado no rosto. Não era um sorriso exuberante, nem algo que se destacasse. Mas era algo que desestimulava.
- Maldita seja, Lala.
Lala adorou o xingamento de Umrae.

Foi meio difícil fazer esse cap, e tenho impressão de que não tá UAU!, sabe? Então me perdoem se acharam meio chato. E de qualquer modo, tenho que avisar: percebi um erro horrorooooso na história... o nome de Raveneh. Umas partes eu disse que era Raveneh Kokiri, outra que era Raveneh Likara, e ainda havia colocado que a família de Rafitcha era Brito Alves, o que não podia ser, porque se Rafitcha é irmã de Johnny, e Raveneh tomou sobrenome de Johnny, então como assim Johnny não é Brito Alves? Enfim, pra simplificar, a partir de agora fica assim: Liptene é o sobrenome de solteira de Raveneh, Likara é o sobrenome de casada, esquece Kokiri e Brito Alves E pronto. Okay, perdoem pela falha minha? :D

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Parte 66 - Preparando o cenário de forma cuidadosa.

Umrae subiu a escadaria, armada de sua besta com dardos e uma cimitarra. Não se despediu de ninguém nem avisou para onde ia, embora todos ainda sentissem o luto. Eram quase sete horas da noite, e o céu já estrelava completamente, bonito e limpo: um céu de verão. Da escadaria para a Praça dos Sete Anjos.

Reparou que estava destruída pela primeira aparição de Ophelia. A fonte charmosa com os anjos se destruíra completamente, os bancos estavam revirados e o número de mendigos por ali aumentara absurdamente. Podia ver uma criança pequena e suja a olhando tão avidamente, admirando sua bonita roupa e reluzentes armas. Reparou que foi invejada pelos mendigos novatos por ali, e decidiu avançar em frente, ignorando todos ali. Se alguém ousasse assaltá-la, mataria sem dor nem piedade.

O palácio era perto e a única coisa que não estava decadente naquela cidade. Pois tudo: jardins, praças, prédios, ruas estavam decaindo, com rachaduras e pouca limpeza, pessoas deprimentes por toda a volta, pichações contra Ophelia e alguns demônios, dos menores aqui e ali, se fazendo de soldados, procurando alguma carne boa o bastante.

Ela se espreitou, fugindo dos jakens que faziam a ronda em volta do palácio, e não foi difícil entrar pelos fundos, por onde havia um pequeno corredor que levava à cozinha. Furtivamente, entrou no palácio sem ser vista por nenhum empregado, nem mesmo pelos Glombs, estes tão pequenos e astutos. Precisava achar Lefi, que era seu informante.

Escondeu-se na despensa, tentando raciocinar onde estaria Lefi. Será que Ophelia decidira se vingar dele, por alguma razão medíocre? Alicia dobrou o corredor, e fez Umrae se disfarçar ao lado de uma estatueta, encoberta pela escuridão. Alicia não reparou na presença dela, sua expressão tão preocupada e aflita.
Logo em seguida, passou Lefi. Ele parecia suar de medo, embora seus traços fortes disfarçassem o pânico.
- Lefi! - cochichou Umrae.
Ele quase deu um salto de tanto susto:
- Umrae!
- Tive sorte de encontrá-lo - murmurou Umrae - veja, tem algum lugar mais discreto que isso?
- Tem - Lefi olhou para o outro corredor por onde Alicia entrara, constatou que estava vazio e chamou Umrae. Ambos andaram nas pontas dos pés, alcançando o final do corredor com alguma dificuldade (bem, Umrae caminhou normalmente sem falhar no silêncio), Lefi abriu uma porta.
- Por aqui - disse.
A porta dava para uma saleta pequena e empoeirada, embora um lugar desses no meio de um palácio todo cristalino e encantado fosse surrealmente irreal.
- Sente-se - ofereceu Lefi, apontando para um sofá sujo de poeira, ao que Umrae contorceu a expressão e agradeceu:
- Obrigada, melhor não.
Lefi também não se sentou, e fez logo uma observação:
- Eu soube dos ataques de demônios. Dava para ver por todas as janelas voltadas para as Campinas. A menina morreu mesmo ou foi só alarme falso?
- Morreu - Umrae sussurrou - Yohana, era o nome dela.
- A cantora...?
- Exatamente - Umrae encarou Lefi com aquele ouro nos olhos dela. Ouro tão derretido, tão maleáveis! Mas ainda assim duros, astutos, espertos e cruéis - que desgraça. Não sei muito sobre as plantações, quando fui embora, Raven e Ly ainda estavam avaliando o prejuízo.
- Bom - Lefi colocou as mãos na pequena mesa atrás do sofá - Bel mandou alguma resposta para você? O pássaro voltou, mas sem resposta.
- Mas então a carta ficou com ela?
- Acho que sim.
- Isso é bom, suponho - Umrae cruzou os dados, dando uma boa olhada em Lefi - Kibii? Como ela está?
- Siih está cuidando dela. Alicia também, e claro, escondidas de Ophelia. Ela está se recuperando... - Lefi mordeu o lábio inferior - mas Siih me falou que ela ouviu Ophelia comentar que Kibii estava sendo difícil demais, resistindo demais e que queria transferi-la para outro lugar amanhã.
- Isso vai ser complicado...
Os dois se entreolharam, com aquela exatidão tão bem medida e exata. O dourado dos olhos de Umrae parecia ainda mais dourado sob a fraca iluminação, e a sobriedade da situação fazia com que ela aparentasse frieza.
Mas, Lefi pensou, ela é fria. Cruel, e torturou a todos nós no nosso treinamento, não era?
- Olha - Umrae começou - quero que você dificulte a visão de Campinas. Eu quero pelo menos todo o mar e a praia completamente nublados... como não temos área muito boa para os vermelhos, então suponho que Bel preferirá trazer os azuis e os negros que são mais fáceis de se esconder. Então quero que a praia seja difícil de se visualizar daqui do castelo.
- Como vou fazer isso? - perguntou Lefi exasperado com o pedido - isso é impossível!
- Ora, pergunta para a sua irmã - Umrae sugeriu em tom de desdém - ela não era excelente em manipular tudo o que ela visse pela frente, desde gente a paisagem?
Lefi a fuzilou com o olhar, mas Umrae não se sentiu nem um pouco ameaçada. Então o rapaz resolveu juntar as duas mãos, esfregar uma na outra para aquecê-las e dizer:
- Bem, uma menina se matou por aqui - seu tom de voz era bem baixo e quase confidencial - com veneno. Ela era a Gika, telepata recrutada por Ophelia. Nem tinha começado o trabalho, mas não aguentou a barra e se matou antes que trabalhasse para valer, acho.
- Qual o fim que deram para o corpo? - Umrae perguntou, tentando captar a parte realmente interessante dali.
- Lala mandou que dessem de comer para um demônio convidado a almoçar aqui - a expressão de Umrae não mudou por um segundo. Provavelmente ela esperava por aquilo - Siih está arrasada por ter que assar Gika e todas aquelas coisas... Alicia também a ajudou.
- Uau - Umrae rearrumou a postura e perguntou: - hey, me diga... o que a Lala é, afinal de contas?
- Não sei - Lefi respondeu, quase desanimado - ela veio com Ophelia, a ajuda e tudo o mais. O braço-direito dela.
Todos tem alguma fraqueza, não é, Umrae?
Foi a pergunta de Amai, não foi? O que ela queria dizer...? De fato, todos tinham alguma coisa, algum ponto fraco para se poder atingir. Assim como os três demônios de pedra tinham a burrice e a cabeça mole, Ophelia tinha que ter algo...
Mas ela parecia invencível. Superava todas as técnicas de luta, se regenerava de forma absurda e ainda fazia tudo isso com um semblante. Lala parecia igual, só em uma potência menor. Mas Umrae sabia que Lala não era a super-master-hiper-lutadora profissional, campeã e tudo o mais. Ela sabia lutar e bem. Mas parava aí, nesses termos. Era pau a pau com Bia? Era, mas mesmo assim. Bia poderia derrotá-la. Umrae também poderia. Mas o que fazia da Lala ser tão diferente?

Se lembrou do dia em que penetraram no palácio e Kibii foi feita de refém.
A Lala era sempre aquela de cabelos laranja, as roupas todas pretas e os olhos da cor do mel, quase em um tom dourado. A sua postura com a espada era correta, sempre ereta e seu sorriso quase imperceptível era irônico e desanimador para qualquer oponente... naquele podia ver o rasgo da calça, e sabia que era um ferimento que Bia lhe fizera. Vira a calça, mas pelo buraco aberto através da espada de Bia, não dava para ver sequer uma cicatriz.
Talvez por isso que Bia tenha perdido a luta.
Desequilíbrio ao verificar que a oponente não brincava de lutar, só de ser uma versão pirata de Ophelia.
Espanto, choque, incredulidade, medo.
Tudo porque Lala se recuperou em menos de minutos.

Voltou ao Lefi que aguardava qualquer frase sua, uma resposta.
- Bem, terminei por hoje. Ah sim... - lembrou de Kibii, aprisionada e torturada - você disse que ela será transferida?
- Sim - respondeu Lefi - o que tem?
- Virei amanhã ao raiar do sol - Umrae decidiu - vou trazer mais três pessoas comigo. Ou duas. Quero que a gente possa entrar no palácio e resgatar Kibii sem Ophelia perceber. Afinal, se Siih está alimentando Kibii diariamente, porque até agora não a libertou?
- Medo de que Ophelia jogue a culpa nela. Ela está conseguindo ficar vinte e quatro horas sem ser torturada pessoalmente e não quer perder isso - comentou Lefi, em um tom quase rancoroso.
- Hmpf. Enfim, quero que você nos ajude a isso, entendeu? Vamos entrar no palácio e a sua querida irmãzinha medrosa vai abrir a porta do lugar em que ela está presa, e vamos fazer uma grande encenação para fazer com que nenhum de vocês seja considerado culpado. Que tal?
- Por que só agora decidiu isso? Não podia ter feito isso antes? - Lefi perguntou, intrigado - tipo... no dia?
- Porque assim Ophelia baixou a guarda. Há dois ou três dias, era impossível sem topar com uns jakens. Agora são poucos e burros, e isso significa que Ophelia está baixando a guarda. A mesma coisa se aplica a Kibii. E se no dia a gente podia se virar sem a Kibii, agora não dá mais. Nós precisamos dela, e nós a queremos de qualquer jeito. Ninguém vai aguentar esperar a Bel chegar com os dragões - Umrae parecia quase inflamada, mas logo se recompôs - enfim, nos ajude.
- Sim, capitã.
- Excelente.

Umrae abriu a porta e deslizou pelos corredores com rapidez e leveza, se ocultando nas sombras. Saiu do palácio tão imediatamente, como chegou, seus olhos dourados e astutos se mirando somente nos obstáculos que encontrava, nos muros e nos vigiantes jakens, e nas pessoas tristes por toda a volta, lamentando-se pela sorte, aguardando alguma perspectiva de vida com a Ophelia.
Assim é a humanidade, quando se tem Ophelia como líder...
Chegou à praça destruída dos Sete Anjos.
Melhor nunca deixar ela tocar as Campinas.

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Dez horas da noite.
- VADIA!
Kibii foi lançada de volta à parede, recebendo um soco no estômago.
- QUEM TE ENTREGOU ISSO?
As dez garras de Ophelia lhe rasgaram as batatas das pernas, fazendo jorrar sangue.
- IDIOTA!
Kibii caiu no chão, novamente ensanguentada, seus cabelos desarrumados e seus olhos irados.
Ofegava.

- Vamos, pare com isso, Ophelia - aconselhou Lala que parecia sentir nojo da cena.
Ophelia a olhou, quase como se Lala tivesse feito uma ofensa muito pessoal.
- Ora, alguém entrou aqui e deu uma garrafa de mimatta para essa refugiada! - gritou Ophelia - como vou parar com isso? E ela já bebeu tudo, verifique o conteúdo da garrafa!
- Por isso que ela mal sente a dor - Lala disse, e advertiu em seguir - se continuar assim, matará a Kibii. E aí o pessoal de Campinas vai cair matando pau em cima de você pra valer. Eles são espertos, Ophelia, estão só adormecidos, esperando a oportunidade.
- Não parecem ser tão espertos assim - Ophelia resmungou, observando a Kibii deitada no chão, sem se mover, somente a expressão se contorcendo de dor.
- Não queira arriscar - foi tudo o que a Lala disse.
Ophelia preferiu deixar o que queria realmente para o dia seguinte. Estaria mais recomposta, menos irada e mais criativa para fazer várias coisas.

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Era quase meia noite e ninguém fora dormir.
Todos estavam acordados, tentando jogar algum jogo na sala ou ficando na mesa de jantar, tentando se distrair com alguma coisa. Mas o corpo de Yohana, na enfermaria, lembrava que não tinha como se distrair.
Umrae jogou um ás no meio do jogo, e se levantou. Não queria mais jogar.
Não queria mais todo aquele fingimento, como se estivesse tudo bem.

- Precisamos enterrar Yohana - murmurou Nath - eu irei.
- Só? Vai ser pesado demais - lembrou Amai - eu vou te ajudar.
As duas se olharam com aquela mútua expressão de consolamento.
Aos poucos, Thá, Rafitcha e Kitsune iriam também. Umrae arranjou uma pá para cada uma, e tanto ela quanto Fer, Doceh e Ly ajudaram a levar Yohana do abrigo para lá em cima, onde havia terra de verdade.
- Ainda aceitam ajuda? - era a Bia, em pé, vestida do jeito que normalmente se vestia: toda de preto.
Nath sorriu.
- Claro.

Foram seis garotas e mulheres para enterrar a ex-cantora pop das fadas.
Cavaram sete palmos de profundidade, dedicando-se a isso como se fizesse um altar para algum deus. Esconderam as lágrimas, enterrando os rancores pelos demônios. A raiva parecia querer desabrochar a todo momento, mas como iam poder ter raiva em um momento em que mal se enxergava a terra que se cavava?

Encontravam-se em um ponto isolado, próximo à floresta, mas não tinham medo. Os prejuízos foram bem avaliados, e souberam que teriam que sobreviver a partir de batatas a partir dali: somente a plantação de batatas não tem um só pingo de prejuízo. Todas as outras apresentavam algum grau de destruição, e algumas só poderiam se recuperar no próximo ano como a plantação tão bem feita de ervas para tempero, como salsa e coentro. Raveneh havia ficado arrasado porque todos aqueles pratos que ela queria preparar foram por água abaixo: o único tempero possível era o sal e alguns restos de manjericão que sobreviveram aos ataques.

Depois de toda a terra cavada, Bia carregou Yohana com a ajuda de Kitsune e Nath.
A desceram com cordas, procurando não quebrar nenhum osso. Era uma idéia idiota, considerando que Yohana não sentia dor, já que era um cádaver. Mas essa era outra preocupação, assim como a questão de se enterrar. Como se sabe, não se tem um cemitério nas Campinas, pois todo morto é queimado e vira cinzas. E enterrar um frasco com cinzas é algo meio ridículo, de modo que ninguém faz isso.
Mas tinham que enterrar Yohana. Não queriam queimá-la, não queriam que ela virasse cinzas e assim como as cinzas, se apagasse com o mero vento. Era uma idéia idiota, pois todos sabiam que ninguém iria esquecer da Yohana como se esquece do pão deixado sobre a mesa.
Mesmo assim.
Elas queriam enterrá-las com as próprias mãos, elas queriam sentir nas mãos o sofrimento de enterrarem uma amiga.
A sensação de cavar para uma amiga.
Uma espécie de sacrifício que elas tinham necessidade de fazer, como se fosse algo pessoal.

Ao colocarem a terra em cima, Amai e Rafitcha fizeram uma cruz de madeira. Foi bem simples, com dois galhos entrecruzados em forma de cruz.
Amai nunca compreendeu a cruz. Era simplesmente o maior símbolo de tortura que existia, simplesmente algo horrível para se pôr em um túmulo. Mas todos acharam a escolha perfeita: acaso os mortos de Ophelia não eram como a cruz? Ophelia não era o símbolo da tortura e da maldade para as Campinas? Assim como a cruz significava sofrimento e a Ophelia significava tortura, e assim como Yohana foi uma das vítimas de Ophelia, morta de forma cruel e brutal, então a cruz seria uma forma de ninguém nunca esquecer o quanto a megalomania podia fazer.

A Ophelia era o Hitler, o Stálin e o Mao-Tsé Hung das Campinas.

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Bel entrou na sala, com seu vestido longo de mangas longas, azul-marinho com vários bordados delineando ramos de rosas.
- Belo vestido - cumprimentou Zidaly com a sua vestimenta habitual. Assim como Crazy, ela não era responsável pelos dragões, mas vivia naquela base com toda a sua pose de Comandante. Sim, assim que o Crazy foi promovido a posição de General, ela foi alçada ao posto de Comandante, e assim ficando atrás somente de Crazy. Ele odiava isso.
Ele a odiava.
- Obrigada - Bel murmurou - o que faz aqui?
- Dar palpites em seu fabuloso plano de mandar dragões às Campinas - Zidaly respondeu sem nenhum desembaraço - é interessante mandar suas soldadas e não mandar uma Comandante.
- Ora, está bem - Bel parecia incomodada com a intrusa, enquanto saía do seu biombo e colocava as luvas negras - está querendo dizer que quer saber porque não foi junto com Crazy?
No ponto exato, Bel.
Como a flecha que acerta o ponto certeiro no alvo.
Zidaly deu um sorriso torto, ajustando suas luvas de militar:
- Não seja tola, Bel - sorriu levemente - sabemos que você necessita muito da permissão do rei para esse plano tolo ir em frente.
- Plano tolo, Zidaly? - Bel parecia ficar surpreendida, embora em seu íntimo soubesse que Zidaly pudesse ganhar caso usasse o "rei" - nós iremos usar de dragões e derrotar Ophelia. Isso não é tolo. É a atitude certa.
Uau!...
- Claro que seria mais prudente deixar Ophelia em paz. As lendas não dizem que ela é superior a qualquer criatura na terra? - Zidaly apontou meia dúzia de livros em cima da escrivaninha. Sem exceção, todos carregavam em sua lombada títulos como "Os mais poderosos do Reino Mágico" ou "Ophelia - Depoimentos, Relatos, Dados sobre a Criança Mais Perigosa do Mundo".
Bel parecia irritada pela simples presença de Zidaly.
- Bem, não vou ficar dando palpites sobre quem você deveria colocar em sua lista - Zidaly se levantou, muito cuidadosa - mas acho melhor tomar cuidado com quem tira.
Bel nada disse. Somente aguardou que ela se levantasse e saísse da sala. Parecia preocupada com a hipótese de Zidaly recorrer ao rei para ir na missão de Campinas, mas voltou a sua atenção para a conversa que tivera mais cedo com a Gerogie

Tudo quente demais, ela resolvera usar uma máscara de proteção também.
- Olá, Bel - cumprimentou um dos seres, um dos dragões verdadeiros, enorme e vermelho, de expressão maléfica e presas brancas e polidas.
- Olá, Viac - Bel cumprimentou de volta, fazendo uma breve reverência.
O dragão olhou para ela com certa benevolência. Parecia um ancião, se assim tivesse esse tratamento entre os seres da mesma estirpe.
- Procuro Gerogie - disse Bel com austeridade, mas também com uma certa reverência.
Viac moveu sua cabeça para além de Bel, o que fez ela se virar. Parecia uma caverna subterrânea, e no meio um lago quente, de lava. Por toda a volta, a rocha subia para os céus, por onde subia toda a fumaça espumante e perigosa. Vários dragões em volta dali, nadando tranquilamente no lago de lava, dragões tão grandes e zombeteiros, de presas enormes e assassinas, e semblantes calmos como se tudo fosse perfeito e calmo. Era o refúgio dos verdadeiros dragões, cansados de tanta falsidade que se escondia nas Cavernas e entre eles.
- Gerogie - chamou Bel. Desmontara do cavalo assim que avistara a entrada.
Aqueles dragões odiavam cavalos em particular, e a presença de qualquer animal que fosse cavalo, égua, zebra, burro, jumento ou algo semelhante era expressamente proibida. E Bel nunca fez questão de mudar uma regra imposta pelos dragões.

Tão grande. De um vermelho quase rosado. Tão sutil e bonita, de olhos tão azuis e sorridentes.
- Hello, Bel - cumprimentou.
Ela sorriu. Tão benévola, que a adorava tanto!
De todos, Gerogie era simplesmente o dragão que Bel mais gostava.



Mil, mil, mil desculpas pela demora absurda! É que tive um problema muito chato de conexão que durou quase umas duas semanas, ou seja, fiquei impossibilitada de postar qualquer coisa. Sorry. Mas uma coisa boa: sem internet, a história foi minha única ocupação no pc (tirando manipular fotos pelo Corel Photo-Paint), então devo dizer que escrevi muito em pouco tempo. E tentarei tirar o atraso, okay? Muiiiito obrigada por me aguentarem, aguentarem a minha lerdeza e aguentarem a minha conexão mimada, rs. E um Feliz Natal/Feliz Ano Novo beem atrasado pra vocês. /o/