- Bom dia, Vossa Majestade! - exclamou uma menina pequena, olhos amáveis.
- Bom dia, Alicia - murmurou Siih sonolenta - que horas são?
- Oito horas da manhã, Majestade - respondeu Alicia prontamente. Era uma garota loira, vivaz, com olhos doces e ao mesmo tempo, inteligentes. Alicia, juntamente com uma tola garota chamada Libby eram as fadas enviadas para trabalharem com a Rainha durante sete meses e assim aprenderem a trabalhar no alto escalão.
Alicia e Libby se odiavam, mas não deixava transparecer isso, o que fazia Siih achá-las muito sábias e inteligentes. Alicia sorriu:
- Vossa Majestade, o seu café já está sendo preparado. Gostaria de tomá-lo na cama ou na mesa?
- Quê? - Siih se levantou, esfregando os olhos - não, na mesa, claro. Por favor, diga a Libby para ela servir quiche hoje, sim? E que não passe a geléia, por favor.
- Sim, Vossa Majestade - Alicia assentiu com frieza - se me dá licença. - saiu do quarto imperiosamente.
Siih suspirou. Cada vez mais as fadas enviadas eram mais poderosas, mais exigentes e mais... rivais. Isso estava ficando difícil, pois as fadas enviadas para trabalharem com ela costumavam-se odiar. A última dupla amiga que se lembrava era Gika B. e Veronica G.
Depois veio uma tal de Limi Lhi, uma loira oxigenada e a enjoada da Miry Poo. Ambas eram extremamente poderosas e arrogantes.
E agora era Alicia e Libby. As duas eram competentes no que faziam, mas a inimizade entre duas era de tal forma que Siih sentia vontade de meter um tabefe nas duas para elas aprenderem a não ter essas rixas infantis, na opinião da Rainha.
Siih se vestiu sozinha, como sempre fizera desde que reinava como Rainha e não mais como uma princesa. Um belo vestido azul-claro, da cor dos céus em um dia claro, seria suficiente. Colocou um manto da cor da noite, com estrelas bordadas, como se ela carregasse o céu consigo.
- Alicia! - chamou.
Alicia veio prontamente, com os cabelos loiros amarrados em uma bonita trança com fitas azuis.
- Arrume meus cabelos, por favor - disse Siih sentando-se em uma cadeira - sabe o que fazer.
- Sim, Majestade - Alicia sorriu.
Enquanto Alicia penteava seus longos cabelos negros, Siih pensava nas obrigações do dia.
- Leeb - chamou.
Um ser pequeno, de orelhas pontudas, veio apressadamente. Era narigudo, olhos pequenos e negros, sorriso maléfico.
- Vá pegar a minha agenda com Libby - ordenou.
O ser saiu. Era do tamanho de uma criança, com os braços e pernas cobertos por um veludo estranho, vermelho e verde.
Logo voltou trazendo um rolo de papel. Sorriu maldosamente, mostrando seus dentes afiados, amarelos e sujos.
- Vá embora - Siih fez uma cara de nojo. Não era a toa. Leeb fedia.
Leeb era um Glomb. Glombs são pequenos seres que existem nas florestas tropicais, no sul. Eles viviam basicamente de bananas e água, já que não comem carne. Por temerem ser mortos por predadores, passaram a viver em árvores, bem ocultos. Porém um dia, por uma fatal tragédia no norte, há muitos e muitos anos, seres que viviam por lá foram obrigados a imigrar para o sul. Alguns seres como mamutes não resistiram e morreram. Mas outros, principalmente aves enormes com dentes sempre sujos de sangue e a melhor visão que já se ouviu falar, se adaptaram muito bem. Essas aves foram a tragédia dos Glombs.
Essas aves eram enfeitiçadas por um grupo de magos muito poderoso, que acabou morrendo depois de mais umas magias. Eram corvos comuns, mas a partir do momento em que sofreram a maldição, passaram a pensar e ter estratégias para acabar com os outros.
Rodando por aí, perceberam que os Glombs tinham a carne deliciosa, bem rechonchuda e vermelha. Mas eles haviam se prevenido e passaram a se mesclar mais ainda, e assim passarem despercebidos pelas aves. Então as aves comeram todas as bananas que haviam.
E quebraram os sofisticados canos que levavam a água do rio até a pequena fonte lá em cima, entre os galhos.
Assim os Glombs ficavam com fome e sede, e desesperados, saiam sem proteção para achar um alimento. De mais de sete milhões de Glombs que tinha antes da tragédia no norte, somente um milhão restou da fúria assassina das aves.
Até chegarem as fadas.
Mais especificamente fadas das trevas.
Algumas fadas chegaram ao sul, não se sabe o motivo. Talvez tenham sido perseguidas, talvez perderam as suas casas, talvez estavam em guerra naquela época. Não sei, eu somente narro essa história, não me responsabilizo pelos eventos acontecidos aqui.
Enfim, continuando a história, as fadas chegaram e viam aquele extermínio de Glombs que até então eram seres fofos, agradáveis e totalmente dignos de serem animais de estimação muito obedientes. As fadas das trevas se penalizaram com aquela situação, e então, jogaram encantos sobre a floresta.
As aves que estavam no meio da floresta viraram pedra, as outras que voavam fugiram rapidamente, as copas das árvores cresceram e se fecharam, tornando a floresta muito mais sinistra e os Glombs receberam dentes afiados e os olhares maléficos, e se tornaram sedentos de sangue, para se defender dos predadores.
Mas as fadas não faziam nada de graça. Os Glombs queriam agradecer, mas não tinham como. As fadas sorriram, e disse que bastavam seguir as setas e eles teriam como agradecer por terem acabado com as aves. Os Glombs podiam ter cara de mau, mas ainda eram ingênuos e inocentes, de modo que acreditaram. O episódio foi conhecido como O Grande Exôdo dos Glombs, pois foi um milhão que migrou pelas setas que eram criadas pelas fadas. No final chegaram a um reino chamado Livving, uma colônia das fadas.
A Rainha de Livving, morena e com olhos maldosos, então disse que como gratidão, eles deviam servir as fadas durante toda a eternidade.
E desde então, os Glombs servem as fadas de todo reino. Atualmente eles são mais de dez milhões, e essa história já existe há mais de quinhentos anos.
Por isso Glombs são arteiros, maldosos e odeiam as fadas. Tudo por causa de uma promessa falsa que terminou em escravidão.
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- Johnny - disse Raveneh - você vai pra onde?
Johnny sorriu, e beijou a face de Raveneh carinhosamente. Disse em quase um sussurro:
- Comprar mais coisas para o nosso bebê *-*
Raveneh sorriu. Abraçou Johnny, fechando os olhos.
- Seis meses, não é? - murmurou.
- Seis meses - Johnny sorria - falta pouco. Está com medo?
- De Jorge. - respondeu Raveneh - estou com medo dele. Da minha... família.
Johnny desfez o sorriso.
- Não vai acontecer nada a você, querida. Nada de mal - disse por fim.
Raveneh não sorriu, não respondeu. Somente controlou o choro.
- Eu não vou deixar - Johnny sorriu, não deixando Raveneh perceber que seu olhar era triste.
Ficou em silêncio.
- Mas... vai ser tão ruim pro bebê - murmurou Raveneh por fim - tão ruim pra ele descobrir que a mãe foi uma...
- Assassina? - completou Johnny.
Não era mais a loucura de ter outra pessoa dentro de si que a atormentava. Era o remorso de ter matado a própria mãe, mesmo que não tivesse consciência disso na hora. O remorso, a culpa, a sensação de que podia estar tudo de outro jeito.
Johnny fez Raveneh se deitar na cama, olhando nos seus olhos:
- Raveneh, isso já passou - disse Johnny - já foi, foi há anos!
Raveneh não respondeu, somente olhava para baixo, tentando evitar os olhos do marido.
- E depois não era você que estava lá, era Catherine - afirmou Johnny.
Raveneh recuou ainda mais, olhando agora pro chão. Seus olhos estavam se tornando molhados.
- Catherine foi criada por mim - murmurou Raveneh quase aos prantos.
- Mas ela não foi criada porque você quis, em um passe de mágica - disse Johnny - ela foi criada para suportar a sua infância. Se não existisse a Catherine, como você seria tão doce assim?
Raveneh sorriu timidamente. Sempre ouvia da psicológa, Gika, que se Catherine não tivesse sido criada, provavelmente ou se mataria, ou mataria a família TODA ou então se tornaria uma menina extremamente amarga e psicopata.
- Sei que é egoísmo, mas... - Johnny sorriu timidamente - se você não tivesse a segunda personalidade, não tivesse matado a sua mãe e fugindo, você nunca seria tão doce e eu nunca teria te conhecido. Não é?
Raveneh sorriu. É. Talvez.
Talvez faria tudo de novo só pra ter Johnny ao seu lado. Só pra viver nas Campinas. Talvez faria tudo de novo.
Talvez tinha que deixar a culpa de lado. Enfrentar o que fez com dignidade quando for julgada.
E se permitir ser feliz.
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