sábado, 23 de fevereiro de 2008

Parte 01 - Sorrisos Doces.

Raveneh estava se sentindo meio estranha. Aliás, não havia um único dia que não se sentisse estranha desde que passara a viver com Johnny, desde que engravidara.
Antes era apenas uma adolescente com uma vida pela metade.
Agora, apesar dos seus quase dezenove anos, ainda se sentia uma adolescente, mas já era mulher: casada e grávida.

Raveneh suspirou. Seu bebê completara seis meses desde que surgiu dentro do seu ventre. Ela sorriu. Seria menino ou menina? Como seria seu rosto, seu olhar, seu sorriso? A quem puxaria? Teria uma personalidade calma e passiva, porém com tendências a problemas psicológicos como Raveneh ou seria alguém impaciente como Johnny?
Será que teria os seus olhos azuis? Ou será que herdaria os negros e profundos olhos castanhos de Johnny?
Tantas dúvidas!, que só seriam respondidas dali a poucos³ meses!

E quem disse que isso seria fácil?

Raveneh se levantou, levando a barriga já pronunciada consigo. Fazia quatro meses, talvez, desde que seu meio-irmão Jorge apareceu ali e disse que estavam investigando a morte da mãe. Até investigarem isso, demorou dois anos. Quanto tempo será que demoraria para ela ser intimada como ré?
Um mês? Seis meses? Um ano? Dois?
Com a justiça lenta que era naquele país, bem sabia que podia demorar anos a fio até o veredicto sair. Anos e anos.

Mas ela era uma fada, e fadas vivem muito mais que humanos. Quando para humanos normais, 50 anos é praticamente metade da vida, para ela 50 anos era juventude. E podia envelhecer o quanto fosse, mas nunca a sua face nunca se modificaria por causa da idade. Fadas costumam morrer quando tinham 150 anos ou mais.
E mortais que viviam nas Campinas eram enfeitiçados só pela mágica que existia ali, e viviam tanto quando as fadas, o que fazia Raveneh se sentir feliz. Assim não veria seu querido Johnny definhar até a morte. Sorriu. O céu estava lindo, todo azul. A terra estava verde, as flores deslumbrantes, as pessoas felizes.
Porque se sentir infeliz? Preocupada? Por quê? A vida parecia tão radiante, ela estava feliz com o amor e o baby. Fazia dois anos desde que Renegada, sua grande
amiga, morrera em um trágico suicídio, matando também seu antigo amante, Rei de Heppaceneoh, deixando assim uma pobre criança órfã.

Arthur estava estudando entre as fadas, já com doze anos de idade. Ele ainda necessitava de apoio psiquiatrico, pois não conseguia superar aquela história.

Vivera recluso durante dez anos em um castelo, nunca tinha visto uma árvore ao vivo, não sabia de nada. E de repente, fora resgatado por uma garota maluca, atravessara uma floresta cheia de nortistas com a garota maluca e um cara também maluco e aí chegou em um lugar cheio de gente maluca.
E quando as coisas estavam melhorando, seu pai morre e uma maluca que era a sua mãe também morre.
Claro, ele pirou. Mas hoje estava melhor, e estava constantemente treinado para ser um servo da Rainha. Afinal, desde quando as fadas iam devolver o reino?

Reino tomado, já era. Ninguém mandou o Rei Calvin Mo bobear ù.u

Raveneh sorriu ao observar Kibii mirando cuidadosamente em uma galinha e acertando o seu corpo com destreza, sem derramar uma gota de sangue. Fer treinava mira com punhais, entre as árvores. Agora já tinha dezesseis anos, e parecia uma mulher. Antes usava calças e camiseta, e vivia descalça. Agora que amadurecera em dois anos, vestia uma simples camiseta branca, saia de tecido "mole" e botas até os joelhos, que diminuira bastante em machucados nos pés.

Umrae e Tatiih trabalhavam na tecelagem de roupas, Ly confeccionava armas perto dali, Doceh produzia deliciosos doces. Todos trabalhavam duro para garantir o sustento das Campinas, afinal precisava sempre de comida e roupas.
- Raveneh! - exclamou Umrae sorrindo - como está o bebê?
- Está bem - respondeu Raveneh também sorrindo suavemente - muito bem.
- Onde está Johnny? - indagou Tatiih enquanto terminava de tecer um cobertor marrom.
- Foi com Rafitcha até Heppaceneoh - suspirou Raveneh - comprar algumas coisas para as Campinas.
- Nós quase não precisamos de coisas - murmurou Umrae - produzimos quase tudo... beleza de verão ultimamente, não é?
- Sim! - exclamou Raveneh - pena que logo, logo vai acabar e se iniciará o outono.
Passou a mão na barriga carinhosamente. Seu bebê nasceria quando as folhas ficarem amarelas e cairem, as árvores ficarem cada vez mais secas, as flores começarem a ter tons como amarelo, laranja e marrom, e as Campinas mergulhariam em um clima de pôr-do-sol desde de manhã até o cair do sol. Raveneh gostava do outono, era a sua estação predileta. Era logo antes do inverno, quando a neve caia levemente e tudo ficava branco. E era depois do verão, onde o melhor era nadar e correr entre as árvores. Mas os rios lhe traziam lembranças tristes como a vez que a sua própria mãe tentava lhe afogar e a neve lhe lembrava
das diversas vezes que quase morria de frio, pois seus meio-irmãos a esqueciam fora de casa. Mas outono era a única estação em que a sua mãe gostava também, servia bolachas para todos, inclusive Raveneh, era a estação que seu pai ficava com ela e mais sorria e também era a estação que a sua irmã Catherine passava os dias na casa de uma tia distante.
Era o único período da sua vida, enquanto criança, que se permitia ser feliz.

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- E então, como ficou a questão da Madame Thecompoth? - indagou Siih mexendo apressadamente nos papéis, apressada.
- Ela foi considerada inocente. O júri a absorveu por unanimidade - respondeu Lefi.
- Madame Thecompoth inocente? Mas... - Siih ficou intrigada. Aquela carga de poderes fora embora, mas deixara algum vestígio. E Siih era bem³ mais poderosa que qualquer outra fada do tipo dela, sem contar que sabia administrar seus poderes muito bem - investigue sobre isso. E a questão das quinze crianças do Instituto Buhamyh?
- A direção teve que pagar indenização de 900kk(N.A.: o dinheiro usado se chama galleom e seu símbolo é gm'. 1.000gm' equivale a 1k, 1.000.000gm' equivale a 1kk, e por aí vai.) - respondeu Lefi.
- Ótimo - disse Siih. Hesitou, e continuou - as verbas desse mês já estão resolvidas?
- Tudo resolvido, Siih - respondeu Lefi prontamente - todas as verbas deste mês já foram enviadas.
- E os Encantos estão sendo renovados? - Siih indagou mais uma vez.
Lefi suspirou. Remexeu em papéis, enquanto respondia distraidamente:
- Sim, o Encanto das Campinas será renovado semana que vem. O Encanto de Heppaceneoh foi renovado há quatro dias. O Encanto de Lucky será daqui a um mês, o Encanto de... - bocejou.
Siih sorriu. Era meia-noite, e Lefi passara o dia inteiro resolvendo alguns problemas.
- Lefi, meu querido irmão - murmurou Siih se levantando - vá dormir. Me entregue os relatórios, deixe que eu leio. Vá descansar.
- Não, preciso respond--
- Não se preocupe. É uma ordem real - Siih apontou para a porta - vá descansar, irmão.
Lefi sorriu, e se curvando pomposamente:
- Boa noite, Vossa Majestade.
- Boa noite, irmão.
Lefi saiu do quarto meio bambo, morto de sonho. Siih sorriu, observando os relatórios em cima da mesa. A mesa feita da mais fina madeira, a poltrona recheada do mais fino veludo dos elfos e bordadas por suas esposas, as fadas.
Aliás, todo o escritório era fino, de bom gosto. A janela enorme, com cortinas brancas de seda, cuja vista é excepcional: toda a capital do Reino das Fadas, com
todas as casas, lojas, edifícios, ruas, parques, bosques. E o céu, sempre azul repleto de nuvens brancas feito algodão.
A mesa ficava ao lado da janela, distante. Em frente a mesa, duas cadeiras simples. E atrás, uma estante repleta de livros. Tapetes persas. Um quadro da sua honrada mãe, já morta.
Siih sentou-se a mesa, e começou a ler os relatórios. Ela era organizada, e sempre separava os relatórios pelas seguintes categorias: "verbas"; "justiça"; "encantos" e
outros. Mas esses eram os mais importantes: "verbas" se referiam a aqueles que detalhavam sobre as verbas enviadas para cada lugar. Também detalhava o arrecadamento de imposto, e Siih sabia que se notasse alguma diferença estranha, era sinal de desfalque. "Justiça" era a categoria para aqueles relatórios que falam sobre julgamentos de criminosos e seus destinos. Tudo sobre crimes, sentenças, cumprimento de penas, fugas efetuadas por presos e capturas também estava ali. E "encantos" era para aqueles que falava sobre os Encantos lançados por cada lugar protegido por Fadas, que normalmente nunca são eternos. Havia outras pequenas categorias, mas esses três eram os mais importantes.

Relatório Nº 158315961 conjunto C
Título: Renovação de Encanto de Heppaceneoh {dia 15 (quinze) de julho de 1205 (mil duzento e cinco), sexta-feira}

Encantadoras (o):

Kiptora Kumblixe {17 (dezessete) anos, poder classe B}
Bia Premy {16 (dezesseis) anos, poder classe B}
Lucy Meriïh {17 (dezessete) anos, poder classe B}
Mary Poomble {28 (vinte e oito) anos, poder classe A}

Descrição redigida por:
Lamy Fomble {51 (cinquenta e um) anos, poder classe A-+}

Descrição:
Dia 15 (quinze) de julho. Três horas da tarde. O céu estava claro, limpo, sem nuvens. Estação: verão.
As quatro encantadoras se reuniram nas nuvens logo acima de Heppaceneoh, que estava tranquilo. As quatro fadas deram a mão.
Estavam sérias, compenetradas.
Em pé, murmuraram as palavras em tom baixo, concentrando-se.
As nuvens ficaram roxas e logo choveu sobre Heppaceneoh.

Soltaram as mãos. Ficaram quatro horas em diferentes posições sobre si, murmurando encantos. A chuva prosseguia forte, fazendo Heppaceneoh ficar vazia.
Quando acabaram, eram sete e meia. Noite.
A chuva parou. Elas foram embora, sem se cumprimentarem ou sorrirem.

FIM-DO-RELATÓRIO.


Siih suspirou. Reparou que as Encantadoras eram frias, não sorriam. Era sempre assim.
Olhou os nomes. Ultimamente as Encantadoras enviadas eram cada vez mais poderosas, quase sempre classe B ou A. Como podia uma adolescente de 16, 17 anos ser classe B?
Entre as fadas em geral, havia as seguintes classes de poder: E, D, C, B, A, A-, A+, A-+ e A++. A classe E era a mais fraca, e a de classe A++ a mais poderosa. Siih era muito jovem, de vinte e poucos. E era classe A++, já que era herdeira de uma longa linhagem extremamente poderosa e era uma ex-Fada Alta, cujos vestígios continuavam em seu pequeno corpo.
Antes, anos atrás, fadas de dezessete anos e comuns eram no máximo classe C. Se alguma chegasse a B, era motivo de surpresa. Hoje? Fadas de dezesseis anos podem chegar a B tranquilamente. Siih não sabia se era porque as fadas tinham se tornado mais poderosas ou se os critérios de avaliação desceram de nível.

Olhou os outros relatórios. Reparou que Bia Premy e Lucy Meriïh iriam Encantar as Campinas juntas dali a uma semana. Reparou também que os salários delas eram bem polpudos, por volta de 450k a cada Encanto.
Aparentemente era a elite das Encantadoras.

Siih arrumou os relatórios com um estalo rápido e foi dormir.

Um comentário:

Unknown disse...

*_*

Eis que as campinas reorganizam sua resistência...

*empolgada*