sábado, 27 de junho de 2009

Parte 87 - Há uma chance.

Mergulhe.
Mais fundo.
Muito, muito mais fundo.
Não consegue contar as árvores que enxerga, todas elas são um borrão.
Se cai uma chuva, mal se sente, é um borrão sincero e apressado.
Cai, cai mais.
Se afunda nas próprias lágrimas, deduções e desespero. Não adianta mais, meu bem, se perde tanta gente. Pois é o fim de uma era, vamos. É o fim e Catherine não queria admitir isso. Sente. Sente mais fundo, sente mais fundo, no íntimo a lâmina de Ophelia, sente a vida se esvaziar. Não dá, não agora.
Catherine caiu no mar.
Quantos minutos para isso? Para romper o ar, as árvores, a areia e as leis de física? Não, assassinamos Newton e Galileu aqui para essa história aqui existir, e com eles mortos, Catherine pode viver. Magia é como fé: incontestável, absurda, onisciente. E Catherine era a própria encarnação da magia que nasceu a um acidente que provoca graves consequências. Como podia alguém nascer com tanto poder?
Ela queria parar de sentir a magia lhe queimando a pele.

A água estava fria.
Seus cabelos se encharcaram de algas marinhas.
Seus pés roçaram em peixes.
E ela sentiu que estava em casa. Lar doce lar, lar doce lar.
Cada átomo pulsante de seu corpo queria sair da prisão, se espalhar entre as águas livremente, sem lenço nem documento. Não precisava respirar, não sentia seu nariz buscando ar. Não precisava de ar, não tanto como as outras pessoas. Mas moveu a cabeça para a superfície, encarou o céu todo azul e pacífico. Indiferente, imparcial. Maldito, sempre maldito.
- Ora - disse e se afundou.
Não iria morrer, mas teria que se desfazer completamente se quisesse viver. Se é que queria viver... estava com tantas dúvidas. Fechou os olhos, concentrando-se em algo irreal. Sentia o calor do sol atravessando as águas, os peixes a lhe roçarem a pele, os cabelos se ondularem ao redor, a própria tez mudar levemente.
Afundou-se na própria pele.

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Um segundo.
Um momento.
Um par de olhos dourados.
O sol estava quente e óbvio, os dragões se guiavam pelo ar com toda a majestade incrível, todos com as gargantas atravessadas de medo e ansiedade, excitação e fascínio. Bia desceu rapidamente, armada somente de sua espada, lançada em meio ao covil de demônios se rasgando pela comida. Ninguém precisou se preocupar com ela: desenferrujara rapidinho, e sua espada rasgava aos montes.
Raven e Johnny estava meio apavorados, mas se contiveram para trabalhar direito: armados com as armas que melhor sabiam usar, perfuravam com dardos e flechas todo tipo de demônio, poucas vezes errando o alvo - fora muito útil o treinamento pesado que Umrae fizera com todos antes, quando surgiu o primeiro demônio.
Céus, ardia.
Umrae vigiava os movimentos, sempre pronta a agir. Já ferira mais de dez criaturas bestiais, seu espírito se agitando com a esperança da vitória. Deixou-se guiar pelo dragão até alcançar a torre alta do castelo, de onde veria toda a cidade.
- Vamos lá - Bel disse com um sutil sorriso. Sorriso de guerreira que mistura medo e excitação.
Umrae foi deixada na torre mais alta, já pronta para mirar sem hesitar: dependesse dela, não restaria alma viva demoníaca sob a terra depois daquele dia. Mas sabia que não haveria como exterminar tantos de uma vez, concentrou-se em dar seu máximo.
Fer estava no meio dos covis, como Bia, mas tomava mais cuidado: não era uma exterminadora de demônios como Bia, de modo que a sua competência não se mostrava tão elevada tratando-se de seres diferentes.
Concentrava-se em um demônio particularmente chato com olhos fora das órbitas e o corpo cheio de espinhos [e espinhos lhe davam horror depois do incidente de Yohana - meldelz, já estava chamando a morte de Yohana de incidente!], seus punhais ferindo o corpo. merda
sangue escorrendo pelo braço direito: um dos espinhos lhe perfurara o braço logo acima do cotovelo.
merda.
devia ter alguém, esquecemos de nath.
não, Nath tinha que ficar cuidando de Kibii - não podia dispensar a atenção nem por cinco minutos. Até poderia, se Kibii não fosse tão rebelde e ficasse sempre de repouso, mas devido à rebeldia da garota, Nath tinha que ficar controlando.
Porra, Fer, houve treinamento e você deveria saber o que fazer - nem é grande coisa, só um furo.
- Vamos, Fer, acabe com essa desgraça e vá cuidar de si - Fer disse e rasgou o pescoço do demônio com o punhal. Usando a mão direita, afinal era destra. Com a esquerda, se garantiu perfurando todo o corpo.
Escutou o tombar e escorrer do sangue, conseguiu se retirar da luta.
- Que aconteceu? - era a pergunta desesperada de Ratta meio que assustada com o sangue. Não que fosse garota de assustar, mas sangue é uma dessas coisas universais: ninguém fica indiferente ao sangue.
- A merda do bicho - Fer respondeu - me dá ataduras.
Ratta ajudou Fer a montar no dragão e o guiou de uma forma calma para que Fer pudesse cuidar do próprio ferimento sem ficar tombando pros lados: passou uma espécie de unguento no ferimento, depois envolveu uma atadura.
O sol ardia, meldelz.

- Que monstra é essa? - indagou Polly, mais para si mesma, observando Bia.
- Uma monstra amiga, digamos assim - riu Fer timidamente, ouvindo a pergunta de Polly - não me pergunte como, mas creio que Polly e Ratta estavam guiando seus dragões lado a lado.
Por quê?
Parecia que estavam indo bem. Não encontravam um único sobrevivente, mas a idéia era ridícula.

- Quem chegar vivo ao final da missão, pago uma cerveja - gritou Bel aos risos.
- Você é louca! - gritou Ratta.
- Com certeza! - devolveu Bel.
O sol subiu mais alguns graus, ficando quase a pino.


Raveneh deu de comer aos que ficaram no abrigo.
Kitsune lhe ajudou também, Tatiih e Thá idem.
- Esse abrigo está uma imundície - reclamou Kitsune - temos que dar uma boa limpada.
- Pode começar então - alfinetou Rafitcha com a sua habitual jorrada de frieza e sarcasmo. Ela esfregou a mesa, arrumando os pratos e ainda por cima cuidando de Maytsuri que dormia - Raveneh lhe pedira esse favor já que tinha que cozinhar.
- Você tá que tá hoje, hein - Kitsune disse aos risos - Amai!
A garota veio arrastando os pés no primeiro chamado, carregando um livro na mão. Parecia estar cansada e enfastiada.
- Hoje você vem trabalhar - Kitsune mandou - guarde esse livro, e me ajude a limpar esse abrigo depois do almoço. Entendeu?
- Hai.
- Ótimo.
A mesa estava toda servida.
Estava ausente muitas pessoas.
Aquele vazio.
- Coma tudo, Gabriel - disse Maria com relutância.
Havia pouca comida no prato de Gabriel. Ainda era muita coisa comparado com os pratos das pessoas mais adultas como Maria e Kitsune. Todos suspiraram, alguns rezaram timidamente, todos comeram. Remexer nos talheres, ruído de metal contra vidro, suspirar contido, nenhuma reclamação vazando para a realidade. Raveneh acariciou o rosto de sua filha que dormia tranquilamente como se o mundo todo só existisse para atender aos seus caprichos. Rafitcha foi a mais fria: tinha uma enorme força de vontade para não tombar com o medo de perder o irmão.
- Raven vai voltar vivo, não vai?
A pergunta sempre muda, sempre insistente.
Sempre uma dor de cabeça.
- Claro - respondeu Kitsune depois de muito hesitar.
A resposta ainda era trêmula, mas Rafitcha confirmou:
- Claro que vai. Eles estão se protegendo e Raven quer continuar sendo o irmão que nunca teve.
Amai sorriu. Era jovem demais para entender que promessas se esvaem quando encontram a morte.
Estava calor.


Já foi salva?
Não importa de quê, já foi salvo por alguém?
Ficar a um passo da morte, quase que caindo no abismo, e de repente ser puxado de volta e sentir que a vida voltou a fazer sentido. Sentir um demônio quase lhe rasgando a face por um momento de desatenção, piscar os olhos assustada.
- Não estava prestando atenção naquele monstro? - gritou Polly irritada.
Não que estivesse realmente irritada, ela só estava tensa - nunca salvara alguém antes.
- Droga, eu iria me defender - retrucou Bia também irritada e tensa.
- Claro - Polly desdenhou - depois que ele tivesse rasgado suas tripas ao meio. Que porra você pensa que estava fazendo?
- Ah, vai pro inferno - Bia rugiu. Odiava a idéia de ter sido salva por outra pessoa - você-
- É mesmo? - Polly nunca era muito esquentada, mas aquilo lhe tirou do sério - então volta pros demônios e morre!
- É o que farei!
Bia desceu sozinha, mui irritada.
Não devia ter explodido assim.
Não devia ter sido tão ingrata.
Ela tinha razão: não vira o maldito se aproximar, preocupada que estava com quatro ao mesmo tempo. Conseguiu dar cabo dos quatro, mas não do quinto inesperado - e foi salva pelas malditas mãos de Polly.
Não queria que a garota ficasse chateada com ela. Não merecia, poxa.
Relaxa, Bia. Em guerra, não há limites para a raiva. Vai ficar tudo bem.

Vai ficar tudo bem.

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O Glomb era feioso.
- Majestade, um visitante.
Ophelia não estava nas melhores condições.
Mas foi: passos bêbados, perfeitamente sóbria e louca, vestido azul. No salão principal, Jirä lhe aguardava.
- O que foi agora?
- Sua querida Campinas agiu contra a cidade. Estão exterminando os demônios.
- E isso te preocupa?
Jirä ficou sem reação.
Ophelia parecia perfeitamente tranquila. Aliás, se os demônios fossem exterminados, seria até bom - tirariam do caminho aqueles seres nojentos que conspiravam lhe tirar do poder. Os olhos castanhos eram como um único punhal perfurando Jirä várias vezes.
- Você não vai parar com isso?
A rainha riu, o demônio recuou.
- Nós ajudamos a ruir tudo enquanto você só fez mesmo dar o golpe final.
Ophelia ergueu as sobrancelhas em tom de 'e daí?'
- Majestade, não pode estar falando sério.
- Estou?
- Majestade, os seus aliados estão morrendo.
- Sério?
- Majestade, por favor, faça alguma coisa! Você pode matar todos de Campinas em um piscar de olhos!
- Oh!
- Tudo bem. Ok. Que seja - Jirä deu de ombros revoltada - Majestade, deixe-me te avisar então: só por você ter pouco se lixado para nós, ter quebrado o acordo, pois bem... as Campinas vencerão. E eles tem uma arma, Majestade, que nem você pode ir contra.
Crash.
- Que arma?
Jirä sorriu sarcástica.
- Não vai ajudar a gente. Também não te ajudaremos: descubra a arma deles por conta própria.
Virou-se e saiu do castelo, deixando uma Ophelia pensativa.


Me xinguem pela demora. Podem me xingar. E ainda por cima dar um capítulo curto T_T
Mas espero que esteja bom para satisfazer a demora... e perdoem-me pelo uso exagerado de palavrões na briga entre Polly e Bia, é que acho que na raiva ninguém mede muito o que usa - e sou a esponja literária mais absurda que já vi na vida, putz, acabei incorporando o estilo de Eu Sou O Mensageiro O_O
Relaxa, não vou imitar o autor :D
Aiai... esses dias fiz uma contagem e descobri que Três Fadas possuem 61 personagens, mortos ou vivos. Sério, me assustei O__O""

5 comentários:

Marii! :D disse...

61 personagens?
POR LOO! o.o'''
Lunoska, demorou, mas vc tem uma vida fora do pc. '-'
E Ophelia que fique pensando que não vai precisar de aliados... Tudo bem, tvz ela nem precise, mas tudo seria mais díficil sem eles...
Ansiosérrima. *-*

Umrae disse...

Sorry, não consegui postar o comentário ontem.
Eu já tinha comentado com vc esse problema do elenco. Tem uma hora em que começa a dar nó na cabeça.
E não adianta o demoniozinho fofoqueiro dedurar a nossa "arma secreta". Temos outras, muahahahaha. Os dragões são só para desviar atenção.
Eu fico tão frustrada do nosso rpg baseado na história não ter dado certo, ia ser tão divertido. ^^

Marii! :D disse...

Coloco um "dois" no comentário da Umrae sobre o rpg. =/

PollyQueiroz disse...

NOssa!
61 personas!
E bem no momento em que minha persona tem mais falas na história... puft: fico sem net

Mas agora tou de volta e li os capítulos rapidinho... aos poucos vou mais profundamente.

e nosa, eu salvei uma vida *-*

Beijão e parabéns!!

PollyQueiroz disse...

Ah... RPG?

tou por fora, Umrá...