sábado, 14 de março de 2009

Parte 76 - Cuidado com as mulheres perigosas.

Catherine permaneceu quieta. Encarava Ophelia com uma certa tranquilidade no olhar, e preferia assim, observar Ophelia enquanto ela fingia que não conseguia se regenerar.
- O que vai acontecer - Catherine disse, em um tom bem baixinho - se eu conseguir cortar a sua cabeça?
Ophelia a encarou, seu rosto molhado, seus olhos brilhantes.
- Nada demais - ela disse - talvez eu morra.
Elyon não se aguentava de tanta impaciência. Empurrou Catherine para o lado, furiosa e temperamental, a espada rompendo o ar e visando o pescoço nu de Ophelia. Foi bem rápido, devemos admitir.
Mas Ophelia não se defendeu.

Mas a espada não conseguiu.
Elyon fracassou em sentir a Lala que se moveu de forma tão rápida e tão leal.
Catherine abaixou a cabeça, sentindo que seus poderes se duplicavam com a chuva, mas não quis se aproveitar disso. Só queria sentir a água deslizando pela sua pele, pelos fios de seus cabelos, sentir o que lhe pertencia, de alguma forma.
Lala estava ao lado de Ophelia, suas calças rasgadas na altura dos joelhos, sua respiração apressada e ofegante, a espada próxima demais ao pescoço de Ophelia, formando uma barreira para a espada de Elyon.
- M-Mal--
- Não deixarei que faça mal à Ophelia - Lala sussurrou, seus cabelos ainda mais compridos que o normal, pingando água.
Elyon se afastou, sorrindo cinicamente.
- Parece corajosa, criança - Catherine disse, se levantando - quem é você, exatamente?
Lala se levantou, seus olhos parecendo ainda mais ameaçadores, tão sinistros e sinceros.
- Eu me chamo Lallyn Sakamoto - ela respondeu meigamente - e defendo Ophelia.

- Pois bem, Lallyn Sakamoto - desdenhou Elyon - veremos o quão boa você é para defender a sua amada, Ophelia.
Foi um erro fatal, sinceramente.
Que tolice a de Elyon desafiar uma menina que aprendia tão rápido!

Lala era uma pessoa muito fria, talvez.
Ela sempre mediu seus movimentos de forma calculista, e nunca agia por emoção, mesmo que sentisse. Aprendia rápido demais, agia rápido demais. Ela nunca agia porque alguém zombava dela, embora gostasse do gosto de vingança.
Não havia motivo nenhum para lutar com Elyon por sua língua maldosa.
Simplesmente não havia, mas mesmo assim Lala quis respeitar a sua extrema lealdade em relação à Ophelia. Lala golpeou pela direita de forma cega, esquecendo que não podia dar um passo grande demais ou se desequilibraria, pois foi o que aconteceu. Elyon se desviou, deixando Lala se emborrachar no chão.
Catherine riu.
- Não é páreo para nós, menininha - disse Elyon, com repulsa e diversão - ainda quer lutar?
Ophelia deu uma olhadela para Lala, mas não moveu um dedo para ajudá-la. Concentrava-se em suas pernas, que se regeneravam pouco a pouco. Primeiro os ossos apareciam, crescendo, se fortalecendo. Pouco a pouco, em minuto em minuto, os músculos e as artérias e as veias envolviam os ossos, e um envolvia o outro de forma delicada, como uma cirurgia para criar muito delicada. Em alguns poucos minutos, enquanto Lala sofria golpes e mais golpes sucessivos de Elyon e Catherine, pois Lala mal conseguia enxergar os movimentos delicados de Elyon, e ela não conseguia sentir a energia de Catherine porque era grande demais.
Ophelia concluiu sua regeneração com um sutil sorriso, e permaneceu parada, observando a sua escrava e amiga (?) ser ferida consecutivas vezes. Mas Lala nunca desistia nem chorava de raiva ou dor. Ela permanecia serena, mesmo quando Catherine lhe golpeava no abdomên ou quando Elyon soltava uma de suas piadas maldosas.
- Não é covardia duas Musas contra uma pobre garota? - murmurou Ophelia, depois de ficar minutos apreciando a luta, sua voz calma fazendo com que Catherine e Elyon parassem de repente. Lala desabou no chão, sangrando dos pés à cabeça, seus olhos tranquilos e espírito ofegante. A espada continuava segura em sua mão direita, e ela tentava respirar, ignorando os machucados. Cada corte se regenerava rapidamente, mas mesmo assim ela precisava de tempo para conseguir ficar bem.
A dor era simplesmente inacreditável.
Nunca senti tal coisa,
Apertou o braço esquerdo em que Elyon fizera um corte bem sério, quase fraturando o osso. Doeu. Doeu demais.
E eu não posso vencê-las...

Ophelia se levantou.
Elyon sorriu, movendo sua espada para o pescoço de Lala, a menos de um centímetro. Qualquer tremor da mão de Elyon, e Lala teria sua vida realmente ameaçada. Gelou, esquecendo-se de se regenerar completamente, seus olhos vidrados em Ophelia. Se Ophelia ignorasse, se Ophelia desse um passo para a frente, se Ophelia não ligasse realmente...
... Lala, sinto muito, seria o fim ali.
- Está fazendo a minha escrava de refém? - Ophelia perguntou, seus olhos brilhando de antecipação.
- Exatamente - Elyon mexeu a espada mais um pouco, a lâmina encostando na pele do pescoço de Lala sem cortá-la.
A garota de cabelos laranja segurou a respiração.
- Isso é uma estratégia absurdamente suja - Ophelia deu um passo para a frente - não creio que Olga gostaria disso...
Foi em um segundo:
Elyon moveu a espada para trás, esperando encontrar uma carne macia e sentir sangue, de fúria.
- Não fale em Olga! - foi o que Catherine gritou, antes de ser empurrada por algo e encarar Elyon.
A espada de Elyon não cortou nenhum pescoço nem rompeu artérias.
A espada de Elyon encontrou somente o braço de Ophelia, e não o cortara, somente o suficiente para sangrar.
Pois onde estava Lala, estava Ophelia segurando Lala com a mão esquerda e se defendendo com o braço direito. Seu braço direito sangrava absurdamente, Elyon caiu pra trás, em choque.
Ela conseguiu defender meu golpe com o BRAÇO?
Não parecia real.
Realmente não parecia real.

Lala ofegava, tentando se recompor e recuperar a si mesma, mas estava tão ferida, tão atordoada que se perdera.
Ela não conseguia mais se encontrar naquele lugar, e assim perdeu a consciência.
- Agora - Ophelia disse, seu rosto sério e a voz maldosa e divertida - vamos brincar de verdade!

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Gerogie pousou em frente ao palácio, percebendo que o pôr-do-sol já começara.
Cheguei mais cedo do que supus.
Entrou no palácio sem anunciar nada a ninguém, atravessando corredores e sendo evitada pelos criados que procuravam ao máximo ficar longe do caminho dos dragões.
- Gerogie! - exclamou alguém surpreendido, provavelmente uma moça subserviente à Bel, que estava em algum dos corredores.
Gerogie sequer respondeu, firme em sua meta: achar Bel e anunciar sobre o que Umrae falara a respeito de Campinas.
Desceu as escadarias, achando Bel no haras, onde montava cavalos para relaxar.
- Gerogie! - exclamou Bel, contente - que tal?
- Monte tudo o mais rápido possível - anunciou Gerogie.
Bel sorriu.

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Zidaly sentou na cadeira, ansiosa. Perfumara-se bastante, e escolhera um vestido insinuante, com um decote justo e generoso que mostrava a curva dos seios e os aproximava e apertava, fazendo-a parecer uma peituda feito a Pamela Anderson. Penteara seus cabelos, e trançara-os gentilmente, usando uma presilha toda prateada. A saia do seu vestido era longa e discreta, toda azul, mas havia uma fenda no canto direito que ela poderia fazer aparecer sutilmente.
Respirou fundo.

Esperou Crazy por quarenta minutos e nem relaxou a postura. Nunca se deixava relaxar no escritório dele.
Fantasiara mil vezes sobre aquela noite. Sabia que provavelmente seria a última noite em que ela ficaria na base antes de partir para a missão, e queria alguma coisa especial com Crazy. Uma noite com ele, e sobre isso, fantasiou. Na sua imaginação, tudo seria perfeito: Crazy chegaria e logo se deliciaria com seu deslumbrante vestido, e não resistiria aos encantos dela. E os detalhes eram tórridos demais para eu contar aqui, em um endereço sem nenhuma classificação indicativa.

Quando Crazy finalmente abriu a porta, estava irado pelo que Bel tinha lhe contado durante a tarde: como assim Zidaly estava na lista dos recrutados para as Campinas?!
Assim ele teve uma surpresa desagradável.
- Crazy! - exclamou Zidaly, contente - você ficou sabendo que
- O que faz no meu quarto? - a acidez na voz de Crazy era cruel demais.
- Hey, eu tenho uma novidade, eu
Crazy ficou diante de Zidaly, esta sentada na cadeira e fazendo a expressão 'olha como sou sexy'. O problema é que Zidaly fazia esse tipo de coisa extraordinariamente bem e Crazy ficou momentaneamente sem fala. Odiava Zidaly, mas tinha que admitir que ela era atraente demais.
- Crazy,euvoucomvocêparaamissão! - Zidaly gritou, as palavras se atropelando, antes que pudesse ser interrompida.
Crazy abriu a porta do seu quarto, ignorando as palavras de Zidaly.
Fechou a porta atrás de si, tentando se concentrar na missão que tinha agora: preparar a mala e formular uma estratégia, e isso não poderia ser atrapalhado por uma vagabunda qualquer. Não poderia.
- Abra a porta, Crazy! - Zidaly gritou, enfurecida.
Crazy não abriu. Desabou em sua cama, sua mente entorpecida pelas lembranças.
- Abra a porta, droga! - Zidaly continuava.
Crazy encarou o teto, ignorando os gritos.
- Abra a porta ou abro eu mesma e você não vai gostar! - Zidaly deu ultimato decisivo.
Crazy pouco ligou.

Zidaly deu um chute na porta uma, três, sete vezes. Na décima quarta vez que dava o chute, conseguiu fazer a porta cair abaixo e revelar todo o quarto de Crazy, bem simples, aliás. Cama, escrivaninha, criado-mudo, armário, janela com cortina de seda. Era um quarto com algumas coisas diferentes pelo que Zidaly se lembrava, mas ainda assim...
- Você sequer trocou as cortinas - murmurou Zidaly em um tom morto, quase como se sentisse saudade.
- Saia daqui, Zidaly - Crazy o encarou, o desprezo pulsando em cada palavra, em cada letra.
Zidaly ficou ali. Se sentou na beirada da cama, olhando para as cortinas. Não tinha mais aquele apelo sexy que tinha há uns quinze minutos, embora seu vestido fosse provocante demais para deixá-la ter uma impressão delicada de si mesma.
- Você se lembra do dia que escolhemos as cortinas, Crazy? - perguntou Zidaly com um nostálgico sorriso.
- Saia daqui, Zidaly.
- Você se lembra de que você queria as cortinas azuis e eu queria as vermelhas de qualquer jeito? - Zidaly continuou, fixada nas cortinas.
- Por favor, saia daqui.
- E no final, compramos as cortinas brancas. Você as odiava porque elas não tapavam a luz do sol e te acordavam antes da hora que queria... - Zidaly se virou para Crazy, seu sorriso tão sinceramente iluminado, o que fez Crazy ficar calado, com algum tipo de ressentimento.

Quando foi que os dois começaram a se odiar?
Quando foi que Crazy passou a desprezar Zidaly?
Quando foi que Zidaly passou a cair de cama em cama, mesmo que só pensasse em Crazy?
Zidaly não vestia essas roupas, Zidaly não falava dessa maneira tão vulgar, Zidaly não ficava com todo homem que encontrasse.
Zidaly não era tão obcecada em Crazy assim como agora.
Zidaly tinha escrúpulos antigamente.

- Zidaly, saia daqui - pediu Crazy mais uma vez - preciso dormir e você não está deixando. Saia daqui.
A garota se levantou, e saiu. Não disse uma palavra.
Saiu de forma tão silenciosa, exceto pelo pequeno conserto de porta que voltou ao seu estado original com uma pequena ajuda de magia, que Crazy podia jurar que era ilusão.

Crazy desabou, imerso nas lembranças dos dias em que Zidaly era alguém legal.

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Elyon ofegava.
Catherine estava insconsciente.
Ophelia estava de pé, Lala no ombro desacordada.
- Maldita - Elyon dizia, entre as tentativas de respirar direito - maldita.
Ophelia não respondeu.

Não sorria.
Não ria.
E a sua voz não estava mais divertida.

- Me desculpe, Olga - Elyon disse, observando todo o jardim ensanguentado.
Talvez fosse exagero, mas do ponto em que Elyon estava, era sangue para todo o lado. Era sangue dela, de Catherine, de Lala, de Ophelia. Fora simplesmente perfurada em vários lugares do corpo, e seu braço esquerdo estava completamente quebrado, com os ossos fraturados e precisava conter o sangramento absurdo na perna direita, graças a um corte profundo que Ophelia fizera, quase que dividindo a perna em duas, na altura do joelho. Reparou em Catherine que estava em um estado muito pior. Adormecera quando, depois de todos os golpes, Ophelia cortara sua orelha esquerda e a jogara contra o chão várias vezes, tentando massacrar sua cabeça. Não conseguiu, mas na quinta tentativa, Catherine não resistiu e perdeu a consciência.
Respira, pelo menos.
Ophelia estava inteira. Suas pernas inteiramente recuperadas, e não sofrera um único arranhão. Conseguira se proteger e proteger Lala ao mesmo tempo. Parecia um monstro.
Ela deu as costas, segurando uma Lala ferida.
- Me preocuparei com vocês depois - foi tudo o que Ophelia disse antes de voltar ao palácio.
Elyon deitou no chão, tentando se recuperar o mais rápido possível para conseguir cuidar de Catherine.


Ophelia subiu nas escadarias, ignorando todo tipo de criado.
Deitou Lala em uma cama, avaliando seus ferimentos. Teria que chamar alguém para cuidar disso, pois ela mesma não sabia fazer muito bem disso. Pensou se Alicia saberia cuidar, ou Siih. Entregar uma fada às mãos de um Glomb parecia tão... repugnante.
- Glomb! - gritou Ophelia no corredor, chamando um deles todo apressadinho.
- Sim, Majestade? - perguntou um deles antes de ficar chocado pela saia do vestido todo cheio de sangue - m-majestade...
- Chame Ravèh imediatamente - Ophelia mandou, sem querer saber do que o Glomb queria falar.
Voltou ao quarto, onde Lala respirava muito pausadamente.
Logo Ravèh chegou, seus olhos muito astutos.
- O que houve, Majestade? - perguntou Ravèh de forma educada.
- Liberte Alicia e mande-a vir para cá - foi tudo o que Ophelia disse, ao que Ravèh ousou questionar:
- Alicia? Mas ela está sob minha responsabilidade e deve ser entregue à morte.
- Se questionar, o trio inteiro voltará para as minhas mãos - Ophelia disse, também muito educadamente, o que fez Ravèh se calar. Ela saiu, e quinze minutos depois, voltou trazendo Alicia pela orelha e mãos acorrentadas. Jogou-a, fazendo-a cair no chão de joelhos, diante de Ophelia.
- Aí está - Ravèh disse - mais alguma coisa, Majestade?
- Não. Está dispensada.
Ela se retirou.

Alicia ergueu o rosto, mantendo-se impassível.
- Você está imunda - Ophelia disse, com repugnância - vá tomar um banho e volte o mais rápido possível.
Alicia se levantou. Em cerca de vinte minutos, ela estava de volta, trajando avental branco por cima de um vestido rosado simples de mangas curtas, seus cabelos amarrados em um rabo-de-cavalo. Estava descalça e muito séria.
- Cuide de Lala. Essa é a sua obrigação agora e me mantenha informada de qualquer coisa que ocorrer.
Foi tudo o que Ophelia disse.
Foi tudo o que Alicia ouviu.
Foi tudo o que foi preciso para Alicia alterar os rumos da história.

Enfim, chegou. Não que vocês estivessem especialmente empolgados, afinal dei até tempo para que o marasmo chegasse o.o' Enfim, é isso :D

2 comentários:

. L disse...

*o*''
O que Alicia vai fazer? *o*
E tive pena da Zidaly, até que gosto dela. :o

Umrae disse...

*Ainda ansiosa pela chegada dos dragões*