segunda-feira, 23 de março de 2009

Parte 77 - Uma véspera ansiosa.

Quando fica muito escuro, normalmente as pessoas acendem as velas e se reúnem, com medo de algo que não podem sentir. As pessoas costumam procurar segurança em outras pessoas, e acham que estão seguras de todas as intempérias da vida se estiverem em algum bom lugar, alguma luz e conversa. Principalmente as crianças que gostam de sentir essa segurança, senão elas ficam com medo e tem pesadelos de noite. Pior ainda é se não houver ninguém para cuidar delas.
No momento em que Amai concluiu a leitura de um conto, algumas crianças procuravam pelos seus pais em vários países.
No momento em que Raveneh cantarolou para May, várias famílias foram extirpadas pelos demônios.
No momento em que Doceh criava novas receitas, demônios brigavam entre si por mais comida.

Porque neste mundo em que vivemos agora, no mundo em que Raveneh vive, há algumas mudanças fundamentais.
Primeiro, com os demônios a solta, acontece exatamente o que acontece quando você coloca um predador em um habitat em que há somente caça para ele, e ninguém para caçá-lo. Quando isso acontece, a caça é morta e os caçadores procriam de forma desordenada, e assim há mais caçadores que a caça. Nesse ponto, sempre acontece competição pela comida.
Era o que estava acontecendo com os demônios.

Os humanos e as fadas estão sendo mortos de forma desordenada, e os sobreviventes são aqueles que procuraram um abrigo desde o começo. Os que não tiveram tal sorte ou viram comida de monstros ou fogem, virando mendigos. Alguns das pessoas ali correram para a Terra Seca onde a magia é proibida, ou para Grillindor que é um oásis na Terra Seca. Houve aqueles que procuravam fugir para Faerün, achando que tal lugar era inteiramente pacífico e que seriam bem recebidos. Mas na verdade, para os humanos naqueles países, nada disso importava. Só importava um lugar onde pudesse ter a garantia de viver mais um dia.
Acontece que viver nunca é certeiro.

Não houve muitos imigrantes, pois as estradas estavam infestadas de monstros.
Geralmente, quem sobrevivia em um ataque era as crianças porque eram as mais protegidas. Uma família inteira se dispunha a morrer, desde que a criança sobrevivesse. Mas depois que a família fosse morta, a criança não tinha mais nenhuma proteção e tentava fugir. Muitas vezes, a morte vinha. Geralmente a melhor saída era fugir, fugir, fugir.
O inferno era real.

- Eu queria ter todos os seus livros, Raven - admitiu Amai contente - são tão...!
- Se eu morrer nessa guerra, Amai - Raven disse, com delicadeza - esses livros são seus.
Amai ergueu os olhos, olhos úmidos de dor.
- Não vai morrer, Raven! - disse, suas mãos apertando as mãos de Raven com desespero - não vai morrer, não é?
- Amai - Raven sorriu, passando a mão na cabeça da garota - eu não sei. Só sei que você ficará viva, não é?
Amai começou a chorar.
Ela não sabia mais como era o real sentimento de perda. Perdera Yohana, mas ela não era lá tão grande amiga. E era tão criança quando perdera toda a família, sendo resgatada pela tia!
- Fique tranquila, Amai - disse Raven - prometo que não morrerei.
- Promete?
- Prometo.

ora, ora, não se pode prometer coisas que não estão no controle!

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Lala acordou, tonta.
- ?
Alicia havia enfaixado os membros dos corpos feridos, cuidado de cada um deles, e com cuidado percebeu que Lala começara a ter febre. Por isso, raciocinou, a regeneração estava tão lenta.
- !
Lala virou a cabeça para o lado, vendo a Alicia arrumar as cortinas para deixar ar fresco.
- Não estava com Ravèh? - disse Lala, intrigada.
- Vim para cuidar de você, sob ordens de Ophelia - respondeu Alicia sem se deixar alterar.
- Cuidar de mim...
Lala não fez nenhum movimento brusco. Não se lembrava de nada, mas estava meio tonta e as lembranças eram bem poucas nítidas. Lembrava que Ophelia a defendera e a salvara da morte.
Ela nunca faria isso por mim... faria?
Olhou para a mão esquerda, toda enfaixada. A direita estava no mesmo estado, e doía quando ela mexia os dedos. Resolveu ficar imóvel, tentando se concentrar em se regenerar. Mas não conseguia, estava tonta demais.
- Não faça esforço e cure a si mesma pouco a pouco - disse Alicia, pegando uma bandeja - vou pegar alguma coisa para você comer. Avisarei Ophelia que você acordou.
Alicia saiu, deixando Lala sozinha, reflexiva.

Lala não registrou as palavras direito, mas concordou. Só queria dormir de novo.

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Bel trocou de roupa, colocando calças, botas e uma camiseta branca. Ajustou as proteções de pulso, encarando a vista de Grillindor pela janela. Sentia como se aquele céu que se escurecia depressa fosse todo para ela. Um tipo de sentimento que ela só experimentava quando estava na véspera de uma guerra, e odiava sentir isso.
Quantas pessoas já morreram por causa de Ophelia?
Montou a sua mala rapidamente, colocando umas poucas roupas que precisaria. Estojo de socorros rápidos como ataduras e loções para machucados, um kit para lustrar espadas.
E quando a gente entrar na guerra... quantas pessoas mais irão morrer?
Amarrou os cabelos castanhos, espírito tão ansioso pela guerra iminente.

Bel, o que está fazendo?, podia ouvir a sua cabeça dizendo.
Bel, tem certeza que seus dragões podem derrotar Ophelia?, sua consciência gritava.
Bel, Ophelia é um monstro! Ninguém sabe do que ela é capaz, sentia as palavras firmes em sua consciência, em um tom lamentoso.
Ignorou.
Não posso recusar um pedido de Umrae.
Eu não posso recusar porque eu devo a vida à ela.
A minha vida é totalmente dela, porque ela já me salvou.
Sim, era horrível a sensação de ter favores com alguém, ainda mais se alguém te salva. Mas Bel não podia medir as consequências de um ato impestuoso e adolescente, e assim precisar de um resgate. Umrae era experiente com resgates e a salvou. Se não fosse Umrae, Bel não estaria viva. Então de jeito nenhum Bel poderia recusar um pedido de Umrae.
Como se pode negar a vida para alguém que a resgatara para ti?

- Comandante! - Polly entrou, seus cabelos amarrados em um coque, camiseta preta e calças verde-militas - toda a nossa formação humana está pronta para partir, exceto Zidaly e Crazy. Dos dez dragões que serão enviados, cinco estão 100% preparados para partir. Os outros cinco estão somente 42% preparados, mas Luka, Toronto, Ti-Yi, Harumi e Pauline já estão cuidando dos outros cinco dragões para apressar a preparação.
- Estão utilizando ilusões? - Bel perguntou, em um tom austero, ao que Polly respondeu imediatamente:
- Sim, Comandante. Por isso está mais lento do que o normal, pela mágica da ilusão. Mas Giovanna e Harumi estão unidas para iludir todos os dragões. Agora já conseguiram iludir completamente quatro dragões, e nesse passo, teremos todo a tropa pronta em duas horas, creio.
- Ótimo - Bel disse - agora você vá e chame Zidaly e Crazy. Eu queria dar mais descanso à Crazy, mas preciso dele. Quanto à Zidaly, mande-a se arrumar direito para a guerra e a se despedir dos amantes dela.
- Bel... - Polly sorriu timidamente - não acho que isso seja uma boa idéia. Porque não vamos partir silenciosamente deixando Zidaly aqui. Ela vai atrapalhar nossos planos.
Bel a encarou com doçura. Realmente, Polly era uma ótima subordinada e suas idéias eram boas. Mas isso não dava.
- Polly, esse não vai ser do tipo de guerra de mandar dragões e entregar nas mãos de algum deus - comentou Bel - não podemos dar ao luxo de perder nenhum dragão, pois estamos levando poucos. Eu sei que podíamos invocar uma magia que fizesse eles sairem daqui e se mandassem pra lá, mas é arriscado demais. Não podemos nos dar ao luxo, então vamos controlar os dragões de forma direta.
- Direta? Mas, Bel, isso é... - Polly parecia tremer - Bel, isso é tão... arriscado! Assim nossas vidas estão ameaçadas também!
- Em uma guerra, Polly - Bel disse, com firmeza - um enfermeiro fica lá dentro e um soldado fica lá fora. E nós, Polly, somos soldados, portanto ficamos lá fora e nos matamos. Entendeu?
Polly deixou a prancheta cair no chão, controlando o possível choro que viria.
- Entendi... - Polly pegou a prancheta e respirou fundo - ... Comandante.
- Muito bem. Avise a todos sobre isso e diga que sair da lista agora está fora de cogitação - Bel disse, sua voz fria como um punhal.
Polly saiu, seus passos rápidos, insegura.

Controle direto sobre os dragões...
Nunca fizera algo assim, só nos tempos em que treinava para ser soldada. Era uma forma de guerra tão pouco usada, ainda mais depois que conseguiram manipular os dragões à distância...
O que Bel estava pretendendo...?

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Ophelia tomou banho, penteou os cabelos. Avisada por Alicia de que Lala estava consciente, também recebeu um relatório sobre o estado de Lala:
- Majestade - Alicia começou a falar, em um tom grave - Lala poderia ter se regenerado com rapidez, mas foi atingida gravemente em vários pontos e logo depois perdeu a consciência, o que fez a velocidade e a força de sua regeneração cair cerca de 70%. Está com febre, e precisa de tratamento. Ela precisa começar a regeneração ao modo dela de forma rápida, se não aguentar esperar uma regeneração normal de uma fada comum. Com febre, ela pode tentar se regenerar rapidamente, mas a velocidade e força estarão a nível de 30% do nível padrão dela.
- Alicia, por favor, encurte isso - Ophelia pediu de forma sibilante, ao que Alicia sorriu discretamente e concluiu:
- Isso significa que ou Lala se regenera agora e fica bem em quase uma semana, contando com a carga absurda de poder que receberá e enfraquecerá seu corpo ou ela espera ser uma fada normal e fica bem em quase um mês.
- Acho que a alternativa é óbvia - Ophelia murmurou hesitante - Alicia, você pode apressar a regeneração de alguém?
- Sim, mas...
- Faça.
Alicia engoliu o orgulho e voltou ao quarto de Lala. Ela dormia, sua respiração descompassada. Podia escutar o coração dela batendo em um ritmo estranho e desordenado, procurando por qualquer tentativa de sobreviver. Sua pele estava suada e podia fritar um ovo na sua testa de tão quente que estava, mas Alicia não se importava com isso, sinceramente. Ela só queria a morte de Lala, assim como queria a morte de Ophelia. Mas não queria ousar em matar Lala, porque seria morta logo depois. Mesmo que Lala morresse sem que Alicia interferisse, Ophelia a puniria com morte imediata, ou pior, tortura sádica seguida de uma terrível morte. Então decidiu que iria aproveitar a momentânea e restritiva liberdade para ajudar Siih e Lefi. Se perguntou como estariam, entregues nas mãos daquele demônio.
Trocou os lençóis da cama de Lala, tentando não acordá-la, e acendeu uma vela. Rezou em silêncio, implorando para qualquer deus que existisse que acabasse com aquilo. Mas os únicos deuses que as fadas tinham eram meramente as Musas, e elas não eram páreo para Ophelia. Aliás, se a Ophelia assim quisesse, poderia ser idolatrada como uma deusa. Não é tão estranho que a única pessoa ali capaz de acabar com a situação fosse justamente aquela que a gerou e não tem nenhum remorso por isso?
- Ali? - Lala acordou, não conseguindo pronunciar todo o nome de Alicia - Ali?
- Boa noite, Lala - Alicia disse, fazendo a voz ficar mais doce que a habitual. Por mais que Lala tivesse sido cruel ao obedecer Ophelia fielmente, Alicia aprendera que nunca se desrespeita alguém quando se cuida desse alguém. Por isso que os médicos, atualmente, não podem destratar seus pacientes, mesmo se eles forem estupradores ou assassinos. Vai contra a ética da medicina, ética que Alicia adotava no momento.
- Oph? - perguntou. Lala parecia ter dificuldade em completar um nome inteiro, mesmo se ele fosse fácil de falar - Oph?
Alicia demorou uns segundos até entender que 'Oph' significava 'Ophelia' que se referia à 'Majestade', um monstro capaz de acabar com cidades inteiras e sair cantarolando canção de ninar entre os escombros.
- Majestade está trabalhando, acho - Alicia respondeu - estava se arrumando para o jantar quando eu fui entregar seu relatório à ela.
- Rel... - Lala engoliu em seco, tentando se sentar, mas a dor não deixou. Respirou fundo e tentou: - ela... vem me...?
- Te ver? - completou Alicia. Suspirou, tentando responder sinceramente - creio que sim. Acho. Talvez.
Lala virou para o lado, a dor insistente.
- Bonoit-, Ali - disse Lala, a dor cortando as últimas letras das palavras.
- Boa noite, Lala - disse Alicia, que se levantou. Daqui a pouco, acordaria Lala para lhe fazer comer, lhe passar sua situação e quem sabe, conseguir algo que garanta a liberdade de Siih e Lefi.

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Polly acordou Crazy apressadamente.
- Desculpe-me, desculpe-me, mas a Comandante mandou e eu obedeço - ela gritava, enquanto sacudia o garoto e este acordava mal-humorado - desculpe, mas a Comandante manda que todos os soldados fiquem prontos por essa noite, ela quer partir de madrugada, então todos tem que estar prontos logo, ela quer apressar e...
- meu deus, respira um pouco, Polly. Desse jeito vai desmaiar - Crazy sorriu, mas logo reparou no jeito afogueado de Polly e na ansiedade contida em seu jeito de falar, respirar e mexer as mãos - aconteceu alguma coisa?
- Bem, a Comandante manda avisar que dar pra trás na missão está fora de cogitação e que os dragõesserãocontroladosdeformadireta - Polly disse, apressada.
Crazy ergueu uma sobrancelha, cético:
- Os dragões serão o quê?
- Controlados.de.forma.direta - Polly disse, pausadamente - você entende.
- Completamente - Crazy disse em tom de assombro - alguma razão em especial?
- Ela diz que é arriscado demais usar a forma padrão, pois temos poucos dragões e não podemos "nos dar ao luxo de perder algum" - Polly respondeu, a prancheta com papéis incluindo dados como fichas de cada dragão e formulários de autorização para liberar as tropas - foi o que ela disse.
- Eu entendo... - Crazy mordeu o lábio inferior - então ela quer uma guerra de verdade.
- O que quer dizer com guerra de verdade, General? - Polly perguntou, em um tom meio medroso, ao que Crazy respondeu delicadamente, tentando não parecer assustador demais:
- Polly, vamos arriscar as nossas vidas diretamente. E desse jeito, Polly, pode haver menos mortes de civis. Mas... vai haver mortes, e elas não serão dos civis. Então quem você acha que morre?
- Nós?
- Exatamente. Pois temos três modos de luta: completamente a distância, meio a distância e diretamente. Costumamos lutar no modo 'meio a distância', então tem um grupo que fica dentro controlando e o grupo que fica fora, agindo diretamente. Mas todos nós vamos agir diretamente, o que aumenta a chance de controle total e assim uma maior eficácia. Mas isso envolve nossas vidas, pois tudo que acontecer com os dragões vai interferir diretamente no nosso desempenho. E se Ophelia for esse monstro que todos falam... Polly, isso significa que se voltarmos para casa, teremos a tropa aniquilada pela metade, provavelmente.
- Pela... metade?
- Pode ir começando a se acostumar com a idéia de perder seus colegas de trabalho - disse Crazy, sorriso cínico no rosto.

Bem, eu criei outro blog [www.pernicie.blogspot.com] e ele, creio, vai pra frente. Eu espero pelo amor de Darwin que colaborou para a teoria da evolução que este blog vá para a frente! E como babei no layout personalizado [que eu peguei de um site e ainda preciso descobrir como se dá os créditos devidos], eu queria um personalizado MEEEESMO pra Três Fadas, de preferência todo preto com um desenho retratando uma Ophelia bem sinistra. Alguém saca um tutorial de XML? Quem sabe, eu consiga fazer um ^^~ Ah sim, e os nomes escolhidos foraaaam... Erevan e Keishara. Eu gostei, gosto não se discute, e mentalizei os dois com esses nomes. Perfeito, mas não exclui os outros nomes, são absolutamente necessários, portanto obrigada mais uma vez, Umrae (Y)

3 comentários:

Umrae disse...

De nada ^^.
PS: entra no meu perfil depois e olha o recém criado blog para ver a decoração de páscoa que a gente fez na nossa sala lá da empresa, lol.

. L disse...

*-*''
Caaara... Que nervoso.
Curiosa bagarai, Lunoska.
;**

Umrae disse...

*Newb do blogger*
Como eu fa;o para sinalizar que eu estou seguindo seu blog?