quinta-feira, 30 de julho de 2009

Parte 90 - Os demônios e os dragões.

Os dragões não participavam realmente da missão.
Isolados, Gerogie gostava de vigiar os dragões e Erevan jogava dados com Keishara apostando várias coisas que nunca seriam cobradas. Estavam bem perto, e a única missão que eles tinham de obedecer era controlarem os pseudo-dragões se tiver que ser. Erevan sorriu atirando um dado para o alto.
- Aposto minha beleza - riu - se sair um número par.
Cinco pontinhos.
Keishara riu, mostrando os dentes.
Jogue no alto.
Seis.
Keishara perdeu.
A indiferença se impregnando naqueles três dragões em forma humana.
Nunca, nunca o mesmo iria se repetir.

Separados pela escuridão, Raven quase tropeçou quando sentiu algo diante dela, em seus pés, a lhe fazer um obstáculo. Umrae ajeitou o menino que levava, conseguiu sentir o braço de Bia a lhe roçar.
- Pare - disse - está escuro demais para prosseguirem normalmente.
Umrae sentiu a corda que lhe prendia.
- Será que isso adianta?
Só um desenlace.
Um sussurro mergulhado nas trevas.
Umrae seguiu para a frente, puxando Bia e Raven. Ergueu os olhos para o teto: cheiro de sangue e escuridão. Não conseguia ver nada, ainda que sua visão noturna fosse melhor. Parecia estar mergulhada em trevas. Em volta, só conseguia enxergar a corda que a segurava, a escada por onde desciam e os degraus.
- Fiquem com uma mão no meu ombro, em fila - murmurou ao que Raven e Bia obedeceram. Raven colocou a mão esquerda no ombro também esquerdo de Umrae, segurando a espada que pendia ao lado de Umrae. Bia fazia a mesma coisa, e a espada era segura nas costas onde ficava quando ela não estava lutando com ninguém. Isso não era um problema, porque Bia era muito capaz de desembainhar a espada e golpear mais rápido do que você pode dizer "se ferrou".
Devagar, seguiram pela escada.
Faltava pouco.
Dali a dez minutos que pareceram uma eternidade, não faltava mais distância a vencer. A porta, divina e sedutora, se abria para a cidade.
- Cuidado - disse Umrae.
A noite nunca foi tão fria e confortável.
Os cabelos de todos se revoltaram com o vento mais frio.
- Deu certo?
Umrae ergueu os olhos. Não sabia muito bem de onde viera a pergunta.
Mas sua resposta foi completamente sincera:
- Surpreendentemente... sim.
Seus olhos dourados se destacavam na escuridão.

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- Que está fazendo, Ophelia? - Lala estava assustada.
A rainha fechava as cortinas apressadamente.
Seus cabelos se estendiam pelas costas, seus olhos nervosos miravam a seda. Estava agitada, era visível em cada riso e em cada gesto: puxa a seda, dá uma olhada pro céu, olha pra Lala, sorri, fecha a cortina, abre-a, fecha novamente, suspira e ri.
- Relaxa, Lala, vai dar tudo certo.
- Vai, é?
- Claro
Ophelia exibia um estranho fanatismo no olhar.
- Está sentindo? - Ophelia perguntou depois de fechar as cortinas pela milésima vez atrás de si. Descansou as mãos e veio se sentar na beirada da cama, encarando Lala com fervor - está sentindo?
Lala fechou os olhos. Sempre foi péssima nisso.
Misto de sangue.
Algum cheiro inebriante de...
- Não - ela disse tonta. Estava novamente fraca - não.
Ophelia sorriu maliciosamente. Moveu os dedos em forma de pinça, como as pernas de uma aranha, dizendo:
- Lalazinha - parecia fora de si, rindo quase histericamente - os monstrinhos estão morrendo.
- Você os deixou morrer, Ophelia - retrucou Lala - e eles vão se virar contra você.
De repente, a Ophelia ficou muito séria - quase voltou a aquele ar majestoso, os olhos brilhando de excitação.
- Ora, ora. Você acha que me curvo a eles? Ainda que as armas sejam eu multiplicada por mil, vencerei.
- Vence? - Lala estava incrédula - VENCE? Oph-
- Não fale - Ophelia disse.
Lala conseguiu enxergar os olhos castanhos de Ophelia.
Mas eles não estavam mais castanhos.
Estavam quase negros.
Tão, tão profundos como se fossem o mar enquanto é noite; um véu mergulhado nas trevas. Lala calou-se, trêmula. Não precisava desafiar a mulher, claro que não. Mantenha-se quietinha, Lala, quietinha. Não fale nada, nem proteste; você tem uma louca ao seu lado - e diz o doutor Castanho que não devemos contrariar os loucos. Respirou fundo.
Os seus cabelos estavam com a cor opaca.
- Pois bem, desisto de uma conversa simpática com eles - Ophelia parecia estar conversando do tempo, e seu comentário quase fez Lala se engasgar com a própria saliva: conversa simpática? - eles vão pagar. Muito. Muito caro.
Lala nada disse.
Ophelia sorriu para o céu e reabriu as cortinas.

Depois saiu do quarto, deixando uma Lala quase desesperada.
Ok.
Ela era a amiga durona que aguentava o tranco.
Mas, PQP, isso não significava que ela tinha que assistir a loucura mental da amiga/chefe por dias a fio! Ophelia estava pirando, isso estava tão óbvio como o fato de que a Stephenie Meyer escreve mal, e mesmo assim... droga, Ophelia, para que você foi acordar?
Para quê?

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Respiraaar.
A noite estava um pouco mais fria que o normal, o que foi um alívio para o pessoal das Campinas.
Raveneh tentou respirar algo realmente puro, mas nada feito - então ela ficou concentrada na cozinha, sala e bebê. E de novo a cozinha, sala e bebê. A May estava acordada, aninhada, brincando com um bonequinho de pano muito feio de lã. Mesmo assim May adorava o boneco que tinha um cabelo preto e um macacão vermelho.
- Quando eles vão chegar? - perguntava Amai quase chorosa. Tinha largado os livros na sala.
- Eles vão chegar, Amai - Raveneh disse. Amai lhe torrava a paciência; sabia ela que também tinha alguém lá, entre os monstros? - eles vão chegar - insistiu. Aproveite e chame a sua tia, vamos.
Amai resmungou e saiu da cozinha, retornando dez minutos depois com a Kitsune a tiracolo.
- Hellow?
- Aí está você - Raveneh sorriu fracamente - pode cortar as batatas? Daqui a pouco May vai mamar e Rafitcha vai começar a gritar comigo por causa do choro dela, se eu estiver cozinhando.
Kitsune sorriu.
Raveneh relaxou, resolvendo ficar na sala ninando a filha. Passou-se muito pouco tempo até que May queresse leite.
A iluminação era tão funesta...

- Ah, olá.
Rafitcha se ajeitou na poltrona diante de Raveneh. Parecia aborrecida com algo, mas Raveneh não quis perguntar - Rafitcha emanava uma aura assustadora de raiva e irritação.
- Eles não vão chegar nunca?
- Ahm - Raveneh não queria falar muito - vão.
Rafitcha ergueu os olhos, aborrecida. Pegou em um dos livros deixados por Amai, começando a ler.
Tinha que ficar calma.
Por...
Por ela.
Fadas pequenas que voavam de folha em folha, com suas minúsculas asas...
Raveneh a olhou insegura. O quão bem ela estava?
... entre elas, existia uma toda bonitinha, porém muito malvada que se chamava Claudia...
Rafitcha fechou os olhos, tonta. Estava cansada e com vontade de dormir, mas resistiu. Queria ver o retorno dos... guerreiros?
... cachos angelicais e olhos de menina, ela vitimava a suas irmãs com doçura e veneno...
urgh.
O silêncio se tornou opressivo demais, as palavras se turvaram e Rafitcha fechou os olhos, muitissimo cansada.

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As crianças foram cuidadas por Raven e Johnny entre as nuvens.
Postas para dormir, não se debatiam nem choramingavam; inconscientes, deixavam-se serem tratadas e curadas, derramadas em cima dos dragões. A garotinha tinha um ar angelical, embora fosse bem fofinha, de ar angelical e cabelos curtos, finos, dourados.
- Vamos lá, fica viva.
A garotinha parecia profundamente debilitada, ainda que não tivesse marcas pelo corpo nem demonstração de quaisquer ferimentos. Raven suspirou, desalentado.
- Algum progresso? - gritou ele para Johnny que observava o corpo do garoto menor.
Johnny tinha muita dificuldade em se manter equilibrado no enorme dragão, ainda mais a tantos metros do chão. Porém conseguiu encarar Raven e responder que não.
- Ele está com uma corrente de prata em forma da lua crescente - Johnny disse, fazendo Ti-Yi erguer as sobrancelhas:
- Prata?
- Sim - Johnny mostrou a corrente pendurada no pescoço - é bem bonita, e acho que é pura também.
- Interessante. Dizem que alguns tipos de monstros odeiam prata - Ti-Yi comentou.
Johnny sorriu de soslaio.
- Bom saber - disse.

Já estava escuro.
E, chocada, Umrae percebeu que todos os demônios abatidos de dia não eram nem a metade dos monstros que surgiam nas trevas, muito mais poderosos e cruéis, sedentos de sangue e vorazes. Até mesmo Umrae tremeu intimamente. Será que conseguiriam completar a missão? Ou deveria bater em retirada.
- Umrae - Bel estava trêmula - vamos?
Os olhos de Bel brilhavam de antecipação e medo.
Umrae só deu um sutil sorriso.
- Vamos.
Era hora de prestar contas de verdade. Ainda que não fossem todos os demônios do mundo, ainda que não fossem os mesmos que exterminaram pessoas amadas e terras imensas... Umrae e seus companheiros de guerra iriam matar todos aqueles que vissem. Seja com a espada, seja com a besta e flecha, o que importava era matar o quanto fosse possível.
Pelas pessoas que morreram e pediam vingança.
Por reinos que precisavam viver.
Pelas Campinas que queriam respirar.
E por eles, eles que só queriam paz. E para ter a paz...
... precisavam matar monstros.

Iriam lavar as suas almas com sangue.


- Vamos lá.
Umrae se apoiava acima do dragão, mirando para três demônios semelhantes: pareciam bonecos de pano com botões no lugar dos olhos e andavam pela cidade comendo as casas com seus dentes enormes e pontiagudos. Tremia da cabeça até os pés, mas mesmo pessoas como eu sentem medo, caramba. Atirou, a flecha deslizando entre seus dedos muito rapidamente. Feriu os três de imediato, as três cabeças sendo atravessadas por uma única flecha venenosa.
- Bom trabalho - elogiou Bel.
- Pode ser. Mas temos que fazer mais que isso - Umrae disse - usaremos os dragões.
- Dragões azuis e negros?
- Exato.
Bel sorriu. Era a parte que ela mais gostava, do fundo de seu coração.
- DRAGÕES A POSTOS!
Crazy refreou o seu. Sorriso matreiro no rosto, embora fosse um pouco inexperiente.

Os demônios não tiveram folga.
Línguas de fogo arrasaram a cidade, o céu se queimou de negro e vermelho.
Casas desabaram em todos os cantos. Umrae suspirou de alívio quando percebeu pelos corpos e ausência de voz realmente humana que não havia realmente ninguém a se esconder. Somente aqueles três sobreviventes em miniatura de gente.
Não queria destruir a cidade, realmente não queria. Detestou aquilo, mas aqui já está tudo acabado e em ruínas. Malditos demônios.
Dragões azuis pousaram com estrondo no chão, sacudiram as caudas que se chocaram contra vários demônios. Foram muitos os carbonizados imediatamente, ardendo em chamas.
Raven e Johnny mantinham-se longe, cuidando das crianças, tentando tratar dos poucos ferimentos.

- MERDA, EREVAN E KEISHARA! - Bel estava escandalizada com a calma dos dois, embora estivesse habituada - VÃO FAZER ALGO QUE PRESTE!
O que se seguiu foi assustador e maravilhoso.
Erevan deu um frio sorriso e deu um magnifíco pulo para o outro lado da cidade. Acima dos demônios e ruas, apagado pela noite, todos podiam observar o brilho maníaco de seus olhos negros. E em segundos lentos e sinistros, seus olhos assumiram finas pupilas como fendas, e seu corpo se deformou, tornando-se negra. Escamas surgiram por toda o seu corpo, roupas se rasgaram e até mesmo os demônios estavam chocados, apreciando o espetáculo.
Cada escama reluzia ao fraco luar, se ocultando na noite.
Transformara-se em um dragão, enorme e imenso, o dobro ou triplo de cada um dos dragões que atacava a cidade. As presas eram maiores, sua crista era excepcionalmente negra, e chifres surgiam: na cabeça lembrando uma caveira, nas mandíbulas vorazes. Eram chifres imensos e pontudos, ameaçadores e deslumbrantes, da cor do osso. Erevan estalou sua língua bifurcada de um vermelho sangrento, seus dentes se projetando para fora. Seu corpo tremeu um pouco, e o chão assim o fez.

Todos os dragões mestiços pararam de lutar ou se manter no ar.
Desceram serenamente e se moveram como gatos: elegantes e mal tocavam o chão, curvaram suas enormes cabeças que mais pareciam opacas imitações de Erevan e se submeteram ao dragão negro.
Keishara sorriu.
- Uau - Fer sorriu - eu nunca vi algo assim.
- Lindo - murmurou Ratta - as presas não são algo fantástico? Eles poderiam estraçalhar uma baleia com os dentes, se quisessem.
Fer se esforçou muito para não imaginar uma baleia sendo mordida por um dragão.

Keishara se curvou elegantemente. Seus cabelos azuis se misturaram ao corpo, seu pescoço assumindo escamas. Moveu os braços como se fosse uma cega e quisesse se guiar pelo ar, e todos viram o azul refulgir em todo seu corpo. Assim como Erevan, as roupas se perderam com a transformação. O azul era simplesmente esplêndido: muito escuro no peito que dobrava de tamanho a cada dez segundos, e ficava mais claro conforme chegava até as pontas das enormes asas, triangulares. O focinho de Keishara era curto, seus olhos profundamente azuis, os chifres brancos como osso - com nuances fraquissimas de azul, porém - e toda sua postura majestosa fazia com que ela se tornasse um dragão tão respeitável e deslumbrante como Erevan. Gerogie sorriu fracamente.
Não iria se transformar em dragão - gostava demais daquelas roupas que usava para rasgá-las sem utilidade.

Agora, Umrae pensou sentindo uma sutil felicidade, temos chance.
O que Ophelia poderia fazer contra duas criaturas ferozes e antigas, sendo parte da natureza?


Depois de mil anos-luz, retorno. Com a mesma justificativa velha e gasta: a MALDITA ESCOLA! Enfim, tenho que estudar-tirar boas notas-passar de ano, e isso está sendo mais difícil do que imaginei. [anotação mental: fazer trabalho de português, história e estudar trigonometria. Deveria ter feito tudo isso hoje, mas gastei o dia tentando resolver a 1ª questão, letra A da lista de eletricidade básica. Ah, esquece]
Espero que tenham gostado, sério. Não quero que vocês me matem de decepção ou algo do tipo, nem quero ser má escritora. E Umrae, me interessei por esse negócio de moonblade *-*
Quero me informar mais, comofas//
Engraçado, Umrae, eu sempre imaginei Kibii como princesa herdeira de algum reino destruído por conspiradores *-* Aliás fiz toda a história dela baseada nisso, e Kibii meio que tinha perdido as memórias disso. Bem, pretendo dar espaço nisso agora para explorar melhor na 3ª temporada.
E uff, termino aqui por hoje. Espero terminar um capítulo a mais para esse final de semana, se tiver tempo [salve-salve trabalhos de português e história. Vocês podem me indicar links excelentes sobre holandeses no Brasil ou católicos x protestantes? Esse é o tema do meu trabalho de história :O Se não tiverem, tudo bem. A biblioteca da minha escola tem livros decentes xD]

Beijos ♦ ♣ ♠ ♥

sábado, 18 de julho de 2009

Parte 89 - Decisões 'Involtavéis'.

Nunca que Umrae saberia como cargas d'água haveria pessoas vivas. Até acreditara como em um sonho antes de vir a Heppaceneoh destroçada, mas assim que assistiu todos aqueles monstros putrefatos e horrendos se esgoelarem nas ruas por onde andou tanto, entendeu que a menor vida humana seria logo assassinada.
Mas, nem de longe, ficou surpresa ao descobrir vida humana. Afinal desde sempre ela aprendera que humanos tem uma capacidade incrível para serem tão fracos e ao mesmo tempo tão fortes. A vida era mesmo contraditória.
- Bia, fique de guarda.
Logo a Bia se posicionou. Não estava na melhor forma, mas quase conseguia recuperar seus reflexos de antes. Conseguia defender-se muito bem, e só cometera um único vacilo que poderia ter morrido - mas ali estava Polly.
Bel ajeitou o seu dragão (adorava dizer que ele era o seu dragão, ainda que não fosse realmente propriedade sua) no alto da casa, em uma altitude meio perigosa, considerando que estava baixa demais. Mas se estivesse em um ponto muito alto, poderia complicar as coisas na hora de dar o fora. E havia, provavelmente, alguém vivo.
Polly resguardou a frente da casa juntamente com Giovanna e Pauline que manejavam seus dragões prontos a voar a qualquer momento. Umrae ajeitou a corda pendurada na cintura e esta fazia voltas pelo seu corpo de forma que caso ela não conseguisse se defender propriamente, bastasse Bel sair voando levando Umrae junto. Era uma idéia um tanto ridícula e Umrae meio que duvidava que isso fosse acontecer (não conseguia imaginar a si mesmo pendurada no ar sem cair na risada), porém Bel insistira na medida e todos concordaram. Umrae acabou aceitando, afinal proteções nunca são demais. Além do mais a medida poderia dar certo, não era mesmo?
A noite estava vindo depressa demais.
Os olhos dourados de Umrae brilharam na escuridão dentro da casa que era de dois andares sem incluir o térreo e o sótão. Pela visão rápida e infantil, concluíra que provavelmente os humanos estavam ou no sótão ou no segundo andar. Estava acompanhado de Bia que ia atrás, de costas para resguardar qualquer ataque pelas costas e com Raven. No ar, um pouco mais alto que Bel esperava, Luka estava com o dragão majestoso. Estava com Raven, e não podia ficar longe dele. Defronte à ela, o homem de cabelos negros aguardava com Ti-Yi - Johnny estava resoluto com seu ar eventualmente de alguém jovem e maroto. Além disso Doceh e Ly com seus "companheiros" Harumi e Crazy esperavam ainda mais altos, em lados opostos, guardando o oeste e o leste da casa. A casa por dentro era escura, e Umrae percebia o ar funesto de morte. Tomando cuidado para não tocar em nada, seus olhos se miravam nas paredes de madeira apodrecida, com resquícios de destruição.
Com esmero, seus calçados batiam no chão sem fazer barulho.
Vidro partido no chão, mesas de madeira de pernas pro ar, pedaços de roupa aqui e ali, alguns ossos - Umrae reprimiu um arrepio. Subiu uma escada, Raven lhe seguia com cuidado ao seu lado e Bia com a espada empunhada de costas.
- Um-
Veio um ser de uma das portas com toda a força para cima de Umrae, de corpo esguio e comprido como uma lagarta, escamas pegajosas. Ela se esquivou para a direita, procurando se defender, porém a lagarta enorme evitou a espada furiosa e rápida de Bia e começou a mirar em Raven. Com suas perninhas curtas para seu imenso tamanho, ela se movimento furiosamente em direção ao Raven, este tentando desviar. Porém não era tão bom quanto Umrae ou Bia de modo que seu pé foi logo preso pela enorme língua do demônio, e começou a ser arrastado.
- Agora!
Em segundos, Bia se dirigiu e Umrae se movimentou. Arrastou-se rapidamente, unindo-se a Bia com movimentos exemplares. Pisando em cima do enorme corpo do demônio, Umrae se equilibrou exatamente no ponto que separava a cabeça azulada do corpo, no começo que a coluna cervical começava. Delicadamente.
Sua besta estava mirada para a cabeça.
E Bia estava ao lado de Raven.

Um demônio pode até conseguir atacar alguém que não tem grande experiência.
Mas ele não pode devorar esse mesmo ser sem grande experiência se tiver duas mulheres furiosas e amigas do ser sem experiência prontas a lhe matar. Não dá.
E não deu.
O sangue empapou as vestes de Bia, muito acostumada com isso. Umrae não recebeu tanto sangue assim como Bia e Raven que foi praticamente ensopado. Quando a flecha que atirara através da besta atingiu a cabeça, o demônio se vergou, fragilizado, o momento preciso que Bia se aproveitou - o segundo para cortar a língua macia e pesada com a espada [aí você entende, cara pessoa que lê, o porquê de todo o sangue - a língua era um negócio realmente grosso e enorme, que havia grande circulação sanguinea. Demônios são seres bizarros].
- Céus - Raven se levantou agradecido, suas roupas todas molhadas - céus.
- Está machucado, Raven? - Umrae perguntou. Sujara-se pouco, algumas gotas de sangue nas roupas e seus olhos dourados lhe dando um toque surrealmente macabro. Raven a encarou com um sorriso:
- Sim. Obrigado.
Bia balançou a espada para retirar o sangue ainda molhado e escorregadio, o sangue mal se podia ver em suas negras vestes. Ela nada disse antes de erguer os olhos para Raven e lhe dizer:
- Tome cuidado.
Raven desfez o sorriso - Bia lhe intimidava, sério.
Continuaram o caminho, Raven com um pouco mais de medo.
- Estão lá em cima - Umrae disse, se referindo ao sótão.
- Como sabe?
- Dá para escutá-los rezando - Umrae sorriu, e Bia completou com frieza:
- Demônios nunca rezam. A não ser que quisessem nos atrair como iscas.
Umrae subiu a escada que subia para o sótão.
- Mas aí - disse - temos que nos arriscar, não é?
Subiram primeiro a Umrae, depois o Raven e em seguida a Bia. A corda que prendia Umrae se enrolava pela casa (isso foi o principal motivo de Umrae não ter concordado com essa idéia - ela não queria imaginar a si mesma sendo arrastada pelos cômodos da casa de forma atrapalhada. E como Bel saberia que ela precisava ir? Pelo menos a corda servia para não se perderem na casa). O sótão não parecia nada protegido.
Uma mesa de madeira ainda inteira, embora com uma das pernas partidas ao meio.
Tapete puído sujo.
Nenhuma janela, exceto uma fechada com tábuas pregadas.
- Apresentem-se.
Não era voz de ninguém que conhecemos. Umrae parou de repente, se virou para a origem da voz. Trêmula e infantil.
Um pirralho de dez anos em pé, num canto do sótão, com um arco e uma flecha apontada para Umrae. Esta movimentou os olhos e levantou os braços gentilmente: crianças. Crianças sobreviveram.
- Umrae - Bia sussurrou devagar - tem algum feitiço aqui.
- Sim.
Raven deu um passo para a frente, e sentiu a fina parede invisível. Em todo canto que tocava, a parede fria existia. O garoto sorriu com a flecha apontada, seus olhos negros brilhando de sobrevivência.
- Ora essa. Se foi lançado por essa criança, não deve ser tão forte - alcançou e tocou a parede.
Era como previa.
Não era tão forte assim, mas era curioso - um Feitiço de Proteção que circundava todo o sótão em volta como uma barreira e praticamente invisível, sem falhas. Frágil, era verdade, mas o suficiente para manter demônios afastados.
- Vão embora! - a criança gritou. Ao que parecia, ele protegia outras duas crianças - uma garotinha que parecia mais um bebê e um menininho que abraçava a garota com todas as forças que conseguia reunir em seu rechonchudo corpo.
Bia tocou na parede invisível.
- Aquele demônio teve ter matado os adultos dessa casa - murmurou. Sabia muito de demônios, mas muito pouco de crianças - tenho a certeza que esse feitiço era de alguma bruxa com sangue de fada. É o que parece.
- Como sabe? - Raven perguntou intrigado ao que Umrae respondeu com um sussurro:
- Isso aqui é tipicamente fada pela linha de magia - seus dedos se ergueram levemente, o brilho dourado se acentuando - mas é espantoso como ela consegue me barrar. São poucas as magias de fadas que funcionam com gente do meu sangue.
- Tipo aquela que "protege" Campinas - Raven não viu muita lógica.
Umrae sorriu de desgosto. Detestava aquela magia - não era que "cancelava" o que ela poderia fazer, simplesmente interferia de forma tão desagradável que ela chegava a desistir. Mas não era esse tipo de magia que existia naquele quarto: não era desagradável, não era incômoda: era limpa e cristalina, quase como um véu imerso em luz.
O detalhe é que ela não conseguia ver.

- Bia e Raven, afastem-se - Umrae disse. Ela tinha uma intuição, e se estivesse certa, conseguiria salvar aquelas três crianças.
- Afastem-se! - gritou o menino. A flecha que mirava tremia.
Ele deve ter percebido que Umrae já sabia como quebrar a proteção.
E ela fez.
Com a cimitarra que não estava usando muito - estava se mostrando infalível com a sua besta - rompeu a barreira, experimentando toda a ânsia de amor e dor, esmagando cada pedaço de proteção que havia dentro dali, deixando as três crianças vulneráveis. Com um tilintar, pedaços de vidro e cristal caíram pelo chão, brilhantes mesmo na escuridão. Não havia mais luz, tudo banhado em trevas.
- Quantos demônios? - Umrae perguntou.
Bia se recuperou rápido do susto que levara.
- Sem aquele que matamos, cinco pela casa.
Ela era excepcional para descobrir quantos demônios havia - a semelhança entre as energias ajudava. Umrae arrumou a besta cuidadosamente, não poderia usá-la com uma mão só direito tendo uma criança. Empunhou a cimitarra, ergueu-a para a direção das crianças. Raven e Bia entenderam rapidamente.
Foram menos que dez segundos, posso lhe garantir.
Cada uma pegou uma criança: Umrae se garantiu com o garoto maior, Raven cuidou da garotinha e Bia tomou conta do menino de uns quatro anos aparentemente. Correram em disparada, indo pelo caminho da corda - era importante para conseguirem alçar vôo rápido. A corda era como uma luz no meio do caminho.
Seguindo cheiro de carne, demônios se agitaram.
Logo Bia recebeu uma forma indistinta e negra se jogando em cima, defendeu-se sem pensar.
Sabe, lutas não podem ser pensadas ou serão frustradas.
Sangue caiu em cima de novo.
Umrae conseguiu desviar de um demônio, puxou Raven para si quando ele quase foi capturado por uma dos monstros enormes. Nem todos pareciam uma lagarta: o que foi ferido por Bia se assemelhava a um troglodita enorme com espinhos entre os dedos, o que quase atacara Raven era como um pato enorme e negro com o bico pontiagudo. Lembrava muito uma ave toda elegante exceto o incomum fato de andar como um pato.
- Ai, ai. Isso vai dar trabalho - Umrae sussurrou.
Na escuridão, nem Bia nem Raven conseguia ver muito bem, apegando-se aos sons que mais lembravam fome e maldade. Raven conseguiu matar uma coisa que parecia mais um tigre com dentes arredondados, seus olhos se estreitando no esforço de mutilar os olhos como fizera de susto.
Suava frio.
Estava confuso.
E tinha uma garotinha cuja vida dependia da proteção que Raven podia oferecer.

Ai, ai.
Tantas coisas pra se fazer. Maldita seja Ophelia, pensou Raven com amargura.

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Johnny.
Raven.
Umrae.
Doceh.
Ly.
Fer.
Bia.
Caramba. A lista formada. Tinha que voltar inteira. Cada um com os quatro membros principais, cada um com a sanidade inteira. Ninguém sabia o que faria se alguém perecesse na luta, se alguém se machucasse pra valer. O que aconteceria se Umrae morresse? E se, Bia, céus? Johnny. O que seria de Raveneh sem Johnny para ser seu eterno companheiro? E o que aconteceria a Amai se ela não pudesse mais contar com o conforto oferecido por Raven? Kitsune era uma ótima tia e cuidava muito bem de Amai, mas sua proteção era mais maternal ao passo que Amai chegava a quase amar Raven de forma constrangedora - embora nunca teria coragem para confessar sentimentos.
- Eis aqui.
A tarde estava ficando muito suave. Talvez bem quente.
- Almoço atrasado - comentou Maria.
Ela não queria provocar nem nada. Somente comentário esparso, feito só pra quebrar o silêncio. Maria nem sabia o que fazer - sendo uma feiticeira, sendo a governante, deveria ser a primeira a agir. Mas a primeira coisa que fez foi entregar o poder a Umrae, como uma covarde. Droga. Não queria arriscar seu pescoço, e mães deveriam ser proibidas disso...
- Se você quiser aprontar seu almoço na hora certa, faça-o sozinha - respondeu Rafitcha com desgosto.
Estava realmente incomodada com cada barulhinho mínimo.
Raveneh sorriu constrangedoramente.
- Vamos?
Comeram em silêncio.

O abrigo era iluminado por velas, mas naquele dia muitas poucas foram acesar. O almoço atrasado foi comido na escuridão, os pedaços de batata moles sendo engolidos pelas pessoas com ar funesto, sendo rápido e triste. Quais motivos existiriam para dar alguma esperança? Thá suspirou - revirava a comida escassa em seu prato.
- Vamos.
Raveneh recolheu a louça ao fim. Lavava-a.
Havia uma pia na cozinha e por alguma magia desconhecida de Raveneh, a água chegava até ali. A mesma coisa se aplicava aos banheiros e banheiras onde se tomava banho por todo o abrigo - embora tivessem que lavar roupas no rio, sendo que não havia nenhum tanque nem modo de secar as roupas. Os engenheiros desse abrigo pareciam ter esquecido esse pequeno detalhe. Mas a dúvida maior que Raveneh experimentara era: a comida serviria? Pelo que vira, poderia alimentar por um mês.
E o abrigo se estendia pela toda área.

O abrigo era dividido em áreas imensas. Raveneh vivia na área principal, porém tinha outras pessoas - desconhecidas por nós - que viviam em quartos mais distantes e experimentavam as mesmas dúvidas. Perguntas impertinentes. Perguntas insistentes. Perguntas que tinham que ter uma resposta - a qualquer custo.
Ela era uma fada. Na teoria - nunca foi muito estimulada a usar o que tinha, mal sabia seu real poder. A única coisa que tinha real certeza era que podia falar com animais, caso que já lhe causou embaraços e era um poder detestável: como ela poderia comer carne com isso? E a cada vez que acordava, sentia que podia mais e mais. Catherine lhe sufocava no seu próprio íntimo. Como poderia cuidar de May assim?
Tinha poderes inacreditáveis e mal sabia como agir.
Deixe-me agir.
Não podia. Seria ela quem cuidaria de May. Seria ela a mãe, e queria muito manter uma vida em paz.
Você não pode.
Posso.
Posso.
Eram quase cinco horas. Quando eles iam voltar?
Quem, por Deus ou qualquer outra coisa divina, fazeria voltar a sanidade àquele "lar"?

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Estavam ainda no castelo, preparando-se.
Loveh mirava o céu azul e esplendoroso. Como podia a natureza estar tão tranquila com a terra mergulhada em caos?
Era assim como ela: sempre distante, sempre envolvida.
- Miih - ela disse desanimada - vamos morrer.
Miih a encarou com tristeza.
- Claro - ela respondeu - mas é o jeito.
- Nós temos a opção - discordou Louise - por que se lançar assim, à morte?
Os cabelos negros ondularam com o vento.
- Vocês não vêem? - Miih sussurrou muito baixo - as Campinas estão lutando contra Ophelia, e ela está ameaçando ir em frente de qualquer jeito. É pouco provável que as Campinas vençam, mas eles vão morrer pela causa se for preciso. E a gente? Faz o quê? Assiste? Perdemos Olga e Elyon por causa de uma criança birrenta e poderosa. Não podemos deixá-la continuar.
- Eu sempre disse isso - Sunny concordou. Loveh estranhou, afinal Miih nunca foi de desejar ir de encontro a Ophelia.
Mas todas assentiram e concordaram. Com tanta dor.
- Miih. Isso é loucura - Louise disse - para que entrarmos nisso?
- Por Elyon - gritou Sunny - por Olga e por nós! Você quer viver?
Louise parecia apavorada.
Seus olhos com muito mais fogo, fogo trêmulo.
- Vamos acabar ajudando os humanos, não é? - Louise indagou, trêmula.
- Alianças são necessárias, querida - Sunny disse tristemente, abraçando a Louise - mesmo com essa estranha espécie.
Estariam, com disse Luise, indo de encontro à morte.
Mas não havia opção além de simplesmente ir. Afinal não iriam se acovardar depois que perderam Elyon, mais uma morte estúpida.
- Eu não quero morrer - confessou uma Alice temerosa, ao que Sunny respondeu com sabedoria:
- A morte é o fim, sempre. Não há nenhuma escapatória, nem mesmo para nós.
Tão delicada como sempre, Sunny.

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Ophelia ergueu os olhos.
Havia muitos Glombs no castelo, nenhum interferindo na vida dela. Trocavam os lençóis de sua cama, lhe davam de comer, arrumavam cada cômodo.

Sempre invisíveis.
Sempre incomuns.
Sempre tão incômodos.
- Lala - ela disse. Nem estava no quarto de Lala, na verdade. Estava em um dos inúmeros quartos do castelo, um cuja janela enorme era virada para as Campinas. Enxergava a imensa relva verde, ensolarada, e mais adiante Heppaceneoh. Não conseguia ver nada direito. O que será que Jirä dizia, quando falava de armas mortais possuidas pelas Campinas? Mas fazendo alguma força, enxergou.
Piscou.
E saiu do quarto.

Estava muito decidida.

Wow, e eis mais um capítulo com o selo Luna Fortunato. Bem, espero que tenham gostado. As crianças novas que apareceram, bem, elas serão importantes - só resta esperar pacientemente. E agora, finalmente, comecei um desejo meu, envolvendo as Musas. Que bom que gostaram das novas cores! Eu fico realmente feliz com isso (:
Sim, Umrae, pensei na 3ª temporada justamente por causa disso - mentira, na verdade foi porque eu pensei em outra trama e não podia incluir nessa agora - e quis trabalhar nisso. Afinal acho tão interessante que personagens "secundários" tenham histórias paralelas (por isso detesto Crepúsculo: os personagens secundários só servem pra motivar Bella/Edward a ficarem juntos ._.), e quero usar a terceira temporada pra isso. Desenvolverei mais a parte de Kibii (juro que fiz um painel detalhista, até árvore genealógica da vida dela durante as aulas de história :O), Umrae e Maria. Acho que Maria é essencialmente mal-explicada e merece atenção, afinal teoricamente ela que deveria mandar nas coisas. Além disso quero desenrolar algo mais complexo e bem-trabalhado - vocês sabem como essa história começou com uma brincadeira O_O - e diminuir os erros e contradições. Em suma, amadurecer (:
Por isso a opinião de vocês é tão importante. Como corrigir as falhas se não sei, né? :D

Aliás, adoro vocês :D

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Parte 88 - Alguma paz.

Louise encarou o mar.
- Estranho.
Loveh arrumou as cortinas, e concordou. A água do mar borbulhava.
- É Catherine - murmurou Miih.
- Como sabe? - era a iniciativa indagativa de Loveh, ao que Miih sorriu:
- Consegue senti-la?
Consegue?
Loveh conseguia.
- Não pode ser - Alice sussurrou - é usar força demais em pouco tempo. Ela estouraria.
- Qualquer um pode superar os próprios limites.
Ora. Catherine podia, não era?
Ela estava em todo lugar.
Se desfez em pele.
Se desfez em dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
Se desfez em magia.
E ficou em todo lugar, onipresente, onisciente.
- Não aguentarei muito tempo assim.
Alice alcançou a praia, perto do castelo. Catherine estava em todos os lugares e não estava em lugar algum.
Por algum motivo, Alice queria chorar.
- Ophelia está com a mente de Elyon, acho.
Sunny correu atrás de Alice, quase tropeçando.
- Campinas reagiram. Estão vencendo em Hepacceneoh. Não fiquem caladas.
Miih permaneceu no castelo, ouvindo as palavras dedilhadas na voz adocicada e áspera de Catherine.
Companheiras há muito tempo.
Não amigas, só colegas amparadas devido ao poder.
- Quando puder, voltarei realmente-
Não.
Sumiu.
Sunny consolou as lágrimas de Alice que não se conteve mais.

- Eu tinha esperança - Alice soluçava - Elyon...
Sunny a abraçou calmamente.
- Elyon-
- Não fica assim - disse Miih - vamos vingar. Mesmo que a gente não mate Ophelia, vamos machucá-la.
- Vamos?
Miih só fez uma expressão enigmática.

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- Onde estava?
Ophelia resmungou qualquer coisa.
- Ophelia, responde - Lala pediu novamente.
A amiga a encarou. Não havia sanidade.
Talvez restos de pessoa sã.
- As Campinas se defendem. Está tudo bem.
Lala mordeu o lábio. Não estava tudo bem. Nada bem. As coisas mudaram muito e Ophelia estava se trancando cada vez mais em sua loucura. E ela, debilitada, nada podia fazer.
Nada?
Havia no ar o cheiro de derrota. E Ophelia o sentiu e não quis admitir.
- Não está - Lala murmurou - não.
As sombras estavam estranhamente distorcidas, mas Lala não reparou ou não quis perceber tal detalhe. Ela estava francamente meio enjoada, com ânsias de vômito, e com nojo de tudo aquilo. Apertou as próprias mãos, sentindo-se envergonhada. Como apoiara Ophelia?
Não era hora de arrependimentos. Não havia tempo, muito menos modo de voltar atrás.
- Lala, durma - Ophelia disse com um sorriso cuidadoso e fraco.
- Liberte Alicia.
Foi um único pedido. Não era pra ela ter pedido assim. Mas até que funcionou:
- Ela precisa ser punida.
- Ela não conseguiria prender uma Musa nem em um milhão de anos, Ophelia - murmurou Lala - e você não pode ficar cuidando de mim, tem problemas.
- Não tenho problemas - Ophelia estava estranhamente impessoal.
- Tem - Lala percebeu que os olhos castanhos de Ophelia pareciam mais sombrios.
Como vestígios de trevas.
- Ophelia, vá cuidar de ti - Lala pediu - você está mal. O que você fez com as garotas?
Ophelia não respondeu, deixando Lala sem uma resposta e sozinha - a majestade saira do quarto.

Dentro de dez minutos, Alicia estava de volta. Em frangalhos, mas estava.
- Cadê Ophelia?
- Você já acordou?
Lala riu. Estava realmente se sentindo meio grogue, mas conseguia raciocinar muito bem.
- Me dopou, Alicia?
A loira só deu um sorriso amarelo. Pelo visto a dose dada não foi o suficiente, afinal Lala acordara. Mas tivera tanta certeza de que a dose estava correta!
- Alicia, diga-me. Como foi Ophelia com aquelas...?
Alicia encarou Lala incrédula, mas logo rearrumou sua postura. Rearrumou o cabelo, e verificou se todos os remédios estavam ok. Não ligou para Lala até que terminou de arrumar as cortinas, varrer o quarto, ajeitar a cadeira ao lado da cama, trocar o lençol que cobria Lala e trocar suas ataduras. Lala sentiu-se agraciada.
- Obrigada, Alicia.
- Que gentileza, Lala - Alicia estava muito mais rancorosa - não faço isso por amor a você.
Lala se endireitou. Ainda doía, mas não podia dar uma de murta queixosa a vida toda.
- O que Ophelia fez com aquelas mulheres?
- Matou uma e prendeu outra - respondeu Alicia já sentada na cadeira, analisando o conteúdo de uma xícara contendo chá medicante - aquilo não foi normal. Porém... desde quando aquela louca segue o normal?
- Como ela matou?
Alicia não respondeu e Lala ficou no vácuo.

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Ainda nem era cinco da tarde e Umrae se orgulhava de ter alcançado quase o final da tarde com quase todos os demônios mortos, sem nenhuma baixa no próprio grupo. Ok, Fer se machucara, Toronto tinha o tronco todo furado, Harumi quase ficou cega e seu tornozelo se machucara numa aterrisagem mal-sucedida, Ratta soprava nos próprios dedos quase queimados com algum demônio particularmente feio, Ti-Yi cuidava dos joelhos contundidos e Giovanna foi a mais zen porque a única coisa realmente grave com ela foi a quebra de oito unhas, sempre cuidadas.

Mas, no fim das contas, estava tudo bem.
Talvez.

Logo a noite viria com seus espíritos cruéis, e aí seria mais um inferno para Umrae atravessar.
- Céus - Umrae olhou para baixo, sentada em uma torre - mal consigo reconhecer a Heppaceneoh.
Estava certa: as ruas estavam banhadas de sangue, repletas de cadáveres. Ossos e tripas, demônios que amarguram sua morte com flechas envenenadas pelas mãos de Umrae - sendo talentosa, não poupou em fortes venenos - rancores que ruíam pelas ruas.
- È véro - murmurou Bel concordando.
Umrae suspirou.
- Como é que pode?
- Simplesmente pode.
O céu se contorcia em fogo.

Nada vale mais a pena do que atingir um objetivo.
- Me desculpa.
Polly ergueu os olhos incrédula.
- Me desculpa. Eu estaria morta se não fosse por você - Bia resplandecia dentro de seu negro traje, seus olhos como jabuticabas. Polly riu - tinha até esquecido. Ergueu a mão como se oferecesse para apertar.
- Okay - disse e Bia aceitou, apertando a mão - quando for minha vez, você me salva.
- Claro.
Claro, mas nada enche a alma melhor do que pedir desculpas.

A cor do cabelo de Ratta - completamente natural, diz ela - era quase como o céu: alaranjado, fogoso, rebelde e belo. Ela mesma era uma excentricidade em muitas categorias: possuía orelhas e rabo de gato, olhos quase felinos e uma personalidade um tanto temperamental como gelo, astuta e irônica. Encarava o céu com um sorriso.
- Bonito.
Harumi quem murmurou. Ela não estava muito animada devido ao tornozelo que ainda doía, latejando. Ao contrário de Ratta que inspirava medo e rebeldia, Harumi era a personificação da doçura e ingenuidade. Mesmo que estivesse muito longe disso, sendo sempre uma garota fugidia e problemática com cara de anjo.
- Sim - Ratta sussurrou.
Tão diferentes em aparência, mas semelhantes em um único aspecto: ambas comeram o pão que o diabo amassou.
- Você gosta de Umrae? - Harumi perguntou, ao que Ratta sorriu:
- Ela é boa e decidida. Claro, beeem diferente de Bel - esticou os braços como se alongasse - mas não podemos seguir sempre os comandos de Bel. Ela é louca do tipo que arrisca nossas vidas sem pensar. Umrae não é desse feitio.
Harumi riu em concordância.
- Você acha que numa missão assim, se fosse a Bel a líder, alguém se machucaria mais?
- Claro - Ratta disse - talvez tivessemos matado mais, porém teriamos metade de nós quase morrendo. Umrae é diferente. É tão boa como Bel, se não mais, e é mais cautelosa. Eu gosto dela.
Harumi suspirou. Concordava intimamente com Ratta.
O furta-cor de seus olhos banharam-se de nuvens queimadas.
- Talvez se fosse a Umrae a nossa líder desde o começo - murmurou em uma voz bem baixa - talvez, talvez ele não tivesse morrido.
Ratta a olhou com pesar.
- Não foi culpa de Bel - disse - não foi culpa de ninguém, Harumi.
Harumi sorriu. Não chorava.

Chorar pra quê, se é sem querer?

E como em carícia, veio a noite toda. E de novo os demônios vieram a postos.
Sangrentos, vis, carnais e sedentos.
Em uma das janelas das casas ainda em pé, um par de olhos infantis surgiu.
- Umrae - Bel sussurrou.
Bia acenou a fita vermelha.
Era hora de Umrae, a meia-elfa dos tempos de Faerün, agir.


Pffff. Nunca fiquei com tanta dúvida do que fazer - porque vocês sabem que sou daquele estilo de escritora de novela: só sabe o que vai acontecer quando tem que escrever o capítulo de amanhã! Acho que me saí bem e consegui desenvolver um enredo. Pelo menos tem menos furos que Crepúsculo, né não? E queria escrever uma ação de resgate, estava com vontade de fazer isso há tempos. Adoro vocês, ok? E realmente, Umrae, seria tão legal se o RPG tivesse dado certo T_T
Saudades, viu... :~
E Ophelia que pense que não precise de aliados. Os demônios são sãos, apesar de tudo. Mas Ophelia se aprisiona na própria loucura. Como é que ela vai defender o que ela quer se está LOUCA? Bem, tudo bem em relação aos personagens. Estou dando conta de tudo, por enquanto. E se preparem porque vai aumentar um tiquim na terceira temporada [que sim, vai rolar, porém ela vai ser mais emocional e sobrenatural atendendo aos desejos de Kibii desde que ela gosta dessa história rs]
Aliás o que vocês acharam das novas cores do blog? Fiquei ansiosa por mudar, e não queria mudar pro preto já, afinal o preto me cansa a leitura. Continuou fácil ler a história, gostaram?
Sendo adolescente miguxa, vxs moram no meu ♥
Beijos, rs :*