quinta-feira, 14 de maio de 2009

Parte 83 - No limite.

- Oh!
Elyon puxou Ravèh e a jogou de volta contra o muro, o que fez a vítima gritar de novo.
De novo.
E de novo.
- Sim, garota - Catherine encostou a cabeça de Ravèh contra uma das paredes ainda em pé - sim, sim.
Ravèh tentou se levantar, mas mal tinha forças. Na última hora que se seguira desde o primeiro golpe, só apanhara impiedosamente. Catherine e Elyon... sabia muito vagamente que elas eram tão poderosas, só perdendo para Ophelia. Fora burrice, devia ter saído do caminho delas. Mas se lhe contassem sobre duas Musas socando alguém (ainda que esse alguém fosse um demônio), jamais teria acreditado, afinal Musas eram lindas e boas e elas viviam para ajudar a humanidade.
Que estúpida mentira contada para acalmar as pessoas.
Até parece que alguém tão poderoso se curvaria para ajudar pessoas por puro prazer.

Ravèh moveu a cabeça pra trás, na tentativa de estancar o sangramento nasal, mas a tentativa foi interrompida com um tapa vindo de Elyon. Ela já estava muito mais desarrumada, seus olhos já se reviravam de tontura. Estava lutando bêbada, assim como Catherine. Mas ainda assim lutavam e muito bem, tinha que admitir.
- Vamos lá, demôniozinho - Elyon zombou - o que você consegue fazer?
Ravèh se levantou, ficando de pé, surpresa por ter conseguido sem ter um vulto lhe dando socos ou lhe perfurando. Mal podia contar os arranhões profundos que tinha nos braços e costas, e agora sangrava demais. Tinha um corte na testa, acima do olho esquerdo, e o sangue corria muito fracamente, mas o suficiente para atrapalhar a visão de Ravèh.
- Vá em frente - Catherine murmurou.
Que coisa mais estranha.

Estava frio, mesmo sendo verão e tudo o mais.
Mas todo aquele cheiro de morte ao redor, normalmente delicioso para os demônios, era perverso para Ravèh. A cada segundo que permanecia ali, encarando Catherine e Elyon, e gravava os traços femininos das oponentes, percebia que caíra em um abismo. Um abismo que não havia nada de mais, só a infindável escuridão.
Recuou um passo antes de se lançar, loucamente, contra Catherine. Enfiaria o punho nela e se utilizaria da sua força quase sobrenatural para atacar Elyon. Deslizaria os braços, dobraria os joelhos e lançaria uma contra a outra, cegando-as momentaneamente.
E foi.

Deu estupidamente errado.
Primeiro porque Catherine percebeu seu punho e o repeliu com um gesto - o fato de Ravèh nem ter sentido o braço de Catherine lhe batendo é outra história - e quando ela tentou mesmo assim dobrar os joelhos e deslizar para atrás de Elyon, Catherine lhe segurou pelos braços e Elyon sorriu. Nossa, como era ingênua.
Monstros são monstros, mas Musas são Musas.
- Bem, querida, você acha que a Vossa Majestade sente sua falta? - perguntou.
Ravèh não respondeu.
- Vamos levá-la - Catherine sugeriu - temos que devolvê-la!
- Sim,
Droga. Não podiam fazer isso, como explicaria para Ophelia? No mínimo Ophelia teria mais um dos acessos típicos de fúria, e urraria o quanto ela era incompetente. Nem queria pensar em voltar, já que assassinara aquele bastardo, e Ophelia lhe dissera explicitamente para só torturar, sem morte realmente. DrogaDroga.
Quando Ravèh fez uma expressão furiosa, Elyon percebeu que estava fazendo a coisa ideal.

Claro, os monstros aos monstros.
E seria uma perfeita oportunidade para ter uma nova luta com Ophelia, e dessa vez ser tudo ou nada.
Pois dessa vez, decidiu Elyon, só um lado levantaria no final da batalha.

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- Bom dia! - mas tudo o que Raveneh menos parecia era alguém entusiasmado que dava 'bom dia!'. Tinha motivos: tivera um daqueles horrorosos pesadelos de novo, e May acordara a mãe desse horrososo pesadelo com um temível choro. Passara a noite em claro, ninando a filha, dando de mamar e já estava há muito rasa de ânimo e esperança.
Quando pôs a filha para dormir, então se levantara para realizar seus afazeres. Juntara as roupas da semana, e precisava lavar, embora agora só pudessem ir ao rio com proteção especial, e em seguida arrumara uma cesta repleta das roupas. Chamaria mais umas duas meninas para ajudar, e teria que pedir ajuda de alguns dos soldados. Na cozinha, percebeu que a quantidade de trigo era pouca. Mas mesmo assim, fez o possível para assar o máximo possível de pão, mas só deu um pão pequeno para cada um. A essa altura Tatiih lhe ajudou a produzir geléia de morango.
- Não temos mais vacas - lamentou Tatiih - isso significa sem leite, sem queijo, sem manteiga.
- Lamentavelmente.
De fato. As vacas e cabras que viviam por ali, pastando para lá e para cá, sumiam pouco a pouco. Algumas fugiram para o meio das florestas quando sentiram os demônios, as outras foram mortos pelos demônios. Mas como as Campinas estavam cercadas de demônios, nada mais natural que a cada dia quando acordasse, visse que tinha uma cabra faltando.
- Pão e geléia - murmurou Raveneh - o que querem mais? Ainda temos galinhas, vejam só!
- Por quanto tempo? - Tatiih disse sombriamente.
De fato.
O celeiro com as galinhas contava com muitos poucos espécimes. Um dia elas se acabariam, e não podiam trazê-las para dentro do abrigo. Teria que arranjar uma forma de alimentar a todos sem precisar de animais ou qualquer alimento vindo delas. Não sabia como, mas tinha que fazê-lo. Batatas. Cozinharia batatas e as refogaria, misturando-as com manjericão. Talvez não ficasse gostoso, mas daria sustento ao corpo. E cortaria as batatas, e faria arroz também, alguma plantação se salvara.
Tinha medo de que chegasse ao ponto de terem que comer no café da manhã o que comeriam no almoço, simplesmente por não ter opção.
- Olá, senhorita - Erevan se sentou, encarando o minúsculo pão que recebera. Sorriu gentilmente e recusou a comida. Raveneh se ofendeu:
- Mas, senhor! - exclamou - vocês são hóspedes! O que pensam de nós se não lhe oferecermos comida?
- Somos carnívoros - Keishara se explicou - prefiro caçar a minha comida do que me alimentar de trigo, além disso posso passar por longo tempo sem comer. Perdoe-me, alimente-se com esses pães. Vejo que precisa mais do que eu.
Raveneh resmungou. De modo que pegou os pães recusados pelos três dragões e ficou sem saber o que fazer. A divisão tinha que ser justa, não podia se alimentar deles e ter mais do que os outros.
- Coma um pão - Maria disse - dê o outro para a Amai que é a mais nova daqui, ainda em fase de crescimento. E guarde esse outro pão, divida-o com Amai quando chegar o almoço.
- Maria! - exclamou Amai indignada - eu não pre-
- Precisa - Bia deu uma pequena mordida no seu pão - você é uma criança, Amai. Não pode ficar desnutrida, e a Maytsuri não pode comer ainda.
Amai engoliu seu pão com raiva.

- Pensei que estaria lá em cima - Raveneh se mexeu pegando o cesto com as roupas. Estava conversando com Harumi, a quem considerou particularmente delicada.
- Não é meu turno agora - Harumi disse - o que vai fazer?
- Lavar roupas.
Harumi a encarou com curiosidade, como se lavar roupas fosse uma excentridade.
- Sozinha? - perguntou, ao que Raveneh sorriu, aliviada:
- Não, Tatiih e Thá me ajudarão - remexeu no cesto - por quê?
- Nada, queria te ajudar.
Raveneh sorriu de canto, Harumi entendeu. Levantou-se e pegou o outro cesto de roupas sujas. Seguiu Raveneh, Tatiih e Thá por todo o caminho, até o rio, sendo escoltadas por Bia e Fer que pareciam achar servir de guarda-costas algo extremamente chato. Raveneh ensinava os caminhos para Harumi, e as duas trocavam histórias. Chegaram ao rio, um lugar normalmente confortável e protegido pelas árvores, mas agora tinha uma atmosfera opressiva.
- Tomamos banho aqui - Raveneh disse para Harumi - foi aqui que Kibii foi surpreendida por um demônio. Lembro que Umrae torceu o pé, e teve o início do treinamento para que todos soubessem lutar com demônios.
- Umrae já torceu o pé? - Harumi se surpreendeu.
- Claro - Fer disse, se apoiando no chão, observando as mulheres começando o trabalho - todos torcem o pé ou quebram o braço alguma vez na vida, se é alguém que luta. Nem mesmo Umrae escapa à regra... ela já foi uma iniciante.
- Mas ela já não era mais iniciante quando torceu com aquele demônio - Raveneh alfinetou - mas, pelo que soube, aquele era monstruoso e terrível.
- Sim - Fer concordou - na época, era. Agora aposto que era do tipo que conseguiríamos derrotar facilmente. Só erramos em achar que eles atacariam mais tarde. Mas não erramos nunca mais.
- E o que dizer do seu braço? - Tatiih disse em tom jocoso - mas você vai me dizer de novo que foi diferente...
Fer riu.
- Claro que foi! Eram três e fortes. E tinham uma refém.
- Umrae não trabalhava com reféns? - Raveneh perguntou, seus olhos azuis cintilando de curiosidade. Umrae era sempre aquela pessoa responsável e fria, porém de passado desconhecido. Fer suspirou. Ela sabia algumas coisas a mais, não que isso significasse que fosse amiga íntima. Umrae nunca comentava muito abertamente sobre o seu passado, e era estranho lhe perguntar qualquer coisa do tipo. Assim como seria estranho se Umrae lhe interrogasse sobre como ela assassinara os assassinos de sua família. Imaginou se Kibii ou Bia sentiam o mesmo.
- Acho que sim - Fer sussurrou - ela veio de Faerün, aquela terra cheia de elfos e tal. Dizem que Ophelia seria aniquilada assim que botasse o pé lá, então não quero nem imaginar eu lá. Já conheci uma guria que vinha de lá. Falava muito sobre os deuses bons e mortos.
- Deuses, deuses! - exclamou Harumi com ódio.
- Os bons são sempre mortos - Raveneh riu com desgosto - quando eu vivia em Istypid, as pessoas cultuavam algum deus que nunca viram. Por anos, sempre achei que deus era aquela criatura que nunca se vê, nem se ouve, mas se sente e os que não sentem são retardados espiritualmente.
Fer riu.
- Aqui há criaturas poderosas como as Musas e elas são tidas como deusas - disse quase em lamento - mas, droga, como confiar a colheita do ano a essas criaturas tão caprichosas? Nós não temos a quem rezar, no fim das contas.
Todos encararam Fer com alguma expressão estranha, como uma mistura de desalento e alívio. De fato, não podiam rezar para mais ninguém. Não podiam culpar um deus pelos demônios, pelas mortes, pelo desespero. E como não rezavam, nenhuma esperança era depositada nas orações, só nas estratégias. Se a morte viesse, a culpa era de todos e de ninguém.
A culpa era só do azar ou da estupidez.
Para as pessoas que pensavam como Fer, era muito melhor assumir todos os atos, sejam insanos e desmedidos, do que jogar tudo nas mãos de uma entidade estranha e viver sem pensar nas consequências.

- Como era em Istypid, Raveneh? - Harumi perguntou, sem muita curiosidade só para romper o silêncio.
Raveneh mergulhou um vestido verde na água, sacudindo-a freneticamente. Só encarou o verde encharcado, mordeu o lábio inferior. Não eram exatamente lembranças felizes, mas não as escondia. Sempre as tinha quando possível, e fazia o impossível para tentar lembrar algo mais.
- Meio deprimente - Raveneh respondeu - todos eram humanos. Isso por si é deprimente.
- Você odeia humanos normais?
- Acho que sim - Raveneh murmurou - todos aqueles humanos que nunca viram magia... odeio todos eles.
Harumi ergueu os olhos, parecendo entristecida.
- Eu morava em um bairro que era mais uma vila isolada da cidade - explicou Raveneh - era pobre demais para ter algo grandioso. E a minha família era a mais perversa entre os perversos, então não havia grande solidariedade comigo, ainda mais por eu ser fada.
- Raveneh, seus pais não eram humanos? Como nasceu fada? - Tatiih perguntou.
Raveneh sorriu. Era um grande trunfo para si mesma: ter nascido de raça diferente da sua mãe. Quando era mais nova, tal diferença lhe era o próprio inferno, mas agora era como algo delicioso. Mesmo que fadas fossem terríveis, sentia-se aliviada de saber que não compartilhava o mesmo tipo de sangue que a mãe carregava.
- Meu pai amou uma fada, traindo mamãe. E fui criada pela mamãe.
- E você a chama de 'mamãe' - Harumi murmurou, não querendo ser ouvida, mas o desejo foi frustrado assim que Raveneh deslizou as mãos por uma blusa branca. Encarou o cesto ainda cheio, percebendo o quão lenta que estava. Adiantou o serviço, ficando assim mais calada. Mas nada disse, ficando imersa em seus pensamentos. Ainda chamava de 'mamãe'.
- Me chame de mamãe, entendeu?
Passou o sabão sentindo raiva. Ainda se lembrava das unhas sujas da mãe lhe apertando o braço com tanta força que saía sangue, e de como ela gritava a cada vez que alguma coisa era culpa dela: um prato quebrado, cenouras arrancadas da horta, existência de um gato arruaçeiro. Não ousava entrar no quarto da irmã mais velha, pisava sempre sem fazer silêncio. Recusava-se a comer animais, pois conseguia ouvi-los e nenhum controle era feito sobre isso. Era simplesmente constrangedor admitir que poderia esquentar um pouco mais o ambiente, enquanto todos sentiam frio na neve e reclamavam disso.
Ela simplesmente gostava de fazer tudo ficar ainda mais frio.
Por que não é como sua irmã? Saia do caminho!
Seu pai.
Céus, seu pai.
E agora todos estavam mortos. Seu pai morrera, sua mãe morrera, sua irmã morrera. E seu irmão mais cruel também. Excluindo seu pai, a quem amara ingenuinamente, todos os outros encontraram a morte em suas mãos. Pois fora negligente com a mãe (não duvidava nada de que Catherine tivesse alterado o remédio pouco a pouco para que a mãe ficasse enfraquecida e morresse depois da superdose), ignorara os apelos da irmã e empurrara o irmão para a morte. Faltava os outros irmãos, era verdade, mas todos eles provavelmente já encontravam a morte. E se não tivessem encontrado, não ousariam atravessar o caminho de Raveneh.
Sempre me pergunto...
... quando eu sinto raiva, quem sente raiva? Eu ou ela?


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Alicia tomou banho.
Entorpecera Lala, lhe dando um chá que fortalecesse misturado a um forte sonífero para que ela dormisse até quando se cansasse de dormir. Quanto a Ophelia, a deixou no quarto resmungando coisas estranhas sobre 'matar', 'Campinas', 'Umrae' e 'peça-chave'. E agora não sabia mais o que fazer. Estava sozinha.
Irremediavelmente sozinha.
Penteou os finos cabelos, encarando-se no espelho com ódio. Fracassara. Assim como a Siih fracassara em salvar o reino, Alicia fracassara em salvar Siih. Bem, tinha algum resquíco de amor-próprio. Apertou os punhos com força, seus olhos ficaram vermelhos pelo esforço pra não chorar. Não chore, não chore, não chore.
Libby. Gika. Siih. Lefi.
Droga, era a sobrevivente. Se era a última pessoa sã que restava naquele castelo, então permaneceria a última pessoa sã. Levantou-se, tentando descobrir o que poderia fazer. Tinha medo de que os cadáveres dos irmãos fossem para a goela de Ravèh, assim como Gika. Mas não tinha muito o que fazer. Penteou os cabelos mais uma vez com raiva.
Seus fios loiros já estavam quebrados de tanto serem penteados com tanta força, os nós sendo arrebentados.

Saiu do quarto, a faixa do vestido bem amarrada em um bonito laço nas costas, seus olhos cinzentos fitando o cristal das paredes de forma vaga. Estava ligeiramente tonta, e o amanhecer só tornava tudo mais difícil. Era manhã, o sol já brilhava, e toda aquela coisa de Siih gritando para que a criada vivesse lhe tinha abalado a estrutura psicológica. Quase tropeçou em um tapete qualquer, ficou com medo de que alguém tivesse visto a sua quase queda. Chegou ao salão, onde havia o trono onde a Rainha se senta.
- Seria mais fácil - concluiu Alicia - se eu simplesmente me mandasse daqui. Mas para onde?
Estava perdida nos devaneios em que mergulhara, tentando raciocinar, quando percebeu que alguém estava batendo na porta bruscamente. Sem demora, foi atender para receber com horror uma criatura muito loira e pálida caída aos seus pés, ensaguentada. Alicia recuou, assustada, erguendo a vista para ver quem era.
Duas garotas que nunca tinha visto antes. Uma tinha cabelos castanhos, e estava completamente despenteada assim como a outra que lhe fazia lembrar as sereias ilustradas em livros escolares, com os lábios sensuais e os cabelos de um estranho tom esverdeado misturado ao negro.
- Quem são vocês?
- Chame Ophelia - a de cabelos castanhos declarou - diga que Elyon e Catherine a procuram.
Alicia fez uma temerosa reverência, saindo do salão rapidamente, seguindo até o quarto de Ophelia. Bateu na porta freneticamente, sujeitando-se a penar sob a fúria da atual Majestade. E de fato, Alicia sentiu uns fios de cabelo se cortarem com uma faca atirada por Ophelia, através da porta. Ela sorriu amareladamente, mal acreditando na própria sorte.
- O que é?
- Elyon e Catherine lhe chamam no salão, Majestade - Alicia disse sem pestanejar, já ansiosa para sair do caminho de Ophelia.
Ophelia franziu as sobrancelhas. O que elas queriam ali? Já não bastava a luta anterior, que as deixara no limite entre a morte e a vida? Fora tão arrogante em supor que estariam fracas no momento! Pelo menos, permaneciam tolas e tolas seriam até morrerem, entre os seus dedos. Saiu do quarto de vez, descendo as escadas em uma velocidade tão surpreendente que Alicia se confundiu para onde Ophelia teria ido. Ela também desceu para o salão, mas quando Ophelia a avistou, só fez gritar:
- Vá fazer suas coisas!
Claro, tinha que ficar ao lado de Lala, cuidar dela e tudo o mais. Mas dopada do jeito que estava, era pouco provável que ela acordasse e pedisse algo, de modo que Alicia se escondeu atrás de uma das estátuas de marfim, e conseguia enxergar o salão. Aquela criatura ensaguentada não era a Ravèh, por acaso? Se elas conseguiram deixar Ravèh desse jeito, então elas são extraordinariamente poderosas...
- Acertar nossas contas de uma vez - Elyon disse.

- Que diabos é isso? - Ophelia apontou para Ravèh que ainda gemia de dor.
- Achamos que gostaria de ter seus empregados debaixo do seu nariz - Catherine disse maldosamente, chutando Ravèh - ela tem o cheiro daqui, então não foi difícil concluir que ela trabalha aqui.
Ophelia recuou, encarando os olhos decisivos das oponentes. Mataria as duas naquela hora, e seria quem daria o primeiro golpe. Moveu o pé direito, empunhando a mão, em direção a Catherine. Sentiu o abdomên da garota se contorcer de vez, e ela ser arremessada contra uma das paredes de cristal. Ela ofegou, tentando se levantar.
Elyon tentou ajudar Catherine, mas Ophelia a impediu, puxando-a para junto de si, o braço em volta da garganta de Elyon, comprimindo sua jugular. Estava com raiva.
- Veja bem, garota - Ophelia sussurrou - eu posso ter nascido depois de você, mas isso não quer dizer que deve me subestimar. Eu vou te matar - apertou ainda mais a jugular - vou fazer da sua pele trapo para limpar o chão - as unhas se enterraram na carne - darei sua carne aos cachorros e - ignorou Catherine que conseguiu se levantar - você se tornará tão irreconhecível como uma ameba.

Catherine se lançou contra Ophelia.

Como uma serpente veloz, seus pés bateram no chão uma só vez, o suficiente para ela saltar e se instalar bruscamente bem atrás de Ophelia, seus olhos fitando os cabelos castanhos da Majestade. Sem parar para pensar, socou as costas de Ophelia, fazendo-a soltar Elyon, um soco sendo suficiente. Elyon desabou no chão, o pescoço sangrando e a respiração difícil.
- Maldita.
Catherine desviou do primeiro golpe lançado por Ophelia, fazendo zigue-zague pelo salão. Seus cabelos voavam a cada vez que Ophelia avançava um passo, tentando golpear Catherine. Infelizmente para Catherine, Ophelia tinha a habilidade de não se cansar rapidamente, o que a fez prosseguir e casualmente arremessava Elyon contra a parede, para que a respiração dela se tornasse ainda mais difícil e não conseguisse se levantar.

Finalmente Ophelia agarrou um dos pés de Catherine, fazendo-a cair de cara em uma das estátuas caríssimas de cristal, tal que o cristal se partiu em mil pedaços. Cortou a bochecha ferozmente, e quando conseguiu enxergar o mundo novamente, estava do lado oposto ao de Elyon. Sentira que suas costelas ameaçavam se partir caso Ophelia continuasse a agarrar seus pés e a lançar sobre o chão e as paredes como se fosse um boneco.
De repente, Ophelia parou.
Seu braço direito, propriamente elástico que no momento se enrolava em volta dos pés de Catherine, fora perfurado por uma pinça enorme e preta. Catherine ficou em choque.
- Pare. - Elyon estava ajoelhada, com somente um braço normal. O outro se transformava em uma enorme pinça, que atravessara a carne de Ophelia como se fosse nada. Percebeu que Ravèh estava acordada, mas no canto dela, gemendo de pavor. Elyon se levantou, ainda achando dificuldade em manter parte do corpo na forma monstruosa. Ophelia não se incomodou. Simplesmente puxou o braço de volta para si, rasgando a carne, mas parecia que isso não lhe causava nenhuma dor.
Elyon transformou o outro braço em outra pinça monstruosa, e movendo as duas pinças contra Ophelia, tentando fazer com que uma rompesse o cérebro e a outra fizesse o coração sangrar. Ophelia se defendeu magistralmente bem, deslizando pelo aposento, evitando qualquer pinça que se lançasse sobre ela. Ainda não estava perfeitamente recuperada, e por isso, desviava.
Catherine se lançou contra ela, porém a tentativa caiu perfeitamente boa para Ophelia pois quando Catherine tentou lhe aplicar cortes com uma espada recém-conjurada (Ophelia bem que queria saber onde foi que Catherine arranjou aquilo, mas desistiu de perguntar), Ophelia se aproveitou, fazendo com que a espada virasse pó ao aperto que deu, com a mão, em volta da lâmina. E a outra mão serviu para arremessar Catherine para uma das pinças que vinha na direção dela.
De fato, Catherine viu seu ombro direito ser atingido pela pinça. Ela rompeu a carne, atravessou todo o ombro e ficou a um centímetro do rosto de Ophelia. Tremia, assim como todo o corpo de Elyon, e por puro instinto tentou diminuir a distância só para pelo menos roçar no nariz de Ophelia. Só isso.
Mas Catherine gritou de dor.
E Ophelia riu, se aproveitando da fraqueza momentânea, golpeando Elyon.

Não utilizou dos tentáculos que criava com os braços.
Simplesmente jogou Elyon de volta para a parede, a fazendo sentir tanta dor (mas tanta dor).
E ao beijar, com ironia, a testa de Elyon, sentiu que a vida se esvaía ali.
- Pela primeira vez na vida, uso isso em alguém - Ophelia murmurou - deve se sentir honrada.
Elyon a encarou, os olhos quase chorosos, quando sentiu seu cérebro sentir a pressão de ter um elefante em cima dele. E já não mais gritou, porque não havia mais cérebro.


Para de tentar imaginar que Ophelia consegue visualizar um cérebro, e PLIM!, o cérebro sumiu, okay? Imaginem coisas mais excêntricas e criativas! Arigatô, Umrae e Ratta, por me ajudarem. Umrae, valeu mesmo, estava com essa dúvida terrível xD Agora já estou mais tranquila. E quando eu falei 'entre sua raça', eu não pensei muito na questão de 'meio-elfo'. Na verdade, pensei em Bel que teria aquela visão mais comum dos elfos: como seres belos, inteligentes, etc. Não são todos assim, e elfos não são tão pacíficos como muita gente costuma achar. Então quando falei 'viver entre sua raça', imaginei em Bel tendo aquela visão de elfos lindos e maravilhosos, e pensando porque cargas d'água Umrae não estava entre elas. Não é a toa que Umrae ignorou solenemente, porque sabe que a pergunta é meio estranha. Aliás, gostei muito de sua aula sobre drows, e tal. Realmente, você sabe que a cada post bem detalhado seu, tenho uma base melhor para a sua personagem e isso é muito bom, além de quê eu posso conseguir vislumbrar um detalhe da mente de Umrae. Obrigada ^^ Ratta, você realmente acredita em dragões? o_o okay, tudo bem, tem gente que acredita no Espaguete Voador, não vou falar nada, então. Aliás, meu computador tá bizarro. A área de trabalho, o desktop sumiram! Não consigo mais ir em 'meus documentos' e essas coisas. Para acessar essas coisas, tenho que digitar o atalho para gerenciador de tarefas (ctrl+alt+delete) e clicar em 'iniciar nova tarefa' e ir diretamente na pasta onde está o programa, porque senão me lasquei. Nunca fui tanto à pasta C:\, onde estão os programinhas instalados porque eu não usava os atalhos no desktop, usava na barrinha de iniciar... tão prático :(
Enfim, espero que vocês tenham gostado do capítulo. Tenho que confessar que adoro esse capítulo simplesmente porque ele significa uma virada na história e um alívio: eu já não sabia mais o que fazer com Elyon. Eu planejava que ela morreria na luta final, mas adiantei a morte dela e agora posso trabalhar melhor sem ela no caminho, e ainda assim, usando ela como a gota d'água da história. Vocês entenderão, eu garanto.
E quanto as reflexões de Raveneh, bem, acho que são boas, serviu para recapitular a vida dela até ali, como um resumo. Agora se dá para esboçar de forma eficiente como será a vida dela - se sobreviver, claro. Porque se há uma coisa que vocês não podem contar é a garantia de que alguém sobreviva. Por exemplo, quando criei a Libby, não tinha intenção nenhuma de matá-la, assim como Yohana. Mas matei as duas. Se os personagens atrapalham mais a trama do que ajudam, eu mato. E se alguma pessoa que retratei na história (ex: Umrae, Rata, Rafinha) me pedir tal coisa, normalmente eu faço tal coisa a não ser que ela for muito contrária ao que penso (tipo, se alguém me pedir pra transformar a personagem dela em uma dançarina louca de circo e eu não ter como encaixar no conceito). Mas normalmente eu atendo aos desejos. Ou você acha que Umrae teve a personalidade melhorada (porque a Umrae da 1ª temporada é muito² mais infantil comparada com essa, convenhamos) como? Teve que ter a guria ali pra reclamar xD

Bem, adoro vocês, sabe disso *-*
Beijos, tenham felizes dias enquanto minha história permanecer ausente, okay? E se divirtam :D

4 comentários:

Umrae disse...

É uma pena que dois livros que eu gosto muito não estejam disponíveis em português: "Evermeet", que conta toda a história da raça élfica, desde os deuses, o surgimento da raça, as primeiras cidades e reinos, a escolha do rei, a família real, o golpe de estado dado pela própria nobreza, etc, e "Starlight and Shadows", que mostra o que é ser um drow na cidade subterrânea de Menzoberranzan, em uma sociedade cruel, adoradora de uma deusa má, e depois o que é ser um drow na superfície, após o chamado de Elistraee, tentando viver de maneira justa e bondosa. Você iria gostar bastante e entenderia muita coisa (inclusive entenderia por que eu me revolto tanto com você às vezes por me atribuir ações absurdas).
Quanto ao espanto do pessoal de Grillindor de que eu tenha me tornado mais vulnerável e fraca, tenho dúvida se isso teria alguma coisa a ver com a minha perda parcial de magia em função da destruição de Elistraee (sim, inconvenientemente, se você é de alguma classe que utiliza magia divina, tal como um clérigo ou favored soul, no meu caso, quando o seu deus é destruído você perde todos os poderes por ele dados. Isso acontece normalmente quando você o trai também. Quando você abandona um deus para adorar outro, para que você possa voltar a ganhar poder, do novo deus, você tem que passar por um complicado e intenso processo de expiação, que o torne, na visão dele, merecedor.) Não que eu tivesse poderes absurdos, mas ao menos tinha magia de cura e mais umas cartinhas na manga.
Eu imagino que em Faerün, a barreira entre os diversos mundos seja mais frágil, por isso a magia dos deuses consegue interferir tanto no lugar, por isso os seres extraplanares como demônios (os de verdade, que só morrem com magia divina ou armas mágicas muito poderosas, que usam magia e conseguem prender e torturar a sua alma, que tem poderes como se liquefazer, penetrar nos corpos dos inimigos e explodí-los de dentro, como fizeram com o meu clã), celestiais e elementares conseguem ser evocados ou selados tão facilmente. E a teia de magia que envolve o plano material, invisível aos seres desprovidos de magia arcana (que é a que pode ser obtida por qualquer um, porém após muito treinamento e estudo), é mais densa e mais forte. Por isso tantos seres poderosos são encontrados lá, e insistem em conquistar o lugar, em vez de procurar novos territórios.
Vou quebrar em dois posts, o segundo é sobre minha opinião sobre algumas coisas que você planejou para a história.

Umrae disse...

Todos os ensinamentos éticos e morais que eu tive na vida, desde pequena, estão de certa forma relacionados as principais pontos da doutrina de Elistraee:
1) Todos aqueles de boa vontade têm o direito de viver nas terras sob a luz do sol (embora isso originalmente tenha um sentido de redenção do povo drow e o retorno à superfície, eu entendo que isso vai um pouco além, tendo um sentido de igualdade e direito à vida e à liberdade de todos os seres bons de todas as espécies, mesmo os que vêm de raças tradicionalmente conhecidas como más, como os orcs, por exemplo).
2) Retribua a rudeza com bondade (procurando mudar as pessoas), mas retribua a violência desmedida com violência ágil e imediata (para que um ser cuja recuperação do caráter é impossível não tenha tempo de fazer estrago nem prejudicar inocentes. Observação: isso ainda dá a eles o direito de uma morte rápida e digna, nada de tortura ou humilhação).
Mesmo que a deusa tenha sido destruída, os valores morais não mudam.

Basicamente, considerando-se esses aspectos, por exemplo, o sequestro da Lala para ferir emocionalmente a Ophélia seria impensável, assim como o apoio/autorização à Bel de matar a Zidaly (que é uma grandessíssima mala-sem-alça, mas nem por isso merece morrer. Claro, como há toda uma personalidade zombeteira e sarcástica que esconde todo o sofrimento passado ao longo da vida, isso não quer dizer que eu não sentiria um imenso prazer em sacanear a Zidaly desgarrando ela do restante do exército e colocando-a para fazer as tarefas de suporte mais degradantes quanto for possível, tais como limpar a sujeira dos cavalos (e se possível dos dragões), lavar e ferver as roupas dos feridos e esterilizar os instrumentos médicos em algum porão infernalmente quente, com cheiro de sangue e pus, ajudar nas forjas, no conserto das armas, enchendo suas delicadas mãozinhas de bolhas, cicatrizes de queimadura e calos, e, é claro, alegando que é tudo para o próprio bem dela, afinal, nosso exército não pode ter a preocupação e a distração de ter que ficar pageando uma incompentente no campo de batalha.
Mas sarcasmo à parte, tudo tem razões mais profundas. Os cidadãos das Campinas estão com medo e desconfiados com a chegada dos estrangeiros, e que efeito você acha que gera em um povo uma situação em que aqueles que vieram se arriscar para salvá-los não tem um mínimo de consideração ou respeito pelos próprios conterrâneos, se aproveitando da primeira oportunidade para eliminá-los? O povo das Campinas precisa da imagem de heróis, não de pessoas traiçoeiras e egoístas.
Confie em mim em uma coisa, de compreender o que se passa na mente de um povo acuado que já sofreu demais e saber como inspirá-los e obter o empenho máximo dele, eu entendo.

Marii! :D disse...

Eu queria ser uma dançarina de circo louca? Dá não? /zoei
Lunoska, capítulo bem agitado, adorei! Tô hiper curiosa pra saber da reação das Musas! :o
E sim, acredito em dragões, mas claro que não nesta dimensão e etc... É como se fossem os elementais (Silfos, Gnomos, Salamandras e Ondinas), em que minha religião acredita. xD
E sobre este negócio no seu computador, cuidado com o livro... Sempre que dá alguma zica no meu pc eu já mando o livro pra mim mesma por e-mail, que aí não perco... Até pq meu pc pode estar com um probleminha em um dia e nem ligar no outro. Tenso.
E, bom, quanto ao "caso Zidaly"... Vc sabe que eu adooro a Zidaly, acho ela engraçada. o.o'
Maaaas... Pq que ela morra pra eu ganhar a aposta. MWHAHAHAAHHAAHA /topatudopordinheiro

Um beijo, Lunoska!

Marii! :D disse...

Isso que dá escrever correndo e não ler... --'

*Eu queria ser uma dançarina de circo louca!
** [...] sempre que o pc dá zica mando o meu livro para [...]
*** Por mim, que ela morra.

._.
;**