Há encanto na noite.
Felizmente Ophelia não a visitara mais, quem viera lhe trazer comida foi uma moça de cabelos muito claros e ar bondoso. Parecia não estar do lado de Ophelia, como fosse uma escrava. Perguntara seu nome, mas a garota nada disse. Aparentemente estava com medo. Sofrera algo? Ela tinha cara de menina rebelde, e a voz de Catherine urgia de dentro, gritando que aquela escrava era a sua resposta, sua fuga, sua saída.
- Ei - insistiu - diga-me seu nome.
Alicia a encarou, sentindo um misto de pena e raiva. Essa moça loira parecia tão boa e delicada, cheia de encantos... como Ophelia era má, a utilizando de isca, de vítima para toda sua maldade!
- Diga-me qualquer nome que eu possa te chamar - Raveneh pediu. Sua voz saia estranhamente cruel para os ouvidos de Alicia, e isso não era bom sinal. Catherine tomava muito cuidado para se manter fria, sem pular em cima de Alicia e ameaçá-la. Lembrava que certamente, sob tensão, Alicia não saberia guia-la pelo castelo e que ela era mais uma aliada do que inimiga, então Ophelia a mantinha sob redéa curta. Ou não.
- Eu não tenho nome - Alicia suspirou. Não queria dar seu nome, não queria se envolver com aquela estranha loira. E se Ophelia desconfiasse? Por quanto tempo mais ela ficaria viva naquele castelo?
- Claro que tem - a loira desdenhava, a voz estranhamente rouca e sensual - vamos lá, eu aposto.
- Me chame de qualquer coisa - Alicia disse.
Não sabia muito bem.
Mas entendia que aquela doce moça loira era muito mais do que só açúcar e candura.
- Você conhece todo esse castelo? Vive aqui há quanto tempo? Você é o quê?
Alicia ofegou. Já passara do tempo de voltar para servir Ophelia.
- Por favor, não me mate, nem me sequestre - Alicia sorriu debilmente - eu sou a antiga serva da Rainha Siih...
- Então é do nosso lado - Catherine estava de enlouquecer.
Estava sã, e era isso que assustava: ela não tinha um pingo de loucura dentro de seu corpo, sua mente, sua alma. Estava completamente sã, agindo de forma pensada e calculada, raciocinando calmamente, imaginando cada detalhe.
Alicia quase chorava, praticamente implorando para não morrer.
Raveneh não queria matar. Ela só queria furar a segurança de Ophelia.
Catherine podia ter matado antes. Mas percebia a inocência de Alicia, e todo seu desespero e esperança de não ser envolvida naquilo, sua cumplicidade silenciosa e forçada. Não podia culpá-la por estar ali.
- Diga-me, como burla isso?
Alicia saiu de perto, trazendo a bandeja.
- Não sei, não sei - gritou, esganiçada - ela disse que mataria quem soubesse... eu não sei.
- Meus amigos te protegem - era a voz de Raveneh, mas a cabeça de Catherine - conte e eu irei te proteger.
A escrava sentiu vontade de rir.
- Tola - disse - ninguém se protege de Ophelia.
E saiu correndo.
Um fracasso.
Não.
Não era um fracasso. Era só o começo, talvez o começo do fim.
Catherine, então, fez Raveneh pegar no sono.
----------------------------------
A noite começara a brilhar. Sombria e nefasta depois do feitiço de Ophelia, cobria Campinas como um delicado véu cheio de morte. Rafitcha estava bem melhor, já andando pela cozinha e ajudando a preparar o jantar. Erevan estava vigiando os arredores, sendo parte do seu turno, e junto na arrumação, Kitsune, Amai e Tatiih ajudavam. Mal conversavam, desejando só um pouco menos de tensão. May dormia depois de ter bebido leite com sonífero. Todo o pouco leite em reserva ia para as crianças, mais necessitadas de comida boa.
- Você acha que vão vencer? - Amai perguntou.
Era a mais nova e a que mais queria falar: ela não aguentava os longos silêncios.
- Não sei, querida - Kitsune respondeu - eu realmente não sei.
- Mas quanto tempo eles ficarão fora? - Amai indagou novamente, sua respiração chorosa.
Rafitcha voltava ao seu mau humor habitual.
- Amai, eles vão ficar o tempo que é pra ficar - disse quase rudemente - eles vão lá, acabar com essa maldita, eles vão voltar e vamos cuidar do que sobrar, entendeu?
- Eles vão voltar mutilados - Amai quase choramingava, sua voz falhando de pavor.
A imagem que se passou na sua cabeça foram todos os soldados voltando sem braço ou sem perna, soltando tripas e sangue. Nada agradável.
- Olha aqui, Amai - Rafitcha chegou a sentar para ficar na mesma altura dos olhos - numa guerra não há só vitórias. Há perdas de ambos os lados. E nós podemos perder, e não admitir isso é estupidez. Mas eu acredito que dessa vez a gente vence, porque eu confio na habilidade de Umrae. Eu convivo com ela faz bastante tempo, e quando você convive muito tempo com uma pessoa, você a entende - respirou fundo - e eu vejo os olhos dela, e a entendo: ela tem um trunfo. E ela vai usar isso e nós vamos vencer. Entendeu?
- Sim, mas
- Mas a vitória tem um preço. Um preço bem alto que a gente vai pagar - interrompeu Amai com sua voz cortante como punhal - então, minha doce Amai, essa é a prova que você vai ter que superar para seu crescimento. Você vai ter que aguentar o preço que a vitória pede, entende?
- Entendo - as lágrimas desciam pelo rosto da garota, sua respiração falhando terrivelmente.
- Ótimo - Rafitcha quase sorriu de tristeza.
Queria muito abraçar aquela pequena garota, mas ela não conseguia nem consolar a si mesma.
A respiração estava bem medida.
Kibii arrumou suas coisas. Estava quase boa. Mas os pontos podiam abrir a qualquer momento. Mas iria dar tudo certo, iria absolutamente ficar tudo bem. Ela iria guerrear, traria de volta mil cabeças de demônio e, ao menos, um dedo de Ophelia. Voltaria como guerreira-rainha. E mesmo que não voltasse assim, ela voltaria bem. Mas iria de qualquer jeito, iria satisfazer sua sede de sangue.
Seu anel de prata caiu, tilintando pelo chão duro, de pedra.
- Droga - sussurrou. E se pôs a procurar pelo chão, achando-o rapidamente. Era um anel antigo, que usava desde que era criança. Sempre coubera em seu dedo anular, mesmo que tivesse crescido e tudo o mais. Era como um molde perfeito aos seus dedos.
Mas ele era como algumas de suas jóias e flechas especiais: lembranças de tempos vagos. Sabia que tinha vivido muito bem para uma criança, que vivera, inclusive, em uma espécie de castelo. Mas não conseguia lembrar muita coisa, era tão criança e sua vida era demasiada longa para lembrar dos seus primeiros anos, ainda mais quando eles terminavam com tragédia. Desde que chegara ali, Umrae sempre lhe dissera para, um dia, voltar e descobrir.
Era irresponsabilidade não assumir o seu destino.
Ainda que fosse seu destino voltar e descobrir o seu verdadeiro poder, ainda que as pessoas aguardassem seu regresso, ela não queria. Era egoísta, de certo modo, e não queria voltar para onde vivia quando era criança.
Só de pensar doía.
E haveria um passado em cada sussurro.
Um sussurro em cada lembrança.
E algo de desesperador... em cada sonho que ela tinha. Não queria realmente reunir a sua coletânia de sorrisos e fatos antigos.
- Kibii - era Amai.
Ela tinha saído da cozinha, e recebera o encargo de distribuir as roupas limpas conforme seus donos.
- Suas roupas - Amai disse, entregando uma sacola murcha. Kibii não tinha muitas roupas.
- Obrigada - Kibii recolheu a sacola, sussurrando qualquer coisa como que iria sujá-las no dia seguinte. Amai deu um débil sorriso ao ouvir atentamente, se perguntando se Kibii sairia pra guerra ou não. Umrae tinha dito que não, certo?
- Você também vai partir? - Amai perguntou, ao que Kibii ergueu os olhos, tentando imaginar a melhor maneira de responder.
Se ela respondesse "sim", seu plano poderia falhar?
E se respondesse com a mentira, o que aconteceria?
Optou pela mentira. Já basta Umrae se pondo no caminho para lhe proteger, não precisava daquela garota tola lhe interrogando sobre os seus projetos.
- Não, não vou - Kibii sentiu a raiva ao lembrar de Umrae tão sábia argumentando sobre o porquê de ela não poder ir à guerra - vou ficar aqui, feito uma velha.
- Vai ficar comigo - Amai sorriu - e com minha tia. Com Rafitcha. Tatiih, Thá, Nath... elas são legais.
- Claro - Kibii deu um sorriso confortador como que tentasse acalmar a garota - vou ficar com pessoas legais.
Amai concordou e saiu do pequeno quarto, deixando a elfa a refletir sobre seus problemas.
----------------------------------
O primeiro dos demônios chegou quando a lua deu mais um passo para o começo da aurora.
Vinha na forma de uma serpente, deslizando pelas ruas da cidade destruída, sua língua sibilando maldades a céu aberto. Alcançou o palácio, e se denominou Rainha dos Monstros. Apesar de se dizer feminina, a criatura não tinha sexo. Sua voz era de homem, sua mentalidade assexuada, totalmente sem gênero.
Ophelia a recebeu em seu salão, posicionada no trono com sua habitual arrogância, admirando a bela serpente que parou, calada, no chão sujo de poeira e sangue. E logo a serpente se endireitava, como que encantada por uma música invísivel, movendo-se. Sua voz era voz de humanos, sua face de cobra.
- Olá. Rainha dos Monstros.
- Olá. Rainha das Musas.
O sibilar era inconstante. Lala estava ao lado de Ophelia, quase sentindo repulsa e admiração pela figura extraordinária e malévola. Escutava os passos de Alicia, que andava pelos corredores e, de repente, parou. Atrás da porta, para espionar a visita.
- Virão quando o céu se tornar dois tons mais claros do que esse negrume - sussurrou a serpente - daremos a nossa força e poder. Rainha das Musas, quando pagará a nós o tributo dos nossos esforços? Afinal vidas cairão.
- O tributo é a honra - Ophelia sorriu - se vencermos, essa terra será nossa. Serão os reis que eram antes das fadas - hesitou, com cuidado - e poderão seguir em frente, não tendo mais os humanos armados.
- É uma rainha tola - disse a Rainha dos Monstros - não há motivos para criaturas das trevas seguirem, à luz do dia, uma frágil criatura como a sua pessoa.
- Frágil?
Ophelia quase riu. A idéia de alguém a chamá-la de frágil era inconcebível... era a mais forte criatura, de um poder nunca visto. Poderia romper com essa serpente em um piscar de olhos, e mesmo assim ainda era frágil.
- Esses olhos da Rainha dos Monstros enxergam o que a arrogância não enxerga - a serpente deslizou mais adiante, aproximando-se das pernas de Ophelia - enxerga a crueldade, enxerga o passar do tempo. Essa voz foi emprestada de um espírito, e esse poder foi dado de uma bruxa. Essa Rainha enxerga o que a outra Rainha não enxerga, Ophelia.
- Então a vitória não vai ser minha?
- Se a Rainha das Musas não contiver sua loucura e crueldade, falhará como recém-nascido ao andar. Os monstros a ajudarão, coroando-a como a Outra Rainha dos Monstros. Porém tirarão sua coroa no segundo que perceberem a sua falta de coerência.
Suspiraram por um segundo. Ophelia não disse nada.
A Rainha dos Monstros dissera que se ela não parasse com todos seus ataques de ira e loucura, o mundo entraria em caos e ela iria perder. Iria perder para Umrae, aquela elfa sujeitinha de mentalidade tão espertinha... não iria admitir perder pra inferiores. Para humanos, fadas, elfos.
- Ophelia, ouça o que ela diz... - Lala sussurrou - vá com mais calma.
- Vai ficar tudo bem, Lala - Ophelia estava com raiva.
Mas também estava em paz.
Ela iria ouvir a Rainha dos Monstros.
Mas ouvir não quer dizer considerar. E ela iria escutar, iria mandar os monstros se destruirem contra os dragões e soldados e depois... depois iria vencer. Sua certeza era tão natural que mal passava na sua cabeça que as pessoas poderiam surpreendê-la.
Tal blog está em reforma no momento. Estou arrumando tudo, e esse banner vai mudar (quero colocar essa imagem, mas a burra aqui acabou salvando no Photoscape, esquecendo que se salva no PS, perde-se a transparência conquistada ¬¬). Quero também arrumar a história toda em primeira e segunda temporada, arrumar a galeria (pra pôr todas as imagens relacionandas, como os desenhos de Umrae e de Polly). Enfim, dar um jeito nessa bagaça e na história também. Perdão pela demora, é que estava naquele típico estado de não conseguir avançar com nenhum personagem, mas agora depois da Rainha dos Monstros, a luz divina -q invadiu meu cérebro e tenho um norte agora. Incluindo as idéias que Umrae me deu, e etc.
Felizmente Ophelia não a visitara mais, quem viera lhe trazer comida foi uma moça de cabelos muito claros e ar bondoso. Parecia não estar do lado de Ophelia, como fosse uma escrava. Perguntara seu nome, mas a garota nada disse. Aparentemente estava com medo. Sofrera algo? Ela tinha cara de menina rebelde, e a voz de Catherine urgia de dentro, gritando que aquela escrava era a sua resposta, sua fuga, sua saída.
- Ei - insistiu - diga-me seu nome.
Alicia a encarou, sentindo um misto de pena e raiva. Essa moça loira parecia tão boa e delicada, cheia de encantos... como Ophelia era má, a utilizando de isca, de vítima para toda sua maldade!
- Diga-me qualquer nome que eu possa te chamar - Raveneh pediu. Sua voz saia estranhamente cruel para os ouvidos de Alicia, e isso não era bom sinal. Catherine tomava muito cuidado para se manter fria, sem pular em cima de Alicia e ameaçá-la. Lembrava que certamente, sob tensão, Alicia não saberia guia-la pelo castelo e que ela era mais uma aliada do que inimiga, então Ophelia a mantinha sob redéa curta. Ou não.
- Eu não tenho nome - Alicia suspirou. Não queria dar seu nome, não queria se envolver com aquela estranha loira. E se Ophelia desconfiasse? Por quanto tempo mais ela ficaria viva naquele castelo?
- Claro que tem - a loira desdenhava, a voz estranhamente rouca e sensual - vamos lá, eu aposto.
- Me chame de qualquer coisa - Alicia disse.
Não sabia muito bem.
Mas entendia que aquela doce moça loira era muito mais do que só açúcar e candura.
- Você conhece todo esse castelo? Vive aqui há quanto tempo? Você é o quê?
Alicia ofegou. Já passara do tempo de voltar para servir Ophelia.
- Por favor, não me mate, nem me sequestre - Alicia sorriu debilmente - eu sou a antiga serva da Rainha Siih...
- Então é do nosso lado - Catherine estava de enlouquecer.
Estava sã, e era isso que assustava: ela não tinha um pingo de loucura dentro de seu corpo, sua mente, sua alma. Estava completamente sã, agindo de forma pensada e calculada, raciocinando calmamente, imaginando cada detalhe.
Alicia quase chorava, praticamente implorando para não morrer.
Raveneh não queria matar. Ela só queria furar a segurança de Ophelia.
Catherine podia ter matado antes. Mas percebia a inocência de Alicia, e todo seu desespero e esperança de não ser envolvida naquilo, sua cumplicidade silenciosa e forçada. Não podia culpá-la por estar ali.
- Diga-me, como burla isso?
Alicia saiu de perto, trazendo a bandeja.
- Não sei, não sei - gritou, esganiçada - ela disse que mataria quem soubesse... eu não sei.
- Meus amigos te protegem - era a voz de Raveneh, mas a cabeça de Catherine - conte e eu irei te proteger.
A escrava sentiu vontade de rir.
- Tola - disse - ninguém se protege de Ophelia.
E saiu correndo.
Um fracasso.
Não.
Não era um fracasso. Era só o começo, talvez o começo do fim.
Catherine, então, fez Raveneh pegar no sono.
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A noite começara a brilhar. Sombria e nefasta depois do feitiço de Ophelia, cobria Campinas como um delicado véu cheio de morte. Rafitcha estava bem melhor, já andando pela cozinha e ajudando a preparar o jantar. Erevan estava vigiando os arredores, sendo parte do seu turno, e junto na arrumação, Kitsune, Amai e Tatiih ajudavam. Mal conversavam, desejando só um pouco menos de tensão. May dormia depois de ter bebido leite com sonífero. Todo o pouco leite em reserva ia para as crianças, mais necessitadas de comida boa.
- Você acha que vão vencer? - Amai perguntou.
Era a mais nova e a que mais queria falar: ela não aguentava os longos silêncios.
- Não sei, querida - Kitsune respondeu - eu realmente não sei.
- Mas quanto tempo eles ficarão fora? - Amai indagou novamente, sua respiração chorosa.
Rafitcha voltava ao seu mau humor habitual.
- Amai, eles vão ficar o tempo que é pra ficar - disse quase rudemente - eles vão lá, acabar com essa maldita, eles vão voltar e vamos cuidar do que sobrar, entendeu?
- Eles vão voltar mutilados - Amai quase choramingava, sua voz falhando de pavor.
A imagem que se passou na sua cabeça foram todos os soldados voltando sem braço ou sem perna, soltando tripas e sangue. Nada agradável.
- Olha aqui, Amai - Rafitcha chegou a sentar para ficar na mesma altura dos olhos - numa guerra não há só vitórias. Há perdas de ambos os lados. E nós podemos perder, e não admitir isso é estupidez. Mas eu acredito que dessa vez a gente vence, porque eu confio na habilidade de Umrae. Eu convivo com ela faz bastante tempo, e quando você convive muito tempo com uma pessoa, você a entende - respirou fundo - e eu vejo os olhos dela, e a entendo: ela tem um trunfo. E ela vai usar isso e nós vamos vencer. Entendeu?
- Sim, mas
- Mas a vitória tem um preço. Um preço bem alto que a gente vai pagar - interrompeu Amai com sua voz cortante como punhal - então, minha doce Amai, essa é a prova que você vai ter que superar para seu crescimento. Você vai ter que aguentar o preço que a vitória pede, entende?
- Entendo - as lágrimas desciam pelo rosto da garota, sua respiração falhando terrivelmente.
- Ótimo - Rafitcha quase sorriu de tristeza.
Queria muito abraçar aquela pequena garota, mas ela não conseguia nem consolar a si mesma.
A respiração estava bem medida.
Kibii arrumou suas coisas. Estava quase boa. Mas os pontos podiam abrir a qualquer momento. Mas iria dar tudo certo, iria absolutamente ficar tudo bem. Ela iria guerrear, traria de volta mil cabeças de demônio e, ao menos, um dedo de Ophelia. Voltaria como guerreira-rainha. E mesmo que não voltasse assim, ela voltaria bem. Mas iria de qualquer jeito, iria satisfazer sua sede de sangue.
Seu anel de prata caiu, tilintando pelo chão duro, de pedra.
- Droga - sussurrou. E se pôs a procurar pelo chão, achando-o rapidamente. Era um anel antigo, que usava desde que era criança. Sempre coubera em seu dedo anular, mesmo que tivesse crescido e tudo o mais. Era como um molde perfeito aos seus dedos.
Mas ele era como algumas de suas jóias e flechas especiais: lembranças de tempos vagos. Sabia que tinha vivido muito bem para uma criança, que vivera, inclusive, em uma espécie de castelo. Mas não conseguia lembrar muita coisa, era tão criança e sua vida era demasiada longa para lembrar dos seus primeiros anos, ainda mais quando eles terminavam com tragédia. Desde que chegara ali, Umrae sempre lhe dissera para, um dia, voltar e descobrir.
Era irresponsabilidade não assumir o seu destino.
Ainda que fosse seu destino voltar e descobrir o seu verdadeiro poder, ainda que as pessoas aguardassem seu regresso, ela não queria. Era egoísta, de certo modo, e não queria voltar para onde vivia quando era criança.
Só de pensar doía.
E haveria um passado em cada sussurro.
Um sussurro em cada lembrança.
E algo de desesperador... em cada sonho que ela tinha. Não queria realmente reunir a sua coletânia de sorrisos e fatos antigos.
- Kibii - era Amai.
Ela tinha saído da cozinha, e recebera o encargo de distribuir as roupas limpas conforme seus donos.
- Suas roupas - Amai disse, entregando uma sacola murcha. Kibii não tinha muitas roupas.
- Obrigada - Kibii recolheu a sacola, sussurrando qualquer coisa como que iria sujá-las no dia seguinte. Amai deu um débil sorriso ao ouvir atentamente, se perguntando se Kibii sairia pra guerra ou não. Umrae tinha dito que não, certo?
- Você também vai partir? - Amai perguntou, ao que Kibii ergueu os olhos, tentando imaginar a melhor maneira de responder.
Se ela respondesse "sim", seu plano poderia falhar?
E se respondesse com a mentira, o que aconteceria?
Optou pela mentira. Já basta Umrae se pondo no caminho para lhe proteger, não precisava daquela garota tola lhe interrogando sobre os seus projetos.
- Não, não vou - Kibii sentiu a raiva ao lembrar de Umrae tão sábia argumentando sobre o porquê de ela não poder ir à guerra - vou ficar aqui, feito uma velha.
- Vai ficar comigo - Amai sorriu - e com minha tia. Com Rafitcha. Tatiih, Thá, Nath... elas são legais.
- Claro - Kibii deu um sorriso confortador como que tentasse acalmar a garota - vou ficar com pessoas legais.
Amai concordou e saiu do pequeno quarto, deixando a elfa a refletir sobre seus problemas.
----------------------------------
O primeiro dos demônios chegou quando a lua deu mais um passo para o começo da aurora.
Vinha na forma de uma serpente, deslizando pelas ruas da cidade destruída, sua língua sibilando maldades a céu aberto. Alcançou o palácio, e se denominou Rainha dos Monstros. Apesar de se dizer feminina, a criatura não tinha sexo. Sua voz era de homem, sua mentalidade assexuada, totalmente sem gênero.
Ophelia a recebeu em seu salão, posicionada no trono com sua habitual arrogância, admirando a bela serpente que parou, calada, no chão sujo de poeira e sangue. E logo a serpente se endireitava, como que encantada por uma música invísivel, movendo-se. Sua voz era voz de humanos, sua face de cobra.
- Olá. Rainha dos Monstros.
- Olá. Rainha das Musas.
O sibilar era inconstante. Lala estava ao lado de Ophelia, quase sentindo repulsa e admiração pela figura extraordinária e malévola. Escutava os passos de Alicia, que andava pelos corredores e, de repente, parou. Atrás da porta, para espionar a visita.
- Virão quando o céu se tornar dois tons mais claros do que esse negrume - sussurrou a serpente - daremos a nossa força e poder. Rainha das Musas, quando pagará a nós o tributo dos nossos esforços? Afinal vidas cairão.
- O tributo é a honra - Ophelia sorriu - se vencermos, essa terra será nossa. Serão os reis que eram antes das fadas - hesitou, com cuidado - e poderão seguir em frente, não tendo mais os humanos armados.
- É uma rainha tola - disse a Rainha dos Monstros - não há motivos para criaturas das trevas seguirem, à luz do dia, uma frágil criatura como a sua pessoa.
- Frágil?
Ophelia quase riu. A idéia de alguém a chamá-la de frágil era inconcebível... era a mais forte criatura, de um poder nunca visto. Poderia romper com essa serpente em um piscar de olhos, e mesmo assim ainda era frágil.
- Esses olhos da Rainha dos Monstros enxergam o que a arrogância não enxerga - a serpente deslizou mais adiante, aproximando-se das pernas de Ophelia - enxerga a crueldade, enxerga o passar do tempo. Essa voz foi emprestada de um espírito, e esse poder foi dado de uma bruxa. Essa Rainha enxerga o que a outra Rainha não enxerga, Ophelia.
- Então a vitória não vai ser minha?
- Se a Rainha das Musas não contiver sua loucura e crueldade, falhará como recém-nascido ao andar. Os monstros a ajudarão, coroando-a como a Outra Rainha dos Monstros. Porém tirarão sua coroa no segundo que perceberem a sua falta de coerência.
Suspiraram por um segundo. Ophelia não disse nada.
A Rainha dos Monstros dissera que se ela não parasse com todos seus ataques de ira e loucura, o mundo entraria em caos e ela iria perder. Iria perder para Umrae, aquela elfa sujeitinha de mentalidade tão espertinha... não iria admitir perder pra inferiores. Para humanos, fadas, elfos.
- Ophelia, ouça o que ela diz... - Lala sussurrou - vá com mais calma.
- Vai ficar tudo bem, Lala - Ophelia estava com raiva.
Mas também estava em paz.
Ela iria ouvir a Rainha dos Monstros.
Mas ouvir não quer dizer considerar. E ela iria escutar, iria mandar os monstros se destruirem contra os dragões e soldados e depois... depois iria vencer. Sua certeza era tão natural que mal passava na sua cabeça que as pessoas poderiam surpreendê-la.
Tal blog está em reforma no momento. Estou arrumando tudo, e esse banner vai mudar (quero colocar essa imagem, mas a burra aqui acabou salvando no Photoscape, esquecendo que se salva no PS, perde-se a transparência conquistada ¬¬). Quero também arrumar a história toda em primeira e segunda temporada, arrumar a galeria (pra pôr todas as imagens relacionandas, como os desenhos de Umrae e de Polly). Enfim, dar um jeito nessa bagaça e na história também. Perdão pela demora, é que estava naquele típico estado de não conseguir avançar com nenhum personagem, mas agora depois da Rainha dos Monstros, a luz divina -q invadiu meu cérebro e tenho um norte agora. Incluindo as idéias que Umrae me deu, e etc.
2 comentários:
Ainda tenho mais raiva da Lala que da Ophélia... Mesmo com tudo o que ela fez, a Lala continua "torcendo" para ela. Traidora...
Hum, seres inferiores... Inferiores porque nasceram sem habilidades mágicas inatas? Sem títulos de nobreza? Sem poder de direito? Mortais? Criaturas que nasceram deuses podem ser destruídas. Mortais podem ascender à condição divina. Aguarde, Ophélia, aguarde...
Lunoska, vc tá viva? o.o'
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