- Eu não aguento mais - declarou Amai, dando vazão a todos os sentimentos reprimidos.
- Aguente - disse Kitsune - não vai pôr o esforço de Kibii a perder, vai?
- Droga - Amai puxou os próprios cabelos, inconformada.
Vá em frente, Amai, era o que seu cérebro insistia. Queria sair dali, voltar para o palácio, redimir-se. Jamais que seu valor superaria o de Kibii. Jamais que aceitaria o sacrifício da garota que mal a conhecia. Jamais.
Vá em frente, saia dali. Fuja.
Diga que você não quer mais comer. E vá visitar Bia que rejeita as visitas.
- Me desculpe, Bia - sussurrou Amai.
Bia não sorriu, nem mesmo para consolar. Seus cabelos estavam despenteados, e podia ver a espada encostada na porta.
A espada que agora significava a derrota.
- Não pode se deixar ser derrotada assim - disse Amai tentando consolar a guerreira.
Bia não a olhou.
- Bia, por favor, reage.
Nath deu um olhar de desolação, atrás de sua mesa onde escrevia algo.
- Eu te odeio, Bia - Amai desandou a chorar - Kibii está nas mãos de Ophelia, precisamos lutar, por favor...
- Não aumente o estresse de Bia, por favor - alertou Nath, vendo que Amai já estava tentando apelar na chantagem emocional, tentando comover Bia de todas as formas - ela está tendo muitas dificuldades de se recuperar.
- Droga... drogadroga - lágrimas quentes rolavam pelas bochechas de Amai, que preferiu fazer algo sozinha.
Saiu do abrigo escondida, confusa.
Uns passos até o destino.
A pé, andou até a escadaria que levava até o inferno.
Andou durante horas, movida pelo desejo de se redimir.
Era um erro e todos iam querer matá-la. Kibii nunca a perdoaria.
Mas ela precisava.
Era perigoso. Era noite, estava vazio e escuro.
Como ela se arriscava tanto?
- Aonde pensa que está indo? - as palavras foram ditas em um tom de incredulidade.
Amai se virou. Deparou-se com o amigo, cabelos negros e rosto redondo.
- Raven? Eu... - engoliu em seco e não houve tempo de concluir antes que Raven a segurasse no braço.
- Está pensando em voltar? Não vai.
- Raven...
- Olha, acho melhor voltar - Raven disse com aquele tom de consolo - senão as meninas nunca vão te perdoar.
- Kibii precisa de mim - Amai disse, tentando escapar de Raven.
- Não seja idiota! Kibii não precisa de você - a verdade jogada na cara era dura e inescapável.
Amai desabou.
Estava tonta e seus olhos se fecharam, entregando-se aos braços de Raven.
E ele, como um bom cavalheiro, a levou de volta para o abrigo. A pôs na cama, cobriu-a até o pescoço, ficou com ela para garantir que ela dormisse bem e manteve segredo sobre a fuga inesperada. Teve sorte de ninguém se dar conta da falta de Amai, pois esta saíra em um momento que todos estavam muito ocupados, então ninguém prestava atenção em Amai.
Durma bem, disse Raven.
Durma bem, sem sonhos. Deixe que ele cuide de você.
Deixe que os outros resolvam a situação.
Deixe que as coisas venham naturalmente, pois o fim está próximo.
Querida, você é ainda uma criança. Não deve se arriscar.
Umrae será a líder, Kitsune ajudará e Doceh lutará.
Rafitcha a acolherá, e Kibii sobreviverá.
Ora, o fim está próximo. Mas como poderiam saber que o fim não era exatamente cor-de-rosa?
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Kibii estava melhor com a ajuda de Siih, com toda a dedicação de Alicia que só foi informada de proteger Kibii o máximo que pudesse.
Entre os corredores do grandioso palácio, Ophelia parecia preocupada em ocupar o grande tédio.
- Como Ophelia está agindo? - perguntou Kibii em uma hora que Alicia foi cuidar de seus ferimentos recém-ganhos com o último descarrego da TPM de Ophelia.
- Está querendo acabar com sua terra - Alicia contou, embebendo o pano em algum líquido fumegante - ouvi ela falando para Lala que tentaria mais um sequestro, acho que pegará a ruiva.
- Não conseguirá. Ninguém das Campinas é idiota - Kibii riu.
Mas rir doía, devido aos seus machucados.
É, doía ser o saco de pancadas da Ophelia. E por mais cruel que possa parecer, Kibii ficaria aliviada se houvesse alguém que dividisse o fardo juntamente com ela.
Mas negou a aceitar esse pensamento.
- Jirä - Ophelia mordera o lábio inferior. Preocupação.
- Olá, Majestade - Jirä parecia refinada, e mil vezes menor do que naquele dia. Estava completamente normal, como se fosse uma pessoa. Mas certos aspectos de sua monstruosidade permaneciam em seu corpo humano, como os olhos completamente perversos e as cicatrizes, por onde Ophelia julgava que os tentáculos saíam.
- O que você quer? - Ophelia perguntou, desconfiada.
- Que cruel perguntar dessa forma - Jirä parecia falsamente magoada - mas vamos direto ao assunto: os demônios estão insatisfeitos com você. Está agindo sozinha, sem ligar pra ninguém. Cadê a participação no governo prometida pela Vossa Majestade?
- Ora, só isso? - Ophelia riu - então que seja. Montem sua organizaçãozinha, escolham os demônios confiáveis para governar comigo por aqui. Não tenho culpa se vocês só querem fazer baderna em outros reinos. Há carne suficiente?
Ophelia parecia duas vezes mais perversa do que o comum:
- Mas - continuou sibilando cuidadosamente - não permitirei o formato natural de vocês por aqui. Desculpe, mas não quero ver gosma, restos de tripas, tentáculos, garras, presas ou qualquer coisa que vocês adorem. Também não quero ver carne humana por aqui, desculpe-me. Então escolham demônios apresentáveis, entendeu?
- Perfeitamente, Majestade - e Jirä saiu sem pedir licença.
Ophelia rosnou.
E calculou as regras que faria para derrotar todos os demônios, mantendo-se a única soberana.
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- Estou enlouquecendo - gritou Elyon.
- Você não vai voltar pra lá - Louise gritou, exasperada - Ophelia não é mais problema nosso!
- Ela matou Olga! E quase nos matou! - lembrou Elyon, olhando pela janela.
- E daí? Quase morremos o tempo todo! Lembre-se, a nossa imortalidade consiste nisso! - retrucou Catherine, também parecendo irritada.
Ninguém entendia. Era sufocante viver ali, calmamente, isolada do resto.
Não sabia de nada, não tinha notícias. Mas sentia o que acontecia, a estranha movimentação de demônios, e todas aquelas energias confusas, camuflando a principal: a de Ophelia.
Ela não conseguia sentir Ophelia. Não conseguia sequer adivinhar seus planos.
E estava enlouquecendo com isso.
- Eu te entendo, Elyon - Sunny começou, parecendo preocupada - é angustiante, mas você tem que entender que a Ophelia... nós não temos que proteger as fadas.
- Eu sei, mas...
- As fadas não são legais - lembrou Sunny com certa amargura.
Elyon engoliu em seco. Com esse período de indiferença, em que todas somente se ajudavam, habituadas a viverem sozinhas, até mesmo a Sunny passou a pensar de forma bem mais cruel. Fadas não eram legais.
Afinal, como era mesmo? "Poderosa demais", não era assim que o curandeiro da vila disse. Não tinham medo dela?
Poder demais é um fardo...
Elyon olhou para as próprias mãos, ofegante. Queria ir estar lá, lutando. Olhou para as companheiras.
Miih era fria, mas iria com ela se fosse preciso, mesmo detestando toda aquela raça de fadas com todos os motivos do mundo.
E como as outras reagiriam? Catherine a acompanharia, como forma de vingar Olga? Loveh e Sunny tentariam ajudá-la, por pura humanidade? Duvidava seriamente que Louise a acompanhasse, sempre reclusa em seu mundo formado por chamas. E Alice... também duvidava da ajuda dela.
Iria. Encontraria Ophelia e a mataria.
Não importasse como. Mas teria que matá-la, no fim das contas.
Quantos segundos até Ophelia destruir tudo?
Sunny não conseguiu.
Pois Elyon abriu seu baú com algumas roupas, escolheu uma em especial, e abriu seu estoque de armas.
A espada que ganhara da melhor lutadora do mundo.
E isso bastava para enfrentar Ophelia?
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- Ajudar Campinas? - Polly parecia surpreendida.
- Ora, vamos - Bel estava rindo. Nunca levava alguma coisa realmente a sério, o que às vezes irritava seus chefes - será sensacional! Dragões voando, acabando com a Oféia e tudo o mais! *-*
- Ora - Polly acabou rindo também, mas como evitar o riso de Bel? - mas é arriscado, podemos morrer e...
- Olha - Bel juntou as mãos de Polly, como se quisesse convencê-la - se você vir comigo e convencer a Ratta também... estará liberada de ser soldada assim que essa missão acabar. E ainda te dou liberdade semi-integral durante a missão!
- Isso é atraente - Polly sorriu mostrando seus dentes alinhados - essa liberdade diminui em 40% as chances de morrer em batalha.
- Exatamente. E eu quero você bem viva.
- Okay. Convencerei Ratta.
E Bel sorriu.
- What? Campinas? A tal da doida que está matando um monte de reino por lá? Não! - protestou Ratta, pasma.
- Ora, vamos - Polly tentava convencer, calmamente - veja só, estamos tendo a liberdade de escolher se vamos para a missão ou não! Só a gente e o Crazy podemos optar assim! Acho que o Lucien também foi convidado, mas ele não irá de qualquer jeito por causa daquela esposa maluca, mas enfim! Venha, vamos cuidar dos dragões!
- Dragões? Especialmente dos xodós de Bel? - Ratta começou a ficar animada - aqueles que ela não deixa a gente tocar nem morta?
- Creio que sim - Polly deu um sorriso de canto - e eu posso convencê-la a dar algum benefício a você depois!
- Tipo ser promovida! *-*
- Exato!
Polly e Ratta eram amigas há um ano, quando se conheceram ao serem selecionadas para o mesmo esquadrão de Exército de Grillindor. Polly nunca quis ser guerreira, mas como era lei em sua terra e deveria prezar a pátria antes de tudo, então assim foi. As duas passaram a ser colegas de quarto, dividindo com outras duas meninas, mas por serem altamente competentes - embora por motivos diferentes - foram transferidas para outro módulo onde passaram a viver sob liderança de Bel e Crazy.
Ratta nunca falou muito do passado dela, mas Polly sabia que pelo seu sotaque estrangeiro e sua aparência, ela não era nem de longe alguém que nascera de uma família tradicional de Grillindor. E aquela cauda de gato era sinceramente duvidosa...
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- Olá, querida - murmurou Rafitcha. Parecia sinceramente tranquila.
Amai se levantou de um pulo, desperta. Sacudiu os cabelos laranja em um súbito segundo, seu coração entrando em descompasso. Onde estava? E quem era aquela menina morena que a olhava de forma nervosa e tranquila ao mesmo tempo? Ah, era Rafitcha. Sim, estava tudo bem. Estava?
- Já é manhã, Amai - Rafitcha sorriu - Raven disse que você desmaiou ontem, de noite. Estava nervosa demais, não? - Rafitcha pousou uma xícara de chá ao lado, no criado-mudo - está na enfermaria.
- Na enfermaria... - Amai olhou para o lado esquerdo. Do outro lado da cortina, Bia estava dormindo. Podia ouvir a sua respiração, pausada.
- Ela está se recuperando bastante bem - Rafitcha comentou - Nath diz que ela somente está muito pouco comunicativa, mas todos os seus atributos físicos estão excelentes.
- Que bom - Amai sorriu - e porque estou na enfermaria...?
- No meio da noite, você acordou com febre. E achamos que era melhor transferir você para cá, onde Nath poderá cuidar direito - Rafitcha explicou - beba seu chá. Ele tem que ser bebido bem quente, senão acaba nem fazendo efeito.
- Entendo... - Amai bebeu o líquido. Era de laranjeira.
Forte. Ácido. Quente.
Mas completamente engolível.
Rafitcha sorriu, pediu licença e saiu do quarto, deixando Amai sozinha com uma Bia adormecida.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
Parte 60 - Aquele aperto na garganta - Os três nomes óbvios para ela.
Lefi andou devagar pelo palácio. Não queria ser escutado por ninguém.
Cumprir logo a missão confiada.
Poderia usar uma das aves mensageiras, pombos discretos que arrulham e defecam em cima de inocentes em cidades desertas. Sim, um pombo seria perfeito. Discreto.
Oculto perto do canteiro das aves, começa a escrever uma carta. A letra é firme e curvilínea, sempre pendendo para a esquerda. Não treme como achou que faria. Imaginou como Bel reagiria ao receber a carta, o que aconteceria. Será que as coisas realmente mudariam para melhor? Temia que Ophelia o descobrisse. O que aconteceria se fosse descoberto?
Sem perceber, escreveu a última palavra. Ponto final.
Escolheu o pombo mais leve e o mais rápido, conhecido por fazer o dobro do caminho pela metade do tempo normal. Normalmente um pombo sem parar por um segundo, alcança Grillindor em dois dias. Este chegaria a Grillindor em um dia. Um dia.
Em um dia, tudo poderia mudar.
Absolutamente tudo.
- Lefi? - uma voz percorria pelos corredores, frenética. Ele prendeu a respiração imediatamente, congelado.
- Siih? - não demorou muito tempo para ele reconhecer a voz e respirou aliviado - irmã!
Siih entrou no frio corredor, escutou o barulho das aves. E entrou no canteiro das aves, se surpreendendo com toda a sujeira e barulho de pombos arrulhando. E no meio dos contornos aviários, o irmão.
- O que faz aqui? - perguntou timidamente, levantando a saia do vestido para a barra não ser sujada pelos dejetos das aves deixados no chão.
- Fique aqui e somente escute. Há alguém nos corredores? - Lefi começou, baixando a sua voz.
- Ninguém. Está completamente vazio - cochichou Siih - o que houve? Aconteceu algo?
- Pedi ajuda à uma pessoa - começou Lefi. No que Siih ia perguntar "quem é?", Lefi a interrompeu - xiii! As paredes tem ouvidos, irmã. Só posso dizer que a situação melhorará, espero que sim. Se essa pessoa nos ajudar, irmã... a situação vai mudar rapidinho.
- Posso ajudar em algo? - Siih parecia entusiasmada.
Lefi mordeu o lábio inferior, imaginando algo.
- Pode - disse em um sussurro - cuide muito bem de Kibii. Não deixe Ophelia vê-la, mas una-se à Alicia e cuidem de Kibii. Ela tem que ser devolvida viva para as Campinas, entendeu? Viva e bem.
- Kibii... - Siih controlou as lágrimas ao lembrar da menina recolhida que se recusou a ceder.
- Entendeu, Siih? - Lefi abraçou a irmã com um carinho terno e preocupado - cuide o máximo que puder de Kibii. Não se deixe ser pega por Ophelia em nenhuma ocasião. Essas são as duas missões. E as de Alicia também. Diga isso a elas.
- Está bem - Siih concordou. Parecia difícil, sendo que quase todo dia Ophelia a fazia de bode expiatório para os fracassos do dia. Mas o que tinha que fazer era manter o papel da ex-rainha, escrava, que só sabe fazer comida ruim.
Atuar. Mentir. Fingir.
E cuidar de Kibii. Ajudá-la, no fim das contas. Afinal... quantas pessoas você conhece que se dariam como refém para uma maníaca psicopata ensandecida para salvar as vidas dos outros amigos?
----------------------------------
O sol era brilhante.
Era verão! Praticamente verão!
Rafitcha acordou, sentindo os ossos todos quebrados. Mas dava para ficar em pé e fazer suas atividades habituais. O abrigo não estava lá muito iluminado, mas os rapazes conseguiram fazer alguns minúsculos buracos e aliar efeitos de magia para criar iluminação dentro do abrigo, como se tivesse janela. Era um clima estranho, mas pelo menos tinha luz.
- Rafitcha! - repreendeu Maria ao ver que a amiga se levantara para arrumar a mesa do café da manhã - largue isso imediatamente!
Rafitcha deixou cair os pratos na mesma hora, assustada.
- Nem ouse! - Maria recolheu os pratos - você passou por uma situação traumática, desesperadora! Tem que descansar devidamente!
- Mas, Maria - Rafitcha não queria ficar de pernas para o ar. Só iria reviver as situações.
- Sem mas nem menos - Maria retrucou - vá descansar. Raveneh e Tatiih farão isso.
Rafitcha bateu o pé, mas não discutiu. Sabia que era para o seu bem, e que todo mundo iria mimá-la o quanto pudesse. Mas tudo o que ela queria era ter a vida normal de volta. Quando ela ia cozinhar batatas e todo mundo amava, sem aquele ar de "se a gente pudesse comer isso ao ar livre". Quando ela fazia menos chás para acalmar e mais chás somente por visita. Quando ao acordar, não encarava o teto estranho e fechado e sim um teto de madeira. Quando olhava pela janela e via todas aquelas plantações exuberantes.
- Bom dia, Rafitcha - Nath passou cumprimentando, se dirigindo à cozinha.
- Nath! - Rafitcha sorriu - hey, Bia está lá dentro?
- Sim - Nath respondeu enquanto pegava um pouco de água para si - teve pesadelos durante a noite. Está acordada agora, mas não quer nada.
- Ah. Obrigada.
Rafitcha desviou do caminho, indo até a ala médica.
Era um salão enorme, com várias áreas separadas por uma fina cortina branca. E em uma dessas áreas, Bia repousava. Cobria-se inteiramente com o lençóis, não mostrando nem mesmo os braços. Olhava para o teto, seus olhos vazios e tristes. Ao lado de cada leito, havia um banco para a visita se sentar. E foi no banco ao lado do leito de Bia que Rafitcha se sentou, sem fazer barulho.
- Bom dia, Bia - cumprimentou Rafitcha delicadamente.
A caçadora de demônios não respondeu.
- Sabe, Umrae saiu ontem - Rafitcha achou melhor contar - Raveneh que me contou. E voltou toda feliz. Acho que ela teve uma idéia genial para acabar com Ophelia, Bia. Mas ela não quer contar.
A caçadora de demônios preferiu dizer somente:
- Que bom.
Rafitcha se calou. Bia não mudara de expressão, somente olhava o teto com absoluta firmeza. Realmente, Nath tinha razão. A confiança de Bia se quebrara assim como ela quebrara os pratos, minutos atrás. Em um susto irreparável. Algo que não poderia ser restaurado. Ou será que poderia?
- Bia. Como está? Você está tão... estranha.
Bia preferiu olhar para o outro lado, evitando o castanho dos olhos de Rafitcha.
- Bia, fale comigo! - Rafitcha mordeu os próprios lábios de tristeza - Bia, por favor! Volte a ser o que era antes! Por favor, volta a ser como era antes?
Não houve resposta. Essa foi a parte mais triste da manhã de Rafitcha: a pergunta dela não teve uma resposta.
E depois desse dia, a pergunta nunca mais foi feita por ser considerada ridícula pela impossibilidade da resposta. Porque nunca mais Bia voltou a ser como era.
----------------------------------
Ophelia teve que se controlar para não matar Kibii a cada vez que ela negava a se responder. Por que Umrae era "perigosa"? E qual era o perigo de Ly? Por que a rainha não gostava deles? Por que as Campinas era idomesticável? Qual era a fraqueza das Campinas? Por que Kibii se recusava a responder, jamais se curvando, aceitando ser machucada?
A rainha tentara fazer com que Kibii se sentisse ultrajada a cada peça de roupa retirada, a deixando com uma fina camisola, exposta ao frio. Sem sucesso, apelou para a chantagem emocional, gritou, feriu mil vezes os braços, e com suas garras, perfurou o abdomên de Kibii a deixando quase à beira da morte, sem nenhuma ajuda médica.
Lala não fazia nada. Não que se recusasse a fazer, mas ela preferia simplesmente consolar a amiga depois de seus ataques histéricos.
Quando Ophelia se retirou para comer, deixando Kibii sozinha, foi a deixa para Siih.
Ophelia enfurecida no jantar, Lala a tentando acalmar, Siih com a vida podendo ser terminada caso fosse descoberta.
- Lefi me disse para ajudá-la - foi tudo o que ela disse, ao ver o olhar vazio de Kibii a mirar cuidadosamente.
- Você não vai se ferrar se me ajudar? - Kibii sorriu.
Siih ficou impressionada com a doçura contida naquele sorriso, como se tudo aquilo não fosse nenhum sofrimento. E se impressionou mais ainda com os ferimentos, cortes que marcavam o corpo, queimaduras nos pés e coxas, o sangue seco cobrindo quase todo o corpo.
- Ela disse que o próximo passo seria marcar meu rosto - disse Kibii jovialmente, como se estivessem comentando o tempo.
- Oh sinto muito - foi o que a ex-rainha disse.
Ela havia levado algodões e todo o tipo de óleo, unguento e coisas assim.
Passou cuidadosamente em todo o corpo de Kibii, tentando amenizar a dor que a elfa sentia, e assim Kibii pôde sentir um pouco de paz.
Mesmo que ela estivesse sempre em paz, mantendo-se longe das torturas, mantendo-se calada por vontade, ainda assim a dor persistia.
Estranhava-se entre suas feridas, entre seus órgãos, fazendo a lembrar dos amigos, das Campinas, da Amai que não queria ver alguém que se sacrificava assim.
Lembrava da infância.
Esperaria dias inteiros. Noites.
Até o dia que poderia obter a paz final, absoluta, sem nenhum tipo de incômodo.
----------------------------------
Noite.
E de novo veio a escuridão, o pôr-do-sol que fez Amai lembrar-se do dia anterior, do dia que foi posta como mais valiosa que qualquer um. E assim as pessoas acreditaram, tanto que uma das guerreiras mais valiosas pôs-se em sacrifício, em seu lugar.
Amai tremeu.
Cobriu-se de um manto grosseiro, acinzentado, tentando não chorar. Não queria sentir luto por Kibii, pois ela estava viva.
Mas em seu coração, ela sabia que nem todos iriam sair ilesos. E Kibii poderia ser uma das principais prejudicadas.
Umrae estava tremendo. De nervosismo, mal cuidou de suas coisas. Quem organizou os potes de veneno e afiou as armas foi Thá e Vinicius, agora praticamente aprendizes de Umrae. Lynda havia ido embora, em uma cinzenta madrugada, se fazendo ser esquecida aos poucos. Todos estavam entrando em um estado de indiferença, mas não adiantava. Os olhares desencontrados, o nervosismo contido em cada palavra, as crises de choro de Doceh que voltara a entrar em um estado anormal de histeria com o sequestro de Kibii, os choros cada vez mais frequentes de Maytsuri, a distância de Raveneh que procurava na filha o refúgio de toda aquela guerra.
As estrelas brilharam de novo.
Estava calor.
- Para onde você foi ontem? - perguntou Rafitcha.
Estava bordando um vestido para si mesma, algo para se distrair no meio daquela loucura. Umrae lia um livro.
- Não vejo ninguém planejando um modo de resgatar Kibii - Rafitcha continuou como se estivesse sendo magoada - está calma?
- Não - Umrae teve que ser sincera.
Rafitcha largou o bordado, se ajoelhando diante de Umrae, tentando obter a sua atenção plena.
- Aonde você foi ontem? Foi para ajudar Kibii, não foi? Por isso que está calma desse jeito - Rafitcha mordeu o lábio inferior, esperando uma resposta.
- Se sabe, então porque pergunta?
Rafitcha engoliu em seco. Sem resposta nenhuma, Umrae foi forçada a encarar os olhos castanhos de Rafitcha. Podia ver ali a devoção completa da amiga pela terra em que vivia e pelos amigos. A lealdade tão inabalável, resoluta que Rafitcha fazia questão de construir dia após dia.
E agora se precisava de uma prova de amizade. Quem daria?
- Sim - Umrae sussurrou - pedi ajuda à Grillindor.
Rafitcha ficou boquiaberta.
- Grillindor? Isso significa que...
- Exatamente.
- Então se eles disserem sim... - Rafitcha sorriu maravilhada - Ophelia está acabada!
- Exatamente, Rafitcha. E eles vão dizer 'sim'. Pode apostar.
As duas sorriram pela proximidade provável da vitória.
----------------------------------
"Pagar a minha dívida, Umrae?"
Ela sorriu.
Soltou os cabelos, admirou a cidade pela janela.
Uma volta às suas origens.
Aos seus tempos de adolescente.
Uma luta para se saciar.
Hey, hey, me quer de volta?
Hey, hey, quer os bons tempos de volta?
Arrumou a mala sem nenhuma pressa, escolheu uma roupa melhor, escolheu argumentos.
Hey, lembra como era bom?
Hey, lembra como era legal?
Pensou em como convenceria o rei, julgou que não devia ser muito trabalhoso. Escolheu quem levaria.
Hey, a gente se divertia
Eu, você e uma galera toda
Mas você era alguém realmente especial
Alguém que eu queria ser quando crescer
Teria que convencer Crazy a participar da briga. Ele aceitaria, até porque tinha simpatia pelas Campinas. Tentou lembrar de quem mais poderia ir com ela.
Olha só aonde cheguei
E foi você quem me ajudou até aqui
Sua lista foi feita. No alto da lista, Crazy, a escolha óbvia. Abaixo de Crazy, ela escreveu um "Polly" e um "Ratta". E teve outros, mas desses ela lembrou aos poucos. Os três primeiros, decidiu Bel, eram os principais.
Cumprir logo a missão confiada.
Poderia usar uma das aves mensageiras, pombos discretos que arrulham e defecam em cima de inocentes em cidades desertas. Sim, um pombo seria perfeito. Discreto.
Oculto perto do canteiro das aves, começa a escrever uma carta. A letra é firme e curvilínea, sempre pendendo para a esquerda. Não treme como achou que faria. Imaginou como Bel reagiria ao receber a carta, o que aconteceria. Será que as coisas realmente mudariam para melhor? Temia que Ophelia o descobrisse. O que aconteceria se fosse descoberto?
Sem perceber, escreveu a última palavra. Ponto final.
Escolheu o pombo mais leve e o mais rápido, conhecido por fazer o dobro do caminho pela metade do tempo normal. Normalmente um pombo sem parar por um segundo, alcança Grillindor em dois dias. Este chegaria a Grillindor em um dia. Um dia.
Em um dia, tudo poderia mudar.
Absolutamente tudo.
- Lefi? - uma voz percorria pelos corredores, frenética. Ele prendeu a respiração imediatamente, congelado.
- Siih? - não demorou muito tempo para ele reconhecer a voz e respirou aliviado - irmã!
Siih entrou no frio corredor, escutou o barulho das aves. E entrou no canteiro das aves, se surpreendendo com toda a sujeira e barulho de pombos arrulhando. E no meio dos contornos aviários, o irmão.
- O que faz aqui? - perguntou timidamente, levantando a saia do vestido para a barra não ser sujada pelos dejetos das aves deixados no chão.
- Fique aqui e somente escute. Há alguém nos corredores? - Lefi começou, baixando a sua voz.
- Ninguém. Está completamente vazio - cochichou Siih - o que houve? Aconteceu algo?
- Pedi ajuda à uma pessoa - começou Lefi. No que Siih ia perguntar "quem é?", Lefi a interrompeu - xiii! As paredes tem ouvidos, irmã. Só posso dizer que a situação melhorará, espero que sim. Se essa pessoa nos ajudar, irmã... a situação vai mudar rapidinho.
- Posso ajudar em algo? - Siih parecia entusiasmada.
Lefi mordeu o lábio inferior, imaginando algo.
- Pode - disse em um sussurro - cuide muito bem de Kibii. Não deixe Ophelia vê-la, mas una-se à Alicia e cuidem de Kibii. Ela tem que ser devolvida viva para as Campinas, entendeu? Viva e bem.
- Kibii... - Siih controlou as lágrimas ao lembrar da menina recolhida que se recusou a ceder.
- Entendeu, Siih? - Lefi abraçou a irmã com um carinho terno e preocupado - cuide o máximo que puder de Kibii. Não se deixe ser pega por Ophelia em nenhuma ocasião. Essas são as duas missões. E as de Alicia também. Diga isso a elas.
- Está bem - Siih concordou. Parecia difícil, sendo que quase todo dia Ophelia a fazia de bode expiatório para os fracassos do dia. Mas o que tinha que fazer era manter o papel da ex-rainha, escrava, que só sabe fazer comida ruim.
Atuar. Mentir. Fingir.
E cuidar de Kibii. Ajudá-la, no fim das contas. Afinal... quantas pessoas você conhece que se dariam como refém para uma maníaca psicopata ensandecida para salvar as vidas dos outros amigos?
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O sol era brilhante.
Era verão! Praticamente verão!
Rafitcha acordou, sentindo os ossos todos quebrados. Mas dava para ficar em pé e fazer suas atividades habituais. O abrigo não estava lá muito iluminado, mas os rapazes conseguiram fazer alguns minúsculos buracos e aliar efeitos de magia para criar iluminação dentro do abrigo, como se tivesse janela. Era um clima estranho, mas pelo menos tinha luz.
- Rafitcha! - repreendeu Maria ao ver que a amiga se levantara para arrumar a mesa do café da manhã - largue isso imediatamente!
Rafitcha deixou cair os pratos na mesma hora, assustada.
- Nem ouse! - Maria recolheu os pratos - você passou por uma situação traumática, desesperadora! Tem que descansar devidamente!
- Mas, Maria - Rafitcha não queria ficar de pernas para o ar. Só iria reviver as situações.
- Sem mas nem menos - Maria retrucou - vá descansar. Raveneh e Tatiih farão isso.
Rafitcha bateu o pé, mas não discutiu. Sabia que era para o seu bem, e que todo mundo iria mimá-la o quanto pudesse. Mas tudo o que ela queria era ter a vida normal de volta. Quando ela ia cozinhar batatas e todo mundo amava, sem aquele ar de "se a gente pudesse comer isso ao ar livre". Quando ela fazia menos chás para acalmar e mais chás somente por visita. Quando ao acordar, não encarava o teto estranho e fechado e sim um teto de madeira. Quando olhava pela janela e via todas aquelas plantações exuberantes.
- Bom dia, Rafitcha - Nath passou cumprimentando, se dirigindo à cozinha.
- Nath! - Rafitcha sorriu - hey, Bia está lá dentro?
- Sim - Nath respondeu enquanto pegava um pouco de água para si - teve pesadelos durante a noite. Está acordada agora, mas não quer nada.
- Ah. Obrigada.
Rafitcha desviou do caminho, indo até a ala médica.
Era um salão enorme, com várias áreas separadas por uma fina cortina branca. E em uma dessas áreas, Bia repousava. Cobria-se inteiramente com o lençóis, não mostrando nem mesmo os braços. Olhava para o teto, seus olhos vazios e tristes. Ao lado de cada leito, havia um banco para a visita se sentar. E foi no banco ao lado do leito de Bia que Rafitcha se sentou, sem fazer barulho.
- Bom dia, Bia - cumprimentou Rafitcha delicadamente.
A caçadora de demônios não respondeu.
- Sabe, Umrae saiu ontem - Rafitcha achou melhor contar - Raveneh que me contou. E voltou toda feliz. Acho que ela teve uma idéia genial para acabar com Ophelia, Bia. Mas ela não quer contar.
A caçadora de demônios preferiu dizer somente:
- Que bom.
Rafitcha se calou. Bia não mudara de expressão, somente olhava o teto com absoluta firmeza. Realmente, Nath tinha razão. A confiança de Bia se quebrara assim como ela quebrara os pratos, minutos atrás. Em um susto irreparável. Algo que não poderia ser restaurado. Ou será que poderia?
- Bia. Como está? Você está tão... estranha.
Bia preferiu olhar para o outro lado, evitando o castanho dos olhos de Rafitcha.
- Bia, fale comigo! - Rafitcha mordeu os próprios lábios de tristeza - Bia, por favor! Volte a ser o que era antes! Por favor, volta a ser como era antes?
Não houve resposta. Essa foi a parte mais triste da manhã de Rafitcha: a pergunta dela não teve uma resposta.
E depois desse dia, a pergunta nunca mais foi feita por ser considerada ridícula pela impossibilidade da resposta. Porque nunca mais Bia voltou a ser como era.
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Ophelia teve que se controlar para não matar Kibii a cada vez que ela negava a se responder. Por que Umrae era "perigosa"? E qual era o perigo de Ly? Por que a rainha não gostava deles? Por que as Campinas era idomesticável? Qual era a fraqueza das Campinas? Por que Kibii se recusava a responder, jamais se curvando, aceitando ser machucada?
A rainha tentara fazer com que Kibii se sentisse ultrajada a cada peça de roupa retirada, a deixando com uma fina camisola, exposta ao frio. Sem sucesso, apelou para a chantagem emocional, gritou, feriu mil vezes os braços, e com suas garras, perfurou o abdomên de Kibii a deixando quase à beira da morte, sem nenhuma ajuda médica.
Lala não fazia nada. Não que se recusasse a fazer, mas ela preferia simplesmente consolar a amiga depois de seus ataques histéricos.
Quando Ophelia se retirou para comer, deixando Kibii sozinha, foi a deixa para Siih.
Ophelia enfurecida no jantar, Lala a tentando acalmar, Siih com a vida podendo ser terminada caso fosse descoberta.
- Lefi me disse para ajudá-la - foi tudo o que ela disse, ao ver o olhar vazio de Kibii a mirar cuidadosamente.
- Você não vai se ferrar se me ajudar? - Kibii sorriu.
Siih ficou impressionada com a doçura contida naquele sorriso, como se tudo aquilo não fosse nenhum sofrimento. E se impressionou mais ainda com os ferimentos, cortes que marcavam o corpo, queimaduras nos pés e coxas, o sangue seco cobrindo quase todo o corpo.
- Ela disse que o próximo passo seria marcar meu rosto - disse Kibii jovialmente, como se estivessem comentando o tempo.
- Oh sinto muito - foi o que a ex-rainha disse.
Ela havia levado algodões e todo o tipo de óleo, unguento e coisas assim.
Passou cuidadosamente em todo o corpo de Kibii, tentando amenizar a dor que a elfa sentia, e assim Kibii pôde sentir um pouco de paz.
Mesmo que ela estivesse sempre em paz, mantendo-se longe das torturas, mantendo-se calada por vontade, ainda assim a dor persistia.
Estranhava-se entre suas feridas, entre seus órgãos, fazendo a lembrar dos amigos, das Campinas, da Amai que não queria ver alguém que se sacrificava assim.
Lembrava da infância.
Esperaria dias inteiros. Noites.
Até o dia que poderia obter a paz final, absoluta, sem nenhum tipo de incômodo.
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Noite.
E de novo veio a escuridão, o pôr-do-sol que fez Amai lembrar-se do dia anterior, do dia que foi posta como mais valiosa que qualquer um. E assim as pessoas acreditaram, tanto que uma das guerreiras mais valiosas pôs-se em sacrifício, em seu lugar.
Amai tremeu.
Cobriu-se de um manto grosseiro, acinzentado, tentando não chorar. Não queria sentir luto por Kibii, pois ela estava viva.
Mas em seu coração, ela sabia que nem todos iriam sair ilesos. E Kibii poderia ser uma das principais prejudicadas.
Umrae estava tremendo. De nervosismo, mal cuidou de suas coisas. Quem organizou os potes de veneno e afiou as armas foi Thá e Vinicius, agora praticamente aprendizes de Umrae. Lynda havia ido embora, em uma cinzenta madrugada, se fazendo ser esquecida aos poucos. Todos estavam entrando em um estado de indiferença, mas não adiantava. Os olhares desencontrados, o nervosismo contido em cada palavra, as crises de choro de Doceh que voltara a entrar em um estado anormal de histeria com o sequestro de Kibii, os choros cada vez mais frequentes de Maytsuri, a distância de Raveneh que procurava na filha o refúgio de toda aquela guerra.
As estrelas brilharam de novo.
Estava calor.
- Para onde você foi ontem? - perguntou Rafitcha.
Estava bordando um vestido para si mesma, algo para se distrair no meio daquela loucura. Umrae lia um livro.
- Não vejo ninguém planejando um modo de resgatar Kibii - Rafitcha continuou como se estivesse sendo magoada - está calma?
- Não - Umrae teve que ser sincera.
Rafitcha largou o bordado, se ajoelhando diante de Umrae, tentando obter a sua atenção plena.
- Aonde você foi ontem? Foi para ajudar Kibii, não foi? Por isso que está calma desse jeito - Rafitcha mordeu o lábio inferior, esperando uma resposta.
- Se sabe, então porque pergunta?
Rafitcha engoliu em seco. Sem resposta nenhuma, Umrae foi forçada a encarar os olhos castanhos de Rafitcha. Podia ver ali a devoção completa da amiga pela terra em que vivia e pelos amigos. A lealdade tão inabalável, resoluta que Rafitcha fazia questão de construir dia após dia.
E agora se precisava de uma prova de amizade. Quem daria?
- Sim - Umrae sussurrou - pedi ajuda à Grillindor.
Rafitcha ficou boquiaberta.
- Grillindor? Isso significa que...
- Exatamente.
- Então se eles disserem sim... - Rafitcha sorriu maravilhada - Ophelia está acabada!
- Exatamente, Rafitcha. E eles vão dizer 'sim'. Pode apostar.
As duas sorriram pela proximidade provável da vitória.
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"Pagar a minha dívida, Umrae?"
Ela sorriu.
Soltou os cabelos, admirou a cidade pela janela.
Uma volta às suas origens.
Aos seus tempos de adolescente.
Uma luta para se saciar.
Hey, hey, me quer de volta?
Hey, hey, quer os bons tempos de volta?
Arrumou a mala sem nenhuma pressa, escolheu uma roupa melhor, escolheu argumentos.
Hey, lembra como era bom?
Hey, lembra como era legal?
Pensou em como convenceria o rei, julgou que não devia ser muito trabalhoso. Escolheu quem levaria.
Hey, a gente se divertia
Eu, você e uma galera toda
Mas você era alguém realmente especial
Alguém que eu queria ser quando crescer
Teria que convencer Crazy a participar da briga. Ele aceitaria, até porque tinha simpatia pelas Campinas. Tentou lembrar de quem mais poderia ir com ela.
Olha só aonde cheguei
E foi você quem me ajudou até aqui
Sua lista foi feita. No alto da lista, Crazy, a escolha óbvia. Abaixo de Crazy, ela escreveu um "Polly" e um "Ratta". E teve outros, mas desses ela lembrou aos poucos. Os três primeiros, decidiu Bel, eram os principais.
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