quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Parte 98 - Dá para entender o que você pensa, Ophelia.

Ao fim da noite, ao fim de outra maratona de vinte e quatro horas, Nath finalizou os relatórios de Giovanna e Toronto. Ambos estariam bem em algum tempo. Ambos não corriam mais risco de morte. E ainda que Giovanna nunca se curasse completamente de suas queimaduras, ainda que a perna de Toronto pudesse falhar, estariam os dois em bom estado.
Bel se sentiu imensamente aliviada quando pode visitar os soldados na ala hospitalar.
- Ficará tudo bem - ela disse - e trouxe mimatta - piscou um olho, mostrando uma garrafa cheia - vamos abençoar essa boa sorte que permitiu que os dois ficassem vivos e inteiros e sãos!
Giovanna riu. Ela adorava quando Bel se mostrava bem-humorada, entusiasmada como se todas as outras coisas não fossem tão importantes. No dia seguinte, Nath lhe garantiu, estaria bem consciente e poderia receber visitas por um tempo mais longo. E se cuidasse direito, poderia começar a andar dentro de uma semana ou duas. Certamente não poderia agir na batalha final, mas poderia ajudar depois, porque a guerra era feita de preparativos, batalhas e retorno para casa. Bebeu a mimatta - obviamente escondida da rigorosa Nath - que tinha sabor suave de laranja. Uma delícia e lhe entorpecia os sentidos.

- Vamos lutar na capital das fadas - Bel contou - Raveneh foi raptada, como sabem. E vamos lá, destruir todos os demônios e acabar com aquela bastarda maldita que se promulga Rainha! E, claro, resgatar Raveneh. Estão usando soníferos para manter May calma, sabiam?
- Uau! - Toronto riu. Estava quase bom - bem que o choro dela faz sofrer...


Umrae encarou o mapa com fúria gelada.
Podia atacar o quanto fosse, mas como iria se prevenir de um possível futuro movimento? Não era possível que Ophelia imaginasse em entrar na guerra com os demônios que povoavam a capital. Ela tinha que ter um trunfo, e Umrae, porém, não contava com nenhum trunfo real. Ophelia sabia dos dragões e com certeza iria se prevenir contra eles. E para enrolar Ophelia, só se aparecesse morta e todo mundo fosse morar lá em cima, como sempre moraram.
Ela tinha que ajudar a dar conta daquilo.

Com calma, pensou mais um pouco.
Iria dar um jeito.
- Você morre.
Brecha.
Bela brecha que encontrara.

Ficou mais dez, vinte minutos raciocinando, anotando, concluindo. Se isso desse certo, tudo estaria diferente. Mas de que adiantaria isso, se não tinha plano B eficiente para que as coisas se arranjassem? Instruções? Tudo seria por sua conta. Ela quem decidiria. E se errasse, tinha consciência disso, podia mandar Campinas inteira para a morte.
- Vamos lá, Ophelia. Eu vou jogar como você quer - sussurrou enquanto tirava a limpo suas idéias.
Comprimiu os lábios, olhos dourados a fitarem o papel, pena, porta.
- E eu vou vencer no seu próprio jogo - se fosse Bel, riria de contentamento.
Mas era Umrae e ela não riu. Só ficou concentrada.

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- Ok, ok, ok, vamos, Raveneh.
Dói.
Doía demais. Cada fibra agoniada, cada célula gritando por clemência e paz. Raveneh ofegou, tentando se levantar, apesar de todos os machucados, feridas abertas, sangue pelo corpo. Jogou o cabelo para trás, pensando em tudo. May, sua filhinha. Johnny, seu marido. Amigos, amigos - Rafitcha, Tatiih...
- Raveneh, deixe-me tomar conta de você.
E ainda por cima Catherine. Não queria perder o controle de si, entregar tudo à sua outra face. Vivenciar algo do começo ao fim.
- Raveneh, eu posso curar essas feridas... e não vai doer tanto.
A magia que Catherine sabia era tão mais forte. Era capaz de coisas incríveis, sem limites, como curar suas feridas, assassinar muitas pessoas e forjar a própria morte. Agoniada, conseguiu ficar em pé, respirando bem fundo, calmamente.

- Eu posso ficar forte - dizia para si mesma - é só me orientar, e eu serei eu mesma, você será você mesma, e, juntas, sairemos dessa. É só me orientar.
Catherine estava hesitante. Queria ter o controle absoluto. Porém o acordo de Raveneh estava bom, suficientemente bom para ela concordar. E se conseguisse orientar e fazer com que Raveneh escapasse, fosse longe e fugisse das garras daquela mulher louca... porque não?
- Está bem. Raveneh, cure suas feridas. Precisa ficar forte, minha querida, e não vai ser sangrando que escaparemos daqui.
Silenciosamente Raveneh se encostou à parede, escutando. Seu cérebro parecia se dividir em dois, não porque doía, e sim porque eram duas pessoas. A Raveneh, dolorida, cansada e preocupada, escutava a Catherine, trêmula e hesitante. Era como ter a voz de consciência em um nível completamente diferente, como se Catherine fosse uma velha amiga que estivesse ao seu lado e conversasse com ela tranquilamente. Era uma experiência estranha demais, mas se ainda fizesse a terapia, Gika teria considerado isso um avanço fantástico: as duas personalidades coexistirem, se unirem para um fim final, ao invés de entrarem em guerra, disputando pelo domínio do corpo.
- Fique comigo um pouco.
Lentamente, muito lentamente, Raveneh ficava calma.
Não era tão difícil.
Os machucados passaram.
A dor diminuía.
Catherine concedeu paz à Raveneh, ensinando a ela propriedades da cura.
Raveneh deslizou pela parede, conseguindo um pouco mais de força. Nunca imaginara que magia faria alguém ficar tão poderoso, pudesse fortalecer alguém. Geralmente ela se sentia mais fraca depois de uma sessão de magia, então sempre associou magia = fraqueza. Só que...
- ... Descanse.
Se entregou ao sono, finalmente reparador.

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- O que você fez? - Miih exclamou, suas sobrancelhas se franzindo de ira. Catherine não perdeu tempo se explicando, ou pedindo desculpas. Ela simplesmente ergueu os olhos do jeito mais inocente que conhecia.
- Miih, eu só fiz o mesmo que Olga. E vou matar Ophelia assim.
Miih não concordou, se sentindo insultada.
- Olga não conseguiu matar Ophelia. E éramos oito. Agora somos cinco!
Sunny concordou.
- Temos um poder muito menor - ela disse, sendo apoiada por todas as outras. Seu ar angelical tornava difícil para Catherine retrucar com impaciência, de modo que simplesmente suspirou e deixou pra lá. Sabia que ninguém gostaria de sua escolha, e que tinha sido desesperada. Mas não estava realmente arrependida, e seu espírito se acalmava quando pensava que simplesmente iria... se esvair. A água se agitaria em sua ausência, mas ela mesma ficaria tranquila.
Não haveria nada de tão ruim no outro lado da vida, haveria?
- Idiota - Louise sussurrou - agora vamos perder você!
- Mas vai adiantar - Catherine sorriu - porque eu tive uma idéia. As águas correm por todo canto, e elas falaram pra mim. E eu montei algo.
Aproximaram-se de Catherine como menininhas curiosas, ansiando por fofocas.

- Ophelia necessita de magia - Catherine começou - como já falamos. Mas de onde vem a magia?
As outras fizeram expressões entre dúvida (Miih) a admiração (Alice). Sunny passou a língua nos lábios, tentando responder:
- Natureza? Somos parte da natureza, não é?
- Exato - Catherine sorriu - se somos parte, então a natureza deveria ir contra Ophelia, não acha? Se pudemos evocar poderes, poderes da terra - encarou Alice nesse momento com determinação - bem, a gente pode conseguir!
Miih crispou os lábios de frieza.
- Mas isso é totalmente filosofia de criança! - foi o que disse, antes de Loveh retrucar.
- Só porque parece tão infantil... não quer dizer que não possa dar certo. Podemos lutar não como "Musas"... mas como forças, digamos assim.
- Isso está completamente confuso - Louise sussurrou - quer dizer que eu vou ter que virar um vulcão?
Todo mundo se calou, imaginando exatamente a mesma coisa.
Como se fossem se transformar em vulcões, florestas, furacões. Não iria adiantar contra Ophelia? Por mais que a natureza fosse mais forte, Ophelia era espera. Ela conseguiria escapar de cada detalhe, cada golpe e se fosse ferida, se recuperaria mais rápido do que um piscar de olhos. Como ir contra? Além do mais Ophelia era como elas: integrante, unida ao tudo. Ela iria descobrir esses truques e iria usar os mesmos golpes. Sem se machucar, sem deixar de sorrir.
- Eu sei que Ophelia está ficando louca - Catherine diz em murmúrios bem baixinhos - qualquer um sabe disso. Mas a loucura dela vai além, e não é difícil supor essas coisas. Eu descobri, pelas águas, que as Campinas não se renderam. Ainda.
- Mas ela deve estar pressionando muito - Loveh ponderou - o território é bem grande... e está praticamente colado ao Mundo das Fadas, uma ilha de liberdade em todas as colônias que são dela agora... a idéia de algo que não é dela está a perturbando!
- Sim - Catherine gesticulava, tentando expor seus pensamentos de forma coerente - então... pensem comigo. Ophelia, com certeza, está pressionando Campinas. Se eu bem me lembro, ela chegou a sequestrar alguém. Não duvido que ela tente de novo. Não duvido que Campinas recorra a alguma medida desesperada. E não duvido que essas medidas façam com que Ophelia se defenda a altura, utilizando algum ser perigoso que ela conheça.
- Isso é óbvio, claro como água, querida Catherine - Alice disse - mas como poderemos vencê-la? Diz para ajudarmos Campinas? Nos unirmos a eles? Mas, Catherine - ela parecia quase suplicante - demônios não são perigosos para gente. Mas Ophelia... Ophelia nos preocupa, e Campinas não vai vencê-la a menos que use a própria Lilith em pessoa!
- Porém Lilith é um mito - Miih lembrou em tom de sarcasmo frio - e mitos não vencem Ophelia.
- Isso lá é verdade - concordou Loveh.
Ficaram todas caladas e pensativas.
- Porém podemos resolver isso - Catherine sussurrou - tenho certeza de que venceremos esses monstros que Ophelia mandar. Porém... logo ela vai tomar conhecimento de nossa existência aqui, afinal estamos esbanjando energia, sabe. Minha opinião é de que devemos ajudar Campinas.
E de novo ficaram quietas, sem dizer palavra.

Ajudar Campinas?
Ajudar humanos?
Mas... eles tinham que serem ajudados, não é? Estavam do mesmo lado, contra Ophelia. Ela era oponente de ambos os lados, e se defendia com um sorriso. Mas o que aconteceria no momento que ela descobrisse que seus inimigos se juntaram? Ficaria assustada? Ao menos com um décimo de espanto? Ou acharia tudo aquilo ridículo, pensando ser capaz de vencer seus oponentes com as duas mãos amarradas nas costas? Se bem que ela era capaz disso mesmo, tendo o corpo mutante...
Estavam todas as cinco fracas, verdade.
E do outro lado tinha um povo inteiro, protegido por magias e estava todo mundo com medo. Decerto havia crianças, e foi isso que fez com que Sunny fosse a primeira a apoiar. Por mais que todas elas tivessem desprezo disfarçado aos humanos, nenhuma delas aceitaria crianças desprotegidas, seja qual for a espécie. Crianças também fizeram com que Loveh convencesse Miih, e com que Alice enchesse a cabeça de Louise com a idéia de que aquilo era sensato.

É, teriam que engolir o orgulho. E, depois, não estavam sendo ajudadas, concluiu Louise. Iriam ajudar. Sunny pensava que, na verdade, ambos os lados que iriam se ajudar. Mas nada falou do que pensava, porque não queria ferir o orgulho ferido de Louise. Miih ficou pensativa por muito tempo. Estava, sim, cedendo a Loveh, Sunny e Catherine, mas, porra, tinha que ter humano na parada? Porém tinha que concordar com a vozinha dentro dela: a situação é desesperadora, Ophelia não é uma rainha fraca e nesse momento qualquer orgulho que você tiver é inútil perante a rainha. O importante é simplesmente ter armas e vencer de uma vez. Nada de enrolações. Nada de mimimi. Nada de choro por alianças malsucedidas. Elyon teria falado isso nos seus ouvidos. Olga insistia nessa idéia. Ambas morreram, dando a vida por causa da maldita daquela bastarda.

- Ok - Miih sussurrara - Ok. Vamos lá. Em direção a Campinas.

E teriam que descer pelo Mundo das Fadas até alcançar a relva ainda verde. Não tinha problema.

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Ophelia penteava seus cabelos.
Ela se encarava muito profundamente no espelho.
Já era madrugada. Todos dormiam. Lala estava exausta, trancada em seu quarto. Havia chorado, chorado por quê? Talvez tudo estivesse difícil para Lala, deduzia Ophelia sentindo um misto de irritação e tristeza. Lala era uma peça de sua vida que ela mesma não entendia. Era determinada, dura e quase selvagem, verdade, mas podia enxergar a doçura em seu caráter. Conseguia ver a destruição da alma de Lala que ela impunha a si própria simplesmente para não violar seus princípios de lealdade. As pessoas sempre falaram que Ophelia era psicopata. Ela sempre soube disso. Sempre. Nunca tivera realmente pena, compaixão ou amor. Nunca amara sua mãe, mas dependia dela, era louca por sua mãe. Porque não eram duas, e sim uma. Quando a mãe morreu... foi como se cortassem parte dela.

Mas não era assim com Lala.
Lala não era parte dela. Se alguém tirasse Lala dela, ela não teria parte dela cortada. Mas sentiria a alma nua, mutilada mesmo assim. Não entendia o que sentia, e odiava a antiga e familiar sensação de dependência, vício, o eterno círculo vicioso. A dor... a dor era o remédio para tudo. Era a doença, era a própria cura. Todos aqueles desesperados, querendo acabar com Ophelia, todos aqueles querendo mutila-la, todos querendo matá-la, todos querendo simplesmente destrui-la... e utilizam dragões, feitiços, Musas, incêndios e ninguém percebia como a solução era tão simples. Dor. Era simplesmente toda aquela maldita dor que Ophelia não queria sentir de novo. Não sentiria mais essa dor e todo esse vazio dentro de si, se simplesmente ocupasse a cabeça com bobagens. Territórios, armas, estratégias. E quando tudo isso se concluísse, ela se entregaria ao hedonismo, quem sabe? Ou simplesmente se acabaria. Tudo para não sentir tamanha angústia.

Seu espelho mostrava uma Rainha. Uma rainha louca, de cabelos penteados e trançados, vestido arrumado e verde-esmeralda e extremamente odiada. Mas ainda assim uma Rainha. Engoliu em seco, pensando nos próximos dias. Raveneh estava com ela fazia quanto tempo? Não importava. O que importava era que as Campinas contariam os dias, Raveneh marcaria cada hora na parede com qualquer coisa que tivesse a mão e logo sua presa seria resgatada. Viria uma força especial com dragões a postos, e Umrae seria a líder desse movimento. Ela não seria estúpida de deixar que isso acontecesse. Os demônios jakens tinham sido inúteis. Então... montaria uma estratégia melhor.

Os demônios que povoavam a cidade agora eram inúteis. Logo em um ou dois dias, como disse à Lala, chegariam monstros, esses sim que poriam Umrae e sua corja de bípedes estranhos de joelhos. Até mesmo os dragões teriam que se curvar diante daquilo! Mas, convenhamos, eles não podem ser usados para a guarda pessoal... era ridículo, era desprezar o poderio dos monstros. Então ela mesma tinha que se certificar de cada proteção. Aqueles demônios que guardavam suas propriedades agora eram demasiados tontos, seriam como a primeira camada para eliminar os fracos e testar os fortes. Uma muralha que cederá facilmente à primeira ordem de Umrae. Em sua cabeça enlouquecida, podia imaginar até mesmo a cena desenrolando como em filme de TV: os demônios caindo, um após outro, e todos se contagiando com o sentimento de empolgação, de não-era-tão-difícil-assim!

E então... encarariam a própria Ophelia.
Não seu corpo físico.
Mas sua mente estaria impregnada em cada pedaço daquele castelo. Sua alma se dividiria em mil pedaços para destruir qualquer um que tentasse resgatar Raveneh. Qualquer um que tentasse acabar com ela também. Nunca tivera direito àquele castelo. Mas sempre tivera direito ao poder. Porque ela era a encarnação de todo esse poder, era simplesmente todas as forças da natureza reunidas em um corpo com uma mente que conseguia sentir e pensar.
Ophelia... era tudo.

Ela encararia cada parte, se infiltraria em tantos pedaços de ar e terra que ninguém conseguiria destrui-la. Nem mesmo Umrae, aquela maldita elfa sensitiva, conseguiria perceber as nuances de sua personalidade, os tons de sua crueldade quando fosse salvar Raveneh. Será que Umrae aceitaria o trato? De jeito nenhum... Raveneh era uma pessoa doce, percebera quando pusera suas garras na loira. Era doce, de temperamento sensível e meigo, e era mãe de um bebê, dava para ver. Não deixariam que Ophelia a matasse, nem quando os porcos criarem asas do nada. Iriam pôr as mãos em Raveneh, iriam mandá-la embora, iriam protegê-la. Tudo bem. Ela queria mesmo era Umrae. Quando ela fosse ali, como a parte principal da força do resgate, iria capturá-la. Não poderia resistir, não mesmo...

Delineou sorriso,
sentia aqueles malditos voltando. Iriam lhe ajudar.
E sentia... sentia cinco almas cochichando. Bem, não achava mesmo que iria passar incólume depois que assassinara Elyon, não era mesmo? Então... iria simplesmente se proteger, se defender e atacar, como sempre fizera.
Assim era bem mais sensato.

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- Pois bem - Umrae arrumou a mesa, mostrando o mapa - vamos atacar aqui, aqui e aqui.
E indicava os lugares. Desandou a falar, narrando toda a estratégia montada e pensada que fora discutida com Bel momentos antes, sem contar toda a parte mais essencial da história como os equipamentos, técnicas de fuga e ataque, reflexões sobre o comportamento de Ophelia e a preparação para os possíveis aliados, por isso todos os dragões precisavam estarem fortemente armados e preparados para uma fabulosa guerra. O exército era pequeno, porém dariam conta.

- Ok, entendi. - Polly cruzou os braços - mas e quanto a Giovanna? Toronto?
- Vão ter que ficar de repouso - Bel disse com um tom de insatisfação - Nath praticamente me obrigou a não exigir nada deles. Eles estão bem e apresentando melhora, mas não poderão entrar em combate. Terão que ficar aqui.
- Eles se sentirão inúteis! - exclamou Ratta se sentindo nauseada só de pensar nos dois, feridos, na cama, resmungando que não cumpriam suas missões.
Bel ficou em silêncio por uns dois segundos até decidir.
- Eles poderão trabalhar por nós - declarou - aqui. Tem preparativos, tem coisas que eles podem fazer, não é? Nem que seja escondido daquela enfermeira!
- Não zombe de Nath - advertiu Umrae entre séria e divertida - ela pode ser muito severa e cruel quando desobedecem às ordens dela.
- Ora! Não se pode prender um guerreiro em uma cama - riu-se Pauline - é uma insanidade! Umrae, há de concordar comigo!
- Até concordo - Umrae sorriu de canto - pois bem, caros guerreiros, vamos atacar daqui a um dia. Ou seja, começará logo o dia, então se preparem por hoje, equipem os dragões, lavem suas roupas e descansem. Atacaremos ao amanhecer.
Nesse ponto, Umrae pediu licença e se dirigiu ao seu escritório, ao mesmo tempo que Bel expulsava Zidaly do aposento e montava a rotina do dia seguinte.

Zidaly bufou, mas saiu e ficou na sala, observando Amai ler um livro à luz da vela.
Ouvia vagamente as vozes de Bel, Crazy, Pauline, Polly, Ratta, Harumi. Todos discutindo, debatendo, nervosos e apreensivos e furiosamente empolgados. Ouviu alguém dizer algo como "porque eu tenho que fazer isso?" e alguém responder "porra, Giovanna não pode fazer isso". Algumas discussões sobre quem alimentaria os dragões, e todo mundo esquecera das tarefas de Zidaly que se resumia, basicamente, em fazer todo o serviço sujo. Se sentia humilhada, mas tinha que reconhecer que não podia fazer nada já que praticamente obrigara o rei a enviar para cá. Crazy quase não falava, podia perceber, mas ele nunca dizia algo sem ter certeza de que aquilo teria relevância.

- O que está lendo? - perguntou à Amai, que ergueu os olhos, sobressaltada.
Em um sorriso, ela respondeu com delicadeza:
- É um livro de lendas orientais - ajeitou seu vestido comprido - tem tantas, tantas lendas! Uma mais linda do que a outra... é de Raven.
- Ele é o quê seu? - a voz de Zidaly saía carregada de malícia.
- Meu? Oh, céus - Amai passou a mão nos cabelos ruivos, constrangida - nada. Amigo, sabe. É que deixei todos meus livros em Istypid, onde vivia. Depois daquela bagunça toda, depois que Grillindor invadiu e tudo o mais, deixei tudo lá. Ainda bem que ele tem esses livros, sinto o tempo passar mais rápido.
Zidaly lembrava de Istypid. Cidade vulgar, suja e feia. Cheia de humanos que não davam um pingo de valor à magia que os cercava.
Será que Amai era uma dessas humanas?

- Como é Istypid? - perguntou em um tom baixo de voz.
- Um lugar estranho - Amai respondeu com sinceridade - parece que há tudo de ruim concentrado em um único lugar, e ninguém se incomoda. É seco demais, morto demais.
- Você nasceu lá? - os olhos de Zidaly cintilavam de estranha felicidade porque tinha alguém com quem conversava e a conversa não tinha um pingo de ironia, sarcasmo ou desconfiança.
- Não - Amai riu da idéia - nasci em uma aldeia bem pequena, muito, muito longe de Istypid. Na verdade só morei em Istypid porque estávamos protegidas lá.
Zidaly achou estranha a idéia de que alguém se sentia protegida naquele lugar, mas preferiu não comentar. Percebia, pelo tom, que Amai não queria falar muito de onde viera. Mas decerto era do Oriente, pelo nome estranho, pelo sotaque e também conhecia os idiomas orientais, o que a fazia devorar alguns poucos livros nessas estranhas línguas que quase ninguém lia. Além disso Amai se vestia de uma forma diferente. Até mesmo Kitsune, que sabia ser tia de Amai, se vestia como as outras: vestidos campestres, florais, leves. Porém Amai preferia vestes que lembravam vagamente o Oriente, com bordados diferentes, de tecidos extraordinários.

- Como você acha que essa guerra vai acabar?
A pergunta de Zidaly pegou Amai desprevenida. Chegou a fechar o livro - sem esquecer de marcar a página - e encarou a forasteira nos olhos, entre intrigada e temerosa.
- Umrae vai vencer - disse com toda a certeza que reunia dentro de si - ela é inteligente. E a sua comandante, a Bel-san, ela também. Nós vamos vencer, e derrotar aquela rainha perversa.
- Ela é tão perversa assim? - murmurou Zidaly, procurando por opiniões mais concretas do que apenas esperanças.
Amai crispou os lábios, exasperada.
- É claro! Que tipo de mulher mata a seu bel-prazer? Ela tortura as pessoas, sabia disso? Se cai nas mãos dela, céus... ela tem que ter algum ponto fraco, eu disse isso à Umrae naquele dia! Ela deve ter ficado imaginando e desistiu de imaginar, porque aquela maldita parece não ter pontos fracos! Se luta com ela, ela é um demônio... se conversa com ela, ela é a melhor oradora do mundo... ela é louca! - quase chorou ao lembrar do super-protegida proferido por Ophelia. E Kibii, justo Kibii, a corajosa, a elfa que ia em frente e matava com frieza, justo ela tinha ido em seu lugar. Quem tinha que ter sido torturada? Quem tinha que sofrer? Mas...

Mas...

Kibii ainda sofria com aquelas malditas torturas. A vigiava escondida, de vez em quando, em especial durante as noites de sono. Seus pesadelos se tornavam mais frequentes, e sua frieza mais cortante. As cicatrizes existiriam para sempre, sabia, e se culpava ainda por isso.

- Hey, se não quiser falar, não fala - Zidaly se sentiu constrangida em ter tocado em alguma ferida de Amai. Era uma menina tão doce, tão sensível que fazê-la chorar era como um pecado. Meninas assim, concluía Zidaly, são um inferno, um doce, um amor...
Deixou-a se recuperar das lembranças e devaneios, e decidiu não interrompê-la mais com perguntas. Seria até melhor, não queria que Amai devolvesse as perguntas e fazendo-a contar sobre sua vida antes dessa guerra idiota.




E, finaaaaalmente, o terceiro post de 2010 e o primeiro de fevereiro! Podem cantar, ALELUIA, IRMÃO! *-*

Primeiramente, agradeço de coração a todos os comentários e e-mails de Umrae. Cara, você é a mulher mais inteligente que já vi, sério. Rivaliza sério com minha tia e minha mãe *o*
"Segundamente", sim, teve um 'elfa' se referindo à Umrae. Aí eu quero lembrar, explicar - que seja - que quem pensa assim é Ophelia, e Ophelia não faz a minima distinção entre elfos e drows e tudo o mais. Para ela, o mundo se resume em humanos normais, elfos, fadas e demônios. O resto está catalogado em "ser bizarro e estranho", simples. Basicamente foi de propósito :)

E, por fim, em terceiro. Comecei as aulas, farei novamente o segundo ano - muitcho interessante, já comecei a anotar as meeesmas coisas do ano passado. Só tem graça repetir quando você não entendeu nada o ano passado... mas pra gente CDF que nem eu e repetiu só por conta de duas matérias, todas as outras que você ainda lembra ficam muito chatas, argh D: Mas tudo bem, encaro essa, rs!

Mas quero aumentar meu ritmo de postagem, sim, e quero mudar o layout disso aqui. Já estou com idéias e tudo, só preciso melhorar meu conhecimento de HTML, CSS e esses códigos de programação, entende. Coloquei a imagem porque passei a sentir falta daquelas imagens que punha em cada capítulo, mas vivo com preguiça de fazer algo no Paint e não estou com scanner, de modo que vou passar a catar imagens da net. Essa, em especial, veio do We ♥ It :D
E as imagens não terão necessariamente ligação com a história. Somente alguns elementos, porque acho impossível achar "A" imagem perfeita D:

Espero sinceramente que tenham gostado do capítulo. Montei a minha estratégia aqui, baseada nos e-mails de Umrae ;* e idéias mirabolantes aqui, de modo que estou construindo a história para esse rumo!

Beijos! ;*